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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CONJUNTOS MUSICAIS - Tranquetenas do Ritmo

Em página anterior dei a conhecer um pouco do que a minha memória recorda, em passos muito largos, sobre a evolução das actividades musicais que timidamente despontavam em Alcains.

Já com os Beatles em consolidação, um pouco por todo o país e também em Alcains, apareceram os conjuntos musicais.

Tal como o nome indica TRANQUETENA, parece ser assim uma "coisa sem jeito", "fora do comum", "que não tinha por onde se pegar" assim me dizia o Tó Damas que aparece na foto em pose de viola solo, com casaco de músico a assertoar de seis botões.
No entanto penso que Tranquetena, derivará popularmente de Traquitana, que era um carro desconjuntado e reles, segundo o Torrinha de boa memória.
Foi ele Tó Damas que, aprendiz de serralheiro na Metalúrgica ISIDROS, construiu a caixa e da pele curtida de um borrêgo do tio, fez assim o primeiro instrumento dos Tranquetenas do Ritmo.

Entretanto, nos intervalos das corridas das festas populares, calhou ao Domingos Bispo o lugar de Baterista, que a foto documenta de melena ao léu, gravatinha centrada na camisa branca de TV, e de sapatinho engraxado marcava o ritmo dos Tranquetenas com as báguétes de mogno ressonando na caixa e no réco-réco.
Mas o verdadeiro ideólogo de tal aventura, qual Jonh Lennon em ascenção, era o Tonéca Caldeireiro que de micro em punho, casaco desapertado , cabelo maior que as orelhas e de porta chaves pendurado na presilha das calças, desafiava pelo estilo e concentração, qualquer Calvário ou Garcia.
Diz-me o Domingos Bispo que ele, Tonéca Caldeireiro lia muito, nomeadamente a Revista Plateia e por aí sabia o que se passava no meio musical, já tinha em casa um rádio, e tudo isso era uma vantagem adicional.
Era no dizer do Domingos o que tinha mais jeito.

Por último,o João Tchéna que não cantava, pois fumava, tinha estilo quase igual ao do Tonéca e parece que tocava banjo ou banjola, solista eventualmente quando o Tó Damas decidia fazer de viola ritmo.

Eram estes quatro jovens que não compondo,cantavam as cantigas dos outros, na eira do Ti Caldeireiro, pai do Tonéca, e ali podiam berrar à vontade, ninguém os ouvia, e nem os seminaristas incomodavam... ensaiavam à noite à luz de petromax... não havia por ali luz eléctrica.
Nenhum deles sabia uma nota de música, mas conheciam as cordas, faziam algumas posições... pois não sofriam das costas... aquilo era para cima e para baixo,com palhêta a silvar nas cordas.

O maior êxito conhecido, com música de "Coimbra Menina e Moça" foi uma letra não protestada que rezava assim:

O amor é de nós dois,
De nós dois e mais ninguém.
Quero que tu sejas minha,
Pra te amar ó meu bem.

Mas... há sempre um mas... e, recebendo um convite para ir tocar a um casamento de amigo aos Escalos de Baixo, acompanhando um acordeonista, iam "a de comer", um deles faltou e foi suibstituído pelo Manuel Pereira e parece ter havido um "quiprócuó" com o emblema que era uma clave de sol sob estrela de três pontas...

Quando passou a febre, acabou.

Manuel Peralta

2 comentários:

  1. Esta introdução à música yé yé dos anos 60 em
    Alcains, revelou nomes que eu desconhecia,terem andado nestas vidas... De todos os que neste post foram revelados, parece-me que só o Manuel Pereira Barata, muitos Baratas esta terra tem, teve alguma continuidade. Estarei enganado! O "homem do leme" do Blog, sabe muito destas coisas, assim ele as queira, tenha paciência para isso, revelar.

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  2. Sr. Manuel Peralta, ainda hoje falei consigo, por acaso, e ainda bem que este assunto (blogue) surgiu. Permitiu-me, enquanto jovem familiar do John Lennon Alcainense (Toneca Caldeireiro), conhecer uma fotografia linda de outros tempos, acompanhada de um texto fantástico, à altura da mesma. O seu blogue é uma "pérola" para os Alcainenses.
    Ficarei calmamente à espera que "investigue" e escreva sobre a origem dos apelidos da minha família, por exemplo. :)

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