Observador privilegiado do local, testemunha para memória futura a construção, seus intervenientes bem como o benemérito que a mandou executar.
Sugere ainda e muito bem que, na base do monumento, seja colocada uma lápide com o nome do seu principal executor, Joaquim dos Santos (Fradique) de seu nome.
Uma vez que ele mesmo refere outros intervenientes, poderia em meu entender, alargar-se a todos eles o reconhecimento.
A imigração CANTEIRAL Alcainense dispersou a sua arte um pouco por todo o país, principalmente na corda interior desde Beja até à foz do Côa, limite do distrito da Guarda.
Foi sempre minha intenção, através do blog, dar a conhecer quem fez e onde está a arte dos Canteiros e Pedreiros da terra deles que é a nossa...
O Manuel Geada no seu Alcainês do largo de Santo António deu o seu valioso testemunho.
Quem se segue?
Manuel Peralta
Mandado erigir pelo nosso conterrâneo José André Júnior no ano 1953, em reconhecimento de uma graça concedida, é aqui o principal ponto de encontro dos alcainenses.
Conheci o Senhor José André e sua esposa, a Senhora Maria dos Santos que nos anos quarenta e cinquenta do século passado, eram os grandes fornecedores de pão em Alcains, e terras vizinhas. (A senhora Maria dos Santos quando ocasionalmente me encontrava na rua conhecia-me e, dizia logo que era neto da sua vizinha, Ti Maria Duarte).
Casal exemplar, e muito empregador, era conhecido por ser amigo dos seus empregados, e ajudar os pobres da nossa terra.
Também a estes alcainenses se deve a construção da Escola da Feiteira(hoje infantário): que muita gente por não ter conhecimento, pensa ter sido construída pelo Estado Português.
Tinham uma padaria situada na Rua Longa, hoje Rua da Liberdade do lado esquerdo na traseira da igreja, que era também o local da sua residência. Ainda hoje lá está um bonito palacete bem conservado. Mais tarde a padaria mudou para o Largo de Santo António.
Toda a mocidade nascida nos anos quarenta e cinquenta, se lembra de algum dia lá ir à ti Piedade (Tira Linhas) comprar pão. Além do “pão trigo”, também se lá vendia um pão feito com farinha de centeio (na época o pão dos pobres), uma delícia .
Todo o pão era cozido em fornos a lenha, e amassado com a farinha produzida na fábrica do Senhor José André situada no Largo de Santo António (no local onde hoje está o prédio do café Santo António e banco Montepio Geral).
Voltando ao nosso “Monumento”; recordo bem a sua construção. Era ali o meu campo de jogos, porque morava ali ao lado, na Rua do Cemitério.
Naquela ocasião o Largo de Santo António era uma autêntica pedreira. Os enormes blocos de pedra extraídos no Capelo Delmo chegavam ali uniformes, para serem no local desbastados, aparelhados, e montados no sítio adequado.
Como toda a catchopada que habitava por ali, segui a construção do que para nós era uma obra colossal, do princípio até ao fim. Direi que éra-mos nós os fiscais da obra.
Lembro-me perfeitamente de ver os homens munidos de grandes alavancas de ferro, penar para arrastarem e colocarem no sítio, os grandes blocos que constituem a sua base.
Os blocos mais pequenos, uma vez aparelhados e arrastados até ao local já foram içados com um guincho (guindaste) com duas manivelas movidas algumas vezes por dois homens em cada uma, que os punha quase no local que lhes era destinado.
Não me recordo quanto tempo foi necessário para a construção da coluna, mas, também não tenho ideia de ter incomodado a realização da festa de Santo António (no início do mês de Julho), e a feira dos Santos (dia 1 de Novembro).
Perguntei a alguém que lá trabalhou, também não se recordam do tempo que demorou a sua construção, nem do valor da empreitada.
Trabalharam nesta construção Joaquim dos Santos(Fradique), José dos Santos(Fradique), Joaquim (Bichinho), António (Gravisso), Manuel Martano, Francisco dos Santos Leão (Tchico Puto), e o meu amigo João Maria (filho do mestre da obra) que na época com doze anos de idade, já exercia os cargos de aguadeiro, ir ao ferreiro e, nos tempos livres, também já ajudava a desbastar os blocos.
Uma vez a coluna erigida, recordo-me como se fosse ontem, ouvir o Sr.Vigário (Padre António Afonso Ribeiro) num domingo dizer durante a celebração da missa, que um certo dia da semana(não me recordo qual) pelas três horas da tarde chegava a imagem do Sagrado Coração de Maria e, quem pudesse, fosse ao Largo de Santo António orar para que a estátua não caísse, enquanto efectuavam a delicada nanobra de a por no pedestal.
É quase inútil dizer-vos que estava presente Alcains em peso, o recinto estava repleto de gente de joelhos a rezar, enquanto a imagem ia subindo ao ritmo das voltas que davam as manivelas do guincho manipulado por homens destemidos e fortes. Tudo se passou bem; a imagem lá ficou no cimo com um grande terço nas mãos, hoje desaparecido?
Mas quem foi o grande mestre de obras e artista canteiro alcainense, responsável pela construção deste nosso emblemático monumento???
Vós da minha geração e anteriores ainda vos recordais mas, os vossos irmãos mais novos, os vossos filhos e netos, alguma vez ouviram sequer pronunciar o seu nome?
Imaginem o orgulho de um bisneto ou trineto do “ARTISTA”, mostrar a um amigo de visita, aos seus filhos ou netos, a obra feita por um seu antepassado. Mas, como prová-lo, se não existe ali nenhum testemunho disso.
Será que por um homem não ter diplomas (fez o exame da terceira classe primária e, tirou a carta de condução, já muito tempo depois da construção do monumento) mas um grande artista e mestre de obras, que sabia ler as medidas num plano como o melhor engenheiro ou arquitecto, não tenha direito a ser reconhecido pela sociedade?
Entre algumas das suas obras cito: O altar da nossa igreja matriz, uma autêntica obra prima todo cinzelado: Toda a cantaria onde assenta a talha dourada do Altar-Mor com cerca de 2,50m de altura, também toda cinzelada: As escadas do altar: Em Vilar Formoso, o quartel da Guarda Fiscal etc,.
Inauguram-se obras e, algumas logo votadas a um abandono total, (uma vergonha para a nossa terra ) mas o dia da inauguração lá está a lápide. Esta ....foi inaugurada por Sua Exc...
Alcainenses e não só, pergunto: O nosso conterrâneo e artista JOAQUIM DOS SANTOS (FRADIQUE), que erigiu o monumento, não merece uma pequena lápide com o seu nome, na base do seu monumento???.
Aqui fica o nosso apelo a quem de direito para que façam o necessário e, assim por fim a esta grande injustiça.
09-05-1920 / 26-05-2003
Na ocasião foi construído um grande patamar mais ou menos a meia altura da estátua, acessível por uma grande rampa, tudo construído em madeira.
No patamar, o Sr. Bispo recebia pessoalmente os donativos quase todos oferecidos pelas crianças que frequentavam as escolas.
Ainda me recordo de também subir a rampa todo contente e orgulhoso com meio arrátel de arroz e, após o donativo beijar o anel do Sr. Bispo.
O meu amigo Zé Patola, como o pai trabalhava na casa da D. Josefina Taborda Ramos, levou um cordeiro as costas, oferenda desta Senhora.
Fotos de Joaquim dos Santos (Fradique): cedida pela família.
Manuel Geada
Conheci o Sr. Jaquim Fradique (avô de um amigo de infância). Só gostaria de transmitir que concordo com a "petição" e dar forças para continuarem a divulgar a história da nossa terra. Força!
ResponderEliminarGostaria, e referindo-me directamente à "estória", de saber se a construção de tal monumento se deve ao facto de o mandante ter ganho uma acção em tribunal. É verdade??
MC disse….
ResponderEliminarO Monumento, os canteiros e “Graça” que esteve na sua origem! Seria “puto” mas a ideia de que à construção do monumento andou associada uma questão que metia Tribunal, relacionada com a legislação associada à tributação ao comércio das Farinhas ou do Trigo, nunca me passou da memória e portanto devo tê-la escutado algures. O que não quer dizer que seja verdade! Mas a interrogação que BP coloca tem toda a razão de ser!
Quanto à memória dos canteiros que trabalharam no erguer do mesmo, o meu apoio, a que os seus nomes se perpetuem como verdadeiros artistas, num tempo em que o design e o marketing eram palavras desconhecidas. Aliás, creio vir a propósito, que evoluindo a arte da cantaria como evoluiu, e a ela se tendo dedicado com alguns trabalhos de vulto, uma alcainense de adopção, de nome Cristina Ribeiro, não tenha sido aproveitada esta boleia e através dela projectado ainda mais os nomes dos nossos canteiros.
Creio que foi ainda no tempo, em que o Presidente da Junta de Freguesia era um ex-canteiro e então um próspero empresário, João Santos, que este me terá referido um projecto para elevar Alcains através das obras dos seus canteiros e que resumidamente descrevo: identificar no país, as obras de cantaria mais emblemáticas que tivessem tido o engenho e a arte dos canteiros de Alcains e a partir daí, com alguém que dominasse bem a técnica da fotografia, hoje diríamos do audiovisual, recolher para memória futura a gesta dos nossos artistas!
A vida afastou-me de Alcains e penitencio-me ao ignorar se algo deste projecto foi avante. Se não foi, ainda é tempo, enquanto muitos dos protagonistas estão entre nós e conhecem a “estória”e a arte dos que já foram…
Joaquim “Fradique” um homem que conheci superficialmente na década de 70, seria justamente um deles.
Em terra de “pedreiros livres”, que antes de 25/4, faziam de cada 1º Maio,um dia santo de guarda, jogando às escondidas com a GNR, Alcains teve alguns dos seus pedreiros livres “incomodados” em 1960, quando do assalto ao Quartel de Beja e recordo que um deles, Zé “Menha” esteve seis meses detido à ordem da então Pide – 6 meses era o tempo mínimo de detenção - a quem não fosse encontrada culpa que justificasse a ida a julgamento. E o nome do Joaquim Fradique, também andou nas bocas do povo, como estando na eminência de ser “incomodado”. Diziam anos mais tarde as “más línguas”, que bem aconselhado, viria a frequentar pouco depois um Curso de Cristandade, para branquear a imagem… Enfim, cada um jogava com as armas que podia…
Estas são “estórias” de uma terra com a patine que o tempo lhe deu!...
MC
O meu avô merece essa homenagem, foi um grande homem e tenho muito orgulho nele, de ter sido o homem que foi, sempre disposto a ajudar os outros!
ResponderEliminarCaro amigo Peralta, só agora tive conhecimento do blogue, mas, numa leitura rápida e transversal, decidi fazer este comentário. Embora tenha muito respeito e admiração por todos os intervenientes, acho justo anexar aquilo de que me lembro e conheço. Quanto à fixação da imagem do Sagrado Coração de Maria, foi executada pelo meu pai, isto é, por Francisco Pires Preto, mais conhecido pelo Ti Chico Preto. Deveu-se ao facto de toda a carpintaria necessária ao Sr. José André, ser executada por ele, nomeadamente, peneiradores, portas, janelas, etc.. Neste caso, executou um andaime em madeira para a subida da imagem. Não assisti a este acto, mas, tenho uma pequena recordação de ver fazer tal estrutura e, no dia da Sua colocação a minha mãe (Ti Ressurreição) me dizer o que o meu pai estava a fazer.
ResponderEliminarPortanto o seu a seu dono. Tirando este desabafo familiar, agradeço a todos, tudo o que fazem para manter e recordar a nossa memória colectiva. Bem Haja.
Este comentário é de António Carrega Pires Preto que, na escola primária era conhecido pelo Toneca Preto.
Um abraço.
Caro Amigo A. Preto
ResponderEliminarA memória já não é o que era para todos nós…“As fontes” com quem falei não me referiram o seu pai, Ti Chico Preto.
É óbvio que o andaime tinha que acompanhar a elevação da coluna e, que depois serviu para colocar a estátua no pedestal, mas ninguém se lembrou do seu pai, que na época trabalhava com o Sr. José André.
Certamente haverá outros por enquanto ainda anónimos que por lá trabalharam.
Peço desculpa sem ter culpa, por esta enorme falha. Ainda bem que o seu filho estava atento.
É com este contributo de todos que se faz a verdadeira história.
Sobre o mesmo assunto ou outro, venham outras achegas.
Manuel Geada
Foi no dia 5 de Dezembro de 1954, que o monumento serviu de palco à recolha de donativos para a construção do Seminário Maior.
ResponderEliminarA cerimónia, com missa campal e “Ofertório” solene para o Seminário de Portalegre, foi presidida pelo então bispo em exercício na Diocese, S. Ex. Rev.ma D. Agostinho Lopes de Moura.
MG