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domingo, 29 de maio de 2011

CARLOS MANUEL BARATA

Partiu prós TOULÕES...

Claro, por este nome e sem foto quem poderia ser?
Refiro-me ao Barrêto, o Carlos, que decidiu com a família fixar-se nos Toulões.
Sabe Sr. Manel tenho lá casa e terra, herdo da minha companheira, Isabel Rolo Martins.

Carlos Manuel Barata / Isabel Rolo Martins

O Carlos Barrêto, com quem convivi de perto e do qual conheço a sua família, era o homem que me cavava o quintal, que raspava a erva e que pastoreava 40 a 50 máquinas de cortar relva na ribeira da Líria.
Com fato e bota de horta, ao lado dele, aprendi a dar a volta à terra, a cavar, a esborralhar, a fazer bredas, a fazer gomas, e, a mondar sem tretas fiz-me quase agricultor de letras...
Cumpria uma função social importante, pois ajudava os caixões a descer à cova nos funerais, a subir pesadas urnas nos jazigos, matava quer carneiros, cabras, ovelhas e borregos.
Fumava de quando em vez um cigarrito... não bebia bebidas alcoólicas.
Como me contava, trabalhava para muitas pessoas de Alcains no arranjo de jardins, espalhando estrume nas hortas, mudava pesadas mobílias nas casas, podava, cavava, plantava...

Máquinas de cortar relva na ribeira da Líria

Com ele, a ribeira da Líria estava bem barbeada, menos abandonada...
Especialista em trabalhos que a generalidade da sociedade rejeita, mas de valor social indiscutível, partiu há tempos com a família, tranquilo, ainda com ilusões, para os Toulões.
Com a partida do Barreto, não há mais quem faça o que se fazia... encostados uns ao Rendimento Social de Inserção, outros ao Rendimento Mínimo Garantido, Alcains fica mais parecido com o País, não lavado, encardido...

Manuel Peralta

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O 25 de Abril de 74 em Alcains

Anarquia e polémica.

Passaram entretanto 37 anos. E os tempos que se vivem não são de celebrações nem foguetórios. Sim porque se os cravos há muito murcharam, o FMI, o BCE e a UE, cravaram o derradeiro prego no caixão onde muitos depositaram as suas legítimas esperanças. Há no entanto talvez duas gerações de alcainenses, os que ainda não eram nascidos nessa data e aqueles cuja juventude, não lhes deixava verdadeiramente entender, o que a agitação à sua volta representava, e é para esses sobretudo, que alinhavo especialmente este apontamento.

Vamos porém aos factos. Tinham passado poucos dias sobre o 25/4, e o MDPCDE, que em Castelo Branco aglutinava a oposição tradicional ao regime que caíra, preparava a tomada do poder na Câmara Municipal e tentava alterar o poder nas Juntas de Freguesia do concelho, apadrinhando algumas movimentações locais. Em Alcains, talvez que os rostos mais visíveis dessa mudança, fossem o José Rodrigues Castilho (da loja), e o José Pereira de Jesus. Outros haveria certamente, mas a esta distância, creio que eram os rostos mais visíveis para a protagonização da mudança.


No entanto, surgindo quase do nada e aglutinando com o seu poder de argumentação, entusiasmo e dialéctica, surgia no terreno uma força política, até então quase desconhecida no interior – o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, vulgo MRPP, de inspiração maoista, que vem baralhar a estratégia mais conservadora e realista do MDPCDE.

E em Alcains sucedeu mais ou menos isto. É anunciada a convocação dos alcainenses para um plenário a realizar no Largo do Espírito Santo, onde a Associação dos Canteiros era o emblema de uma certa oposição ao regime que caíra há poucos dias, para substituir os membros da Junta de Freguesia.


Em simultâneo para o mesmo dia, e antecedendo o plenário, é convocada a população para uma romagem ao cemitério, à campa do Juíz Conselheiro Dr. Emídio Pires da Cruz, morto em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas, mas associadas à polícia política, na altura ainda PIDE e não DGS, com que Marcello Caetano lhe pretendeu lavar a face.


Era uma ensolarada tarde de sábado. O MRPP antecipa-se e dou comigo na varanda da minha casa, na Rua da Liberdade, a ver um cortejo com o seu quê de anárquico, mas vibrante, com cartazes e vivas ao MFA, à Liberdade, à FRELIMO, ao PAIGC e ao MPLA e a mim pessoalmente, regressado há menos de um ano da Guerra Colonial, e sem estar ainda em vigor um cessar fogo, me parecia extemporâneo, e até dorido aos familiares daqueles que em África tinham tombado e aos daqueles que ainda lá estavam.

Esta manifestação, onde a Juventude imperava, foi mesmo ao cemitério, onde terá depositado uma coroa de flores e ouvido um Sanches Roque eufórico com o momento que se vivia. E entretanto em Castelo Branco os membros do MDPCDE, atrasavam-se, à época não havia telemóveis e os MR,s dirigem a manifestação que entretanto engrossara, para o Largo do Rossio, onde da varanda da Associação de Canteiros falariam os diversos oradores.

O MRPP dá a deixa e seguem-se vários oradores, com palavras de ordem então mais objectivas: com o MFA contra o fascismo, contra os patrões, são as palavras que mais se ouvem, gritadas com alma daquela varanda. A excepção, terá sido Sanches Roque, talvez o mais ingénuo dos oradores, que lançando ao ar o chapéu, gritava a plenos pulmões: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Viva a Liberdade!


E quanto ao objectivo principal daquele comício/plenário, que seria a substituição dos membros da Junta de Freguesia, nada.

Eis que entretanto chegam afogueados, talvez o Dr Manuel João Vieira, o Carlos Vale, creio que o Fernando Braz, com raízes em Alcains, e uma senhora de que já não retenho o nome, operária fabril e que mais tarde militaria no PCP, mas os MR,s barram-lhes o acesso à varanda.


Surge então o Presidente da Junta em exercício, José dos Reis Dias, o suposto Presidente da Junta a demitir, que da varanda da Associação se dirige aos presentes, frisando que Alcains era uma terra de gente ordeira e civilizada e que os presentes deveriam escutar as palavras que os “Senhores de Castelo Branco” ali estavam para dizer. Estas palavras são vibrantemente saudadas pela multidão, e o MR muda o slogan, passando a ouvir-se, que os problemas de Alcains, teriam que ser resolvidos pelas suas gentes e não escutar lições de ninguém.

Face a isto, e vendo que os desígnios daquela manifestação/comício já não seriam os esperados, as comunicações dos membros do MDPCDE, assumem um carácter mais didáctico, falando das suas experiências pessoais de oposição regime que caíra, da Guerra Colonial e das suas consequências, e do valor inquestionável da Liberdade.


Cantou-se o Hino Nacional e terminou a concentração.

Falhara redondamente a estratégia do MDPCDE e mais, os seus membros só não seriam mais hostilizados, devido às palavras de José dos Reis Dias, pode dizer-se, o grande vencedor daquele anárquico comício.


Mais tarde, sei que a Junta de Freguesia logo após a instalação dos novos Órgão Municipais, terá colocado os seus lugares à disposição, tendo ouvido destes, que deveriam manter-se em funções. E assim seria.

David Infante, correspondente da Reconquista, alinhavou a sua crónica e é claro, que se houvera aspectos daquela anárquica manifestação que nem os presentes tinham entendido muito bem, por maioria de razões os ausentes muitas mais dúvidas teriam.


E no nº da Reconquista seguinte, surge um artigo de opinião, do ex-sacerdote, Dr. João Oliveira Lopes, que manifesta a sua incredulidade perante o que lera. Pura e simplesmente não percebera patavina do que se passara.

Estava dado o tiro de partida para uma polémica na Reconquista, que terá durado seguramente uma meia dúzia de semanas ou mais, em que David Infante e João Oliveira, disseram cobras e lagartos, nem sei mesmo se chegaram a roçar o insulto pessoal.



E isto tudo, porque o Dr João Oliveira, a residir creio que em Coimbra, queria perceber o que se passara e David Infante, em sua opinião, não o relatara. Pudera. Quem seria capaz de colocar em letra de forma, fielmente, um acontecimento com estas nuances!

Em resumo: para mim foi este o facto mais revolucionário e convenhamos anárquico, directamente assacado ao 25 de Abril de 74, vivido em Alcains.


Outros na mesma onda, mas do meu ponto de vista, com menor impacto, sucederiam entretanto e a eles voltarei oportunamente.

MC
Textos e fotos de MC relativos à Guerra Colonial em:
- Panoramio photos by José Castilho
- Galeria Noqui

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ti Zé Cego, do Cabeço

Não, não é o José “Ceguinho” que tocava acordeão nos casamentos e nas voltas da malta da inspecção militar.
Trata-se de dar vida ao Ti José dos Santos Pedro do Vale, popularmente baptizado de Zé Cego, que nasceu em 18 de Janeiro de 1903 e que foi casado com Maria da Natividade que nasceu em 11 de Março de 1905.
Habitavam no Cabeço, pequeno amontoado de casas encarapitadas umas nas outras, com bredas, passagens entre as casas de menos de meio metro, no limite da Rua do Regato da Sola, a caminho da Lage da Judia para a Travanca.

José dos Santos Pedro do Vale / Maria da Natividade

O Ti Zé, nasceu quase cego de uma das vistas.
A pobreza, a ausência de quaisquer cuidados médicos, a falta de tudo em 1903, imagino, conduziram a que acabasse por cegar também da outra.
Teve oito filhos, dos quais seis se encontram vivos, cinco mulheres e um homem.
Para quem me lê, e que, por esta descrição, ainda não identifica a quem me refiro, publico as fotos de duas das suas filhas quando tinham 21 anos, com quem passei uma tarde de canto, na rua do Degredo, na casa que foi dos Martânos.

Maria da Conceição Vale

Maria José da Natividade Vale

Tabernas, sapatarias e barbearias eram por volta de 1950/60 e 70, locais de encontro de todos, principalmente daqueles que afogavam tristeza e pobreza em solidão.
Procuravam algum conforto, uma palavra, um cumprimento, uma fala, um dito, uma novidade.
Cada um contava o que sabia e assim se aprendia...
Criança que era em 1960, nos bancos da barbearia do meu padrinho, Manuel da Paixão, no Outeiro, ouvia maravilhado da memória do Ti Zé Cego um desfilar de ditos populares, quadras, elegias melhores que suaves poesias, de cego que via, com a imaginação de um cérebro ladino que tanto impressionava este, então, menino.

Foto actual de duas das filhas

Sentámo-nos, afastámos o pigarro da garganta, e com a música do fado canção que reza assim... óh bairro alto, fidalgo e fanfarrão... iniciámos um esforço de memória para recompor uma crítica social áspera aos homens e mulheres daqueles tempos na visão do ti Zé Cego.

MULHERES

A vida é para as mulheres,
Quando se juntam,
Fazem (a)ssembleia.
E falam da vida alheia,
Com a boca cheia,
E na plateia.

Quem quer ouvir as mulheres,
É nos fornos e nos soalheiros,
E ali dão ao linguado,
De quem é casado,
E também solteiro.

Perna estendida,
Dão à tramela.
Falam da vida,
De qualquer donzela.
Vão para casa,
Vão a correr.
Andam na brasa,
Porquê têm em casa,
O serviço para fazer.


HOMENS

E vamos agora aos homens,
Os que são amantes,
Da bebida.
Andam dias sem comer,
Só a beber,
Desgraçam a vida.

Vão pra casa fora d´horas,
Com a carguinha,
E a cambalear.
Se as mulheres os tratam mal,
Espetam-lhe um estalo,
Antes do jantar.

Se tem má vinho,
Vai p´ra casa avariado.
Pelo caminho,
Cantando o fado.
A cambalear,
Com a carguinha...
Se a mulher lá está,
Se começa a refilar,
Espeta-lhe uma sardinha.

E quando a sardinha é boa,
Minha patroa lhe dá valor.
Mas eu gosto da sardinha,
Quando é fresquinha,
Pelo calor.

E com a cota da mão,
Não gosto dela,
Nem com tomate.
Antes quero comer só pão,
Do que sem razão,
Comer três ou quatro.


VENTO

Filho da puta do vento,
Só mal é que faz...
Ainda há pouco,
Aventou um rapaz.
Dava-lhe de frente,
E empurrava-o para trás.

Nesse dia,
Eu ia pr´o comboio da manhã.
Aparece desenfreado,
Aos empurrões a mim.
Mal me descuido,
Já estava na estaçã(o).

Esse dia,
Fui eu que ganhei, cá na aldeia.
Quando cheguei à estação,
P´ra dar partida,
Ainda faltava hora e meia.


ALCAINS

Alcains, está muito aumentado,
Já vale mais um tostão.
Já cá tem a electricidade,
E o relógio de repetição.


PROCURANDO NAMORADA

Quando o Ti Zé, sempre de bengala e cigarro ao canto da boca, vinha da taberna do Ti Domingos, as mulheres, em grupos, sentadas nos batoréis à porta de casa, pediam-lhe,... óh Ti Zé, diga lá esta... ao que ele sempre anuía.

Ah catchópas, catchópas?!?!
Qual de vós está solteira?
Tenho uma bicicleta e uma mota,
E não acho quem me queira.
Ando farto de procurar catchópa,
E tudo me vira a trazeira.

Aquela que for comigo,
Eu faço-a feliz.
Tenho uma seara de trigo,
Que me dá pelo nariz. (ele tinha bigode)

Tenho uma arte aprendida,
Já não sou aprendiz.
Aquela que for comigo,
Não é para a enganar.
Mas se ela o quiser comer,
Tem que ela trabalhar.


EMIGRAÇÃO - FRANÇA

Óh Ti Zé, Ti Zé, diga lá a da França...

Hoje a França está a dar,
Para os nossos Portugueses.
Há lá muitos a trabalhar,
Que eles cá andavam tesos.

Sai o casado,
Sai o solteiro.
Sai o criado,
Sai o sapateiro.

Há quem venha cá de verão,
Cada um vem quando quer.
Se o espera na estação,
E se é casado,
Abraça a mulher.

É uma alegria,
Se vem com saúde.
Naquele dia,
Dá volta a tudo.


Recordam as suas filhas, que por vezes iam pedir esmola com o pai, as longas caminhadas a pé para recolher parcos tostões, as dificuldades da vida, e como dormiam vestidas na camarinha, riam-se a bandeiras despregadas pois tanto rompiam de noite como de dia...
O Ti Zé sempre me impressionou, em criança e ainda hoje, pelo respeito que nutro por gente simples mas de grande humanidade, em vidas em que a adversidade sempre esteve presente.
As suas rimas retratam a vida sofrida daqueles tempos, vistas do lado de quem por lá passou, um retrato social dos viveres de então.
Recordá-lo, emocionado, e dar-lhe vida no Terra dos Cães, é uma forma de reviver e prestar um tributo a quem me despertou na arte de versejar.

Manuel Peralta

terça-feira, 17 de maio de 2011

1º ANIVERSÁRIO

Um mês e tal de descanso.

Contas de balanço.

Unilateralmente, decidi parar também para pensar…
Não é que o que vou, vamos fazendo, se faça sem reflexão. Mas os comentários das pessoas, muitas que me encontram perguntavam qual a razão deste interregno.
Interregno, segundo a História de Portugal da 4ª classe, de Pedro de Carvalho, foi um período da história de Portugal em que estivemos sob domínio espanhol, o reinado dos Filipes, assim o repetia a minha saudosa professora primária Maria Amália Morão Carrega Rufino, ao João Bola e ao Zé Artilheiro que borravam a cópia do tinteiro…
Actualmente também estamos em Portugal a viver mais um interregno, desta feita sob o domínio do FMI, da CE e do BCE…
Neste meu interregno, não sei porquê gosto desta palavra, pois tem a acidez que cura, e tem a vantagem de mostrar as contas e fazendo o balanço diz-nos para onde devemos ir.

Couve Lombarda

Neste ano que passou, atingiram-se os seguintes resultados.

Total de visualizações de páginas -----------> 25.845

Das visitadas, as que atingiram maior número de visualizações, foram as seguintes por esta ordem.

Couve coração de boi

Ciclismo em Alcains .............................................. 283
Blog aberto. Guerra colonial ................................... 271
Blog aberto. Amola tesouras .................................. 227
Cães ................................................................. 175
Blog aberto. O renascer do futebol em Alcains .......... 149

Couve pão de açúcar

Bem vindos à terra deles… que é a nossa .............. 146
A rua Longa, rua da Liberdade ............................. 117
Futebol. Época de oiro ....................................... 107
Amor à camisola CDA. Casa do Povo ..................... 107
Balhinhas, Manuel Simões Roque .......................... 99

Couve Penca de Chaves

Por países, foram as seguintes visualizações de páginas.



Couve repolho bola de manteiga


Couve galega

Da parte da gente com coragem de escrever, foram efectuados 217 comentários.
Destes, foram apenas rejeitados dois que não publiquei, pois a coberto do anonimato, tresandavam a má educação e…
No Terra dos Cães há 18 seguidores que muito me honram.
Quando escrevi que era o melhor blog do mundo e arredores com Caféde incluído, não esperava tanta adesão e tantas palavras de incitamento.
Refiro apenas que o blog tem leitores em Angola, Coreia do Sul, Cabo Verde, Croácia, Letónia, Espanha, Chile, Ilha de Man, Dinamarca, Senegal, Suécia, Eslovénia, Ucrânia, Israel, Costa do Marfim, Argentina, Filipinas, Guiné Bissau, Moçambique e Austrália.

Em todos os Continentes os, Terra dos Cães, estão presentes.
Continuar, claro com o Minhós Castilho e o Geada.
É o que vou, vamos, fazer.

Bem Hajam a todos.

Manuel Peralta