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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

COLHEITA DE 1949 - Mulheres e Homens em festa

Festa original, pois pela primeira vez se realizou em Alcains um evento que, DE SUA PRÓPRIA E LIVRE VONTADE, as mulheres organizaram, em festa para a qual convidaram apenas as Mulheres e Homens nascidos naquele ano.
Compareceram trinta e cinco mulheres e trinta e um homens, que a princípio, dispersos no Largo de Santo António, aos poucos, se foram juntando.


Reconhecendo-se, receosas umas, igualmente receosos, outros, gradualmente se foi esbatendo a timidez... não posso crer... há quanto tempo... já não te lembras, eras a minha “nheira” de carteira...
E tu, que moravas ali, por onde tens andado que nunca mais te vi?
Faziam naquele ano de 2009, sessenta anos, motivo pelo qual se juntavam, de rôxo pólo com monograma a condizer, elemento de identificação que juntava, unia, em amizade que então renascia.
Por voltas de 1959, nem as tostas eram mistas, quanto mais as turmas das escolas, quer da Praça, da Feiteira ou da Pedreira!
Herdeiros de educação de separação sexual, percebi então a razão da incomodidade de aproximação.
No aperitivo à entrada, na sede dos Joões, mesmo de tapa e copo na mão, os blocos de homens e mulheres descongelavam com a dificuldade própria da idade, e, nas mesas ao jantar, só muito tenuamente foi possível intercalar... com quem se juntou, jantou, em mesas só de M e mesas só de H, mas também já com mesas de M com H.


Já liquefeitos com a boa bebida, a melhor comida distendeu quem tenso estava, e, naturalmente o béfo, os apelidos, a bilharda, a professora e o professor, bem como a vida de quem aos sessenta ainda se tenta, invadiram as conversas e, as, e os, artistas, subindo ao palco, mostraram cada um e à sua maneira os seus dotes poético/musicais.
A Maria Manuela Gregório Carvalho, revelou ser uma poetisa popular em quadras rimadas, recordadas.
O Sílvio Lopes Baltazar, sem ensaiar, brindou-nos com a “Silvie” do Duo Ouro Negro e com o “Tombe lá Neige” do Adamô, acompanhado pelo Féliz Rafael e Manuel Peralta com as respectivas violas.
A revelação da noite foi a Natalinda Raposo, emigrada, de xaile trajada, e com voz tratada e educada, a todos deliciou em fados que em coro a assistência acompanhou.
Já a sobremesa ia alta, quando é servido um profissional, artista do fado, José Amoroso Pedro em Alcains e PEDRO VILAR nos países onde actua.
Um espanto, um encanto...
Baile a preceito, todos com jeito, e porque a noite ia alta, foi tempo de esclarecer que em 2011, agora com maridos e esposas lá estaremos outra vez.
Foi uma tarde linda, bem passada, pelo que, agora, cumprimento as mulheres que antes não cumprimentei...
Parabéns à Comissão.


Da esquerda para a direita:

- Ermelinda Pio
- Manuela carvalho
- Natalinda Baptista
- Antónia Paciência
- Isabel Grilo

Nota: Em Julho de 2009, para anunciar a nossa festa, fiz este texto que o Reconquista publicou.

Alcains - Festa das Mulheres e Homens nascidos em 1949

“Elas deitavam o corpo mais cedo “ diz a minha querida mãe do alto dos seus felizes 84 anos sobre a minha dúvida em perceber porquê é que eu não conhecia as “catchopas“ do meu ano…
Andavam nas escolas do “ tracoma “ e da Feiteira brincavam ao béfo, saltavam à corda, jogavam ao lenço qual Lourenço que ali tinha deixado o lenço, e nós no outro extremo da aldeia, tão entretidos que andávamos na Pedreira a arranjar sarroadas de penas, botões bostas e patacos em bilhardas jogadas quando não havia lugar na equipa das caneladas de alguns macios pés descalços… não nos apercebíamos sequer da boa colheita de baldorão e ferral que outros aproveitaram quando estas uvas já pintavam…
Alguns de nós tínhamos ramela nos olhos e aprendemos na escola do tracoma, na praça, a coçar os olhos com os cotovelos nas sábias palavras da enfermeira Irene que nos vacinava contra o tétano, a BCG, a poliomelite e outras maleitas de tempos idos.
Havia na altura quem tinha, Tinha… doença no cabelo que dava uma enorme comichão na cabeça e lembro-me de se chamar Tinhoso a quem estava sempre a implicar, a moer enfim a chatear… mas que grande Tinhoso me saís-te… desabafava-se então.
Descalços a maioria, davam-se topadelas e por aí tentava-se pertencer à unha negra lugar então úbere de Balhinhas, Ronsos e Clementes, polvilhado de Amorosos Escudeiros, Cassapos, Raposas e Grilas, massa batida com muita Paciência recheada de Carquitas, Carolas e Baratas e por muitas macias e envolventes CaiNatas…


A Nata Linda Batista, a Antónia Pa Ciência, a Isabel Grilo, a Erme Linda Pio e a Manuela Carvalho constituíram-se em comissão e no dia 25 de Julho pelas 17H30 no Largo de Santantónio inicia-se a concentração de uma inédita festa que culminará no barracão do Joões para uns e sede para outros, com um jantar à maneira seguido de um espectáculo de variedades baile e quem sabe… se agora já tarde não se apanhará o lenço então perdido pelo Lourenço…
Esta colheita de 49 já conta com cerca de 60 inscritos na Nata Linda, 272.906.685. de um total de 73 homens e 80 boas e lindas mulheres nascidos nesse ano em que não havia televisão.
Ano de colheita de artistas como o José Pedro Amoroso para uns e José Amoroso Pedro para outros, conhecido no mundo por Pedro Vilar, o Félix Rafael entre outros decerto abrilhantarão uma iniciativa de mulheres de fibra, melhores que MEO, que lavam roupa, põem mesa, limpam casa, beijam marido acarinham filhos e netos, sogras de uns noras de outros e que diariamente contrariam a profecia do Sr. António Damas meu mestre da vida, que cedo me ensinou que as noras por mais óleo que se lhe deite, chiam sempre…
Desta vez vamos dar a volta juntos… da Feitira à Pedreira vamos cantar o Bá, Bé Bi… Bó Bú da doutrina do Sr. Vigário e relembrar que já chegou nosso dia, o dia da prova oral… viva a nossa professora qué a melhor de Portugal.
Inscrito que estou… aperaltado, lá estarei.

Manuel Peralta

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