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terça-feira, 30 de outubro de 2012

ESQUECIDOS, bolos, doces...


Cá em casa fazem-se assim.
São chamados bolos de fim de forno, apenas com uma chamita, em forno já arremansado, que se cozem com facilidade.
São bolos finos, redondos, delgados, feitos com farinha ovos e açúcar.
Sempre o forno de lenha.


Em alguidar para amassar, juntar os ovos, a farinha e o açúcar.
Deixar repousar.
Os artefatos como a rapadoura antiga e a moderna, convivem lado a lado com a colher que de tanto sofrer, os irá tender.


Mesmo que a não tenha (lata), preparare-a, untando-a abundantemente com óleo e salpicar de farinha até ficar com o fundo completamente branco.
Este preparo é fundamental para que o solo do esquecido, saia irrepreensívelmente branco, assim como a nossa alminha depois de a gente se confessar, de tal modo que ao comer não haja resquícios escuros de carvão, ou sujo de lata, que tornaria o bolo menos apresentável.
Tender. Com colher de sopa, depois de cheia, deixar escorrer, empurrando com dedo, sobre a lata, préviamente preparada.
Para que não peguem uns aos outros, não deverão esperar muito tempo fora do forno.


Agora já cozidos, uns mais macios, mais claros, menos tempo de forno, outros mais torraditos, crocantes, com mais tempo de forno, ou registo de saída de ar tapado. Técnica de forneiro.


Com um farto chá de poejo, quente no inverno e apoejado refresco no verão, ao lanche, são uma verdadeira perdição.
À noite com forte cacau quente, melhor respira o doente.
A receita.


O cruzeiro que fica no largo de Santo António em Alcains, é o cruzeiro do Senhor dos Esquecidos, que a foto reproduz.


Nas promessas frente ao cruzeiro, ouvia-se cantar assim.

Senhor aos teus pés estou,
agradecendo o meu pedido.
Pelo homem que me calhou,
macio, que nem um esquecido.

Popular.

Manuel Peralta


Nota: Para que não fique qualquer dúvida sobre esquecidos, esclareço que o Senhor dos Esquecidos, é o padroeiro dos homens e das mulheres esquecidas, daqueles que morreram e não têm por cá, neste vale cada vez com mais lágrimas, quem lhes mande dizer uma missa, ou os conforte com uma prece, ou  uma oração.
Em casos limites, gente que morre e nada nem ninguém por cá deixaram que os recorde, enfim que os lembre…
No capitel do cruzeiro, e sob os pés do Senhor dos Esquecidos, estão uma caveiras que simbolizam isso mesmo. Gente esquecida pelos seus.
Esta é a minha interpretação. Está aberta a discussão para quem quiser acrescentar valor. Fica assim aberta uma janela, para entrar o refrescante ar do enriquecedor conhecimento, que separa os Homens dos animais.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Castilho, José Manuel Tavares


Ilustre Alcainense com obra nas letras.


Meu caro Peralta

Dentro de dias, sai para as livrarias o meu livro “Marcello Caetano – Uma biografia política”, cuja capa segue em anexo, para dares a conhecer no blog, se considerares o facto relevante.
Abraço do

J. M. Tavares Castilho
Investigador
CesNova - Centro de Estudos de Sociologia
IPRI- Instituto Português de Relações Internacionais
FCSH - Universidade Nova de Lisboa
Rua da Moscavide, Lt. 4.28.02B - 1B
E-mail: jmtavarescastilho@gmail.com

 
Claro que é um facto relevante, e pelo facto de o ser, é com muito agrado que dou a conhecer aos mais de 60 mil leitores dispersos por mais de 30 países, que o Terra dos Cães já conta em pouco mais de 2 anos de existência, este agradável acontecimento.
Independentemente do que cada um possa pensar sobre a personalidade do biografado, eu fui, e hoje tenho cada vez mais saudades dos “HOMENS”, um dos que acreditei que o Prof. Marcello José das Neves Alves Caetano, seria capaz de desatar o molhado nó cego, que herdou de um anquilosado país, em guerra, emigrado, revoltado...
Mas a vida é isso mesmo, acreditar, desiludir e voltar a acreditar... sempre.


Mais acima fica o contacto do Zé Manel, para o caso, de alguém querer adquirir o livro.
Para um conhecimento mais detalhado do autor, dou a conhecer o seu currículo.



José Manuel Tavares Castilho, investigador do CesNova – FCSH-UNL, é licenciado em História, pela Faculdade de Letras de Lisboa (1986), obteve o mestrado em Sociologia, no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), em 1997, instituição onde também concluiu o doutoramento em História Social Contemporânea, em 2008.
Atualmente, desenvolve um projeto de investigação sobre «As elites políticas ibéricas e a crise final das ditaduras (1968-1977)», no âmbito de uma bolsa de Pós-Doutoramento atribuída pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Para além de diversos artigos em revistas especializadas, é autor de capítulos em obras colectivas, designadamente, Os Presidentes da República Portuguesa (2001); Elites, Sociedade e Mudança Política (2003); Dicionário Biográfico Parlamentar, 1935-1974 (2004-2005).
Publicou O 25 de Abril e os seus Antecedentes (1999); A Ideia de Europa no Marcelismo, 1968-1974 (2000); Manuel Gomes da Costa – Fotobiografia (2006); Os Deputados da Assembleia Nacional – 1935-1974 (2009); e Os Procuradores da Câmara Corporativa – 1935-1974 (2010).
O seu livro Os Deputados da Assembleia Nacional – 1935-1974 foi distinguido com o Prémio Calouste Gulbenkian de História Moderna e Contemporânea, atribuído pela Academia Portuguesa da História (2011).



Continua, Zé Manel.
Felicito-te por mais este bom trabalho.
Abraço.

Manuel Peralta

domingo, 21 de outubro de 2012

Líria

Resposta do Chefe de Gabinete de Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado do Ambiente.

Em meados de setembro do corrente ano, fiz nova diligência junto da entidades que deveriam ser responsáveis pelo bom ambiente na ribeira da Líria, alertando para a miséria ambiental, na desgraçada ribeira.
O tema era, “ Líria, ribeira abandonada, como o país... desgraçado.
Respondeu agora o Senhor Chefe de Gabinete do Senhor Secretário de Estado do Ambiente.
O texto seguinte e as fotos respetivas, dão conta da minha resposta.
Em cc: do email abaixo reproduzido, as entidades a quem dei conhecimento de mais esta tentativa de despoluição da ribeira.

De: Manuel Peralta [mailto:manuel-r-peralta@sapo.pt]
Enviada: quinta-feira, 18 de Outubro de 2012 17:02
Para: 'joao.palma@mamaot.gov.pt'
Cc: 'geral@aguasdocentro.pt'; 'geral@min-agricultura.pt'; 'gab.seaot@mamaot.gov.pt'; 'doai@drapc.min-agricultura.pt'; 'drapc@drapc.min-agricultura.pt'; 's.mexia@aguasdocentro.pt'; 'GNR_CO_DSEPNA_SOSAmbiente'; 'amavel.santos@aguasdocentro.pt'; 'alcindo@drapc.min-agricultura.pt'; 'abilio.valente@arhtejo.pt'; 'Carlos Cupeto'; 'camara@cm-castelobranco.pt'; v.saraiva@aguasdocentro.pt; 'Nelson Mingacho'; 'nuno.maricat@sm-castelobranco.pt'; 'nuno.lourenco@sm-castelobranco.pt'; 'Manuel Frexes'; 'joao.carvalho@sm-castelobranco.pt'; geral@sm-castelobranco.pt; julio.cruz@reconquista.pt; 'j.magueijo@aguasdocentro.pt'; 'lidia.barata@reconquista.pt'; 'celeste.capelo@gmail.com'; 'geral@aguasdocentro.pt'; 'geral@min-agricultura.pt'; 'gab.seaot@mamaot.gov.pt'

Assunto: FW: Líria, Ribeira Abandonada

Senhor João Palma.
Secretariado de apoio ao gabinete de Sua Excelência o Senhor Secretário de Estado do Ambiente e Ordenamento do Território.

Agradeço o email ontem recebido, que já nem esperava, desiludido e desanimado com a iníqua atenção que as várias entidades têm dado ao tema, POLUIÇÃO DA RIBEIRA DA LÍRIA, EM ALCAINS, MARTIRIZADA FREGUESIA DA CÂMARA DA CIDADE DE CASTELO BRANCO.
Eventualmente, por ser muita gente, entidades, a mandar na infausta ribeira, não se juntam, não se entendem e ao que me vou apercebendo, entretêm-se a enviar ofícios uns para os outros sem qualquer valor acrescentado, sem qualquer decisão, isto é, consumindo os exauridos recursos de um país em bancarrota...
O seu documento em anexado, Of. SEAOT nº. 4372 de 17-10-2012, é prova disso mesmo.


Terá feito o que superior lhe mandou fazer, e cumpriu a sua nobre missão, mas, para quem tanto espera por decisões é muito pouco, nada. Nada, repito.
Ou o Senhor João Palma acredita que a Agência Portuguesa do Ambiente, vai fazer algo de útil? Se nada fez até hoje, porque fará agora?
Convido-o a abrir no anexado a foto.


Foto da ribeira da Líria de hoje com alguma água da chuva. Para a frente fica o coletor de esgotos industriais do matadouro OVIGER, a quem o Ministério da Agricultura, com a cobertura, sem um lamento conhecido, da Região Hidrográfica do Tejo, na pessoa do Professor Carlos Cupeto, autorizaram por renovação da licença, a que o matadouro continuasse a poluir.
Tudo sob o conhecimento da GNR do Ambiente, que vê a poluição dentro dos parâmetros autorizados a poluir. Percebe? E assim estamos... 


A foto supra, diz respeito à ribeira de hoje para nascente, onde está a dita Zona de Lazer de Alcains. Obra do tempo do Ministro do Ambiente Sócrates, 375 mil euros sobre um canal de esgotos municipais, inaugurada com pompa, com teleponto e sofisticados meios audiovisuais, em tenda cara e a preceito instalada, com todo o séquito municipal, com fanfarra, mas sem direito a perguntas. Um tal Pedro Serra, das águas não sei de que, também esteve presente. Peixes a nadar em águas límpidas, pássaros, muitos, a chilrear, rãs a coaxar, papagaios a palrar, e claro algumas galinholas a cacarejar, tudo claro em ambiente virtual... e assim enganaram deixando Alcains mal...
Eu, mais dois corajosos Alcainenses de máscara na boca e nariz contra os maus cheiros, simbolizávamos um protesto, perante olhares tenebrosos de autarcas locais, menores, digo eu, e maiores, estes municipais.
Se passar por cá, convido-o a visitar a Líria agora para o lado poente. Tabúas de mais de dois metros de altura obstruem a ribeira, fazendo barragem que, em caso de chuva persistente causarão inundações. Mas pensa o Senhor Palma que alguém se preocupa?
Pensa que a GNR do ambiente intima os responsáveis a limpar? Como se pode limpar se a poluição existente impede qualquer ser humano, de ali fazer o que quer que seja?
Senhor João Palma, nada tenho contra si, mas espero que me desculpe este aperaltado texto de revolta contra a ociosidade e falta de respeito existente.
Não desistirei, como mais um da Terra dos Cães, e plenamente consciente da justeza desta minha luta, agarrarei pela canela todos aqueles que não cumprem o seu dever.
Muito obrigado.
Agradeço que faça seguir este email para quem ajude, mas por favor, não continuem a encanar a perna à rã.


De: João Mário Palma [mailto:joao.palma@mamaot.gov.pt]
Enviada: quarta-feira, 17 de Outubro de 2012 19:08
Para: '
manuel-r-peralta@sapo.pt'
Assunto: Líria, Ribeira Abandonada

Joao Palma
Secretariado de Apoio


Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente
e do Ordenamento do Território
Rua do Século, 51
1200-433 Lisboa, PORTUGAL
TEL + 351 21 323 25 00 FAX + 351 21 323 16 79
www.portugal.gov.pt



Manuel Peralta

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Bandeira Nacional, como se dobra

A propósito do episódio recente observado em direto nas televisões, por ocasião das comemorações do 5 de outubro, no edifício da Câmara Municipal de Lisboa, episódio que superou em atenção o evento que se comemorava, e que diz muito sobre a leviandade, a falta de exigência e de cuidado profissional que tomou conta do país, um país de governantes com especialidade de “básicos”, qual CCS mal gerida, mal enquadrados, sem o mínimo de preparação para os atos que desempenham, não deixo de dar ao conhecimento de quem nos segue no Terra dos Cães, o modo como de deve dobrar a BANDEIRA NACIONAL.


Seguidor, preocupado com as decisões da “rapaziada” que nos governa, estimulador deste blog, o General Frutuoso Pires Mateus, Alcainense de mérito, com carreira e CV militar de vinte e dois valores, remeteu-me para conhecimento, email em que põe o preto no branco sobre o tema, ensinando de forma elementar como se deve dobrar a BANDEIRA NACIONAL.
Tenho pena, mesmo muita pena, que os “palradores e palradoras” de serviço nas televisões, não fizesse a pedagogia de quem informa, que é acrescentar valor ao comum dos cidadãos.


Não vi que alguém tivesse o cuidado de dizer como se faz, que ensinasse como se deve dobrar a bandeira. Mas “esta gente”, como se refere o dinossáurio autárquico Mário de Almeida, aos pescadores quando morrem no mar, lê, socraticamente,  nos telepontos sem qualquer juízo crítico tudo o que lhes escrevem.
Porque acredito e tento praticar que, homem informado e esclarecido vale por dois, dou a conhecer o que agora aprendi.
Obrigado General Frutuoso Pires Mateus.


Dobrar a Bandeira Nacional

A dobragem da Bandeira Nacional, especialmente em cerimónias, deverá ser efectuada de modo a que, no final, resulte um rectângulo com a largura e comprimento do Escudo Nacional. A dobragem deverá ser feita por, normalmente, quatro pessoas, seguindo os seguintes passos:

1. Coloca-se a Bandeira na horizontal, segura pelas bordas da tralha e do batente;


2. Dobra-se o terço superior para trás;

3. Dobra-se o terço inferior para trás;

 
4. Dobra-se o lado do batente (encarnado) para trás;
 

5. Finaliza-se, dobrando-se o lado da tralha (verde) para trás.
 

O resultado


Assim se trata a Bandeira Nacional com respeito e se dobra de forma a se poder ver exactamente qual a sua posição evitando equívocos (no mínimo) embaraçosos. Não se dobra a Bandeira Nacional como se fosse um lençol ou uma toalha.

Manuel Peralta

sábado, 13 de outubro de 2012

Junta da Freguesia – março de 1980

Dando sequência ao tema que em fevereiro de 2012 deixei em aberto, continuo com nova ata em que resumo a atividade autárquica daquele tempo, 1980, trinta e dois anos passados.
Concluída a formação em Coimbra, um ano em Pinhel a dar aulas, guerra colonial, Guiné-Bissau, e (emprego) trabalho em Castelo Branco nos CTT – Telecomunicações, outubro de 1974.
Comecei por ali a tratar dos processos que se acumulavam... e que, por difíceis a caminhar para impossível de resolver, eram entregues aos juniores, básicos, que chegavam.
Apanhei então um pó, muito pó, que só me fez bem !!!


Aprendi, praticando, a diferença entre escrever e falar, e principalmente o cuidado com que se deve escrever, a ordem cronológica dos documentos, a registar tudo o que de relevante dizia respeito ao processo, um processo para cada caso ou tema, a classificação dos documentos, a dar entrada, a dar saída, a expedição e a ter sem atraso a vida administrativa em ordem.
Por pendente, marcar data, e insistir por resposta.
A vida administrativa da junta herdada, em 1980, era praticamente inexistente. Tudo era conversa. Inexistente documentação escrita sobre contratos verbais vultuosos com particulares, fregueses a perguntar por assuntos completamente desconhecidos da junta, saldo financeiro quase a zero, visto que a junta cessante distribuiu, para facilitar (?) a vida aos que lhe sucediam, subsídios mesmo aos que deles não necessitavam.
Perante esta situação, comecei a tentar aplicar na junta a vida administrativa dos CTT que a pouco e pouco ia aprendendo com as técnicas administrativas e datilógrafas, Dona Amélia, a Teresa do Estreito e a alcainense Anita Ramalho, filha do carteiro, o Ti Manelinho, que nos CTT me ensinavam.


Entretanto, tive que vencer a resistência do homem que na vida administrativa da junta, por vezes aos gritos, mandava, e mandava mesmo.
Refiro-me ao Carlos Farias Leão, conhecido por Carlos macaco, ou macaquinho... precocemente falecido.
Um homem sério, muito sério, daqueles em que se pode confiar. Tivemos algumas dificuldades de relacionamento no início, nomeadamente quando em privado lhe chamava a atenção sobre o modo ríspido com que tratava os fregueses que ao balcão da junta se dirigiam, mas esperto que era, depressa começou a tratar os fregueses com urbanidade e a ajudar e a preencher pelo seu punho impressos e outra documentação.
Dominado o Leão, e imbuído no lema de que os que mais precisam, mais devem ser ajudados, fez-se a junta à estrada.


Não havia lei das finanças locais, a junta estava completamente dependente da Câmara no que a dinheiros dizia respeito.
Mas a pouco e pouco o Dr. César Augusto Vila Franca que até ali tinha sido professor e que pouco saberia da gestão camarária, começou como eu na junta este aliciante caminho da descoberta...
Com 31 anos e a usar ainda cabelo, foi uma experiência irrepetível.
Voltando à ata, de 27 de março de 1980.


Começaram as crianças de Alcains a ir à piscina de Castelo Branco e para tal havia autocarro mas o motorista não estava habilitado a conduzir em estradas nacionais. A pedido da junta e graças à compreensão do comando da GNR de Castelo Branco, tal foi possível, e o Sr. Alfredo de boné de motorista lá conduzia um velho autocarro que ameaçava parar em cada curva.
Houve entretanto uma reunião da assembleia da freguesia onde a junta prestou contas da sua atividade, e onde se constituiu uma comissão de trânsito e outra de toponímia. A assembleia autorizou a junta a comprar duas casas junto à junta de freguesia velha que demolidas permitiram eliminar a dita e em palco mimoseada, de rua do funil, a caminho, do lado direito, da capela do Espírito Santo.
Autorizada também a comprar pequenas parcelas de terreno sobrantes do loteamento da Levandeira, hoje jardim que a foto documenta.


Houve entretanto uma reunião da assembleia municipal onde no período de antes da ordem do dia usei da palavra, naquele tempo o presidente da junta não era mudo, para, segundo a ata por mim escrita, e aqui reproduzida, expor os “problemas de fundo” que “afligiam” Alcains, nomeadamente o alargamento da estrada nacional 18, Alcains – Castelo Branco, o alargamento da ribeira da Líria, o reforço do respetivo pavimento, remodelação da rede de energia elétrica, mudança da estação de tratamento de esgotos, ETAR, e a cedência de um funcionário camarário para que a junta possa cumprir o estipulado na lei das finanças locais.


Destas preocupações foi, através de carta apropriada, dado conhecimento escrito ao Governador Civil, e Presidentes da Câmara e Assembleia Municipal.
O Dr. César Vila Franca tinha inaugurado uma nova forma de fazer política, de proximidade com os eleitos e regularmente fazia umas reuniões com os presidentes das juntas, que chegaram a ter visível notoriedade política. E, na Assembleia Municipal todos os presidentes de junta votavam o que o Dr. Vila Franca propunha. E é precisamente numa destas reuniões de presidentes de junta que fui escolhido entre os meus pares para fazer parte de uma delegação de autarcas concelhios que se deslocariam a Lisboa ao Ministério da Industria e Tecnologia e à EDP, para tratar dos graves problemas de abastecimento de energia elétrica concelhios.


O concelho estava praticamente às escuras, as indústrias queixavam-se de sucessivos e inesperados cortes de energia e a ex HEAA – Hidro Elétrica do Alto Alentejo sem capacidade de resposta.
Por ser de importância relevante para a história do desenvolvimento concelhio, tratarei oportunamente este tema em separado.
Fruto desta agitação municipal, com entrevistas nos jornais, a disparar um pouco para todo o lado, e a dar voz pública aos problemas de Alcains, começo a ser visitado.
Recordo uma entrevista que dei ao Jornal do Fundão, em que entre outras peraltisses dizia...  “ Os Holandeses fizeram a Holanda e os Alcainenses fizeram e fazem,  Alcains”.


É neste contexto que nos visitam na junta, o Engº Santos Marques, diretor da ex JAE do distrito de Castelo Branco, que prometeu e cumpriu o projeto de melhoria da estada de Santo António e o respetivo estudo de trânsito que permitiu a circulação de dois sentidos  no centro da Vila, e o Dr. Costa um excelente e sóbrio vereador da APU na Câmara Municipal, mas muito amigo de Alcains, com o Engº Barata o HOMEM forte da Ex HEAA, hoje EDP em Castelo Branco.


Sob o título “ Boa política da Junta da Freguesia”, David Infante, recentemente falecido e Alcainense de mérito, escrevia no Reconquista uma local em que se congratulava pelo regresso do cruzeiro do Senhor dos Esquecidos ao largo de Santo António.


Este cruzeiro pela mão da junta anterior havia sido transferido, contra a sua vontade, para o largo da ermida de Santa Apolónia. Eventualmente, e fazendo juz ao seu nome, Senhor dos Esquecidos, foi para a ermida para ficar ainda mais esquecido...
Voltarei também aqui mais tarde para contar uma história linda sobre este cruzeiro... passada comigo, obviamente.


Por carta de 18 de março dirigida ao Senhor Governador Civil, solicitava a junta a criação de uma escola do ensino secundário unificado em Alcains. Respondeu o Senhor Governador que iria fazer todas as diligências junto da entidade competente, para que Alcains visse satisfeita esta justa pretensão.


É justo reconhecer aqui o esforço e a pressão constante do Dr. Joaquim Manuel Carrega Barata Rafael, junto da junta e do ministério respetivo para se alcançar este desiderato. Mais tarde e ainda durante este mandato Alcains viu coroada de êxito esta justa e merecida pretensão. Alcains chegou a ter 800 alunos.
Enquanto a Câmara Municipal fazia um adiantamento de cem contos, hoje 500 euros à junta, a Câmara Municipal por pressão da junta oficiava à Hidráulica para elaborar projeto de reforço do pavimento na rua então recente e popularmente batizada de 25 de abril, perdendo o antigo nome de Dr. António de Oliveira Salazar.


Deixei deliberadamente para o fim a questão pendente do Solar Ulisses Pardal, nomeadamente dos terrenos destinados ao infantário.
A junta foi a casa do Dr. Ulisses Pardal em Castelo Branco para tratar deste tema, herdado da junta anterior.
Entrámos, pela criada fomos encaminhados para a sala de visitas e ali esperámos algum tempo pelo Dr. Ulisses.


A conversa foi anormal e urgentemente breve.
- Depois de breve e fugidio cumprimento, o Dr. Ulisses disse para os atónitos 3 membros da Junta.
- Fui aluno em Coimbra do Prof. Dr. Oliveira Salazar, e, este ensinou-me que, a justiça pede-se de pé, razão pela qual não me sento. Informo a junta da freguesia de que, enquanto não for feito o “distrate” da escritura do terreno do infantário, e o mesmo não passar para a posse do proprietário anterior, não voltarei a ter qualquer contato com a junta. Esta minha posição é inegociável uma vez que a junta não cumpriu o que os termos da escritura impunham.


Meio aturdidos com o distrate, julgo que foi a primeira vez que ouvi tal termo jurídico, argumentei que a junta não tinha o poder de por si só reverter tal escritura, mas que iria pedir a convocação de uma reunião extraordinária da assembleia da freguesia par a questão ser tratada.
- É problema seu, disse.


A assembleia foi convocada e... voltarei ao tema quando a chuva começar a cair.


Manuel Peralta

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Morreu Alcains-Vila

O fim estava anunciado, só não se sabia, quando...
Mas, como tudo o que pode acontecer, acontece, não surpreendeu.
Os últimos tempos, anos de natural e irreversível definhamento, acentuaram a inevitável queda de um David, que, desta vez,  não venceu Golias.
Muito usada, a “funga” do David que atirava os seus escritos quase sempre avinagrados, desta vez, partiu pela “forcalha”...  e, que Deus lhe valha.


Refiro-me ao “David Infante”, António Simão David Infante de seu completo nome, um dos últimos Alcainenses, dos “bairristas”, dos que, como outros, infelizmente poucos, insubmissos, não dependentes, sem avença, por enquanto ainda cidadãos livres, de tanto amar a sua terra, olham para o desenvolvimento de Alcains, pelo lado do copo meio vazio, pelo lado do que, por direito, ainda falta fazer.
E se há tanto por fazer!!!
O David Infante, fez o Reconquista em Alcains, afirmo. Outros jornais, outros títulos, tentaram e nunca  conseguiram fidelizar quer leitores muito menos, assinaturas. Com a sua persistência em manter Alcains na crista da onda, David Infante, semeou, regou e plantou inúmeras Reconquistas nas comunidades dos nossos emigrantes, que deram frutos um pouco por todo o mundo. 


Só quem saiu, trabalhou, sofreu e viveu fora da sua terra, pode avaliar o interesse que tem uma pequena notícia sobre a sua terra, a sua rua, uma polémica, enfim “apeguilhar” a emoção de um falecimento, e todas as semanas chegar a “tchambaril”, com uma notícia, de véspera e de ouvido captada, de fonte não identificada...
David Infante, presumo eu que fruto da sua atividade, escrevia de faca afiada, sabia onde se encontrava a “jugular”, sabia onde doía quando operava o “marrantcho”, que incomodado ficava com a sua “verve”, semanalmente publicada, que incomodava.
Não escrevia, ocupando precioso espaço de jornal, sobre os problemas do mundo e arredores, em textos inócuos, pretensiosos, de oposição pretérita, hoje agradecida por prebenda recebida.
Nunca foi assessor, e mesmo em doença, nunca recebeu avença... a sua vida foi o trabalho e os seus, nada foram beneficiados, quando a gente conhece como o silêncio gerido, hoje bem pago, não merece castigo.
Desde as “pataniscas” cobradas a cinco “tostões”, em palito espetadas, no café do largo do poço novo, arrasado, tapado, que duravam o tempo televisivo do “Rim Tim Tim” do “Mascarilha”, e do “Cotchise”, até passados anos, às grandes comesainas no quintal, com o Porfírio, o ti Domingos Barata, o João Batista, o Ti Zé Amaro Gordo, vulgo Navalhinha, o ti Luis Amaro, vulgo Luis Pequeno até ao Mário Tavares e António Damas entre tantos outros, poucos, ainda do lado de cá, e, cada vez mais do lado de lá, o David Infante andava sempre numa “delandina”.
Sobremaneira me incomodava, já lá vão trinta anos, quando eu ainda usava cabelo, e estava na junta da freguesia.


Tive algumas desavenças com ele, particulares, e, nos jornais, públicas.
Mas em nada afetou uma sã camaradagem e um convívio fraterno entre duas pessoas que queriam, cada um à sua maneira, o bem para a terra deles, a nossa, a dos cães, Alcains.
As suas locais, eram um incentivo para a junta do Peralta do Amaro Minhós e do ti João Pereira, andarem na linha.
Quanto mais ele apertava com a junta, mais trunfos eu tinha perante um Vila Franca acossado pelo David Infante e por um presidente, eleito numa lista de cidadãos eleitores, não vinculado à maioria camarária, vinculada à AD. Mas foi muito lindo e gratificante, reconheço.
Certa vez e perante a incapacidade das autoridades, cumprirem uma decisão da assembleia da freguesia, de mudança do mercado semanal da praça, para a rua do charco vão, desabafava o saudoso cabo Marques.
Quem devia estar aqui é o presidente da junta. A quente, David Infante, escrevia uma notícia que entre outros considerandos sobre o tema, dizia.
- Tem toda a razão o cabo Marques.
Fui ter com o governador civil de então, Alberto Romãozinho, e de jornal na mão, disse-lhe. Se ao próximo sábado esta ausência de autoridade se voltar a verificar, entrego-lhe a junta.
O mercado, mudou.
Alcains-Vila, título das notícias de Alcains no Reconquista, começou por sugestão do Engº Caldeira Lucas, meu professor, então vereador na, como hoje, Câmara de Castelo Branco, quando em 12 de novembro de 1971, Alcains foi elevada a vila.


O próximo passo, como dizia Cunha Belo e Sanches Roque, era Alcains concelho. À medida que vou deixando de usar cabelo, cada vez mais me convenço, que o 25 de abril interrompeu este passo. Mesmo em democracia, há coisas que só um ditador travestido de democrata, consegue...
O David Infante foi um grande animador do desenvolvimento de Alcains, nas comissões para a criação do ciclo preparatório junto da família de José dos Reis Sanches, na criação da Consal, junto da família Barata, (Terlé) na implementação da zona industrial, na Alprema, na abertura da avenida 12 de novembro, entre muitas outras pessoas que em redor do bem para Alcains se associavam.


Reconhecê-lo, por parte de quem por lá andou, é um dever que devo ao meu amigo David Infante. Por mim a sua forma de lutar por Alcains, merece não passar despercebida. E, David Infante, mereceu e merece.

Se ele, lúcido, ainda por ali apanhasse sol no largo do poço novo, e visse o que estão a fazer por detrás da igreja matriz, em quelha, promovida a travessa da mateira, e, em que até o acesso à sacristia foi retirado, pedreiro livre que era, decerto diria que não é criando barreiras à entrada que se aumenta o número de fiéis... mas isto, como David Infante, era ver pelo lado de Alcains.


Quando vinha dos Açores repleto de saudades de Alcains, “amigo de dar fé”, queria saber de tudo. Desiludido com país e com o marasmo reinante, perguntava pelas gentes.
Acomodadas, silenciadas, não é pelo facto de haver democracia, que as pessoas são mais livres, disse-me, David Infante.


Com a morte de David Infante, morre também Alcains-Vila, e, sem mestra em colmeia, regressamos a aldeia.

Manuel Peralta

Nota: Os documentos do Reconquista e aqui publicados, dizem respeito aos ecos que no Reconquista, o seu jornal, deu fé sobre este triste acontecimento. Para a posteridade aqui ficam registados.