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terça-feira, 31 de julho de 2012

Blog aberto

Contribuição de Manuel Geada, para uma resenha histórica de Alcains.
Alcainense, Manuel Geada, fez um meritório trabalho relativo às atividades que na década de 50 do século passado, pululavam por Alcains.

ALCAINS E A SUA INDÚSTRIA EM 1950

Uma Fábrica de Massas Alimentícias
Duas Moagens
Três de Refrigerantes
Uma de Sabão
Uma de produtos alimentares para crianças
Cinco Salsicharias
Uma Torrefação
...mas o abastecimento de água potável à população não passava de projeto  e o ribeiro continuava descoberto.
Hoje o abastecimento de água potável está resolvido mas, após sessenta e dois anos, o ribeiro agora parcialmento coberto e poluído, continua a ser um dos grandes, direi mesmo o maior problema que temos na nossa terra.
   
Fábrica de massas alimentícias   
Mais conhecida por “fabrica das massas”, situada no denominado “Curral”na rua Viscondesa de Oleiros era propriedade do Sr. António Trigueiros.

Moagens

Ambas no Largo de Santo António, na época conhecidas por fábrica do Sr. José André  e, fábrica do Sr. Trigueiros (Lusitana).

Refrigerantes
Ti Laurindo nas antigas garagens do Sr. José dos Reis.
Outra no Chafariz Velho propriedade do Ti Zé Prata e, a do Sr.Gabriel Valente, no Curral.
O primeiro empresário a exercer esta atividade foi o Ti Laurindo, mais tarde  ensinou o Ti Zé Prata e, este por sua vez ensinou o Sr Gabriel Valente.
O Ti Laurindo acabou por se dedicar à 100% à sua principal actividade, comércio e raparação de bicicletas, na sua residência, (margem esquerda do ribeiro mesmo em frente à ponte que muita vezes atravessei quando ia para a escola)mais ou menos no local onde hoje se encontra um armazém  do Sr. José Rafael, até que emigrou para Angola.
O Ti Zé Prata e o Sr. Gabriel associaram-se e continuaram com a fábrica nas garagens no Largo de Santo Antonio, mais tarde cada um criou a sua própria empresa.

Fábrica de sabão
 
Também propriedade do Sr. José André, funcionou no local onde mais tarde instalou a fábrica de moagem (Largo de Santo António) .
   
Fábrica de produtos alimentares para crianças
Após inúmeros contatos, supomos que  terá sido o lactário, situado na estrada de Santo António.

Salsicharias
 
Depois de consultar duas autênticas enciclopédias, faço referência à Ti Ressurreição (esposa do Ti Francisco Pires  Preto) e, à Amélia (filha do Ti Francisco Sousa, nessa ocasião havia pelo menos  sete.

Conceição Alves, Rua da Fonte
Antónia Carrega, Rua da Canada (no ângulo esquerdo da Rua da Canada e Rua do Arrabalde,  existiu ali um poço denominado da Canada, daí o nome da rua).
Sr.Gabriel Valente, Curral
Ti Fim do Mundo, Rua da Gaia (atual Dr. Emídio da Cruz)
José Minhos?
Lurdes Serrana ?
Glória Teixeira, Rua professor Simões Carrega. 


A torrefação, propriedade do Sr. António Trigueiros funcionou no Curral
   
Mas, a indústria da nossa então “aldeia” em 1950, não se ficava por aqui.Tinha-mos também três lagares.

Sr. Conde, Rua da Levandeira
Dr. Ulisses Pardal, na Rua do Padre Mestre (que herdou da sogra, Sra. D. Joana).
Ti Martinho (Cantador) Rua dos Ciprestes, Rua Viscondesa de Oleiros (que legou à filha Ti Rosária Lopes que, por sua vez legou ao filho Ti António Damas).
Era um lagar de vara (tração animal) mais tarde foi modificado.
Alguém me falou  da existência de um  eventual lagar no Largo de Santo António, mas não consegui nenhuma informação.
Pessoalmente e ainda muito jovem, conheci ali um local onde se vendia azeitona, (mais o menos onde hoje esta o café Santo António),  que comunicava com a Travessa do Dr. Sanches Semedo, onde a azeitona transportada por camiões era escolhida e tratada por dezenas de mulheres da nossa terra.
O local era propriedade do Sr. José dos Reis que alugava durante esse espaço de tempo (apanha da azeitona) ao casal de empresários Sr. Gomes e Sra. Felícia, que a catchopada da zona conhecia perfeitamente .

Tinhamos ainda, direi uma “plêiade”, (porque todas elas e eles  era célebres) de artesãs, comerciantes, lavradores e outros.

Alfaiates, teríamos na ocasião seis

José Marques, Rua Longa(da Liberdade)
Manuel Sequeira (sacristão), Rua José André Junior
José Escudeiro (pai do Martinho do supermercado), Rua das Casas Novas
Sebastião Gregório, Rua Longa
Francisco Júlio(esposo da Ti Glória Teixeira) Rua Prof. Simões Carrega
Fernando Aleluia, Rua da Fonte.

As denominadas Lojas, haveria na ocasião catorze

Ti Brandoa, ângulo do Largo e Estrada de Santo António
Ti Tobias, Rua da Pedreira (atual João de Deus)
Sra. Adriana e  Sr. José Félix, Rua Major Rato
António Venâncio, Largo do Viriato
Emídio Beirão, Rua 25 de Abril (na época dizíamos Praça)
Benedito Beirão, Rua Longa (Rua da Liberdade)
Francisco Sousa, Rua Longa
Maria Luisa Castilho, Rua Longa
Maria José Carrea (esposa Ti Henrique Caniça) Rua das Casas Novas
Ti Farias, Rua das Casas Novas
José Castilho, Rua da Gaia: (Dr. Pires da Cruz)
Manuel Castilho, ?
Maria do Carmo Ribeiro, Rua do Colmeal
Ti Sebastião, (irmão do Ti Tobias) ângulo do Largo do Espírito Santo, Rua Prof. Simões Carrega.
A mais popular, era sem dúvida a Ti Brandoa que, além da mercearia, azeite, petróleo, sabão, tecidos etç,, também vendia calçado da famosa marca “POUPA”. Daí a publicidade nas suas montras.”
Quem calça poupa, só poupa”.
Também foi a Ti Brandoa que adquiriu a primeira máquina (hidrálica) para medir o azeite.
Pela boca da canalha, a novidade espalhou-se de imediato a toda a população.
Já não fazia falta dizer, deixe escorrer bem a medida.
Era um regalo prós olhos da catchopada ver o Ti Zé Amaro, a Ti Brandoa ou ainda  os filhos, a Prazeres e o Zé, levantar a alavanca para cima para aspirar a quantidade desejada e, depois baixar para despejar o precioso líquido na almotolia. (de lata porque era mais barata,  até se dizia que a ferrugem fazia bem a saúde ).
Era genial esse tempo do meio quartilho, do meio arrátel e dos três rebuçados por um tostão.

Sapateiros, que tanta falta faziam para consertar e fazer calçado novo, no ano 1950, teríamos dezassete

Joaquim (Baratinha), rua Major Rato
Manuel Preto, Rua Longa (Rua da Liberdade)
João Leão, Rua Longa
Jacinto Barata, Rua Longa
Manuel Aurélio, ângulo Rua Longa, Travessa da Mateira
Manuel Preto, Rua do Adro
Manuel Micaelo, Rua do Adro
João Lopes (“Senhor”, pai do Jorge Leituras), Rua do Epírito Santo
João Preto, Largo de Santo António
Manuel Sequeira, Rua do Arrabalde
Manuel Paixão, Rua do Padre Mestre
José (Sapateiro), Rua Prof. Simões Carrega
José Leão, Rua da Prata
João Soares, Rua da Pedreira (João de Deus)
António Soares Rua Dr. Vicente Sanches
António Micaelo, Estrada de Santo António
Domingos Barata (Cotcharra), Rua das Casas Novas.

Na Rua longa, quando os três vizinhos Manuel, João e Jacinto, decidiam bater sola ao mesmo tempo, podíamos marcar passo ao ritmo dos martelos.
Quando por acaso e, coisa  que acontecia com muita frequência, alguém dizia as estes artistas que eram privilegiados  por trabalharem em suas casas, a resposta não se fazia esperar e, era sempre a mesma.  
Isto um bom trabalho? A gente por as mãos aonde vocês põem os pés.
Alguns destes artesãs, também trabalhavam por encomenda, para outras empresas que depois vendiam no mercado.
Mais tarde alguns tornaram-se independentes e vendiam diretamente a sua produção e nao só, nos mercados da região. 

Ferradores (bois, cavalos e burros)

Sempre na mesma época, tínhamos três.
Os dois irmãos ferradores, oficina na Rua do Val Bravo (João de Deus) e, habitavam na Rua da Prata. (Não consegui saber os nomes destes irmãos). 
Ti José Vicente, na Rua das Casas Novas, que além de ser ferrador, também era como se dizia na época “munte intindido” direi que era médico e veterinário sem diploma.
Com muita frequência as pessoas pediam-lhe conselho,  não só para os animais quando estavam doentes mas, algumas vezes para eles.
Ainda hoje acontece que quando alguém se encontra indisposto: “há sempre quem se lembre e  diga. Vai ao Tzé Vcente quele tem la reméde pra isse”.
Naquela época, eram estes artesãs  que na sua forja, fabricavam as ferraduras e os canelos (ferraduras das vacas) que utilizavam.
Os cravos eram comprados.

Ferreiros, na ocasião havia cinco

José Lopes Castilho(regedor) Rua do Arrabalde
Joao Lopes Castilho, Travessa Quintal do Roxo (mestre do Raul Pirilau)
Manuel Engrácio, Rua dos Tecelões, Travessa do Colmeal
Guilhermino (Cuco), Travessa de Santo António n°1
(Era um especialista para as  picolas, ponteiros e escopros dos nossos canteiros).
João Isidro, Rua 25 de Abril.
(Foi o Ti João Isidro que através de catálogos fabricou as primeiras alfaias agrícolas utilizadas pelos agricultores alcainenses).

Carroceiros (Reparação e fabricação de carroças tração animal)


Naquele tempo em que havia muitos ganhões em Alcains, não tínhamos mecânicos para automóveis mas, dois bons carroceiros.
Manuel de Campos, Estrada de Santo António
Manuel Engrácio, Rua dos Tecelões, Travessa do Colmeal

Ganhões também havia alguns

José Sousa (Sóta), Rua Longa
Narciso Parteiro, Rua das Casas Novas
José Bola, Rua  das Casas Novas
Joaquim Micaelo, Travessa do Dr. Sanches Semedo
Ti Barreto, Rua D. Leonor Simões Prata (avô do Aprígio Barreto).
José Gregório, Rua das Casas Novas
João Bola, Rua das Casas Novas
Ti Manuel (Ganhão) Outeiro ?

Estes ganhões não só praticavam a lavoura “trabalhavam à jeira” (terreno que uma junta de bois pode lavrar num dia), como também faziam fretes aquando das vindimas, mudanças de casa, ou ainda carradas de estevas, giestas ou areia.

Cabeleireiros, barbeiros ou simplesmente barbeiros, teríamos cinco


Ti Domingos (da venda ), Rua da Fonte
Domingos (Bigorna), Rua das Casas Novas
Manuel Paixão, Rua do Padre Mestre
José Fortunato, Rua Major Rato
Francisco Sousa, Rua Longa

O Ti Domingos (Bigorna) um dia com os copos só rapou a cara de um lado ao meu avô paterno.
Contava a minha mãe que Deus tem, que até cegou quando viu o sogro a ver passar a procissão só com metade da cara lavada.
Pegou-lhe  num braço, e levou-o ao ti Domingos que ouviu as que o diabo não quiz.
(estavam os dois com os copos).

Carpinteiros e merceneiros com porta aberta ao público

José Rafael, Estrada de Santo António
Francisco Pires Preto, Travessa da Larangeira (Por encomenda do Sr. Vigário fez os atuais bancos da igreja).
António Farias, Rua da Pedreira (João de Deus)
José Sequeira, Rua do Cemitério (Dr. Sanches Semedo)
Ti Mendonça, Largo de Santo António
Joaquim Paralta, na quelha ao lado do Ti Domingos.
Não podemos aqui esquecer os invisuais Ti José (Céguinho) e o Ti Eugénio que também trabalhavam por encomenda.
(Tinham a oficina numa loja escura no Asilo. Era impressionante ver estes artistas a trabalhar).

Latoeiros (Funileiros) e Caldeireiros


Joaquim Latoeiro, Rua do Espirito Santo
Manuel Espanhol, Rua do Espirito Santo
António Ferreira, Rua do Espirito Santo (era manco, caminhava com a ajuda de uma muleta).
Manuel Pereira, Estrada de Santo António (pai do Rui Caldeireiro)
António Pereira, Rua Major Rato
Manuel (Semoa),Estrada de Santo António.

Empreiteiros de obras públicas e do estado, nessa ocasião tínhamos

José dos Reis Sanches, Largo de Santo António
José Pereira Monteiro, Rua do Espirito Santo
Joaquim Pereira Monteiro, Rua do Espirito Santo
Joaquim Teixeira, Rua Prof. Simões Carrega
Leonel Venâncio Leão, Rua Major Rato
António Venâncio Leão, Largo do Viriato
João da Costa Riscado, ?
João Dias Tabaco, rua Major Rato
José de Oliveira Rafael, estrada de Santo António

Também eram inúmeros os lavradores e produtores de queijo


Manuel Amaro Lopes, Rua das Casas Novas
Joaquim Amaro Lopes, Rua das Casas Novas
José Amaro Lopes, Rua das Casas Novas
José Lopes Beato, Rua da Pedreira (João de Deus)
Armindo Carvalho, Estrada de Santa Apolónia
José Lopes, Estrada de Santo António
Francisco Lopes, Rua Longa
Maria da Silva, Rua Longa
Graça Sorica, Rua Longa
Sebastião Galoa, Rua da Canada
Francisco (da Ti Marquinhas), Rua da Fonte
João da Silva, Rua do Arrabalde
José da Silva, Rua da Canada

Aos lavradores, também podemos associar uma multitude de terceiras.
Essas corajosas mulheres que trabalhavam do nascer ao por do sol, direi  por uma côdea de pão.
Sachavam mondavam e colhiam  feijão frade e milho por um terço da produção.
Vida muito rude, mas quanto alegre,  porque exceto alguma oração, cantavam todo o dia.

Na terra dos mil canteiros, teríamos no ano 1950, a trabalhar por conta própria
 
Joaquim Fadrique, Rua do Padre Mestre
Ti Amândio, (pai do Sr. Padre Álvaro) Bairro das Flores
António Valadeiro, (pai do Rui Espanhol) Bairro das Flores
António (Cacheirinha), Rua das Casas Novas
José Barata Mosca, Rua do Arrabalde
João (Pardal), Rua do Arrabalde
João Moleiro, Rua D. Diniz

Apesar de trabalharem à jorna, também aqui vou citar três célebres e excelentes trolhas (pedreiros) dessa época

Francisco Serrasqueiro “Pintor”, (homem de teatro e grande humorista) Rua da Prata
Manuel “Passinhas”, Sogro do Ti Domingos da Venda)
Manuel Tchapão, Rua Longa

Ainda que não fosse um atividade industrial, não podemos aqui esquecer as parteiras “sem diploma” em exercício  nessa época e, que tantas crianças ajudaram a vir ao mundo na nossa terra.

Conceição Pereira
Luz Pereira (a Ti Conceição e a Ti Luz, eram respetivamente a avó e a mãe do Sr. Padre Álvaro).
Isabel Batista
Ludovina Martins (sogra do Ti Félix Bispo).
Naquela época, era a parteira que no meio dos padrinhos levava a criança à igreja, no dia do batizado.
Além disso, eram ainda as parteiras que lhes davam banho nos primeiros de vida.
Imaginem a atividade destas parteiras (só catchopos do meu ano 1946, somos 65).

Vou terminar por aqui, lançando ao ar um foguete do nosso empresário e artista pirotécnico dessa época, Henrique Caniça.

Involuntáriamente terei esquecido muita boa gente, mas não consegui mais informações.

MG


Nota: Agradeço ao Manuel Geada a sua prestimosa colaboração. Peço, no entanto aos leitores, que em comentário, e com esforço de memória, contribuam para enriquecer este seu trabalho.
A loja em que se comprava a munha, o petróleo e as latas de atum Benfica…
Muito obrigado

Manuel Peralta

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Rui “Caldeireiro”... um artista

Rui Pereira Antunes, o Palhaço, o Cantinflas, o verdadeiro artista...

Combinei com ele e lá estava, na rua do Chafariz Velho, na casa da curva, com um rol de fotografias que testemunham tempos passados, de palco, de tardes e noites de glória, de felicidade que o Rui transmitiu a muita gente, que na Casa do Povo assistiram pelo Natal e Páscoa a noites de cultura popular.

Foto atual

O Rui fez rir muita gente... bastava entrar em cena e quer fosse drama ou comédia, o “frisson” na sala percorria toda a gente e claro, não se conseguia conter o riso...
Certa vez e conhecedor das gentes da terra deles, o Senhor Ramiro Rafael sobe ao palco para avisar os espetadores presentes, de que, o Rui ia entrar em cena mas no drama, não em comédia, pelo que pedia a todos os presentes que tivessem em atenção tal fato.
Que sim, está bem...!!!

Fazendo de bêbedo, interagindo com um garrafão

Claro, o efeito foi precisamente o contrário, em drama, mal o Rui entra em cena o riso da assistência foi de tal ordem que, esta, demorou imenso tempo a ser restabelecida.
O Rui, nasceu em Junho de 1933, filho de Antonio Pereira Antunes e de Laurinda de Jesus Antunes.
Seis irmãos, a Céu, Rui, Manuela, Manuel (falecido), Teresa, e António.
Casado com Maria Salete Soares Gregório, tem uma filha, de seu nome Clara.
Caldeireiro...

O Rui na arte de caldeireiro

Entre outros, com o professor Penha, acaba a 4ª classe do ensino primário e claro filho de caldeireiro, caldeireiro.
Até aos 18 anos nada mais fez que bater latas... apesar de na altura não haver novas oportunidades, o Rui fez um mestrado, tornando-se Mestre em Alambiques.

Com Clotilde Adónis, na peça “A mania das manas”

Dezoito anos, inspeção militar e tropa.
Não, ficou livre, era um “gaiolas”, fraco, magro, “fracatchitchas”, e claro, farto de bater latas, dá ele também o “salto” para França.
Uma dúzia de anos por lá andou por “franças e araganças”...

Fazendo o papel de Menino Zuquinho, na Opereta Flor da Aldeia

Nota: Em baixo a careca do saudoso Ti Zé Sequeira, um músico especialista em “dar resina ao arco”, beber uns copos...


Sabia soldar a “autogénio”, gémio de eletrogénio, e por tal fato esteve sempre em trabalho de serralharia.
Com 20 anos teve a primeira desilusão ao ver coartada por seu pai, a entrada na vida de artista, sua primeira vocação.
Entretanto, passou por Alcains o circo Ideal, e o Rui pede ao dono do circo se o deixava fazer palhaçada... que sim, que seria apresentado como espontâneo e se tivesse êxito poderia ser artista.
Pede ao pai autorização para tal, mas este, caldeireiro de poucas falas, seis filhos para criar e uma tapada na Retorta, responde-lhe.
- Ai queres ir para o circo? Vai mas é para a Retorta, regar as batatas da horta.
Caldeireiro, ficou.

Na peça, Aconteceu no Natal, contracenando com Domingos “Cocharra” e Jacinta Godinho

Regressado da França, volta à sua arte de artesão, fazendo alambiques para bêbedos... que vendeu um pouco por toda a zona, em especial nas feiras do Fundão, em Nisa, nos mercados em Castelo Branco e claro, sempre, sempre, na feira dos Santos em Alcains.
Alambiques, caldeiras de metal, braseiras que até certa altura tiveram grande procura para decoração das casas.
Mas, hoje já não se usam, ficam negras sem ninguém lhes tocar e dão muito trabalho a limpar...

Na peça, A mania das Manas, contracenando com Manuela André

Após a tentativa frustrada de artista de circo, é pela mão de Ramiro Rafael e Vitor Serrasqueiro, então com 31 anos que, o Rui sobe aos palcos da Casa do Povo.
E, a partir daí, o Rui fez sempre parte dos variados elencos de artistas amadores, que tanto deram a Alcains, na nobre arte de talma...
Tempos passados e por enquanto, irrepetíveis.

Na Opereta Flor da Aldeia, o menino Zuquinho, Rui, contracenando com a menina Antoninha, Jacinta Godinho

Começou como comediante e nas várias peças que representou, nas comédias, o Rui dava sempre um toque especial de verdadeiro e nato comediante.
Ao ver os filmes, começou a imitar o Cantinflas, que foi por assim dizer a sua mais bela e capaz criação.

O Rui em expressão facial, acantiflada...

De génio, de rir ás lágrimas, nos seus trejeitos de ancas, na pose, no vestir, acompanhadas por uma anormal expressão facial e na espanholada voz, que fazia quase inteligíveis os textos, a que raramente obedecia.
O saudoso ponto, José Manuel da Silva Belo, via-se em “cagantchas” para o acompanhar, e deixar, deixa...

O Rui na peça por si escrita, Cantinflas, procura emprego...

...nota pessoal, por mim vivida.
Tive em tempos, por volta de 1966, uma breve passagem pelos palcos, a pedido do senhor Ramiro Rafael, numa situação de urgência teatral.
Na Opereta Flor da Aldeia, eu era o galã, Damião de seu nome,  que disputava com o menino Zuquinho, Rui, a mesma namorada, de nome Rosa, que era a Deolinda “Pirilau”, na altura uma rapariga, linda, linda, linda...

Rui, contracena com Manuela André, em Cantinflas procura emprego

Recordo de memória a declaração de amor do menino Zuquinho, rui Caldeireiro.
-Virando-se para Rosa, assim dizia a fala...

O coração do meu peito,
Está dentro do peito do seu coração...
E, se a Rosinha !!!
Sentir no seu peito..
O meu peito, a bater pelo seu coração,
Então o seu coração que salte do seu peito,
Para o peito do meu coração...
É que o meu coração sofre,
Por não estar com o seu coração!


Isto dito pelo Rui, o menino Zuquinho que fazia em termos da linguagem da terra deles de menino “ imbabuléde”, assim um “pocatchinho”, era de rir a perder...
E foi isto que o Rui fez na sua vida de artista popular.
Fazer com as suas inatas qualidades e capacidades, mais felizes os outros, fazer rir, sorrir, tanta gente...
De borla.
Com a sensação do dever cumprido, presto esta homenagem ao melhor cómico, palhaço, comediante de sempre em Alcains.
Muito obrigado, Rui Caldeireiro.

Manuel Peralta

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Com Trastes/Contrastes

Recetáculos em zonas de lazer, para recolha de lixo.

...na vila de Alcains,



na cidade de Castelo Branco.


Na terra deles...


Na nossa.


Conseguem ver as diferenças?
Revejam as fotos e encontrarão as diferenças.
Na Zona de lazer de Alcains, estamos assim. Tal como o algodão, as fotos não mentem...

Manuel Peralta

segunda-feira, 9 de julho de 2012

CONTRASTES

Chafarizes da cidade...


Chafarizes da Vila...


 ...da cidade, pintado, lavado, ”deservado”, cuidado, amado...


...da vila, sujo, ervado e musgado, abandonado...


É este dúplice tratamento, este ser enteado, de “padastro” que recebe grossa maquia do enteado, e não cuida do seu aspeto e muito menos da sua saúde.
Até quando!!!

Manuel Peralta