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sexta-feira, 23 de julho de 2010

FAVAS

...olha, vai à fava...!
...e o zéfava?
...estou enfavado.
...e a marizéfava?
...favas me apertam!

Deliciosas, ainda em bico, comidas pelos esfaimados doutros tempos com ramela e tudo por volta do entrudo.

Em comédia na rua da fonte, sentado entre a ti Esgueira e a Maria dos Reis pátéta, vizinhas ambas do Manépi, em tempo de actuação de palhaços recordo uma canção brejeira cantada por brejeiro palhaço perseguindo roliça palhaça de fato de banho vestida...

- esganiçado, cantava o palhaço:

Também te reguei a couve, Mas tu querias o nabal... Ai rica filha que te vou ao faval...

...ao que a palhaça fugia perseguida pelo palhaço, de erecto e volumoso nabo entre as pernas, para gáudio da assistência.

Gosto delas com chouriça, morcela moura, alguma entremeada e um pouco de entrecosto.


Descascadas, apura-se o grão do qual se deve extrair a ramela; esta, por ser preta não é agradável flutuar e dar á costa morta em tacho ou panela.
Cozem-se em água sem sal,com um, de noiva, ramo de hortelão.
Em tacho fundo coberto de azeite, iniciar o estrugimento da entremeada e do entrecosto.
Retirar após caboverdeana cor.
Refogar a cebola e o alho no azeite estrugido, acrescentar loureiro, pimentão e um pouco de calda de ou maduro tomate.
Um bom vinho não deve ser subtraído a este quase néctar que, pouco deve ferver para não se perder...
Juntar então a chouriça e a moura cortadas em pedaços mais parte da entremeada e entrecosto anteriormente estrugidos.
Assestar então o acórdeon e em baile fervente dar música muita música, acalorada, transpirada já com a água escorrida das sumarentas favas.
Quando só o espírito persistir e as carnes exaustas em dança acalorada estiverem exangues... é chegado o tempo de juntar as favas para que a carne entre em recôbro...
Em colher de pau, provar, ajustar os tempêros sempre com a águas das favas, provar sem comer e voltar a dançar.
Já no prato...


Mas antes, para aqueles que não dançavam e eternamente ficavam encostados, enfavados, nos bailes na associação guardei um acepipe, uma entrada...


...galêgas azeitonas quase sem sal, mas com forte travo a orégãos, um "mastiço" queijo operado com faca de cabo de madeira, pão do Plicas (policarpo), e o resto da fritura, qual tortura...

Bom apetite.

Manuel Peralta

1 comentário:

  1. Uma crónica de “ favas aporcalhadas ”

    O tom brejeiro que descreve a confecção deste suculento e tão calórico prato, ilustrado com as fotos apelativas do mesmo, tinha forçosamente que nos conduzir a uma chamada de atenção, aliás em título destacada “ favas me apertam”.

    Manuel Maria Barbosa Du Bocage, não sei se seria apreciador de favas. Mas gostava e muito de cortejar, e não só, donzelas.

    Conta-se que o próprio Bocage ou alguém por ele chamado de Favas, assediaria uma virginal donzela. Esta aflita, pede socorro: pai, Favas me apertam!
    Ao que o tranquilo progenitor, responderia: não comeras tantas!

    E assim ficou Bocage ligado para sempre à culinária, mais propriamente, a uma receita de favas.

    MC

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