Só em Alcains, já são cerca de sessenta, os micro "nano" agricultores que foram obrigados a frequentar um "inenarrável" curso de Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos.
Trinta e cinco horas, repito 35 horas, 8 dias, em horário pós laboral, das
18.30 às 22.30 horas.
O custo que cada micro agricultor teve de despender para frequentar o dito curso foi de 90 euros, mais 7,5 euros para se receber o cartão, que, ao que consta, tem uma validade de 10 anos. Dois meses passados, cartão, nem vê-lo!
Assim vai a nossa burocrática agricultura...
A generalidade dos alunos da minha provecta turma, têm apenas uma pequena horta, uma belga, um quintal, uma courela, uma tapada, um ou outro uma quinta, e apenas um, raro, entre vinte alunos falava de hectares, a medo, não seriam muitos, menos de três.
No entanto, o parco texto de apoio distribuído que serviu de guia nas aulas, foi decerto retirado de alguma tese de doutoramento, com uma linguagem e conceitos próprios a agricultores de produção extensiva, de alcatifa nas "drabi", desgarrados da realidade que é a miséria da nossa agricultura de subsistência.
Não os refiro por pudor e respeito para quem me lê, tal a discrepância entre as expectativas dos alunos sobre o que iam aprender, e a entidade que concebeu tal modo de desacreditar ainda mais a formação de mais uma "Nova Oportunidade" perdida.
Entretanto, vim de lá, em conceitos, quase doutorando...
Dos vinte alunos da minha turma a generalidade, mais de 95 por cento, tinha apenas a antiga 4ªclasse, tirada há meio século, já esquecidos dos mililitros, das centigramas quase todos desprovidos de bons ares e muito menos de hectares.
No entanto, lá vinha o cuidado a ter com a pressão dos bicos dos aspersores dos tratores para quem tem apenas pulverizador, o cuidado a ter com as embalagens e o armazém dos ditos fitossanitários, com extintor, balde de areia, a quem apenas tem uma pequena caixa com colher herdada de pai, para fazer uma calda em pulverizador de 5 a 12 litros.
Senti-me por ali meio agrário, tal a megalomania da matéria professada a agricultores familiares, de fim de semana.
Estoicamente lá se foi passando este tempo, de aulas, esta nova oportunidade, sem qualquer material audiovisual, modorra que ia sendo quebrada quando a interação entre alunos e monitora falava do que nos interessava e queríamos saber mais, a lepra do pessegueiro, o olho de pavão das oliveiras, a folha amarelada dos citrinos, as cochonilhas, a mosca das frutas, os nemátodos, dos ácaros aos afídeos.
Cupravit, envidor, serenade, e garbol entre outros, foram parcas curas para quem caro pagou um papel, um cartão, que o habilita a poder comprar e aplicar produtos fitossanitários sem ser incomodado pelas autoridades.
Claro que as empresas de formação têm por aqui um raio de sol que as aquece em dias de frio quase glacial, e é ver como recentemente um jornal local publicou apetites de instituições que sobrevivem com as formações, para terem acesso aos 97,5 euros, por 10 anos, que os governos extorquem a quem trata da horta.
Tamanho aborto legislativo sobre formação sanitária agrícola só pode ser entendido num cenário de absoluto desconhecimento da realidade dos destinatários.
A pessoa, instituição ou organização que tal formação concebeu devia ser tratada em dia de sol com Mesurol.
O título deste texto, ensaio em branco, refere-se a um trabalho de campo, que tivemos de efetuar pra se calcular o produto que se gastou numa determinada área, o débito do pulverizador.
Este texto foi por mim remetido par os jornais, Gazeta do Interior, Povo da Beira e Jornal do Fundão, com pedido de publicação.
Manuel Peralta