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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

BALHINHAS, Manuel Simões Roque

A avó materna embalava, e, muitas vezes ao colo e em pé em plena rua dançava com o seu filho, Joaquim enquanto cantava esta cantiga...

Baila, baila, meu saco de palha...
Quanto mais balha, mais escangalha...

E, de tanto dançar e balhar, bailou bailou até que BALHOU...
A sua balhada forma de ao filho festar, causou espanto e o Joaquim Simões Roque que bebia água da talha, foi baptizado de “Xequim Balha”. Joaquim Simões Roque, (Balhas), casou a tempo com Maria Clara de Jesus (Clemente).
Entre outros, (Adriano, Cesaltina e Rosa) tiveram filho, o primeiro, Manuel Simões Roque, e claro filho de Balhas, Balhinhas.


Mas quem é que em Alcains, Caféde, e até lá longe nas alminhas, conhecerá o Manuel Simões Roque se não lhe chamar Balhinhas?
Tem agora 66 anos, casado e dois filhos.
Faz e fez muitas coisas boas na vida, Canteiro, Relojoeiro, Ciclista e Músico.
Fui vizinho desta família no Degredo e sempre me impressionou como é que um homem das pedras pode ser relojoeiro?
Mãos que partem pedra que sensibilidade terão de ter para ajustar rodas de escape de terceiros e até de balanço? Claro, não se pode ser tanso.
Já o seu pai me impressionava pela sua aparente calma, quando suado regressava da pedreira e passava o resto da tarde, sentado em pedra de rua, a tocar apenas duas a três notas no seu enorme para mim, contra-baixo...

Mas voltemos ao Mné Balhinhas.

- Canteiro

Acabada a 4ª classe aos 11 anos, sai da escola directamente para as obras, para os Escalos de Baixo por vezes com 6 picos às costas.
Ia de “Orlando”, que é como quem diz, “uma parte a pé e a outra andando”...
Aprende a canteiro com o Ti António Valadeiro, (Cartuxinha) fazendo cantarias para obras, tamancas que são as pedras que suportam as pedras que “trabalham” nas estruturas que as suportam.


Por conta própria, em 1969, foi para o Eirado, Aguiar da Beira fornecer toda a cantaria para o Palácio da Justiça de Trancoso, regressando a Alcains por volta de 1975.
Pelo meio, entretanto, fez a tropa, 1º cabo clarim.
Não emigrou.

- Relojoeiro

Dizia-me, sabes, sempre gostei de mexer naquilo!!!
Dos muitos biscates, só herdou trastes... de corda, automáticos, mecânicos, de tambor e corda, rodas de centro, de segundos e terceiros e até de escape, a que faz o barulho do relógio, a âncora, que segura a rotação e o balanço, e para mostrar desoras, mostrador que mostra horas.


Aprendeu, sem novas oportunidades, a seu custo, com a sua vontade, o seu engenho e arte, adquirindo curso por correpondência para conhecer as peças e poder encomendar material.
Digital, monos, em ilhas, a pilhas.

- Ciclista

Febre de infância, gosto de andar de bicicleta, sair do rame-rame, do anonimato, ter fama, famoso...
Comprada a primeira bicicleta ia para o trabalho com o pai... para lá ia de bicicleta o pai, e, para cá, no regresso, vinha na bicicleta o Manel.

Da esquerda para a direita, Zé Tomé da Mata, Vicente da Lousa e Manuel Simões Roque, Balhinhas, de Alcains, em prova em festa nos Escalos de Baixo.

Destes tempos de ciclismo, tambem o Zé Pires (ver foto) por lá andou, contemporâneo do Manel e do Zé Treze.
Recorda o Manel Balhinhas que, a primeira prova em que concorreu com o Zé Treze, foi na festa do São Luis nos Escalos de Baixo.
Não tinha sequer equipamento.
Já na última volta, vinha à frente e caíu na curva da igreja matriz de Escalos de Baixo.
O Guitarras, assim era conhecido no meio ciclista o Guitarreiro, que participava em todas as corridas mas chegava sempre com a meta já inundada de gente, não lhe emprestou a bicicleta muito menos o Zé Treze que em carro de apoio do Mourinha tinha rodas, pneus e sobressalentes em quantidade e, para a época de qualidade.
E por ali ficou.

Da esquerda para a direita, ciclista de nome, por enquanto desconhecido, Manuel Simões Roque, Balhinhas de Alcains e Zé Pires de Alcains.

O Zé Treze era dois anos mais velho que o Balhinhas, rivais, dividiam adeptos do ciclismo de Alcains.
O espião que vei-o do frio de então, era o Américo Manco, Sportinguista de todos os costados, que terá contado em muito segredo ao Balhinhas que, o Mourinha, tinha arranjado uns rolos que permitiam que, o Zé Treze, treinasse na oficina do Mourinha mesmo em dias de chuva.
Descoberta a tramóia, mais o Balhinhas se encarniçou para bater o Zé Treze em provas futuras.
Mas...
O Mourinha, que conheci e me falava muito dos excelentes ciclistas de Alcains, comprou para o Zé Treze uma moto.
Eles, Muorinha e Zé Treze, iam naquela manhã de 12 de Janeiro de 1965 a uma matação ao Padrão, freguesia de Almaceda.
Tentavam chegar a acordo sobre se deviam ir de moto ou em automóvel, no passeio verde em Castelo Branco junto ao quiosque Vidal, com o Balhinhas presente.
Decidiram-se pela moto...
No regresso, e ao descer as curvas do Padrão, despistam-se, morre o Zé Treze e o Mourinha fica muito mal tratado.
Foi a última vez que estive com o Zé Treze, dizia-me o Balhinhas.
Este, passou então a ser o ídolo da região...o seu forte era a resistência de caixa, toráxica...Gáfete, Alpalhão, Monforte, e nas redondezas onde corria, limpava tudo e todos.
Diz-me o Domingos Bispo, tambem ele ciclista, que era corrente na altura perguntar se o Balhas tambem lá ia...à corrida claro, o que desencorajava outros ciclistas a participar.
A prova rainha que lhe deu mais nome e fama, foi na festa de Santo António em Alcains com duas voltas a começar em Alcains, Escalos de Cima, alto da Lousa, Lardosa e Alcains e à terceira volta ir ao alto da Gardunha e regressar a Alcains.
Vizinho que fui, o Manel distinguia-me sempre no meio da malta que atrás dele ia, com uma palmada nas costas o que aumentava exponencialmente a minha cotação entre a canalha daquele tempo.
Era o meu herói.

- Músico

Pai músico, filho músico teria de ser.
E aos 14 anos foi para a banda tocar Trompa de Nossa Senhora, sabendo já nessa altura as duas primeiras páginas de Solfejo do Freitas Gazul.
Tambem por ali, eu aprendi, com o Ti Manel Pratinha em história de música que por ora interrompi.
O Ti Anselmo na altura Mestre da música, ouvia o pai dizer-lhe que o filho já sabia muita música...e assim foi, começou pelos instrumentos mais simples que são as Trompas.


Com jeito para o compasso, ritmo, vai para a tropa e é desafiado a fazer uns testes nas cornetas.
Sentindo-se noutro nível, lá aceitou a contragosto e quando lhe mandam tirar umas notas, de música claro, fez logo o Toque de Recrutas.
Aprovado com Distinção e Louvor foi de imediato, na 2ª Região Militar, a fazer os “casting” como agora se diz, de futuros Corneteiros e Clarins.
Aprendi com ele que os Corneteiros pertencem à arma de Infantaria e os Clarins às armas de Cavalaria, Artilharia, etc...
Concluída a tropa, regressa à banda assentando agora praça em Trompete.
Era mestre da banda nessa altura, o Sr. Madeira, grande músico no dizer do Manel, que falecera entretanto.O Manel faz então o curso de Maestro e na colónia de férias de São Fiel o Curso de Aperfeiçoamento de Regentes.


Esta foto, tirada na porta principal da Igreja Matriz de Alcains data de 1978 e a banda era constituída pelos seguintes músicos:
De cima para baixo e da direita para a esquerda:

-Francisco, Pintor
-Joaquim Estorino
-Joaquim Simões Roque, Balhinhas.
-Sebastião Paciência
-Joaquim Anes
-Vasco Churro, Moacho.
-José Amoroso Eanes, Muxagata.
-Antero Raposo
-João da Póvoa
-Martinho Carrega, Mochinho, com muita capacidade e gosto.
-Carlos Carvalhinho
-Luis Madeira, ex-maestro
-Manuel Ricardo, Grilo
-António, Morcela
-José Pequenão, Fortunato
-João Robalo
-Manuel Carlos, o caixinha
-Manuel Simões Roque, Balhinhas, maestro em 1979
-Jorge Canhôto
-António Aleluia, Roque
-Carlos Bispo Sousa

Com o falecimento do Mestre, Sr. Madeira, a maestria passou para o Sr.Manuel Leitão, natural do Fundão que acabou por abandonar, e, por unanimidade dos músicos da banda, o Manel Balhinhas acabou por assumir a responsabilidade de Maestro da Banda Filarmónica de Alcains, em 1979.
Actuaram em todas as festas nos arredores, e conta que, certa vez foram convidados para irem tocar à Mata, numa segunda feira de Páscoa à festa de S. Pedro.
Havia no entanto um festeiro que, só autorizava que a banda fosse tocar à festa, se soubesse tocar o S. Pedro.Manda o Manel que o festeiro entoasse um pouco da música, e, chega à conclusão que se trata da peça Alvíssaras, que também tocavam à Santa Apolónia apenas com outra letra.
Fez a partitura com as partes cavas, e o desdobramento da partitura para cada instrumento e lá cumpriram o contrato.


Esta foto foi tirada frente ao edifício da Câmara Municipal de Trancoso, em 1979.
Os músicos pela mesma ordem eram os seguintes:

-Joaquim Simões Roque, Balhinhas
-Ana Paula Simões, Balhinhas
-Fernanda, Cantôa
-Manuel Ricardo
-Esmeralda Pequenão, Pireza
-Carlos Bispo
-António, Morcela
-Vasco Churro, Moacho
-João Robalo
-Jorge, Canhôto
-Martinho Carrega, Mochinho
-Carlos Carvalhinho
-Manuel Carlos, Caixinha
-Sebastião, Paciência
-Jose Anes Amoroso,Muxagata
-Joaquim Estorino
-Francisco, Pintor
-João da Póvoa
-Manuel Simões Roque, Balhinhas, maestro 1 mês depois.
-Antero Raposo
-Manuel Leitão, era o maestro do Fundão.

A convite do Sr. António Loureço Barata, Terlé, foram à Feira Internacional de Lisboa a um encontro de Alcainenses, visitaram o Palácio de Belém onde foi servido um Porto de Honra oferecido pelo nosso conterrâneo Gen. Ramalho Eanes, à data Presidente da República.
Hospedados em hotel a estrear, visitaram com o Sr. J.Pimenta os seus empreendimentos de hotelaria em Talaíde, e não se esquece de ter visto entre 30 a 40 carros a que os trabalhadores deitaram fogo, nos idos do 25 de Abril.
Porque por essa data estava de serviço à Junta da Freguesia de Alcains, acompanhei de muito perto a actividade da banda e por tal facto insiro foto de inauguração do Infantário da Pedreira.


O Manel Balhinhas regeu pela última vez a banda em 8 de Dezembro de 1982, na festa em Alcains, da Nossa Senhora da Conceição.
Acabou assim a banda de Alcains, da qual tantas histórias de músicos se contam, que todos desde pequenos ouvimos, postal ilustrado de uma terra que alegrou tantas e tantas gentes, dinamizadora cultural de rudes homens das pedras, de sapateiros, pintores, canteiros e pedreiros, agricultores, estudantes, homens e mulheres, que através da música, da lei da morte se libertaram...
Se com esta fotos e do longo texto contribuir para o não esquecimento desta gente, cumpri parte do meu objectivo.
O Manel Balhinhas, canteiro, ciclista, relojoeiro e músico fez muito por Alcains, com a sua votade o seu esforço e principalmente com a sua seriedade, não tem sequer um instrumento em casa, dos muitos que havia e que todos desapareceram...
Honrou a sua terra, saiba agora a sua terra reconhecer o mérito a este HOMEM.
Obrigado, Balhas...

Manuel Peralta

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Rafeiro de Lata

A ribeira da Líria este ano por limpar, como em anos anteriores se vinha fazendo...
Os esgotos que correm a céu aberto na referida ribeira.
Eventualmente o entupimento de colector adutor, provoca transvase para o leito da ribeira...


Os maus, digo mais, insuportáveis maus cheiros que inundam Alcains, provocados pelas elevadas temperaturas existentes e que fermentam o esgoto que inunda toda a ribeira que por ausência de limpeza não tem qualquer escorrimento.
Lá mais para a frente, no términos da zona de lazer o eterno esgoto da OVIGER, sem solução e sem remédio... aparente.


A degradação da dita zona de lazer está ao nível do esgoto que a céu aberto corre na vizinha ribeira.
Quem nos ajuda?
Que fazem os responsáveis?
Por onde andam?
Que consideração revelam ter para com os munícipes que lhes pagam?
Aguardo por acções que resolvam ou minimizem esta afronta ambiental, este desleixo do qual me queixo.

Por todas estas e outra razões, a todas as entidades envolvidas, Junta da Freguesia, Câmara Municipal, Serviços Municipalizados, Região Hidráulica Tejo, Governo Civil, é atribuído um RAFEIRO DE LATA, pela ausência de soluções e falta de respeito para com Alcains e o AMBIENTE.

Manuel Peralta

domingo, 19 de setembro de 2010

Cuco, Guilhermino da Conceição

Viúvo, sete filhos, um deles falecido em França, o Ti Guilhermino Cuco foi canteiro, serralheiro, emigrante, artista, e aos 20 anos CICLISTA.
De memória do Domingos Bispo, tambem ele ciclista, relato este verso popularmente corrido em batoréis, patinhos de casa, em cortes de “alevante” no Capeldelmo, em tabernas padarias e outras barbearias.
Cantavam assim:

O Tanganho e mais o Guerra
Iam fartos dapedalar,
Na barrera do Garret
Passou o Cuco a cantar.

Assim mesmo, em Alcainês de “harmónio” da estrada de Santo António, enquanto o Domingos afinava os cones da minha bicicleta.
Especialista em bater “récordes”, é hoje um dos homens mais idosos de Alcains.
Nasceu em 1920, tem 90 anos, e é filho de José dos Reis Sanches e de Ludovina da Conceição.
O Sr. José dos Reis Sanches, empreiteiro, com casa ao lado dos correios no largo de Santo António, era sobrinho do pai do Ti Guilhermino, que tinha como profissão a de Cantoneiro da extinta Junta Autónoma de Estradas.
Mas, CUCO porquê, perguntei.
Recorda apenas que:

1 - Já o pai era Cuco,
2 - Ele Cuco é,
3 - E a filharada Cuca é da cabeça ao pé...

Composição em tercêto Alcainês do Degredo.

Pouco tempo andou na escola da praça em edifício onde hoje está a Junta da Freguesia, escola do tracôma, em aulas dadas pelo professor José Miguel.
O ribeiro por cobrir em 1930,com ponte em madeira que desenhava passagem para a outra margem.
Em incursão ao leito do dito, acha lata de tinta, e com trincha de artista, pinta grade de madeira de ponte sem horizonte...
De sobretudo, o filho do professor, borra pintura sentando-se em tinta fresca de Cuco artista e de “stêncil” já tintado, bórra banco e estrado por todo o lado, até ao quadro.
Dezassete, repito, 17 réguadas levou o Cuco artista com dor, por ter achado tinta que tintou sobretudo, o sobretudo ao filho do professor.
Fugiu, a pedra deixou, desertou, deixou também caderno e nunca mais lá foi!!!
As ditas dezassete caíram nesta e na outra mão...
Por volta dos sete anos,apareceu-lhe na mão uma “abágoa”, uma bôlha, e ao Sr. Raúl foi mostrar sem consulta prévia, sua mãe Ludovina “atagantada” com aquela tchaga.
Filhos de cantoneiros que ambos somos, desabafava com a cumplicidade própria de quem conhece os cantões...
Ó Manel fui para lá com medo, e se me descuidava, vinha de lá sem dedo...
Deixou por lá a pedra da escola e filho de cantoneiro foi aprender a arte de canteiro.
No Alentejo, na Serra da Estrela, na Guarda em Celorico da Beira, em Vilar Formoso e por fim três anos nos Açores, em S. Miguel na construção de um farol.
Trabalhou na construção do edifício da Caixa Geral de Depósitos de Castelo Branco, mais uma obra de canteiros de Alcains e depois no liceu de Castelo Branco.
Cansado das pedras, passou de canteiro a serralheiro, fazendo escôpros, cinzéis, picólas, martelões, marrêtas e massêtas, picos, arranca pregos e até arranca dentes em ferro forjado para o Sr. Raúl.
Tinha forja na travessa das Laranjeiras, onde temperava sapatos que calçavam picarêtas, ferros de assento em têmpera de óleo quente.
Com tal labor e reconhecimento, fazia naqueles tempos ferramentas de artista, do canteiro ao dentista.

CICLISTA...

A segunda Grande Guerra Mundial, de 1939 a 1945, apanha o ciclista pelos 20 anos de idade.
Ganhava oito escudos por dia, e compra a prestações 17 quilos de bicicleta com dois bidões por cerca de setenta escudos, trinta e cinco cêntimos.
Em Castelo Branco trabalhava, em Alcains descansava e entre Castelo Branco e Alcains, treinava, corria, sprintava.
Com o Tanganho e o Guerra dos Escalos de Cima, o Fiel da Lardosa, o José Chupa e o José Penedo de Alcains, ambos falecidos, corria e ganhava umas e perdia outras, corridas claro.
Correu em Évora, Belmonte , Guarda e Lisboa e claro em todas as festas das redondezas que lhe deram fama e algum proveito.
Mas naquele tempo a guerra tudo tirava.
Chegou a fazer pneus de cortiça, que enfiava rolos de cortiça em arame e apertava para do aro não saltarem.
Até que um dia, o Sr. Leopoldo foi a França e lá aprendeu a fabricar pneus, a princípio de pano crú, que empenavam mais que caminho para casa de homem toldado pelos cópos.
O desporto naquele tempo era inexistente e então faziam muitas corridas de bicicleta.
Por dua voltas no circuito ciclista do costume, ganhou muito destacado aos seus rivais, e foi levado em ombros com um prémio de cinquenta escudos, vinte e cinco cêntimos.
Hoje, 18 de Setembro, depois de um almoço de arroz de perca com os meus pais, falei-lhes do Guilhermino Cuco e do trabalho que estava a fazer.
Com música da canção Adeus aldeia... entoaram a pérola que se segue.

Adeus ó Cuco
Deixas-nos de luto e quase a chorar...
Diz o Tanganho
Que bruto tamanho para apedalar.

Quando o Cuco apedalou e avançou,
Disse adeus aos camaradas.
Em Castelbranco à chegada,
Mesmo assim houve porrada,
Mas o Cuco é que ganhou.

Quando o Fiel se cansou, não foi capaz
Diz ao Cuco na partida.
Ó Cuco deixa a corrida
Porque ela está tremida,
Aqui pr`ó rapaz.

Este é para mim o melhor testemunho da popularidade e do valor do ciclista Guilhermino Cuco cuja lenda popular em verso fica registada.
Os meus pais com 85/86 anos recordam as corridas, as rivalidades entre terras e ciclistas e enaltecem os feitos do Gilhermino Cuco como um dos melhores senão o melhor ciclista de Alcains.

Nota: Entretanto e porque considero relevante para ficar registado, o Ti Guilhermino conta-me que a pedido da mãe, por esta estar a ficar sem crédito no livro de assentos do fiado, foi pedir aumento ao Sr. José dos Reis Sanches, seu familiar e patrão.
Apelidou-o de comunista, nome que ele com 15 anos não imaginava sequer existir, muito menos o Ti João Velho, pai do Tónho Velhote e que eu ainda conheci, que era o encarregado dos trabalhos.
Aguçada a minha curiosidade perguntei-lhe se sabia quais eram os comunistas de Alcains, naquele tempo e lá foi referindo o José ou Joaquim Relvas que morava a seguir á rua do Regato da Sola antes do Cabeço, do Ti Ernesto Sequeira (que tinha um irmão o Chico Mingacho) que conheci sempre pobre e que vivia da compra do Ferro Velho e morava na Travessa Dr. Vicente Sanches, e claro do ti Zé Manha, a quem às seis da manhã vieram buscar à rua do Chafariz Velho.

Era de noite,
E levaram.
Era de noite,
E levaram.
Quem nessa casa
Vivia
Casa, vivia.
Casa vivia,

O José Afonso, sabia bem o, e porquê cantava...

Manuel Peralta

A MENINA ALICE

ALICE CHAVES
Com 25 anos de idade em 1959 e depois de acesa disputa entre São Miguel de Acha e Alcains pela prestação dos serviços de enfermagem da então recentemente formada Enfermeira Alice, por cá ficou “uma amiga” que tal como as estrelas,” nem sempre se vêm...mas estão lá”.
Naquele tempo, em 1959, ainda o Hospital José Pereira Monteiro cumpria a sua função estando à sua frente o Sr. Padre Heitor, que ganhou a contenda e onde a menina Alice iniciou um caminho de “eterna menina”, qual for de estufa que pela generalidade dos Alcainenses, assim é carinhosamente tratada.
Com a saída de Alcains do Sr. Padre Heitor, sucede-lhe o então Reitor do Seminário de Alcains, o Sr. Padre Francisco Rodrigues Chaves, que chegou a Cónego na hierarquia da Igreja Católica e foi Pároco de Alcains após a morte do “nosso” Sr. Vigário o saudoso para mim, Padre António Afonso Ribeiro.
Conta-me a Menina Alice que teve uma infância e juventude de saúde muito débil, chegando a estar internada um ano devido a uma lesão pulmonar.
Muitas vezes só...por vezes, apenas por companhia de imagem de Nossa Senhora com quem se aconselhava, a quem rezava, a quem saúde pedia nem que fosse por um dia...
Apesar de formada em ciências, a sua emoção suplantou a razão e mulher de fé que foi e é, acredita que a sua cura se deveu à sua força interior, à sua religiosa fé.
Fé testada nos labirintos de recaída no Hospital de Celas em Coimbra, com freiras, muitas vezes arteiras...
Naquelas noites tristes e tempos de solidão, resistiu, disse não... começando a compor os poemas que de refúgio serviam para alimentar a precária vida, as angústias, as alegrias e tristezas, a saudade.
Dizia, ficava melhor quando escrevia!!!
E tanto escrevia que, em certo dia, em casa ouço a minha filha, criança ainda, cantar umas quadras de uma “Marcha de Alcains”, que em Rancho Infantil ensaiava.
Averiguei e cheguei então há uns anos à “escrita da Menina Alice”...
ALCAINS, ó Minha Terra, é um poema que retrata bem o carinho e a amizade que a Menina Alice nutre por Alcains.
Refiro apenas uma das seis pérolas com que nos brindou.

Em arte não tens rival
Nas pedras tu és rainha
Tens canteiros sem igual
Não há outra em Portugal
Só tu podias ser minha.

No seu livro “ALMA EM VERSO”, percurso poético da sua vida, a Menina Alice conta de forma fina e elegante uma parte da história de Alcains, que ela ajudou a construir.
Em 1932, de família oriunda de São Miguel de Acha, em Braço de Prata, Lisboa, nasceu uma eterna menina, Alice de seu nome.
Sabe, dizia-me, esta coisa de a generalidade das pessoas de Alcains me tratar por Menina, mexe comigo...
A Menina Alice é que mexeu connosco, respondo eu agora, pelo seu livro, na sua ajuda à comunidade Alcainense, no apoio à catequese mas principalmente na Extensão de Saúde pela disponibilidade, pela educação, e pelo modo humanizado com que exerceu a sua profissão.
Pelo legado que nos deixa, a Menina Alice não esteve no país das maravilhas...ela foi sim, para Alcains, uma autêntica MARAVILHA.

Manuel Peralta

Nota: Quando da publicação do seu livro, escrevi para o Reconquista em 13 de Agosto de 2009, o texto que agora aqui publico.

Alcains, ó Minha Terra.

O Filho da Menina Alice

Pela mão da minha esposa entrou em casa educado, tranquilo, e não se sentou enquanto para tal não o convidei...
Vinha de calção verde escuro, marinho, boné com pála para a frente e trazia ao peito um gerbérico pólo rosa, explosivo em bem fazer de um percurso poético de uma vida versejada de “Alma em Verso”, de chaves que abrem as fechadas portas destes tempos de muita parra e pouca uva...
A Ana Maria e o Francisco Rafael adubaram uma leira de terreno fértil em emoções, que em tardes de domingo regaram com muitos afectos e estimularam a hiper discreta menina Alice a mentalmente dar à luz uma vida repleta ao serviço dos outros, na catequese, na doutrina, no Lar Major Rato, na Extensão de Saúde de Alcains como Enfermeira, e em todas as actividades relacionadas com os outros.
Com ela na Extensão de Saúde não havia horas para as injecções, muito menos para medir a “atenção” de pais e avós que sem caderno e com a “atenção” em 18/14 tinham ali apoio discreto, e não eram enxovalhadas com tempos, prazos, limites, ter a vez, e outras formas públicas de afastar os mais dependentes que de chapéu na mão, mendigam envergonhadamente direitos que a democracia não consolidou.
No Lar Major Rato, acompanhei de perto com o Sr. Luis Pequeno a sua acção desinteressada como enfermeira, ensaiadora do Rancho, apoiante diária de actividades ao serviço dos outros sempre com um sorriso, uma palavra, um afecto, enfim, um olhar companheiro de esperança que nos estimula a acreditar que vale a pena estar com os outros.
O seu “Filho”, de nome “Alma em Verso”, nasceu e viu a luz do dia com as dificuldades das mulheres de fibra como a Menina Alice, foi um parto normal, assistido pela Ti Luz Pereira, e pela Ana e o Chico, não foi ao solar dos Goulões ao Engraxatório onde basta dar graxa e os apoios aparecem... eu próprio tenho no prelo um livro denominado “A importância do pescoço pelado no desempenho da galinha pedrêz”, e não consigo apoio para o publicar, mas não vendo as minhas convicções para ter filhos que ninguém lê, conhece, e são encargos futuros para os pagadores de impostos...
De 1944, S. Miguel d´Acha, vestido de chita e tranças, a 1966 com permanente e blusa de táfetá, a Menina Alice viveu no Prejac, no Amor de Mãe, na Imaculada Conceição, na Primavera, Desalentos, Imaginação, Enfermagem, Serei feliz... entre muitos outros no recinto de Santa Apolónia na festa do Sr. Vigário numa carta linda que o seu filho, de Alma em Verso retém.
Sabe Menina Alice, por vezes, nestas missas sem Tantum Ergum “os nossos olhares tocam-se... na minha mente o seu filho está comigo...no bem fazer, na discrição, num olhar de gente simples, como simples é a sua passagem pela vida, na lembrança das simples pessoas que o seu filho marca e marcará.
Alcains ó Minha Terra, para quem conhece a letra, diz bem do seu amor pela terra que a adoptou... ter nascido em Alcains não dá qualquer direito especial de mordomia...mas esta sua terra cheia de encanto e beleza, airosa, singela e portuguesa ficará por cá... sempre nas mentes das simples pessoas de bem que a olham com a simplicidade da Menina Alice.
Contradizendo o que se diz no Engraxatório, não é necessário um grande homem para haver uma Grande Mulher.
Pedindo licença para se levantar, o filho da Menina Alice, saíu como entrou... uma parte dele ficou por cá.
Valeu a pena ter conhecido o filho da Menina Alice de nome”Alma em Verso”.

Manuel Peralta

domingo, 12 de setembro de 2010

“MOLEIRO”, JOÃO DOS SANTOS.

...dos diabos não conheço nenhum, mas dos Santos, todos claro, conheço vários Joões... um calceteiro, um canteiro e um empreiteiro que me lembre.
Mas, quem conhecerá João dos Santos, canteiro, se não lhe chamar Moleiro?

Este sorriso que a custo consegui arrancar, retrata um momento feliz em casa de artista, agora em sofá sentado, enquanto com lista de espera de nove meses, aguarda serenamente por intervenção cirúrgica a uma hérnia que tanto o incomóda.
Oitenta e nove anos, tantos quanto a esposa, Joaquina Lopes dos Santos, com quatro filhos, um rapaz e três raparigas, vivem ali na Travessa das Pedras do Sal em casa de quintal com atelier ali à mão.

MOLEIRO porquê?

Os seus pais, António Dias Opinião e Maria da Conceição, (Mergulha), eram moleiros e até aos 17 anos o Ti João por ali viveu lado a lado com a Ocrêza, por vezes de águas têsas, com bordalos e barbos no açude que lhe deu saúde...
Portanto, aquilo que foi a profissão dos pais e a dele até aos 17 anos, passou como apelido para ele, e, claro como em leira de terra fértil, houve mais moleiros que vinho mas agora sem moinho...
Naqueles tempos, 1910, 20, até 1960, havia na ribeira da Ocrêza, seis moinhos, dos quais refiro os seus proprietários:


-de António Dias Opinião
-do Cartucho
-do Mergulho
-do Simão Martins

-do Carvalho, e

-do António Albano.

Sobre moinhos, relembro uma das quadras que em pequeno cantava, dirigida à Ti Ana Castilho, casada com o Ti António Opinião e que durante muitos anos viveram no moinho, e, ali com o meu pai e outros amigos, comêmos excelentes migas de peixe. Cantava assim:

Óh ti Ana do moínho,
Do moínho do outeiro.
Vale mais o seu moínho,
Do que vale o mundo inteiro...

Cansado daquela “moadeira”, que lhe moía a vida, e já que condenado estava ao pó, decide então trocar o pó da farinha pelo pó da pedra e lá foi aprender a arte de canteiro.
Andavam então os trabalhos na estrada nacional 18 entre Castelo Branco e Covilhâ, cujo sub empreiteiro era o Sr. João Dias, (Grêlo) que foi seu mestre.

As “primeiras luzes” foram em lancil, depois em vergas, pontões, fontenários até que subindo de categoria e à medida que amadurecia, o seu talento foi desabrochando, suando, andando...
Porque estão por aí, dispersas, relembro algumas das obras mais relevantes do Ti João Moleiro:

-Brazão da praça de Sertã.

-Brazão da praça do Tortozendo.
-Brazão do quartel da Guarda Fiscal de Almeida.
-Brazão da família Resende em Vale de Azares.

-Brazão do Palácio da Justiça da Covilhâ.

-Brazão da Escola Técnica da Covilhã.(Por cima do Palácio da justiça)
-Emblema da cidade da Guarda, que foi oferecido à Nossa Senhora de Fátima, em Fátima.
-Cruzeiro do Bom Jesus em Famalicão da Serra. Este cruzeiro tem braços de dois metros o que dá uma ideia do monumento.
-Em Aldeia do Souto, para o Sr. António Dias Freire, vários fontenários para quinta particular.

Esta é a arte dos canteiros Alcainenses, a que eu chamo “eternamente emigrada”, sem retorno às mãos que as fizeram...(se alguém passar por estes locais e quiser ou puder tirar foto, que a envie para o Terra dos Cães para ser publicada e aqui ficar registada), até que entidade responsável se decida a recolher, classificar, e ordenar para memória futura em museu ainda muito pouco de canteiros...
Passou a Mestre e a ensinar quem queria aprender...o Samarra, o Oliveira, o Zé Martinho, o Esgueira e até o seu filho, José Lopes dos Santos que chegaram a ter a cargo pedreira com cerca de 20 canteiros.
Foram poucos os canteiros de Alcains que não trabalharam para e com o Ti João.

Ia para a Covilhâ tirar medidas e o filho que tomava conta da pedreira ia à noite para Castelo Branco estudar, e claro abandonou as pedras.
Desemborrassava, que palavra de canteiro, linda de Alcainês das Pedras do Sal, os que queriam e não sabiam, mas pouco havia a fazer com os que não sabiam e não queriam trabalhar.

Da sua arca de tesouros, retira colecção que a foto abaixo reproduz, de “arte em pedra” esculpida sem molde, de cabeça e mãos que tantas vezes içaram o fio de prumo, braços cansados do bater da picóla, mão calejadas do cabo de carvalho e do peso da massêta, da bola em pedra com que tantos canteiros honraram o GDA, do machado que não cortava “a raíz ao pensamento” aos pedreiros livres que havia...

Por tudo o que foi dito, bem se pode considerar o Ti João Moleiro como um ESTATUÁRIO.
E por tal relembro o Padre António Vieira, que viveu no século XVII, natural de Lisboa, e que faleceu com cerca de 90 anos.

Coligida em Sermões e Cartas a obra que nos legou, é marco importante da cultura e da língua portuguesa, e o seu poema O ESTATUÁRIO, retirado do livro, Leituras da quarta classe, enquadra também POESIA EM PEDRA DO TI JOÃO, em obra recentemente por si esculpida.

O ESTATUÁRIO

Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas,
Tosca, bruta, dura, informe.


E, depois que desbastou o mais grosso,
Toma o maço e o cinzel na mão,


E começa a formar um homem.

Primeiro, membro a membro
E depois feição por feição, até à mais miúda.

Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa,
Rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz,


Abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces,
Torneia-lhe o pescoç
o, estende-lhe os braços,

Espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos.
Lança-lhe os vestidos,


Aqui desprega.
Ali arruga,


Acolá recama,

E, fica um homem perfeito,

E, talvez um santo,

Que se pode por no altar.

Padre António Vieira

Durante cerca de mês e meio, quase todos os dias, tive o grato prazer de conviver de perto com o Ti João na elaboração do POEMA EM PEDRA que acima se reproduz.
ANJO “NAIF” DE GRAVATA ÀS RISCAS, trabalhado com uma colecção de cinzéis, quais bisturis de cirurgião, quais canetas de escritor em pedra, com riscóte riscado em pedra de granito cortada, por detrás do Infantário da Pedreira.
Relembro o Ti João de boné na cabeça, sentado no seu atelier de ar livre, qual sala de operações, em que cada pancada falsa em pedra pode matar obra sonhada de “homem perfeito, e talvez um anjo que se pode por no altar”...
Foi um prazer ter estado tão perto do Ti João Moleiro.

Manuel Peralta

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ALCAINS - RUA DOS MORTÓRIOS, PORQUÊ?

Descia Degredo abaixo a caminho da Levandeira e depois de, à esquerda, dobrar a primeira galariça, avistava-se então o cólo da Líria ali denominado por ribeiro do Pinheiro em homenagem a um pinheiro, negligentemente abatido, de enormíssimas dimensões em porte e altura, que era um devaneio para Pios, Cambalhotas, Lêtchas e Zópas no treino de calhoada em pinhas, prenhes de pinhões pendurados em pescoços com linhas...
Depois da ponte o lagar, e, pelo lado nascente entrava na rua dos Mortórios.
Mortórios, nome receoso para candidato a rapaz então com sete a dez anos, de marrafa feita com mistura ténue de água e açúcar que entre duas “crutas” cocorutas, afunilavam profundo risco lateral a caminho da missa dominical.
Ia por ali, a mando de minha mãe, pedir a bênção à minha tia Ana Minhós, solteira, da Dona Josefina Marrocos Taborda Ramos, cozinheira, do Sagrado Coração de Jesus, devota, de Deus, temente, e que nunca rezava menos que uma unidade, isto é, três terços, Fátimamente apelidado de Rosário e a quem o meu avô materno, com quem vivi até aos vinte anos, enxofrava de forma solene... quem muito reza de alguma coisa se teme!!!
Assim como naquela imagem que, no meu quarto com marmelos e uvas pendurados nos caibros do soalho, de menino a atravessar ponte em ruina protegido por Anjo da Guarda, a rezar me ensinava o meu pai, enquanto fiscalizava colheita de bago... Deus é bom, e o Diabo tem dias ...
E assim, por mortórios, ia à missa dominical do Sr. Vigário e ao Tantum Ergum, Sacramentum, do Ti Manuel Sacristão.
Mas Mortórios, porquê?
Em tempos muito idos, houve uma praga que dizimou por todo o lado as videiras.
Esta praga começava pelo amarelecimento das folhas, pela secagem dos gomos, das vides, e por fim das cêpas que lentamente iam perdendo a acção, adormecidas, do lado oposto das vidas.
Esta praga, denominada “FILOXERA” matou as vinhas, e a estes cemitérios de videiras chamaram então Mortórios, vindo daqui presumo eu, o nome de Rua dos Mortórios.
Para toda a Europa vieram então dos Estados Unidos porta enxertos híbridos, que permitiram debelar a praga e hoje até as Terras de Granito, ao que consta, dão bom vinho.
Só que a rua dos Mortórios, em Alcains, diz-me o Palhinhas e eu constatei no local, ainda está com a “Flóqséria”, isto é a calçada é uma vergonha, desde o tempo dos esgotos que nunca foi mexida, a erva nasce e prolifera desde a entrada da rua do Ribeirinho até à quelha do “Polainas”, a calçada ainda é do tempo em que o Ti Domingos Barata esteve na Junta, e a Ribeira da Líria que por ali em esgoto corre, é todos os anos tamponada com plástico preto pelos Serviços Municipalizados de Castelo Branco, tentando com este passo de mágica, persuadir os maus cheiros a irem em êxtase explodir, em perfume raro e casto, nas sarjetas do Lar Major Rato.
Aquele ecran preto que convido a visitar, atesta bem a consideração e o respeito pelos moradores e é o espelho dos Serviços...
Por cá esta filoxera é muito comum, a maioria das ruas de Alcains são autênticos Mortórios, sem limpeza, com falta de projecto, agressivas na escuridão da iluminação deprimente, sem gente, ausente.
Ali nos Mortórios pouco ou nada mudou, o Palhinhas, o Bonanza, o Finfas o António Barata e outros moradores limparam a sua testada, cumpriram a sua missão, melhoraram as casas, limparam quelhas mesmo no meio de muitas casas velhas.
Pagam IMI, e taxas aos Serviços, se não limpam, vivem nos lixos.
A água que abastece os moradores ainda corre em tubos de lusalite, quando é sabido que, até nos telhados das escolas, as autoridades sanitárias intimaram os responsáveis a retirá-los.
Entretidos que andam com o projectos da dita modernidade, os reponsáveis esquecem as suas obrigações nas necessidades básicas dos munícipes.
Em Alcains, nos Mortórios, aquela rua que ainda é o que era, continua com filoxera.

Texto publicado no Reconquista de 09.09.2010

Manuel Peralta