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quinta-feira, 24 de março de 2011

DOMINGO MAIS QUE GORDO... OBESO

Não houve entradas...
A água na boca punha aos saltos estômago maratonista, com as indicações do Treinador de Cheiros, Nariz de seu nome, e seu Adjunto de nome Vistas, com os dois Olhos humedecidos pelos vapores exalados pelas sopas da matação...


Em farto azeite de galegas azeitonas das margens da Ribeira do Tripeiro, meio tacho de finas rodelas de cebola, lume brando tangueou e salteou as rodelas, até ficarem como pérolas.

Água de feijão vermelho, cozido, bastantes ovos de pica no chão, batidos, sal e cominhos com as pérolas fundidos...

Sopa fina, pão doutro dia cortado com vagar de Tia, em camadas regadas, mais que humedecidas, bem molhadas, com parco feijão vermelho, salteadas.


Uma perdição estas Sopas da Matação...

INTERLÚDIO...

... ele tem má butcho, assim se dizia, pra quem tinha azia...
Este, suspenso, enforcado, depois de bem cozido, melhor escorrido, para ser comido, bem deglutido.


Finado bem acompanhado, pela prima, de pão fatia, pela tia, ácida rodela de laranja para ele e para ela, pela sogra, retalhada azeitona comida uma de cada vez, já sem acidez, pelo tio, vinho, que tirou sede a pai, irmão, genro e sobrinho...


Bronzeado, acastanhado assim ficou, e, sem lamento, marchou.
No Serrano bem temperado, deu fatia inteira, não se escangalhou, sobrou...

NO ENTRUDO PEGA TUDO

LABURDO

Afinar a faca, cortar o toucinho entremeado do seventre do marrantcho, e, com colher de pau, mexer, envolver e remexer em tacho de fundo coberto de azeite.
Nunca tapar para não amaciar... sempre de tacho aberto, ao ar, para entesar, fritar...


Afogar em vinho, muito mais que um copinho, tinto, particular, adegão, a caminhar para carrascão.
Com alguns cuidadinhos adicionar cominhos, provando, não salgando, antes temperando.
Fervura lenta em tachado tapado, para que o vapor do tinto não saia para outro lado.
Cubos ou paralelos de fígado juntar, em lume brando cozinhar para assim retesar.


Deixar repousar antes de empratar.


Agora no prato, com feijão vermelho e colorau a gosto, graffitado, e, para desenjoar e desengordurar, laranja, que cai em estômago como canja.


Agora repousar, apreciar, conversar, sobre a textura e tempero falar, criticar, repetir, agora só fígado, com ou sem sopa no fundo do prato, como se fosse sempre o primeiro acto... no prato.
O treinador de cheiros e o adjunto, vistas, ainda não sairam da pista...
Insistem com o maratonista, é a última volta, que resita não desista, que dê às patas, e que corte a meta nem que seja de gatas.


Papas, com nome de Tomás, rapaz capaz, neto que não prova, come, e só então dorme...


Para compor, aconchegar, fermentar, graínhas de abebra parda, envoltas em “black and white chocolaite”, medronho Celestial rodopiado em balão de cristal, prévio ataque a Cutty Sark.
Porque vem aí a quaresma, café, para gente com fé.

Manuel Peralta

terça-feira, 15 de março de 2011

SARAIVA, MARIA DA CONCEIÇÃO

ZELADORA
CAPELA DO SENHOR DO LÍRIO


...esta capela faz parte da minha casa... tenho-lhe um amor... eu nem sei... já são muitos anos.

Assim se referia, Maria da Conceição Saraiva, Zeladora da Capela do Senhor do Lírio a uma das capelas, se não a Capela, mais bem estimada de Alcains.


Por volta de 1980, quando veio morar para perto do cemitério, apurou que a capela estava muito abandonada.

Só excepcionalmente a Menina Arminda, por altura das festas de Natal, da Páscoa e dia de Todos os Santos, com sacrifício, vinha da estação de caminho de ferro, onde morava, colocar umas flores e fazer a limpeza possível a algo abandonado.


A idade, a distância, o cansaço acabaram por tornar as visitas da Menina Arminda ainda mais excepcionais e é então que a Maria Saraiva pede a capela à Menina Arminda.
E esta, deu-lha.
Assim me contou a Maria da Conceição Saraiva.

Nossa Senhora do Carmo
Padroeira das Almas do Purgatório

Faltava entretanto vencer outro obstáculo, o Coveiro.
Alentejano, muito simpático, sem qualquer letra mas de trato e educação esmeradíssima, o senhor Manel que, por vizinha, tratava a Maria da Conceição Saraiva, de imediato anuiu ao pedido da sua vizinha.

Este coveiro alentejano era uma paz santa, reparem, paz e ainda por cima, santa, burrena, dizia-se no Degredo, uma bondade infinita, dava bom conselho a qualquer pessoa, não volta cá a entrar outro homem como ele... assim se referia a Maria da Conceição Saraiva ao seu falecido vizinho.

Santa Rita
Padroeira dos Impossíveis

A Capela não tinha toalha, a Nossa Senhora do Carmo não tinha dedinhos, a Santa Rita, muito velhinha caiu porque uma pomba que entrou na Capela deitou-a abaixo, as paredes degradadas sem pintura, salitre por todo o lado, enfim muita degradação.
Mas a vontade de fazer bem era tanta que a Maria da Conceição Saraiva meteu mãos à obra, limpou, lavou, pediu, organizou, e com muita fé no Senhor do Lírio, tirou a Capela e as Santas de tal martírio...
Hoje, graças ao seu persistente trabalho, vale a pena sentarmo-nos no banco e em reflexão pessoal observar um local de culto, muito, mas mesmo muito agradável.


Mulher de fé que é, pediu consentimento à Senhora do Carmo que não a levasse a mal, por a mandar arranjar, reparar...
Com o pouco dinheiro das poucas esmolas que iam caindo, mandou reparar a santa, reparação que custou cerca de 38 contos, 190 euros... como não chegou, pôs ela o que faltou.
Custeou as flores ao longo dos anos, pagou se seu bolso as 4 lanternas da capela, tendo as pinturas, azulejos e banco sido custeado pela autarquia.

Senhor do Lírio/Senhor das Santas Chagas

Antes de o actual cemitério estar onde está hoje, o cemitério de Alcains situava-se no local onde era a antiga Associação, hoje Biblioteca, e na oficina e forja do Ti Joaquim Russo, em terrenos frente à antiga loja e taberna do saudoso Ti Tobias no “rochi”, largo do Rossio.
Quando da transferência do cemitério ter-se à desencaminhado a imagem que acima se observa, e, ao que popularmente se conta, terá sido um lavrador que ao lavrar a terra com junta de bois, nas margens da Ribeira da Líria, terá levantado da terra a imagem até então soterrada.


Exposta na Capela do Cemitério actual, é então chamada de Capela do Senhor do Lírio.
A imagem, que retrata Cristo na Cruz, foi então apelidada de Senhor do Lírio, porque o Santo era Homem, caso fosse imagem de Santa, eventualmente, teria sido apelidada de Senhora da Líria... digo eu.
Recentemente, casal que não deu nome nem morada, bateu à porta da Zeladora da Capela do Senhor do Lírio e, depois de breve contacto, oferecem a imagem de Nossa Senhora das Graças para expor na Capela.

Nossa Senhora das Graças

Deixam 50 euros para a compra da mísula, ficando de passar mais tarde pela capela…
Já lá vão trinta anos, o marido, António dos Reis Sanches, de apelido Tchau, mais a família que o digam.
Na verdade, a maior parte das gentes de Alcains, não conhece a obra que a Zeladora fez e faz.
Nada pede em troca, conversa com os Santos e as Santas como se de pessoas de carne e osso se tratassem... sentada ou de pé... com fé.

São João

O Terra dos Cães, ao trazer à luz do dia estes casos de solidão na fé, de trabalho desinteressado para os outros , cumpre o seu dever para com a gente simples, que faz grandes coisas.
Comunhão, partilha, solidariedade... palavras... palavras... palavras gastas em púlpitos e em ministros com pastas.

Nossa Senhora da Conceição

Continue Maria da Conceição Saraiva, os Alcainenses de fé agradecem o seu excelente trabalho.

Manuel Peralta

domingo, 13 de março de 2011

RAFEIRO DE LATA

Na capela, proibido acender vela.

Linda, limpa, asseada, arrumada, com muito bom gosto floreada... assim está a Capela do Senhor do Lírio, por nós sofrendo em cruz, que martírio...


Irmanado, em austero altar por Santas devotas, a quem necessitados dão mais moedas que notas...
Doente, doentes, dois avisos que foram alvejados e que com adesivo na Extensão de Saúde foram tratados...
Do lado esquerdo, do mor altar...


...e, no mor altar, por tratar...


Doente, ambos doentes e a necessitar tratamentos... e, se desta arranhadela, a postela não cair de feição, então que se faça a substituição.
Lata, Rafeiro de Lata, para que a substituição dos avisos se faça.

Manuel Peralta

sábado, 12 de março de 2011

RAFEIRO DE PRATA

Detalhe de categoria

No cemitério... com muito mais visitas que o Museu do Canteiro, com muito mais visitas que a quase extinta Biblioteca, o aviso que a foto reproduz, dá um tom de modernidade à ex-maior Aldeia de Portugal, hoje Vila, e é um sinal de respeito pelos visitantes.


Enquadrado, em sintonia arquitectónica com a austeridade própria do lugar, revela esmero e bom gosto na simplicidade do aviso.


Pelo facto que refiro e que as fotos testemunham, está a autarquia de parabéns e por tal merece um Rafeiro de Prata.

Manuel Peralta

quinta-feira, 10 de março de 2011

CRIME AMBIENTAL

Ribeira da Líria

...terminar com esse foco de infecção que nos envenena e envergonha, situado mesmo no coração da povoação...

Assim se referia em 1 de Novembro de 1925 o Comité Popular de Fomento Local na página 5 do documento que foi digitalizado e, na íntegra publicado no Terra dos Cães, ao maior problema de Alcains.
Passados 86 anos, repito, 86 anos a situação está muito longe de estar resolvida e em alguns aspectos até se agravou.

Exagero de Peralta?

A documentação que se segue, é apenas uma pequena parte da luta que venho travando, para resolver um problema que em Alcains se arrasta há quase um século...

ENTIDADES...
MAOT, IGAOT, ARHT, SEPNA/GNR, DRAPLVT, ERSAT, OVIGER, SMASCB, AGUASCENTRO, CMCB, GCCB, JFALCN...
...que envolvi na situação, em email que se segue.


Exmº Senhores

Todos os anos, quando a água das chuvas deixa de correr na Ribeira da Líria em Alcains, fica a descoberto um atentado ambiental e de saúde pública.


Por vezes, também chegam a correr na Ribeira, efluentes domésticos não tratados da responsabilidade dos Serviços Municipalizados de Castelo Branco, situação que entretanto e paulatinamente vem melhorando, mas longe de estar definitivamente resolvida.
O caso mais grave, diz respeito aos efluentes industriais não tratados, que o Matadouro da OVIGER, lança na referida ribeira e que as fotos documentam.


Presumo que terão no matadouro uma estação de tratamento dos seus efluentes... só que a mesma, não terá capacidade para tratar tal volume de efluentes sendo os mesmos depositados na Ribeira da Líria.
Para o facto estão licenciados... mas, será possível que Direcção, departamento ou secção tenham licenciado tamanha enormidade?


No documento em anexo, que convido a abrir, o SEPNA da GNR, que tem feito um excelente trabalho, informa que a licença do Matadouro caduca em 14 de Janeiro de 2012.
Peço, repito, peço a todas as ENTIDADES envolvidas que não seja concedida licença ao Matadouro, sem que este faça o investimento necessário na sua estação de tratamento, dos seus efluentes industriais, de modo o crime ambiental deixe de existir e a saúde pública seja preservada...estamos em Fevereiro de 2011.
Nada me move contra o Matadouro, antes pelo contrário, mas presumo que também se sintam vexados pelos prejuízos que causam em Alcains, nomeadamente aos muitos proprietários confinantes com a ribeira.


Tenho igualmente uma promessa escrita do Adm. das Águas do Centro, que estão atentos à situação da sua estação elevatória de Esgotos domésticos, e que estão a estudar uma situação que resolva de vez algumas situações anómalas que têm ocorrido.
A mudança organizacional ocorrida, não permite em tempo útil a recolha de efluentes de modo que, em tempo útil, as análises sejam efectuadas... conviria que esta situação fosse alterada... quem conhece a situação, sabe do que falo...
Resumindo, vejam por favor a foto abaixo.


Tirada hoje, eu luto por este ambiente.
Fico a aguardar que este documento, seja encarado com o respeito que a situação merece.

Melhores cumprimentos.

Manuel Peralta
6005-001 ALCAINS

Ministério do Ambiente e da Administração do Território, Inspecção geral do Ambiente e Administração do Território, Administração da Região Hidráulica do Tejo, Serviços de Protecção da Natureza da Guarda Nacional Republicana, Direcção Regional de Agricultura e Pescas da Região de Lisboa e Vale do Tejo, Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, Serviços Municipalizados de Água e Saneamento só de Castelo Branco, Águas do Centro, Câmara Municipal de Castelo Branco, Governo Civil de Castelo Branco e Junta da Freguesia de Alcains.


De todas estas entidades tem o SEPNA/GNR, mostrado trabalho e se mais não faz é porque a actual falta de meios e as dificuldades que lhe foram criadas com recente reestruturação de serviços, não lhe permitem recolher, em tempo útil, material para análises que comprovem o atentado ambiental.
Entretanto face à participação feita, a Inspecção Geral do Ambiente e Administração do Território decidiu pedir relatórios às entidades que se seguem.

SEPNA/GNR


ARHTejo.


SEPNA/GNR


DRAP/LVTejo


Do lado das autarquias e autarcas, nada, do Governo Civil de Castelo Branco, nada de nada.
Paulatinamente vou fazendo este caminho, caminhando...

Manuel Peralta

domingo, 6 de março de 2011

CONTRADANÇAS

Por alturas do Entrudo, eram frequentes os desfiles das Contradanças.
Raras as de Alcains, eram mais frequentes as contradanças que de Escalos de Cima ou da Lousa, que, pelo Entrudo, vinham até Alcains.
As contradanças eram formadas por grupos de rapazes e raparigas, carnavalescamente trajados, que em passo de marcha, par a par, cantavam canções com letras brejeiras por vezes, de crítica social outras, ou retratavam aspectos da sua condição, das suas vidas...
Uma de Alcains que me ficou na memória, foi a da Ti Maria Rainha, mulher que apesar da vida difícil, era muito alegre e morou muitos anos no Degredo.

Maria da Conceição Roxo, Rainha
José da Paixão Ferreira

Casada com José da Paixão Ferreira, o seu nome de baptismo é Maria da Conceição Roxo, mas ninguém a conhecia ou conhece por este nome.
Nasceram em 1907 e 1906, respectivamente.
Maria Rainha porquê?
Segundo o seu filho, José André Ferreira, mas conhecido por Zé Raínho, consta que a sua mãe quando cachópa, a caminhar para mulher, era pequenina, redondinha, muito jeitosinha...
Quando se compunha, a rapaziada do seu tempo começou por dizer, parece uma rainha... bonita... linda rapariga...
Dali até ao trono real foi um pequeno passo.
De tal enlace, cinco foram os herdeiros, entre reis e raínhos e rainhas.


Uma dúvida que me tem perseguido resulta do facto de ao seu filho, José André Ferreira lhe chamarem Raínho enquanto ao primo Manuel lhe chamarem Rei... bófe, vamos lá!!!
Voltando à Contradança, aqui vai a letra.

Nós somos os pastores,
Criados de servir.
E hoje por ser Entrudo,
O patrão deixou-nos vir.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...
Trá... lá... lá... lá...
Trá... lá... lá... lá... lá... lá... lá... lá...

Nós somos os pastores,
Do cincho e da francela.
Enquanto houver toucinho,
Não tocamos na morcela.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...

Dançamos no Outeiro,
E no Cabeço sem medo.
Cantamos no Reduto,
E bailamos no Degredo.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...

Lindo, de marchar e para a tradição recuperar.
Bom Entrudo.
Amanhã é um dia muito difícil... Domingo GORDO...
Bucho, sopas de matação, laburdo com rodelas de laranja, feijão vermelho com colorau... enfim, uma perdição!!!

Manuel Peralta

sábado, 5 de março de 2011

Caqueiradas, Entremesadas, Contradanças, Entrudo, Carnaval...


Cartas de namoro de Carnaval.

Entretido que tenho andado com o bom tempo passado, entre cava e poda, eis que sem dar por tal, aproximou-se o Carnaval.
Por cá Entrudo, chocarreiro, de moças ao soalheiro a quem se pregavam partidas e se enfarinhavam em casas assaltadas.
Escondiam-se, normalmente fugiam para longe da mãe, e enquanto se enfarinhava, também se beijava e apalpava...

Carnaval em Coimbra
Caloiro aproveitando-se da criada Gina

Aquilo era um estofêgo... e no Entrudo dava-se então volta a tudo...
Naquele tempo as casas eram boas para as Caqueiradas... doze a quinze escadas de madeira e corredor de sobrado e estava o barulho amplificado.
Plástico não havia, vidro um luxo, mas sobravam os caqueiros que em profusão gozavam a merecida “retráite” em confortáveis galarissas.
Restos de alguidares de telho e de resmalte, braseiras de lata batidas por ferra que misturava em inverno munha e caramunha, pequenos seixos rolados mal ataviados que rolavam por corredor e escada em profusa e tonitruante caqueirada...
Àh seu “condanado”, seu malvado, gritava a Ti Emília da Zebreira, mulher do Motchacha que, descuidada que era com a porta, era uma mártir no Entrudo...

Caloiro metediço e criada Gina

Quem é?
Acudia assim a Ti Marizé Juliôa, a toque de argola de porta, batida por fio de saca de farelo, esticado da esquina da rua...
Deve ser vento, comentava, enquanto recolhia para dentro...
Visitada era a Ti Lurdes Paixão, por entremesadas, Palhinhas, sobrinhas da Pedreira, disfarçadas, de casal com menina em braçal... boneca em corpo de garrafa ataviada, com sensível rolha de cortiça em parco gargalo, que ao passar para braços de tia, rolha que caía, sem dar por nada, tia mijada...
Gargalhada!!!
Mártir, a janela do 1º andar da tasca do Ti Requeita, em pleno largo do Outeiro.
Não havia pilheira, onde mistura de cinza, cascarões de ovos, cascas semi-assadas de laranja, que não fosse visitada e esvaziada.
Porque a farinha era cara, usava-se esta mistura embrulhada em papel de jornal, profusamente atirada a tudo quanto era varanda e janela espreitada por dentro por moças com vontade de uma enfarinhadela...
De óculos de brita, com lentes de rede, dentuça de cebola, lençol branco na cabeça e vela acesa, assim se disfarçavam vizinhas, que visitava a vizinhança depois da contradança.
Deu brado... carta sem selo, multada, recebida pela Rainha de namorado, apalavrado.


Eram frequentes, estas cartas...


...vinganças por namoros não correspondidos...

...tinha de pagar o selo, nem sempre se levava a mal, porque era Carnaval.

Manuel Peralta