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sábado, 21 de agosto de 2010

BLOG ABERTO - Guerra Colonial

É do Zé Minhós Castilho esta página do ” livro da vida”, que foi a da generalidade dos Portugueses.
Fomos lá quase todos... poucos eram os amparos de mãe ou os que, por actos pouco valerosos, das cunhas não se libertaram...
Em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, apenas para referir as ditas colónias onde a guerra era mais acentuada, todos demos uma parte da nossa juventude.
Atiradores muitos, sapadores bastantes, amanuenses raros, criptos, cozinheiros, magarefes, condutores, transmissões enfim um desfilar de especialistas e especialidades que uma máquina de guerra arrasta consigo.
Revejo-me emocionadamente no poema abaixo publicado pois ao lê-lo, relembro o Niassa, a partida, o cais da Rocha do Conde de Óbidos, os acenos, as lágrimas, a despedida...
Para ajudar a compor a página publico uma foto da minha “guerra“ na Guiné-Bissau.
Uma vez que fomos lá quase todos, fica o repto, para mais fotos, histórias, amizades...

Esta é tambem uma forma de, dando testemunho, homenagear os Heróis de Alcains.

Manuel Peralta

Alcains... Anos 60... Guerra Colonial!... Uma terra em que as angústias pairavam em muitos lares!
Hoje é um tema recorrente falar das consequências físicas e morais resultantes de uma Guerra que abrangeu uma geração. Entre 1960 e 1975, por esse país fora, houve muitos lares enlutados e mazelas físicas e psíquicas em muitos jovens que viveram essa experiência.
Quem consegue esquecer os gritos, os lamentos, os ais, do povo que no Cais da Rocha de Conde de Óbidos, se despedia dos seus, quem sabe se para sempre!?
Quantos dramas o Vera Cruz e o Niassa, principalmente, não testemunharam!
Depois foi toda uma experiência, em alguns casos vivida nos limites, em que o sentimento da camaradagem se sobrepunha ao medo.
E as noites de Natal no mato! São experiências e recordações que ficam para sempre!
E quem viu morrer camaradas a seu lado, ou ficarem para sempre estropiados, nunca mais esquece.
E cá?
O drama das famílias aguardando os aerogramas que nunca mais chegavam…
Entre 1960 e 1975, o aproximar dos 18 anos, era como que o entre acto para uma guerra que estava logo ali. E até para os graduados, um pouco mais velhos, mas na casa dos 20,s anos, era com um misto de apreensão e incerteza, que viam o terminar dos seus cursos. Porque para uns, surgia Mafra no horizonte, e para outros, os que iam chumbando, uma ida para as Caldas da Raínha.
Portanto era uma juventude com o credo na boca!
Alcains não escapou à gadanha da morte na Guerra Colonial. E em site que voga aqui pela NET, podemos identificar aqueles que da “terra dos cães” deram o melhor de si próprios a uma causa, que hoje avaliamos inglória, mas que devemos recordar:

António Gonçalves Vicente – 2º Sarg – Ang.- por doença – 09.07.64 – cemit. Alcains
Hélder Sanches Pires – 1º Cabo Com. –Ang.- em combate - 05.04.63 - cemit. Vista Alegre
João Maria Ribeiro Martins – Sol. Com.- Ang. - acidente - 26.10.71 - cemit. ???
João Martinho Samarra Coelho – Sol. Atir-Ang. – afogado –29.11.61 - corpo não recup.
Mário Lopes Amaro Pires – 1º Cabo – Moç. – acidente – 13.03.74 - cemitério de Alcains.
O site consultado tem a data de 01.11.2009.

Nas duas páginas referentes ao concelho de Castelo Branco, são identificados 61 mortos.
Recordo-me de ver no cemitério de Alcains, algumas, não sei quantas campas da Liga dos Combatentes. Porém o site donde recolhi estes dados é relativamente recente como se vê.
A única baixa identificada em combate, é a de Hélder Sanches Pires, também ele uma velha glória do desporto em Alcains. Praticante de Atletismo de inegável valia, creio que também foi um 7 de relevo na equipa de futuebol do GDA.
E encontrei também na NET, referências à sua morte e uma foto da sua campa em Angola, junto da qual os seus camaradas de Grupo, o relembram e provavelmente murmuram uma oração.
Transcrevo as palavras que se referem ao nosso conterrâneo (…) Natural da freguesia de Alcains, concelho de Castelo Branco, mobilizado pelo BCaç 6, para servir na RMA, integrado na CCS do BCaç 186, depois integrado no Grupo de Comandos de Aço, tombou em combate em 05 Abril 63 no decurso da penúltima actividade operacional daquele GrCmds, efectuado nas imediações da sanzala Quizondo (área de Úcua).
Está sepultado na campa 6 do cemitério de Vista Alegre, em Quitexe, Angola (…).
Através de um site de procura, lancei um apelo a que algum camarada daquele Grupo de Cmds, venha por aqui esclarecer mais algum detalhe sobre a morte do popular alcainense que dava pelo nome de Hélder “Arraiano”.
Com a devida vénia aos autores da foto e do site onde pesquisámos estes dados, aqui fica para a posteridade a foto da campa de um dos nossos, a quem a sorte foi madrasta e que quase no fim da Comissão tombaria e ficaria para sempre em Angola.


Um Alf. Milº que serviu em Noqui, Angola, tal como o autor do texto, homem de rara sensibilidade, compôs um poema que eu não resisto a divulgar. Este Poema condensa as amarguras, as tristezas e a solidariedade de quem andou na Guerra e teve a sorte de sobreviver para contar:

O regresso

Dois anos de saudade
Noutro cais, no mesmo mar, noutra cidade
O mesmo paquete atracado
Imponente nos deques se erguia
Maravilhoso tudo quanto se via
De um verde suave, pintado

Da proa à popa iluminado
Para os soldados, todo reservado
O barco parecia compartilhar
De braços abertos, para receber
Os que da guerra conseguiram sobreviver
Escotilhas fechadas, pôs-se a navegar

Mas no porão daquele navio
Diz quem viu
Também regressava encaixotada
O que fora vida e agora nada
Para ser entregue à chegada
À família, dilacerada

E quanto mais milhas percorria
Mais aumentava a alegria
Tudo tinha um significado diferente
O passado parecia um sonho
O futuro anunciava-se risonho
Que felicidade a daquela gente!

Ao nono dia
De madrugada, ainda mal se via
Primeiro o Bugio, depois a cidade
E quando o barco acostou
Só visto o que se passou
Terminou a saudade

De novo, prantos, lágrimas e ais
De tudo houve naquele cais
Nova vida ia começar
Os passageiros e navio, por imposição
Tinham cumprido a sua missão
Que Deus os queira abençoar

De anos a anos nos vemos
E em cada ano somos cada vez menos

Beja, 2009. 12. 06
M.D. Horta

Texto coligido por MC

1 comentário:

  1. Manuel Alegre…calúnia ou…

    Durante o ano de 2010, logo após a divulgação da sua candidatura à Presidência da República, começou a ser escrutinado o papel deste candidato, quando da Guerra Colonial, imputando-lhe um facto, que resumidamente descreveremos.
    Tendo sempre presente, que um Homem é sempre ele e a sua circunstância, MA que nos habituámos a ouvir, após a fuga de Portugal para o exílio, tornando-se a Voz da Rádio Argel, que começava as suas emissões, com a sua voz de trovão, « esta é a tua voz companheiro que nos escutas », « uma voz livre ao serviço da democracia», « contra a Guerra Colonial»,« contra o fascismo», etc, etc…
    Realmente, que me recorde, nunca terei ouvido MA referir-se a um caso concreto de uma unidade militar.
    Pois o caso que tem sido imputado a MA e que tem circulado pela NET, refere que nos primeiros meses da Guerra Colonial, em Noqui, mesmo na fronteira com o ex- Congo Belga, aproveitando a orografia do terreno, foi instalado nos Morros da Vila, um dispositivo militar de Canhões e um Pelotão de vigilância, aos movimentos da UPA, praticamente em frente.
    A decisão é implementada, e passadas cerca de 48 horas, a Rádio Argel, pela voz de MA, transmitia aos quatro ventos essa informação.
    A nota refere que face a esta informação captada pela rádio, em ondas curtas, um Ten. Cor. de nome Isaltino, terá mandado formar em Noqui as suas tropas e identificado o delator que fizera sair aquela informação – um Fur. Milº de nome Marta, mulato, que terá sido entregue à DGS/Noqui e enviado para Luanda.
    O repúdio e o alarido com que esta notícia tem circulado entre os antigos combatentes, baseia-se no esforço que na altura estaria a ser pedido aos militares portugueses, que entre São Salvador e Noqui, tiveram baixas significativas, situação e circunstância que as famílias atingidas, justificadamente nunca superaram.
    Algumas, nem os corpos dos seus receberam, o que lhes permitiria talvez fazer um luto menos traumático!
    Daí que o nome de MA, que como Chefe de Estado seria em simultâneo o Com. Chefe das FA, é uma hipótese que levanta inúmeros anti-corpos.
    As circunstâncias são as que foram, mas não deve condenar-se de ânimo leve, quem pense que por detrás da morte do seu familiar, amigo, conterrâneo, poderá ter estado circunstancialmente MA, na prática do lado do inimigo.
    E será tão difícil a este demarcar-se do seu papel nos anos 60 na Rádio Argel, como os visados que choraram os seus desaparecidos, esquecerem esse facto.
    Já pesquisei na NET, quem terá sido o Ten. Cor. Isaltino e qual o Batalhão em Noqui que ele comandaria, tarefa que até ao momento se revelou infrutífera.
    E mesmo numa sociedade democrática, como é a que vivemos, tenhamos a consciência e a compreensão, de que não são 50 anos, que apagam da memória o sacrifício de tantas vidas, como aquelas que o Memorial em Belém testemunha.
    MC

    Fotografias e textos de MC relativos à Guerra Colonial, em sites :

    Panoramio photos by José Castilho;
    Galeria Noqui;
    Panoramio photos by Manuel Rebelo - Noqui
    - no Mato ; na Tropa

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