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domingo, 25 de julho de 2010

Blog aberto

Valente susto dos Geada, Zé e Manel.

Recebi assim mais este precioso contributo.

??? 12/08/905

Estimo que estejas de saude, bem como todos os teus; eu mal do peito e do figado e com muita bilis. Isto por aqui na mesma. Perdoa-me não alargar-me mais, mas o meu estado não o permite. Escreve sempre; pois a unica alegria que aqui sinto é quando chega o vapor e recebo noticias de todos que me são cáros. Sinto-me muito fraco e parece-me que a vida se me vai extinguindo; também já não é sem tempo??? Tal vão os teus negócios? Recomenda-me a todos os teus e aceita um apertado abraço??????

Recordo-me de a minha avo materna dizer muitas vezes, que na antiga Rua Longa havia uma farmacia, no local onde o Sr. José Marques Rafael tinha a alfataria. Seria este senhor a quem o postal é endereçado o proprietario?
Eu diria que sim,
Ja viste o desespero e a nostalgia que se adivinha ao ler-mos o postal deste emigrante?
Ha algumas palavras que nao consegui decifrar, ve la tu se consegues.

Um abraço.

...bom, só quando abri os "attach" me apercebi que afinal os "geada" ou "códon"como dizia o meu avô materno, pastor de profissão e que com 93 anos faleceu, estavam bem do fígado, melhor do peito e que a bílis ou fel tinha apenas umas pequenas lamas decantadas, coisa sem importância... podia continuar a beber "cléps" assim é denominada a imperial ou fino na "nhós terra, cabo verde"...


Este documento, postal de Cabo Verde, perfaz ao próximo dia 12 de Agosto 105 anos que foi enviado presumo que do Mindelo, capital da ilha de S. Vicente pois era ali que atracavam os vapores, barcos a vapor que ligaram a África à América em comércio de escravos primeiro e depois em rotas comerciais entre o continente e aquela ao tempo portuguesa província, assim está impresso no dito postal.
Desempenho profissional levou-me para a "nhós terra", nossa terra, Cabo Verde onde estive ano e meio e estive várias vezes em visita de trabalho no edifício onde este postal foi expedido, no edifício dos CTT de Cabo Verde, edifício lindo no Mindelo.


...a vida a limpo, clara, para todos lerem, sem segredos de degredos, exílios de emigrantes... como seria o Mindelo em 1905?
Já tinha decerto o Monte Cara, já estava construida uma réplica da Torre de Belém, não teria aeroporto, muito menos água dessalinizada, mas teria por certo, mornas, coladeiras, funáná, ferro-gaita qual pária sem Cesária.
A todos os que nos lerem e sobre as questões levantadas pelos Geada agradeço a vossa colaboração.
Quem seria o primo do farmacêutico?
Teria emigrado? Porque razão?
Seria militar em comissão de serviço?
Se o postal fosse da ilha de S. Tiago e escrevesse do Tarrafal, não seria necessário por mais na carta, digo no postal...

Obrigado

Manuel Peralta

1 comentário:

  1. Estórias da Rua Longa…

    Muito antes do 25 de Abril, registe-se, esta Rua passou de Longa a da Liberdade. Creio que ela foi redesenhada, pois ela começava junto à Albergaria Major Rato, e o troço até à Igreja, ficou com o nome Major Rato. E a partir da Igreja, começou então a chamar-se da Liberdade, onde fui nado e criado.

    Não tenho à mão o Livro de Sanches Roque, Alcains e a sua História, onde alguns aspectos que aqui vou focar estarão decerto fundamentados. Recorro à memória oral, de quem sempre ali viveu.

    Efectivamente a primeira Farmácia de Alcains, foi na casa onde o Sr José Marques Rafael, pai entre outros, dos Srs. Ramiro e Hélder, funcionou como Alfaiate de fina água. E ali se fizeram costureiras, uma geração de raparigas, que terão nos anos 60, cruzado as portas da Dielmar. E Homens como Mateus Mendes, Jorge Mateus, Lourenço Prata, José dos Reis Dias, os três últimos já falecidos, se fizeram Alfaiates de A maiúsculo. Que me perdoem, se esqueci algum, cujo nome de momento não me ocorra.

    E era ali na Alfaiataria que eu, menino e moço, lia o Jornal do Fundão e o Século, em voz alta, que o Sr. José Marques, um alfaiate de eleição, não tinha tempo de ler, mas gostava de saber.

    Portanto, tempos antes, terá sido ali a Farmácia, onde um empregado de nome Arlindo Soares de Magalhães, transitaria mais tarde, com o seu próprio negócio, para o local onde ainda sob outras mãos existe, na Rua de Santo António.

    Mais adiante, ainda na Rua Longa, na casa do Sr. Chico Lopes, pai do Dé Zé e do Jorge, funcionaria a Escola Primária, onde a minha mãe andou, às ordens de uma professora chamada Elvira. A seguir, começavam os domínios da família Trigueiros.

    Frente ao nº 22 da Rua da Liberdade, está hoje em fase de reconstrução uma casa antiga e de ar senhorial, onde viveu o Sr. Benedito de Jesus Beirão, comerciante de retrosaria e correspondente bancário.

    Esta casa teria sido habitada pelo Sr. Fortunato, um homem excepcionalmente dotado para as artes, creio que tocava viola e versejava, segundo recordo de minha mãe, e com habilidades para “pró-médico” – arrancaria dentes, etc.
    Terá tido vários filhos, e um deles, Padre e Advogado da família Trigueiros, Dr. Beirão, ter-se-á desentendido com estes, e “por vingança”, construído um casarão, com madeiramentos interiores de estadão, de que guardo algumas memórias, em linha com o Solar da Família Trigueiros.

    É esta a casa neste momento em recuperação.

    E é desta linhagem que mais tarde surge o Dr. Pires da Cruz, que foi Secr. de Estado, de pasta que não recordo, sendo o Ministro, Baltazar Rebelo de Souza, pai do mediático Marcelo.

    E pronto, sem me afastar da casa onde nasci e vivi até 1980, onde tenho as minhas raízes e me fiz Homem, confirmei com um simples olhar, a localização da 1ª farmácia e provavelmente da 1ª Escola Primária, porventura Feminina.
    Mas termino na minha: o livro do Sanches Roque, poderia dar aqui uma ajuda!

    Quanto ao pharmacêutico do postal e do seu amigo de Cabo Verde, com uma escrita directa e objectiva, de nome provavelmente Domingos, nada
    consegui apurar.
    MC

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