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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ZELADORA DE ALMINHAS - Elsa Maria Rafael Martins Diogo

A pé, já, e com a bicicleta pela mão, alcancei a custo o Largo do Viriato.

Casa, no Largo do Viriato, com escadaria exterior em pedra, balcão, que é o último em Alcains

Acudiu, Elsa, a lancinante desespero de viúvo marido, Manuel Galante, após morte de esposa, Maria Antónia (Garravisa), que ao longo de muitos anos, azeitou, óleou, alumiou, iluminou, limpou, cantou, rezou, órou a estas alminhas, pedindo graças sem véu, para que todas as boas alminhas, do purgatório fossem para o céu.


Purgatório...
Tarefa diária de manter acesa a chama da fé, de limpo manter oratório, de zelar por parca recolha de esmola em rude cofre sem cadeado, por vezes assaltado, em base encimado por Nossa Senhora do Carmo, padroeira de almas com eira mas ainda sem beira...

Purgatório...
Todos, dias, semanas, meses, anos, sempre, eternamente.
Com azeite ou óleo, de saúde ou doente, alumiar, iluminar, sempre.

Purgatório...
Lugar de multa,
Da que não merecendo inferno, purga pecado.
Purga, de culpa sem desculpa.
Culpa expiada, então para o Céu, purificada.


Entre o Largo do Outeiro e a rua do Regato da Sola, a Elsa Diogo, faz agora o trabalho todo.
Bombeira de tantas almas, descansou a alma ainda viva do Ti Manel Galante, aliviou a alminha da sua falecida Garravisa mulher do purgatório, e trata de todas as alminhas deste oratório.
Filha do Domingos Espanhol e da Espírito Santo “Cantôa”, desempregada... MULHER... boa.

Manuel Peralta

1 comentário:

  1. ALMINHAS : Portugal foi o único país a criar estes monumentos, de acordo com António Matias Coelho, professor de História e Investigador de manifestações da cultura religiosa e popular.

    Lê-se na NET, que as Alminhas são uma criação genuinamente portuguesa e não há sinais de haver este tipo de representação das Almas do Purgatório, pedindo para os vivos se lembrarem delas para poderem purificar e “subir” até ao Céu, em mais lado nenhum do mundo a não ser em Portugal, reafirma o investigador referenciado.

    Segundo o mesmo investigador, as pequenas criações saídas das crenças do povo e da ideia do Purgatório, as ALMINHAS pedem pelas almas dos defuntos em geral, mas algumas delas estão ligadas a casos pessoais, mortes trágicas ou colectivas que impressionaram as comunidades cristãs e laicas.

    O baixo relevo das “ALMINHAS da PONTE”, no Porto, próximo da Ponte de D. Luís, evoca a catástrofe da morte de cerca de quatro mil pessoas que, em Março de 1809, procuravam atravessar o Douro para fugir às tropas de Napoleão Bonaparte na ll Invasão Francesa, e na confusão gerada, acabaram por se afogar no Rio.

    Centenas de ALMINHAS marcam homicídios que chocaram as comunidades, ajustes de contas, amores mal resolvidos ou locais que ficaram cravados pelo sangue de um despiste de um automóvel ou de motas com cilindradas inversamente proporcionais à idade dos seus condutores.

    De resto, as ALMINHAS acabam por se inspirar e ser um legado das civilizações clássicas de Roma e da Grécia, que nas suas deambulações já haviam erguido monumentos junto às estradas para devoção aos seus deuses.

    O cristianismo inspirou-se nesta herança e cristianizou-a, erguendo cruzeiros e outros símbolos religiosos.

    As ALMINHAS vêm nesta continuidade de ocupação dos espaços públicos, procurando congregar as orações de quem passava para salvar mais almas!

    Em suma as ALMINHAS pretendem aliviar as almas do PURGATÓRIO. Dos muitos PURGATÓRIOS, dizemos nós,que mesmo em vida,muitos de nós transportamos!
    MC

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