Páginas

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Salmouras. Malgas de azeitonas.

- Oh, Maria de Lurdes não sei o que se passa, tenho as minhas azeitonas sapateiras!!!
- Se calhar ti Marizé, é da talha, já terá perdido o vidrado... ou então será da água do poço, que estaria choca?

Recordo estes diálogos entre as vizinhas da rua, quando por altura da Páscoa se efetuava a primeira prova das azeitonas que em novembro do ano anterior, se metiam em potes de barro vidrado por dentro, e se cobriam com água.
Tradição que gradualmente se vai perdendo, mas que eu vou procurando manter, uma vez que, entre muitas outras coisas, também gosto muito de azeitonas.
Condutos, mimos doutros tempos...pão com “zitonas”!!!
Sempre sujeito a correção, vou explicar como trato das azeitonas.

Em salmoura.

Colhidas as azeitonas, cordovil, bical e agora a modernaça cobrançosa, ou então a galêga, preta e vítrea, brilhante, quando bem madura, são as ditas colocadas em barrica de plástico e cobertas de água, preferencialmente sem cloro.


As azeitonas gafas, podres, picadas da mosca e com outras maleitas, devem ser eliminadas e limpas de folhas e dos pedúnculos que, na oliveira, as suportam.
Antes do plástico, eram as azeitonas colocadas em potes de barro vidrado, que com a salmoura e o passar do tempo, iam ficando cada vez mais frágeis, uma vez que o sal, muito, comia o vidrado e as azeitonas ficavam em contacto direto com o barro que, além de lhes alterar o sabor as tornava moles, parecendo passas, com mau sabor, e com uma salina capaz de ressuscitar um hipertenso...


A operação de substituir a água, agora já “azinagre”, proveniente da passagem da acidez da azeitona para a água, chama-se “escoar as azeitonas”, e efetuava-se deitando conjuntamente para um cesto de verga água e azeitonas, que perdendo a água, que escorria pela valeta, permite recolher toda a azeitona e voltar a deitá-las para a barrica de plástico e repondo água nova.
Provam-se entretanto, as azeitonas que, de escoa em escoa, vão perdendo cada vez mais acidez...
No mínimo, devem-se escoar três vezes as azeitonas, e a sua cura total, dura cerca de sete a nove meses, tudo dependendo da qualidade das azeitonas.
Quando da prova resultar apenas ligeira acidez, a polpa estiver semimole a atirar ainda para o rijo, e o paladar for agradável, então deve-se fazer a salmoura.
Calculado o volume de água que cobre as azeitonas, deita-se a água para uma bacia e vai-se acrescentando sal, ao mesmo tempo que com uma colher de pau se vai mexendo para diluir o sal na água.


Deita-se então para a água um ovo de galinha, crú, e vai-se adicionando sal e mexendo ao mesmo tempo até que o ovo comece a “vir ao de cima”, flutue.
Trata-se do princípio de Arquimedes, que de memória, cito:
“Todo o corpo mergulhado num líquido, sofre da parte deste, uma impulsão vertical, de baixo para cima, igual ao peso do volume do líquido deslocado”.
Esta é a medida artesanal da concentração de sal, para aquele volume de água, que, de geração em geração foi passando, e que, em casa de meus pais aplicava, mexendo e remexendo, sem suspeitar que o primo Arquimedes, também media por ali...só muito mais tarde me apercebi, e percebi!


Deita-se então a agora já salmoura para a barrica de plástico, e adicionam-se as azeitonas que ficam então a “tomarem-se” do sal.
Prontas a comer?
Bem, tudo depende, agora do artista.
Um bom punhado de orégãos secos apanhados em flor, quando estão prenhes de seiva, um bom copo de sumo de limão, algumas folhas de louro, podem ajudar a justar sabores para apreciadores.
De modo algum se devem deitar rodelas de limão que em contacto com a água, acabam por apodrecer e alterar completamente o sabor, idem para folhas verdes de laranjeira ou ramos de orégãos verdes...apodrecem precocemente e só estragam e atrapalham.


Porque quando o ovo flutua a concentração de sal é muito elevada, sugiro que se consiga salmoura com ovo a flutuar a meio da água, fica então com sal q.b.
Bom apetite e como vou almoçar, a entrada é um bom copo de vinho, e pão com “zeitonas”.


Voltarei com as ditas, outras, roliças, gordinhas até ao pescoço,“Retalhadas com Sal Grosso”.

Manuel Peralta

Notas
1 - SAPATEIRAS, azeitonas, têm este nome por associação de imagem, com as solas que os sapateiros demolhavam para as amaciar, antes de as cozerem aos sapatos ou botas.
A água ficava avermelhada/acastanhada, deitava mau cheiro, e a sola ficava mole, como as azeitonas sapateiras.


2 - CONDUTO, expressão em desuso que significa comer pão com mais qualquer coisa, em vez de pão seco, pão simples.
Pão com “zitonas”, pão com queijo, ou até para os mais afortunados, pão com chouriço...
Por tanto comer, em criança e já rapaz “pão com passas”, de figos secos, anda ainda por aí, de apelido ao ombro, o “pão e passas”.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

LIRIA – ARH/TEJO

A caminho de uma solução?

Para os seguidores da Líria, dou a conhecer mais um email, relativo ao tema.
Trata-se de uma abordagem integrada da situação, com propostas de soluções, avisos e alertas a todas as entidades que têm a ver com a Liria.
Expectante, vou, vamos aguardar.

Manuel Peralta


De: Manuel Peralta [mailto:manuel-r-peralta@sapo.pt]
Enviada: terça-feira, 22 de Novembro de 2011 12:30
Para: 'carlos.cupeto@arhtejo.pt'; 'geral@arhtejo.pt'
Cc: 'Antonio Santos'; 'abilio.valente@arhtejo.pt'; 'GNR_CO_DSEPNA_SOSAmbiente'; 'Partido Ecologista "Os Verdes" "Os Verdes"'; geral@sm-castelobranco.pt; 'geral@min-agricultura.pt'; 'doai@drapc.min-agricultura.pt'; 'amavel.santos@aguasdocentro.pt'; 'alcindo@drapc.min-agricultura.pt'; 'Anselmo Cunha'; camara@cm-castelobranco.pt; 'Nelson Mingacho'; 'nuno.lourenco@sm-castelobranco.pt'; 'nuno.maricat@sm-castelobranco.pt'; 'joao.carvalho@sm-castelobranco.pt'; 'lidia.barata@reconquista.pt'; 'igaot@igaot.pt'; junta.alcains@netvisao.pt
Assunto: Ribeira da Líria em Alcains.Reunião com ARH/TEJO, SEPNA ,moradores, Comunicação Social e JFreguesia.

Exmº. Senhor Professor, Carlos Cupeto.

Diretor de Recursos Hídricos do Interior.

Tenho presente a excelente jornada de trabalho realizada na passada quinta feira, dia 17 de novembro, pelas 15 horas, nas margens da ribeira da Líria, e , mais concretamente frente ao coletor de efluentes industriais do matadouro, efluentes estes que o matadouro deposita na ribeira, normal e aparentemente, sem qualquer tratamento.
O conhecimento pessoal dos intervenientes ajuda, por vezes, e muito, a ultrapassar as ausências de informação, o ficar só, enfim, um sem numero de indiferenças com as quais tenho lidado ao longo destes alertas que, com a ajuda do jornal Reconquista, venho denunciando.
Para mim ficou agora mais claro que a ARH/TEJO tem em Lisboa, na sua pessoa, em Santarém e em Castelo Branco, gente empenhada e capaz de “levar a carta a Garcia”…
Para tal, contem também comigo.


Peço que me desculpem, todos, alguma agressividade nas palavras com que escrevi alguns textos sobre o tema, mas ela deriva fundamentalmente da ansiedade do querer fazer, de ver passar tanto tempo, e tudo e todos com tanto e precioso tempo, lento, borolento, por vezes eficiente… mas não eficaz.
Vou com os moradores confinantes da ribeira manter uma vigilância ainda mais eficaz, e, alertar todas as entidades, para os episódios de poluição.
Todos a remar para o mesmo porto, com o seu rumo, vamos chegar lá.
Faltaria à verdade se não reconhecesse que a situação melhorou bastante, quer da parte das Águas do Centro, dos Serviços Municipalizados e até da Câmara Municipal, que ao fim de três anos decidiu limpar, e desta vez, muito bem, a ribeira.
Mas a situação está muito longe de estar resolvida, definitivamente.
Fruto de reflexões sobre o tema, sugiro:
1-Que as Águas do Centro, face ao projeto que me dizem estar em elaboração, transfiram a estação elevatória, abrindo vala que ligue por gravidade a estação elevatória diretamente á estação de tratamento de efluentes domésticos, localizada ao Cabeço do Carvão.
Não sendo extremamente fácil, não me parece ser de dificuldade muito acrescida. Acabariam assim definitivamente os maus cheiros, as nuvens de melgas e mosquitos, as ratazanas que fazem do espaço envolvente à estação elevatória, Zona de Lazer, e acabariam então definitivamente os transvases de efluentes não tratados para a ribeira.


2-Que os Serviços Municipalizados de Castelo Branco, considerem a frágil rede de esgotos de Alcains, de SITUAÇÃO CRÍTICA, e que para tal, gradualmente vão eliminando as fragilidades na rede que originam frequentes roturas, com os consequentes e frequentes transvases de efluentes domésticos não tratados, na ribeira.
Para serem consequentes os Serviços Municipalizados deveriam continuar a estudar tecnicamente a situação do ponto de vista dos caudais e da topografia dos coletores, fazendo obra definitiva nas amiudadas intervenções que consomem recursos escassos, mas que vão mantendo uma situação que com o futuro, só tenderá a agravar-se.
Vou manter vigilância apertada.
3-Quanto ao matadouro, a solução pode ser analisada em várias vertentes.
A primeira que o matadouro crie condições na sua estação de tratamento para que os seus efluentes não poluam a ribeira. Chega a correr sangue claro conforme ouviu dos moradores e tem em seu poder fotos alusivas e expressivas.
Num país a sério, nem era preciso fazer mais nada.
Uma outra, que a entidade que tem passado licença ao matadouro, altere junto do ministério respetivo, os parâmetros que lhe têm permitido tratar os Alcainenses abaixo de cão, em termos ambientais.
Ou então que se faça no seguimento do coletor atual, um coletor que conduzisse os efluentes do matadouro para a atual estação de tratamento no Cabeço do Carvão, para aí serem tratados.
Difícil?
Não me parece, basta estudar, planear, provisionar orçamento e, fazer.

Senhor Professor Carlos Cupeto, em janeiro do próximo ano caduca a licença do matadouro, peço-lhe portanto face ao exposto, que tome a seu cuidado esta data e promova o necessário para que, cumprindo a sua função, não transija com os interesses instalados.
Pela minha parte quero agradecer-lhe a boa reunião havida e sabe uma coisa, fiquei muito mais tranquilo, mas, não me desiluda.
Convido-o a abrir as fotos de hoje, da martirizada ribeira da Líria, que saiu recentemente dos cuidados intensivos, recebe apenas as visitas da família, mas está por agora em franca recuperação.
Por favor, ajude-me a salvá-la.
Um abraço, deste, agora seu amigo.

Manuel Peralta

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Alcains, reflexões à luz da história

Alcainense amigo, J. M. Tavares Castilho, decidiu brindar os leitores do blog com um excelente texto histórico sobre Alcains.
O texto diz respeito a uma palestra proferida pelo próprio, no Solar de Alcains, por ocasião das comemoração do 40º aniversário da elevação de Alcains a Vila, 12 de novembro de 1971.
Por se tratar de documento que acrescenta valor ao conhecimento existente, aqui fica registado para a posteridade.
Ao Tavares Castilho, os meus agradecimentos.

Manuel Peralta


ALCAINS
Reflexões à luz da História

Palestra pronunciada em 12 de Novembro de 2012 na Sessão Solene comemorativa do
40.º Aniversário da elevação de Alcains a vila

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco
Senhores Presidentes da Assembleia e da Junta de Freguesia de Alcains
Senhores Vereadores
Digníssimas Autoridades
Minhas senhoras e meus senhores

Quero começar por agradecer o honroso convite que me foi feito para participar como orador nesta sessão solene comemorativa do 40.º aniversário da elevação de Alcains a vila.
Apesar do apertado prazo que me foi dado para a sua preparação e das minhas limitações de tempo disponível relacionadas com um projecto editorial exigente em que estou envolvido, não podia recusar. Não apenas pelo privilégio que me é concedido, mas também porque entendo que não é lícito a nenhum alcainense verdadeiramente amigo da sua terra deixar de contribuir para o seu progresso material e espiritual na medida das suas possibilidades e capacidades.
Por isso, numa corrida contra o tempo, ensaiei meia dúzia de linhas em torno de alguns acontecimentos respigados entre o muito que os vários séculos da nossa existência como unidade administrativa e social contêm, enquadrando-os na perspectiva dinâmica da construção do futuro, num breve apontamento a que chamei:

ALCAINS – REFLEXÕES À LUZ DA HISTÓRIA


No título que dei a esta comunicação, utilizo a palavra «história», termo sobre cujo alcance podem existir algumas ideias-feitas restritivas, pelo que importa desde já definir o conceito na acepção em que aqui é utilizado.
Quando se fala em «História», existe a tendência para pensar apenas nos grandes feitos e nos grandes homens que, a dado momento, protagonizaram e marcaram um determinado período ou data. É assim que se fala da independência de Portugal em 1143, da crise de 1383-1385, dos Descobrimentos dos séculos XV e XVI, da restauração da independência em 1640, do terramoto de Lisboa em 1755, da Revolução Liberal de 1820, da proclamação da República em 1910, do 28 de Maio de 1926 e do consequente Estado Novo, regime sob o qual vivemos durante quatro décadas, e, finalmente, da restauração da Democracia em 25 de Abril de 1974, para citar apenas alguns dos factos mais marcantes.
Dos protagonistas, lembramo-nos de D. Afonso Henriques e de D. João I, dos grandes descobridores como Vasco da Gama e Pedro Álvares de Cabral, de D. João IV, do Marquês de Pombal, porventura de Manuel Fernandes Tomás, um dos pais da 1.ª Constituição portuguesa; de Manuel de Arriaga, o primeiro Presidente da República eleito; de Afonso Costa, o autor da Lei da Separação; e, finalmente, de Salazar, de Marcello Caetano e dos Capitães de Abril, os mais pró-ximos e porventura aqueles que mais nos marcaram.
Mas, se estes são momentos e personagens importantes e determinantes no devir histórico de um país com quase novecentos anos de existência, não podemos nem devemos esquecer que eles foram apenas pilares e líderes de um povo – essa massa anónima – que foi o verdadeiro e autêntico fautor da História de Portugal.
Sem combatentes, D. Afonso Henriques não teria conquistado o território desde o Condado Portucalense até Ourique; sem a burguesia emergente a partir do século XIII e os arqueiros e peões de Aljubarrota, D. João I não teria fundado a Dinastia de Avis; sem os esforçados nave-gantes das naus e caravelas, Vasco da Gama não teria aportado à Índia e Pedro Álvares Cabral não teria descoberto o Brasil; sem a multidão de pedreiros anónimos, nem D. João V teria conseguido erguer o Convento de Mafra nem o Marquês de Pombal lograria a reconstrução de Lisboa, e por aí adiante…; sem os soldados rasos que cavalgaram chaimites e tanques à beira da sucata transformando-os em fogosos corcéis da Liberdade e sem o povo que, de peito descoberto, inundou as ruas, não nos seria restituída a Democracia.
Por isso, quando falo em «História», falo do povo multifacetado que, através dos seus feitos particulares e das suas realizações locais, constrói no dia-a-dia a sua história privada e a da sua comunidade e, construindo-as, ergue a História de Portugal. Por isso, ouso defender – e perdoem-me os ouvidos mais susceptíveis – que a nossa história está muito mais retratada nas manifestações da «arraia-miúda» de que fala Fernão Lopes na Crónica de D. João I e nos dos trabalhos e aventuras descritos na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto do que na epopeia de Camões. A História é feita de grandezas e misérias, de heroicidades e de medos, mas é sobretudo a vida do dia-a-dia, somos nós, no nosso momento e nas nossas circunstâncias.
Por isso, quando me proponho um breve e sumaríssimo relance sobre Alcains e o seu povo, é de História que estou a falar.


Faz hoje precisamente 40 anos que o Diário do Governo publicou o Decreto n.º 495/71, do Ministério do Interior, pela Direcção-Geral de Administração Política e Civil, cujo único artigo reza o seguinte:

É elevada à categoria de vila a povoação de Alcains, sede da freguesia do mesmo nome, concelho de Castelo Branco.

Num tempo em que a falta de memória histórica se acentua e em que já quase ninguém sabe quem foi quem nem o quê, mesmo (e sobretudo) à distância de menos de meio século, vale a pena relembrar e deixar arquivado o nome dos políticos que intervieram neste acto político-administrativo.
O Decreto é assinado pelo penúltimo Ministro do Interior, do anterior regime, Dr. Gonçalves Rapazote e pelo último Presidente do Conselho do Estado Novo, Prof. Marcello Caetano e foi promulgado pelo então Presidente da República, Almirante Américo Tomás.

Esta promoção, meramente honorífica, note-se, era justificada no respectivo preâmbulo

– «[pel]o grande desenvolvimento demográfico e urbanístico da freguesia de Alcains»;
– pelo «notável incremento industrial e comercial da referida freguesia»;
– e pelo facto de «a aludida povoação [ser] servida por boas vias de comunicação e se encontra[r] dotada de distribuição domiciliária de água e energia eléctrica, bem como de redes telefónica e de saneamento».


O diploma vem reconhecer oficialmente uma realidade bem antiga.
Com efeito, e tanto quanto é possível recuar nos tempos, Alcains desde cedo se distinguiu com um lugar populoso. Em 1520 contava com 160 moradores, população que representava 11 por cento relativamente à de todo o concelho de Castelo Branco, percentagem calculada com base nos dados do «Numeramento» de 1527-1532, man-dado fazer por D. João III e que é o mais antigo documento deste tipo existente em Portugal. Por isso, os habitantes do lugar de Alcains pediram ao rei que os isentasse da obrigação de irem às principais procissões realizadas na «villa de castelbranco», visto estarem a duas léguas de distância, e lhes permitisse que as realizassem no lugar em que residiam, pretensão que lhes foi concedida nos seguintes termos:

E visto por nós seu requerimento temos por bem e nos apraz que os moradores do dito lugar de Alcains não sejam daqui em diante obrigados nem constrangidos a ir a nenhuma das procissões que na dita vila [de Castelo Branco] se fizerem […] e que as façam no dito lugar o melhor e mais devotamente que puderem […]

Que o lugar se destacava, confirma-o ainda o facto de a respectiva Comenda, que pertencia à Ordem de Cristo, ter sido dada a Gomes Eanes de Zurara, em meados do século XV, como paga pelos relevantes serviços por ele prestados como cronista-mor do reino e guarda-mor do Arquivo Real do Tombo, que ficaria para a história com o nome de Torre do Tombo, que ainda hoje mantém.
Cerca de duzentos anos depois, no início do século XVIII, tinha 500 vizinhos e segundo o número de habitantes referidos na Corografia Portuguesa publicada pelo Padre Carvalho da Costa em 1706, a percentagem subia para quase 17 por cento do total da população das freguesias que então constituíam o concelho, vindo depois a baixar, mas que se fixou ainda assim num significativo valor de 10 pontos percentuais no século seguinte.
O seu crescimento é constante: em meados do século XIX (1836) tinha 1 360 habitantes, pouco antes da proclamação da República (1904) 2 337, nos primórdios do Estado Novo (1936) 3 860, sendo que, atalhando caminho, segundo o Censo de 1961 – a década em que se inicia o seu maior surto desenvolvimentista – Alcains contava com cerca de 4 600 habitantes, o que fazia dela a maior aldeia do concelho de Castelo Branco, uma das maiores do País e o terceiro agregado populacional do distrito, ou seja, logo a seguir á respectiva sede e à cidade da Covilhã.


O dia 12 de Novembro de 1971 é um marco naquilo que na altura parecia ser o primeiro passo para a concretização de um sonho de muitos anos, qual seja o da constituição de um novo concelho, desmembrado do de Castelo Branco, com sede em Alcains. Segundo um documento transcrito por Sanches Roque na sua pioneira monografia Alcains e a sua História, Alcains teria sido erigido em vila por alvará de 5 de Abril de 1754, a pedido de Bartolomeu de Sousa Mexia, que não teve seguimento nem depois da respectiva confirmação, a requerimento do seu filho, por D. José, em 1769.
Não sabemos hoje quais eram os desígnios dos Sousa Mexia, mas conhecemos perfeitamente o que movia os alcainenses nossos contemporâneos. Tratava-se de um movimento muito activo que tinha por base uma realidade sócio-económica indesmentível, que ganhara um novo ímpeto a partir de meados da década de 1960, na qual se assistiu a uma décalage, cujo primeiro passo foi, sem dúvida, a fundação em Maio de 1965 de uma empresa de confecções – a DIELMAR – que reconvertia uma actividade artesanal de alfaiataria numa indústria moderna, saltando da economia local para o mercado nacional e deste para o mercado externo, com o qual se inicia um novo ciclo de desenvolvimento.
O espírito empreendedor de Alcains e dos seus naturais não era novo e podemos acompanhá-lo com alguma segurança pelo menos desde o início do século XX, período em que se centrava na indústria alimentar.
Primeiro foram as Fábricas Lusitana, que tinham dado seguimento à empresa Moinho de Alcains, Lda., – que entre 1936 e 1937 liderou um movimento nacional de contestação ao projecto de concentração forçada das empresas moageiras determinado pelo ministro da Agricultura de então, Rafael Duque – e se tornou líder do mercado nacional na área das farinhas alimentares.
Refira-se aliás de passagem que a actividade moageira de Alcains já aparece referida no «Tombo de Alcains», de 1506, onde se cita especificamente «o moinho da Ocreza, que chamam moinho da ponte».
Depois, foi a Fábrica de S. Pedro, estrategicamente implantada junto à estação de caminhos-de-ferro, que deu origem à SICEL, empresa que em 1961 era a mais importante unidade fabril portuguesa de derivados de milho, ano em que mereceu a visita dos então Ministro de Estado e Secretário de Estado do Comércio, respectivamente, os doutores Correia de Oliveira e Augusto Dias Rosas.
Finalmente, a construção civil e obras públicas, actividade através da qual muitos empresários alcainenses se expandiram e estenderam a sua acção de dentro para fora da sua terra-natal, rompendo estradas, construindo escolas e outros edifícios públicos, como, por exemplo, o mercado de Castelo Branco, erguendo prédios de habitação, etc..
Pode sem dúvida afirmar-se que se inicia na década de 1960 um ciclo que pode chamar-se o dos «anos de ouro» do desenvolvimento de Alcains e que duraria até finais da década de 1980. Inicia-se a exploração e processamento industrial dos recursos tradicionais, especialmente os granitos, fabricam-se rações e materiais de construção, para além do desenvolvimento, a montante e a jusante, de muitos outros sectores que o processo de urbanização acelerado dinamizou e cuja enumeração seria fastidiosa e supérflua, pois é do conhecimento de todos.
E não esqueçamos que a então chamada Escola do Ciclo Prepa-ratório foi instalada em Dezembro de 1971 numa casa cedida pela família José Sanches e que a primeira sucursal bancária instalada na vila é de Dezembro de 1977 .


Falávamos dos objectivos dos alcainenses nesses anos de entusiasmo, nos quais se insere a fundação da «Liga dos Amigos de Alcains», que congregava o que então se chamavam as suas «forças vivas», integrando tanto residentes como alcainenses da diáspora. Os Estatutos, aprovados por alvará de 9 de Março de 1971, definem como seu objectivo o de «cooperar com as entidades públicas e privadas […] no progresso e desenvolvimento de Alcains, quer material quer espiritual».
Mas – e é tempo de assumi-lo, sem falsos pudores e em nome da verdade histórica – por detrás destas palavras tão genéricas e inócuas, estava a luta pelo novo concelho.
Os alcainenses não o faziam contra nada nem contra ninguém. Tratava-se de um movimento positivo e inseria-se no desejo de evoluir, porque consideravam – creio que com razão – que o que recebiam dos recursos da autarquia estava muito longe da proporção da sua contribuição.
É certo que foram obtidos alguns melhoramentos, mas foi preciso esperar pelo impulso de V. Ex.ª, senhor Presidente da Câmara, para começarmos a ficar efectivamente dotados com infra-estruturas condignas, em termos de equipamentos sociais e culturais e na modernização e ordenamento urbanístico.
Mas falta o desenvolvimento económico que, se nas últimas décadas, não regrediu, pelo menos estagnou.

Há 40 anos, o ex-governador civil de Castelo Branco, Dr. Simplício Barreto Magro, afectivamente ligado a Alcains onde residia parte da sua família mais chegada, defendeu a abertura de uma avenida ligando Alcains e Castelo Branco, ao longo da qual se desenvolvesse um pólo industrial que potenciasse o desenvolvimento económico integrado da sede do concelho e da sua freguesia mais importante e promissora. Mas nem era preciso tanto. O caminho estava aberto: bastava aproveitar o eixo definido pela estrada nacional n.º 18.
Da parte de Alcains, o movimento de aproximação foi iniciado com a instalação das primeiras unidades industriais ao longo dessa via.
Mas os poderes autárquicos municipais de então optaram pela distância, promovendo a expansão industrial de Castelo Branco do lado oposto.
Como compensação, foi criado um espaço a que chamaram a Zona Industrial de Alcains, nas Texugueiras, que, em vez de aproximar, afastou ainda mais os dois principais centros da economia regional. Instalada perto de coisa nenhuma, foi desde logo abandonada à sua sorte, enquanto à Zona Industrial de Castelo Branco eram dadas todas as condições e incentivos para a implantação de novas empresas, do que resultou o respectivo crescimento exponencial; a dita Zona Industrial de Alcains ficou-se pelas promessas, algumas mirabolantes, e definhou; a breve trecho das poucas unidades instaladas, geralmente de reduzida dimensão, quase todas ou fecharam as portas ou deslocalizaram-se para a sede do concelho, quando se deu o caso de pretenderem aumentar a respectiva dimensão ou, muito simplesmente, para se aproximarem dos centros de decisão. O resultado está à vista e a desolação é tão gritante que não vale a pena perorar mais sobre o assunto.


Senhor Presidente, senhores Autarcas, Autoridades, minhas senhoras e meus senhores

Face à conjuntura de depressão económica em que vivemos e às recentes decisões sobre o reordenamento administrativo do País, não faz hoje sentido manter a ilusão do concelho de Alcains, que aliás, vistas as coisas numa base realista, se apresentou sempre como altamente improvável, dada a irremediável proximidade geográfica com a cidade e o considerável efeito negativo que a separação teria nas receitas municipais. Mesmo assim, a pretensão serviu para tudo, até como demagógico argumento por parte da generalidade dos partidos políticos nas disputas eleitorais.
Mas se este desiderato deixou de ser operacional, não perdeu razão de ser – bem pelo contrário – a grande e, no essencial, a única motivação que sempre lhe esteve subjacente: o DESENVOLVIMENTO!
Um desenvolvimento conjunto que aproveite as sinergias e as potencialidades regionais e sectoriais no sentido de um crescimento integrado e consistente, de modo a que se evite, dentro dos limites do concelho de Castelo Branco, a criação da macrocefalia do centro e o depauperamento das periferias, que tanto se critica – e com razão – ao poder central.
Se a reivindicação autárquica perdeu razão de ser, repito, ganha cada vez mais acuidade – e perdoem-me a insistência – a reivindicação do desenvolvimento!


Os tempos estão difíceis, todos o sabemos. Desde que a avidez dos mercados – que prometiam a salvação e trouxeram o caos – desde que essa avidez devorou a política; desde que a ditadura dos economistas, encartados ou aspirantes, tomou as rédeas do mundo, reduzindo as pessoas e os seus direitos a uma mera sucessão de números ordenados nos monitores dos dealers e dos corretores das Bolsas, segundo uma lógica mecânica e despersonalizada assente na base do número pelo número e do «crescimento» a qualquer preço, incluindo a especulação desenfreada, diria mesmo pornográfica, desencadeou-se uma tempestade de que ninguém ousa sequer imaginar o desfecho.
Mas é em situações conjunturais de depressão que se descobrem os grandes homens e se revelam os líderes que sabem fazer das fraquezas força e continuar a perspectivar o futuro, um futuro que começa – tem de começar – hoje, neste dia em que comemoramos os 40 anos de Alcains-Vila (com ífen), como repetia António Infante nas páginas da Reconquista, e para cuja construção todos estamos convocados: os empresários, nos seus diversos ramos; os autarcas, enquanto representantes da comunidade; os profissionais liberais e os intelectuais; a população em geral e principalmente os jovens que têm hoje competências académicas que os seus avós e até mesmo os seus pais estavam longe de possuir ou sequer de imaginar. Numa palavra, todos, porque todos não somos de mais para os objectivos do futuro. E o futuro começa hoje que, como diz o cantor, é o primeiro dia do resto das nossas vidas.
Por isso apelamos ao sentido de solidariedade política e institucional de V. Ex.ª, senhor Presidente, e do executivo autárquico a que tão brilhantemente preside, para que, em estreita colaboração com os alcainenses verdadeiramente – e não apenas formalmente – empenhados no progresso da sua terra, se voltem a criar condições para o ressurgimento económico desta vila, que, segundo o testemunho de um dos seus naturais deixado num dos recantos da blogosfera, pode não ter uma grande história mas tem muito futuro, bastando que «o poder político nos trate com JUSTIÇA».
Porventura pobre, como disse este nosso conterrâneo, a nossa história mostra que somos um povo empreendedor, laborioso e imaginativo, que ao longo dos tempos tem demonstrado a sua criatividade e mestria, numa palavra, o seu valor.
Mas sozinhos, nada conseguiremos.

É tempo de terminar. Muito fica por dizer, porventura coisas importantes. Mas esta comunicação não assumia o objectivo de ser uma lição de história local. Apenas um bosquejo rápido sobre um sonho acalentado por muitos e que, nos seus objectivos essenciais, mantém toda a actualidade.

Senhor Presidente da Câmara
Permita-me que reserve as últimas palavras para um apelo directo e frontal a V. Ex.ª.
O engenho e a arte – para utilizar as palavras de Camões – o engenho e arte que V. Ex.ª tem revelado ao longo de toda a sua carreira de autarca e que o distinguem a nível nacional; a autêntica revolução operada por V. Ex.ª neste concelho, retirando-o da apagada e vil tristeza em que vivia, e pela qual é credor de público reconhecimento; e a comprovada atenção que tem dedicado a esta vila e aos seus habitantes, bem patente nas obras já efectivadas, em fase de materialização ou a realizar a curto e médio prazos, deixam-nos confiantes de que não deixará de dar toda a atenção a estas aspirações, que estou convencido serem as da generalidade dos alcainenses, tendo sempre presente que, hoje como ontem – e sempre –, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa!

Tenho dito.

J. M. Tavares Castilho
Investigador
CesNova - Centro de Estudos de Sociologia
IPRI- Instituto Português de Relações Internacionais
FCSH - Universidade Nova de Lisboa
E-mail: tavarescastilho@gmail.com

Nota: As fotos são da responsabilidade do Terra dos Cães.
Pretendo que, quem conhece Alcains, nelas se detenha e procure saber, adivinhar, onde se localizam.

Alcains, 40 anos de Vila

Um olhar com fotos de palavras...

Foi em 12 de Novembro de 1971, que por decreto do governo de então, Alcains deixou de ser, orgulhosamente, a maior aldeia de Portugal para passar a ser mais uma, das muitas Vilas de Portugal.


O tempo, essa entidade que amadura os marmelos, desse dia de Novembro, quando se inaugurou o padrão na praça, era o de uma tarde escura, quase plumbea, prenunciando dias e anos cinzentos.
Para ajudar e celebrar tal evento, não vieram entidades concelhias, na altura já expectantes com a marcha de um punhado de Alcainenses que, denotando acrisolado amor à sua terra, iam a todo o lado, moviam todas as influências para que fosse reconhecido o valor real da terra e das pessoas que, a expensas suas, estavam a tempo inteiro com Alcains, sem receber nada em troca.
Cunha Belo, Sanches Roque, José Dias, Ramiro Rafael entre outros, foram nessa época Alcainenses de “Letra Grande”, dignos de figurar nas páginas douradas das memórias dos Alcainenses.


Alcançado este degrau, balbuciava-se então de soslaio, Alcains Concelho...esta era a visão, este era o objectivo.
O saudoso e emotivo Sanches Roque, apelava a que, se fosse necessário, iria até ao inferno buscar o Concelho de Alcains...mais lúcido, isto é, menos emotivo, Cunha Belo entre dois “combien”, mostrava os números da capitalização Alcainense para as finanças de Castelo Branco.
Entretanto, estes e outros Alcainenses, tiveram a genial ideia de fazer um “overlay”, à Junta da Freguesia de então, a mártir da altura, criando a Liga dos Amigos de Alcains, forma inteligente de em paralelo, acicatar e mostrar por fora, que Alcains, pelo seu desenvolvimento e potencial, tinha gente que queria e merecia mais do poder central.


Entusiasmados com o apoio do Governador Civil de então, Dr. Ascensão Azevedo, cidadão honorário de Alcains, foi possível enquadrar as prementes necessidades da Vila, e, de projeto em projeto, centralmente comparticipado, Alcains chega ao 25 de Abril, com um rol de obras em carteira, que nunca mais teve no regime seguinte, o democrático...a custos atualizados, claro.
Com o 25 de Abril e com a aprovação da lei das finanças locais, Alcains nunca mais foi o mesmo em termos de desenvolvimento.
O orçamento da autarquia é disso exemplo, necessidades de freguesia urbana com 5.000 habitantes e com contribuições em impostos de todo o tipo de agregado urbano, mas receitas de freguesia rural.


O mártir de serviço, agora, é o Sr. António Carrega, que está lá, na Junta, ao que consta, de própria e livre vontade...
A democracia, tratando a régua e esquadro o que é desigual, criou desigualdades que cercearam de forma irreversível, o desenvolvimento da comunidade Alcainense.
Esta desigualdade, tem afastado da vida pública ativa muita gente, ao ponto de, ser ainda mais difícil encontrar candidato capaz à junta, do que para o clube de futebol, onde o orçamento se não o supera, rivaliza já com o da junta.


As sucessivas Câmaras de Castelo Branco, todas até aqui, escudam-se na lei, dizendo que não podem fazer mais, criando inibições várias que rondam mandatos de favor, quando decretam investimentos que raramente são discutidos com os autarcas eleitos.
Como os planos são o que são, e, as maiorias têm o poder discricionário de os alterar a solicitação de quem, por voto democrático, lhes assegura o lugar, não curam de saber se o que decidem, corresponde a cada momento às reais necessidades dos fregueses eleitos.
O caso mais recente, que socialista não alinhado e amigo me contou, depois de uma tainada, diz respeito à aquisição por parte da Câmara de Castelo Branco, de um terreno por 175 000,00 euros, em Alcains, a um munícipe que mora na Av. Afonso de Paiva, em Castelo Branco.


Ponho as mãos no lume se, não estou a dar em primeira mão, uma novidade a quase todos os autarcas eleitos em Alcains. Pelo que apurei, a decisão passou-lhes completamente ao lado e a grande maioria nem sequer sabe onde se localiza o terreno que a Câmara de Castelo Branco, decidiu comprar para se instalar, não se sabe em que futuro, atividade empresarial.
Parece que, face às dificuldades em conseguir terrenos nas áreas industriais de Alcains e Castelo Branco para aí se fixarem empresas, está tudo esgotado, diz-se, à cautela, e depois de aprofundado estudo sobre custos de oportunidade, foi decidido adquirir o terreno que se prevê venha a ter utilização no ano, 2332.
E claro, Alcains está, estará, eternamente agradecido, com mais esta doação fora do orçamento da junta...e assim, o presidente da junta está satisfeito e o vendedor, ao que me dizem, muito mais...
Numa cidade com 56 000 habitantes e com 520 funcionários municipais, pergunto?


Alcains com 5 000 habitantes, quantos, poderia ou deveria ter? É uma regra de três simples, façam as contas por favor, e vejam a desigualdade com que o Sr. António Carrega está a ser tratado!
Em manhã recente, entre jardineiros e trabalhadores de limpeza frente à Câmara de Castelo, contei sete, que plantavam várias caixas de amores...amores mais que perfeitos, ao passo que em Alcains, só pretéritos, ainda por cima, imperfeitos...
É por isso que desde a limpeza que não há, a não ser no centro da Vila, à degradação do mobiliário urbano, aos degradados pavimentos, aos buracos e poças de água em passeios, à ausência de condições de mobilidade para cidadãos diminuídos, passando pela degradação vivida na dita Zona de Lazer, Alcains tem razões de forte apreensão quanto ao seu futuro.
Com forte poluição ambiental na ribeira da Líria, Alcains vive um paradoxo, que resumo do seguinte modo.
Quando não se sabe para onde se vai, é preciso muito cuidado, pode não se chegar lá.
Quarenta anos depois...

Manuel Peralta

Nota: Texto publicado no Reconquista de 17 novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Resposta à ARH/TEJO

Em edição recente do Reconquista, e num trabalho recente da jornalista Lídia Barata daquele jornal, foram feitas várias perguntas à ARH/TEJO, relativas à ribeira da Líria. Vejam a notícia que digitalizei, e o assunto ali versado.


Porque considerei uma brincadeira da ARH/TEJO, as respostas dadas à jornalista Lídia Barata sobre o assunto, enviei para publicação no Reconquista, o seguinte artigo.

A Líria é uma mártir, com este monitor, a ARH/Tejo.

Senhor Diretor do Reconquista, ao ler a página seis do último jornal, numa local denominada, ”Tutela confirma análises”, não posso, sob pena de trair o trabalho que venho desenvolvendo relativo ao alerta do crime ambiental perpetrado por vários poluidores na ribeira da Líria, ficar indiferente ao que fez e diz a ARH/Tejo, (Administração da Região Hidrográfica do Tejo).
Repúdio, insatisfação e ligeireza são, entre outros, os epípetos com que os moradores confinantes com a ribeira para lá do coletor de descarga dos efluentes industriais do matadouro industrial, mimoseiam a ARH/Tejo.


São cerca de uma dezena e sugiro à ARH/Tejo, que tão certa da monitorização que tem feito, fez apenas uma análise em Julho de 2011, que venha ouvir de viva voz os proprietários confinantes com a ribeira, e no local observe as postas de sangue que chegam a correr claras no leito da mártir Líria, principalmente nos dias de matança no matadouro, nomeadamente às terças e quintas feiras.
Para a ARH/Tejo, que tem a responsabilidade de monitorar a ribeira, e que fez uma única análise em 2011, está tudo bem, vai ao matadouro e constata que os resultados analíticos, realizados pela Oviger, repito, realizados pela Oviger, entre Janeiro e Maio de 2011 ao seu efluente tratado, também cumprem os limites de descarga da referida licença, e por aí andam cumprindo a sua nobre missão…


Para a ARH/Tejo está tudo bem, só que a ribeira exala um cheiro nauseabundo, a coloração das águas é avermelhada e os proprietários em dias de calor, não conseguem suportar os maus cheiros, conviver com nuvens de melgas, mosquitos e ratazanas que mais parecem coelhos de ano.
Convido-os a virem cá, e, se a ARH/Tejo fruto da contração em curso, não tiver dinheiro para combustível, eu mesmo irei no meu carro, fazer a recolha de quem fez as análises e dizer-lhe onde deve fazê-la.
Não posso é pactuar com uma situação que apelido de vil mentira, com factos que, agora com a ribeira limpa, por todos podem ser observados.
Situação idêntica já denunciei ao SEPNA/GNR, que por vezes tem vindo ao matadouro e perante as análise efetuadas pelo matadouro, que tem uma licença, ao que parece, com parâmetros que lhe permitem poluir, nada pode fazer, porque está sempre tudo dentro dos parâmetros autorizados, e como não tem por missão ou não tem meios para, no local da descarga, na ribeira da Líria, fazer contra análise, assim vamos andando…
Para as entidades que têm por obrigação proteger o ambiente, está sempre tudo bem…para os fregueses que suportam tanta negligência, resta-lhes a denúncia e a luta contra os acomodados.
A ARH/Tejo também não tem, ao que diz, conhecimento de nenhuns outros eventuais focos de contaminação, digo eu, e também não me admiro, admirar-me –ia o contrário.
Resumindo, em 14 de Janeiro de 2012 caduca a licença que o matadouro tem para descarga de efluentes na ribeira da Líria.
Pergunto, será que vão passar nova licença nas mesmas condições? Com os mesmos parâmetros? Sem reforma profunda da estação de tratamento do matadouro?
Sei lá, neste país já nada me admira!!!
É pena a foto não ser a cores, a Líria, foi nesse dia, um mar vermelho.

Manuel Peralta

(O Reconquista, por enquanto, ainda não publicou o que acabaram de ler)

Líria – SEPNA/GNR

Dou conhecimento da resposta dada pelo SEPNA/GNR, a um denúncia que efectuei em 4 de Outubro de 2011, e que tomou no Sepna o nº 3850 /2011.
Se consultarem os registos de Outuro no blog, poderão observar as fotos que o Sepna recebeu.
Par que conste e para memória futura, publico a carta que, sobre o assunto, recebi.

Manuel Peralta


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Alcains, 40 anos de Vila

Fotos de hoje, com poucas palavras... tristes, mas reais.

Há 40 anos, em 12 de Novembro de 1971, em tarde cinzenta, à volta de um padrão no largo da praça, celebrava-se uma conquista...
Alcains deixava de ser a maior aldeia e passava a ser mais uma, das muitas, Vilas de Portugal.
Entidades concelhias de Castelo Branco não vieram à nossa festa.
Cunha Belo, Sanches Roque, José Dias e Ramiro Rafael, entre outros foram obreiros.
Com Ascensão Azevedo, cidadão honorário de Alcains, então Governador Civil, preparava-se a subida do 2º degrau... Alcains Concelho.
Com muitos projetos comparticipados centralmente, Alcains progredia e assistiu a um período de inusitado desenvolvimento nunca mais visto em Alcains, se atualizarmos os custos dos investimentos.
25 de Abril, lei das finanças locais, e Alcains é tratado não em função da sua contribuição para o PIB concelhio, mas como toda e qualquer outra freguesia, com parâmetros ao nível de Caféde.
A democracia em Portugal, agora passados estes anos todos, sempre nivelou por baixo e, Alcains foi vítima, da régua e do esquadro político, que ditou o já irreversível atraso de Alcains.
A tentativa de uma comunidade a caminho da urbanidade, rotundou no extremo fracasso da ruralidade... assim estamos hoje.
Vejam as fotos seguintes da situação atual, fotos de ontem, da Zona de Lazer de Alcains onde a Câmara de Castelo Branco, gastou dos nossos impostos 350 000,00 euros, e atentem por favor na degradação existente.
Presumo que temos aqui uma das muitas PPP concelhias, já não dinheiro para Alcains, manter o pouco que tem, em condições de fruição pelos fregueses...
Dêem entretanto uma volta pela cidade, e por favor, comparem.

Repuxo

Calçada

Suporte para bicicletas

Grades de madeira partidas pelos Serviços Municipalizados da Câmara de Castelo Branco, quando, ilegalmente, ligaram diretamente os esgotos domésticos da estação elevatória, à conduta dos esgotos industriais da Oviger, matadouro industrial.

Limpeza no parque infantil da Aranha.

Manutenção do cesto de recolha de lixo.

Entretanto, e num olhar breve sobre os autarcas que, ao longo dos anos de democracia estiveram na autarquia, Junta e Assembleia, não deixam de causar perplexidade os decréscimos de capacidade e impreparação observadas.
Olhem para todos, eu incluído.
Afirmo e, não me importo de ser mal julgado, que a situação atual, atingiu o limite que só a democracia atual, permite.
Bem, continuando a mostrar, a PPP de Alcains, a Zona de Lazer.

Manutenção de grelhas e lixo, muito lixo

Segurança de pessoas, crianças acautelada

Mesas pintadas e não reparadas

Bebedouro que nunca deitou água

Bebedouro objeto de vandalismo, que nunca deitou água e também nunca mais foi reposto.

Prevejo um futuro, a continuar assim, cada vez mais negro para a Vila de Alcains.
O estado comatoso da construção civil, sempre o primeiro motor de Alcains, a redução drástica dos alunos nas escolas, todas, a incompreensível ordenação no ranking da secundária, chegámos a ter 800 alunos no ensino secundário e atualmente pouco mais de 200, a falta de atividade cultural promovida pelas autarquias, e a ausência de qualquer nova atividade industrial atiram paulatinamente Alcains para um beco sem saída, a ponto de o Lar Major Rato, ser hoje a segunda entidade empregadora de Alcains.
Em Alcains, as escolas fecham e os lares não chegam...

Pavimento nunca reposto e lixo, muito lixo.

Rega automática que nunca funcionou, assim se gastam os nossos IMI...

Árvores nunca repostas.

Ferrugem, degradação, tristeza...

Iluminação subterrânea cara, vandalizada, degradada com muita falta de limpeza.

O Dr. Medina Carreira, apelidado de Velho do Restelo, tremendista, é hoje ouvido e cada dia que passa mais respeitado.
Acertou com as verdades que, tardiamente, os democratas fabricantes de ilusões foram escondendo, mas que acabaram como o azeite, em cima...
Por cá, ainda não sei quanto vai custar, mas a recuperação da casa que foi da Dona Teresinha Sanches e que a Câmara de Castelo Branco quer recuperar para a sede da Junta da Freguesia, vai ser mais uma PPP futura, uma vez que os encargos de funcionamento das despesas correntes irão disparar.
É para os depauperados cofres da Junta, um presente envenenado, que só comprometerá desenvolvimento futuro. Quem pode viver num palácio e receber o Rendimento Social de Inserção, Pergunto?
Nem com Complemento Solidário, lá vamos!!!
Entretanto ao lado, na Extensão de Saúde, filas que não se vêm na Junta, gabinetes de consulta dos médicos acanhados, gabinetes de apoio administrativo que são autênticos cubículos, enfim está tudo invertido.
Mantendo que a degradação atual de um dos edifícios mais lindos de Alcains, torna imprescindível a sua restauração, discordo, no entanto e em absoluto, do fim que lhe pretendem dar.
A sugestão da troca aqui fica para memória futura.

Degradação de muros de suporte.

Repuxo, e bancada para observação do espelho de água da Zona de Lazer.

Espelho de água.

Pérgola sem manutenção, lâmpadas que nunca acenderam...

Grelhas em dia de juízo final... peneiras para olhos de Alcainenses, incautos...

Por fim...

Em aparente bom estado, o atarracado monolito comemorativo, testemunha viva de gastos de 350.000,00 euros, e que as fotos testemunham a situação a que isto chegou.

Manuel Peralta