Como nasce um ciclista.
Tinha já 18 anos em 1967 e ainda não tinha bicicleta.
Receoso, servia-se da do irmão nas idas aos bailes, às festas e arraiais, à fruta, às descascas...
Com pouca prática, não conseguia tirar as mãos do guiador, muito menos sequer pensar em sprintar pois não conseguia levantar o rabo do selim...
Motivo de galhofa no Chafariz Velho e arredores, gozado, amesquinhado era sempre o último a chegar...
Ferido no seu orgulho de 18 anos, prometeu a si mesmo e queria mostrar que era capaz de ser primeiro.
E assim nasceu um ciclista...
De quem falo...
Falo do DOMINGOS FARIAS BISPO, nascido em 1949 no largo de Stº. António, com passagem breve de morada nas Casas Novas e fixação definitiva no 'Tchafariz' Velho de ribeiro descoberto, com poço para lá da ponte e ciganos acampados quase permanentemente em ponta do dito largo.
Filho de António Duarte Bispo, canteiro de profissão e de Antónia Farias, empregada fabril na fábrica das massas e doméstica, tem um irmão.
Na terra deles é universalmente conhecido como o Domingos dos estores... Estores Bispo de fina qualidade e categoria excepcional já muito perto da qualidade Papa...
Voltando ao ciclista.
Esta foto tirada frente à Casa do Povo mostra o ciclista aparentemente calmo mas ferido no seu orgulho, que fez dele um ciclista em bicicleta pesada com elementar domínio da mesma mas com muita força de vencer... era só força referia o Domingos em conversa havida sobre o tema.
Participou em várias corridas aqui e nos arredores em festas nos Escalos na Lousa, na Lardosa nas voltas habituais com passagem ou começo em Alcains, Escalos de Cima e de Baixo, CBanco e Alcains.
Com três voltas no percurso anterior disputou um segundo lugar com o João Aconchegão, popularmente designado por Bezerra natural dos Escalos de Cima.
Relembra que nesta corrida o Bezerra vinha à frente e quase sobre a meta rebentou-lhe o "bóion" e enfiou-se pela assistência dentro não cortando a meta.
A comissão com a concordância dos ciclistas decidiu atribuir-lhe o primeiro lugar e lá passa o Domingos para terceiro.
Mas a prova mais importante em que participou foi uma prova de Iniciação organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo e pela Comissão de Ciclismo de Alcains, comissão então presidida pelo " PAI" do ciclismo de Alcains o Sr. João José Baptista.
Foi a 6ª Grande Prova de Iniciação que se realizou no Distrito de Castelo Branco com 3 provas sempre com início em Alcains nos dias 1, 8 e 15 de Setembro de 1968 com percursos de 60, 70 e 75 kilómetros que trouxeram para as ruas em Alcains, Escalos de Cima e de Baixo, Lousa, Lardosa, Idanha-a-Nova, Oledo, Ladoeiro, Ponte de S.Gens, Soalheira, Alpedrinha, Fundão, Valverde, Carvalhal, Fatela, Penamacor, Alcaide, Alto da Serra da Gardunha, muitas gentes que assistiram a um evento que deixou marcas e credibilizou Alcains como terra de gente organizada, com iniciativa que a projectaria em termos de ciclismo par eventos futuros.
Apurado na prova de iniciação foi então a Lisboa pela primeira vez, com o dorsal nº 51 o que o tornou respeitado e admirado no Chafariz Velho e arredores e motivo de disputa entre as moças daquele tempo...
A foto seguinte mostra a equipa que se apurou a nível distrital e a comissão de ciclismo de Alcains, claro sempre em frente à Casa do Povo.
Da esquerda para a direita:
-Manuel Pedro Lopes, Brazuno, já falecido, Alcains
-António Duarte, o Fiel, de Lardosa.
-José Peixe, bombeiro de CBranco, já falecido.
-Félix Rafael, Alcains.
-Mário Andrade, trabalhava em CBranco no Luis Domingues, mecânico.
-Manuel Prata, Pratinha, já falecido, Alcains.
-David Félix, Pirilau, Alcains.
-José Eurico Minhós Castilho, Alcains.
-João Conchegão, Escalos de Cima.
-Vitor Serrasqueiro, Alcains.
-Domingos Bispo, Alcains.
-João José Baptista, Alcains, já falecido.
-João Pires Esteves, guarda-fios, ex-CTT, Cabeço do Infante.
Foram estes os ciclistas que a nível distrital se apuraram e que em Lisboa em 27 de Outubrode 1968 de camisola, calções e meias oferecidas pelo Governo Civil com as cores da cidade, preto e branco, e de sapatos e capacete propriedade dos próprios, conquistaram uma excelente classificação, isto é ganharam a prova a nível nacional individualmente e por equipas.
1º-Fiel
2º-João Conchegão
3º-Pirilau
...
5º-Mário Andrade
...
9º-João Pires Esteves
...
21º-Domingos Bispo
O Domingos vinha com os primeiros mas no Campo Grande ao atravessar a linha do eléctrico derrapou e caiu.
No dia da vitória houve champanhe e bolos sortidos e uma taça que esteve muitos anos na Casa do Povo.
De regresso a Alcains foram recebidos na Câmara Municipal e no Governo Civil onde receberam os parabéns pelo feito conseguido de tal modo que o Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Idalino de Freitas comentava como é que sendo Castelo Branco morto em ciclismo, tirava assim o primeiro lugar individualmente e por equipas num pleito nacional.
Estes ciclistas treinavam apenas à noite e era o Sr.João Baptista que de "quatro él em mão", alumiava e iluminava os ciclistas que cheios de vontade e esperança deram e davam o seu melhor sem nada esperar em troca...apenas a vontade de vencer e de se suplantar...
Antes, e por falar de ciclismo neste pequeno apontamento, não deixo de referir o Guilhermino Cuco, ainda vivo e já perto dos 100 anos, o Zé Treze que morte prematura em acidente levou, o Bálhinhas, o Zé Gouveia, vulgo Sarralhas já falecido, o Zé Pires bem como os mais recentes e últimos o Carlos Bazuka e o Arrebenta, falecido.
Tambem o Manuel Escudeiro fez incursão ao ciclismo mas o azar perseguia-o de tal modo em duas provas que fez, numa rebentou o guiador e noutra fez um aro em oito, enfim azares... da profissão.
O Zé Treze era um previligiado, treinava de dia pois o Sr. José Mourinha, outro pai do ciclismo na cidade e arredores, era o seu protector...tinha bicicletas suplentes, carro de apoio, abastecimento enfim trato de profissional ao passo que o Bálhinhas trabalhava de dia e só treinava às tardes.
Diz o Domingos Bispo que havia um corredor na Lardosa que só corria em Alcains se o Bálhinhas não corrêsse...
O Fiel da Lardosa era melhor que o Pirilau, mas uma vez o Pirilau num contra-relógio entre Alcains, Escalos de Cima, Alto da Lousa, Lardosa e Alcains, bateu o Fiel mas não conseguiu bater o tempo do Guilhermino Cuco à volta de 45 minutos.
Ao Zé Treze tiveram de lhe passar a chamar Zé Catorze pois numa prova em que participou arrebatou todas as metas num total de catorze...
Esta gente simples que aqui refiro eram os heróis do meu tempo, a acompanhar a corrida apenas motorizadas, carros inexistentes, mas muita mesmo muita gente a assistir a incentivar e a delirar com o sprint final quando tal acontecia.
Na pessoa do Domingos Bispo que me ajudou e no seu baú de memórias guardou preciosas fotos que testemunham para memória futura o que Alcains já foi, agradeço este apontamento.
Obrigado a todos e desculpas por eventuais imprecisões e lapsos cometidos.
Se os houver corrijam-me por favor com os vossos comentários.
Manuel Peralta
João José Baptista - o homem que com o Ciclismo, pôs em 68, Alcains no Mapa !
ResponderEliminarNão tendo nascido em Alcains, desenvolveu aqui a sua vida familiar, profissional e
extra profissional. Técnico de electricidade, competente creio, trabalhou na Hidro
Eléctrica do Alto Alentejo, creio que era assim que se chamava, e nas Fábricas de
Alcains - Lusitana, Alprema e Sicel.
Não sou a pessoa mais indicada para falar da competência com que exercia a sua actividade,
embora duvide que a não tivesse.Vou falar das suas outras qualidades.
O seu entusiasmo contagiante, o seu bairrismo e as suas convicções, permitiram levar a cabo
iniciativas, à priori condenadas ao fracasso!
Sim! O menos que lhe poderiam chamar era lunático, a alguém que em 68, assumia pùblicamente: no próximo ano a Volta a Portugal terá um final de etapa em Alcains!
Assisti a algumas das demarches que levaram à concretização desse desiderato, e que
resumidamente tentarei descrever. O Baptista era um adicto sportinguista, e isso permitiu
abrir algumas portas.Porém o 1º passo visível, foi a passagem por dentro de Alcains, do Grande Prémio do JN - Jornal de Notícias, que naquela altura, era uma prova por etapas, só suplantada em impacto desportivo, pela Volta
a Portugal.
Na véspera da passagem pelas Ruas de Alcains, o Prémio JN teve um final de etapa em
Castelo Branco. Nesse dia á noite, para aí em Abril de 68, reunimo-nos no Aviz em C.Branco,
para acertar as contas pela passagem do JN em Alcains, já não recordo a verba, mas tenho nítidos outros detalhes. Além de gente do JN, estaria presente Idalino de Freitas, muitos anos presidente da Federação Portuguesa de
Ciclismo, Alves Barbosa e creio que também Sousa Cardoso, figuras já retiradas das
provas, mas envolvidas na realização do Grande Prémio JN. Por Alcains, estaria o Baptista, o Vítor Serrasqueiro, não sei se o Manuel Pedro Lopes - que ensinou as primeiras letras a uma geração de alcainenses - o Manuel Prata e eu.
O clima era ameno, e o Baptista, coloca em cima da mesa uma pergunta: amanhã o JN passará
em Alcains. Pois bem: o que é necessário para lá termos um final de etapa da Volta a Portugal! Quanto custa? O que é necessário ter? Fazer o quê?
A pergunta deixou atónitos alguns dos presentes. Uma Aldeia, ainda que grande,
aspirar a ser final de etapa da Volta a Portugal, naqueles tempos, era algo nunca
imaginado.
MC - cont.
João José Baptista - em 1968, pôs Alcains no Mapa / Cont.
ResponderEliminarCom toda a diplomacia, terá sido creio que Alves Barbosa, a sugeir, mais ou menos com estas palavras." estamos perante gente que pelos vistos gosta de Ciclismo. Muito bem. Porque não tentam organizar o Grande Prémio de Iniciação a nível de Castelo Branco, apurando uma equipa para a final nacional a ter lugar em Lisboa, em Outubro."
Creio que à primeira parte da questão, quanto custa, terão falado em algumas dezenas de contos, além de razoável capacidade para acolher a caravana,linhas telefónicas para uma sala de imprensa, um espaço para o espectáculo que acompanhava a caravana, etc, etc.
No fundo, o que nos pareceu, foi que eles tentaram testar a capacidade de planear e organizar, daqueles espontâneos que ali manifestavam o desejo de pretender para a sua terra - uma Aldeia - do interior, e como este ficava longe naqueles tempos, um final de etapa da Volta a Portugal.
O Baptista anuíu à sugestão que ali nos era endereçada, mas retorquiu, que fossem contando que voltaríamos à carga, no sentido de no ano seguinte, em 69 portanto, termos um final de etapa da Volta em Alcains.
Mãos à obra pois com o Grande Prémio de Iniciação em Ciclismo. Foram uns meses de verão agitados. O Grande Prémio de Iniciação, ocupou creio que os meses de Julho e Agosto e parte de Setembro.
Foram organizadas 3 provas de selecção,levando o ciclismo a locais onde não era muito usual passarem as bicicletas. Contactos e divulgação na imprensa regional, da qual haverá forma de pesquisar notícias e fotos, nos Semanários Beira Baixa, Reconquista e no Jornal do Fundão.
A 1ª prova, partiu de Alcains, rumo a Idanha-a-Nova, com subida da Srª da Graça,retorno a Alcains e final de etapa em Castelo Branco, frente aos Bombeiros Voluntários.
Classificação, que se repetiria nas 2 provas seguintes:
1º- António Duarte "Fiel" da Lardosa;
2º- David Caetano "Pirilau" de Alcains
3º João Augusto - de Escalos de Cima;
Mais atrás um ciclista de Castelo Branco, de apelido creio que "Peixe", e mais um do Cabeço do Infante, de nome Esteves e um outro alcainense de nome Domingos Bispo, que era um poço de esforço e generosidade.
A 2ª prova, creio que foi um circuito à volta de Alcains - Escalos de Cima - Lardosa -Castelo Branco e final em Alcains.
A classificação dos 3 primeiros, não se alterava, embora as diferenças entre eles fossem mínimas.
A 3ª prova levou os ciclistas para lá da Serra
da Gardunha, talvez a prova mais difícil, mas
a classificação entre os 3 primeiros não se
alterava.
Estavam apurados os 6 que iriam a Lisboa, mas faltava uma última prova, esta de consagração: um c/relógio individual de Alcains - Escalos de Cima - Lardosa e final em Alcains. Esse c/relógio foi ganho de forma categórica pelo
"Pirilau" que nesse domingo bateu claramente o
António Duarte " Fiel".
MC - cont.
Bateu o Fiel por este ter desacelerado da linha de meta uma vez que já tinha duas vitórias e Pirilau chegaria em primeiro na sua terra natal...
EliminarJoão Baptista - como o Ciclismo em 68, pôs Alcains no Mapa - Cont.
ResponderEliminarHouve prémios em todas as provas, reabastecimentos ao longo das mesmas,apoio policial e creio mesmo que alguns almoços no final das mesmas. Os atletas viram que estavam a lidar com gente que não estava ali para brincar. A meio da semana, e após o dia de trabalho, ainda me lembro de ir com o João Baptista, treinar os apurados para Lisboa, em percursos até ao Alto de Vila Velha de Rodão ou até ao Alto da Gardunha, até Idanha-a-Nova, à Srª da Graça, eu sei lá já até onde fomos. Em Outubro, eu já estava em Coimbra e o que sei da prova em Lisboa, foi o que li no Mundo Desportivo e ouvi daqueles que acompanharam os ciclistas a Lisboa.
Foram de véspera ou ante-véspera, alojados numa residencial e efectuaram o reconhecimento prévio do percurso que era na zona de Loures. E no dia da prova, perante dezenas de atletas de todo o país, melhor seria difícil: 1º- António Duarte "Fiel"
2º / ou 3º - David Caetano 4º lugar : João Augusto
Dos restantes, Peixe, Esteves e Domingos, já não retenho o lugar.
Isto é: nos 4 primeiros lugares a Comissão de Ciclismo de Alcains, colocara só(!)3 atletas !
No almoço que se terá seguido, as perguntas
seriam mais que muitas. Mas que ciclistas são estes? Alcains? Onde fica? Como é possível?!
Pois era: terras onde o Ciclismo tinha raízes, como Pinheiro de Loures,Lousa, Malveira,
tinham levado uma abada de todo o tamanho! A Comissão de Ciclismo de Alcains, ganhara justamente o crédito para reinvindicar um final de etapa da Volta a Portugal do ano seguinte, que lhe seria atribuído. Recordo-me do entusiasmo com que todos os alcainenses a cujas portas se batia, aderiam à iniciativa. Entretanto recordo-me de a um domingo, ter o Francisco Nicholson à minha porta,para vermos as condições que as traseiras da Casa do Povo ofereciam para a realização do espectáculo que vinha integrado na caravana.
A competição era com Castelo Branco que tinha um Parque Municipal que recebia estes espectáculos. Porém as condições serviam, disse que tipo de palco pretendia,camarins, potência eléctrica, estava tudo ok. E num quente dia de Agosto, ao final da tarde, perante uma Aldeia em polvorosa os ciclistas vindos de Évora, chegavam a Alcains, ao Largo onde hoje está o Padrão que assinala a elevação a Vila, só em 1972.
José Martins, creio que da Coelima, terá sido o vencedor. E Alcains foi pródigo em prémios. Na Casa do Povo foi servido um jantar a toda a imprensa e directores desportivos,tendo sido homenageado um jornalista de nome Guita Júnior que era o decano entre a classe. A imprensa escrita a funcionar na Casa do Povo, com todas as linhas telefónicas que foi possível mobilizar. Algumas equipas ficariam alojadas no Seminário que se associara a este projecto colectivo.
E no dia a seguir, na despedida rumo à Serra
da Estrela, era visível na caravana, que Alcains cumprira em toda a linha.
MC - cont.
João José Baptista - com o Ciclismo em 68 pôs Alcains no Mapa - final
ResponderEliminarEnfim Alcains saltava para as páginas dos jornais como uma terra com gente com
capacidades para a projectar para mais altos voos. A Comissão de Ciclismo de Alcains, com o apoio de toda a população, conseguira levar a cabo uma realização e com um padrão de qualidade, que deixava muito gente incrédula. No dia seguinte, quando da largada para a Serra da Estrela, era visível em toda a caravana um sentimento inequívoco, de que a
a recepção, o calor humanano, os muitos prémios
no fundo, a forma de receber quem nos visita, tinham calado fundo na Organização da Volta.
No ano a seguir, ainda colaborei nos preparativos, mas o final de etapa da Volta a Portugal em Alcains, apanhava-me já na EPI em Mafra, vivendo os primeiros dias de Cadete Miliciano. E foi com algum pesar, que ouvi pela Rádio, a chegada da Volta a Alcains, perante a admiração de alguns circunstantes.
Alcains saltara definitivamente do anonimato para os jornais e o responsável por esse salto tinha um nome: João José Baptista. O João Baptista não era um homem de feitio fácil. Coração ao pé da boca, quando por vezes a prudência e a calma seriam mais aconselhadas, mas foi ele, e digo-o com convicção - que pôs Alcains no Mapa.
O 25 de Abril apanhou-o na direcção da Casa do Povo e não terão sido tempos fáceis; a demagogia e a onda revolucionária que então campeava, não augurava bons dias. Quem sabe até, se esses dias conturbados não terão sido a causa remota dos diversos AVC,s que lhe afectaram a saúde e que alguns anos após o levariam de entre nós.
Na altura escrevi na Reconquista, que o João Baptista merecia que os alcainenses se lembrassem dele. E um prémio de passagem com o seu nome, numa Volta a Portugal que passou em Alcains, além de uma prova de cicloturismo, patrocinada pelos Mosqueteiros, que uniu Alcains a Idanha-a-Nova, foram pequenas realizações para relembrar João José Baptista. Infelizmente sabemos quanto a memória dos homens é fugaz, e aqueles que deram corpo aquelas realizações a meio da década de 80, pouco saberiam do que fora a saga 20 anos atrás, nem o papel que nela tivera o João Baptista.
E havia por ali testemunhas, que poderiam pelo menos ter dito publicamente as palavras que a memória de João José Baptista merecia. Estive por ali com o Vítor Serrasqueiro e com o João Manuel - o filho. E isso custou-nos! A memória de João José Baptista merecia mais. MC
Zé Treze …uma velha glória alcainense.
ResponderEliminarLamentavelmente não tenho uma foto para ilustrar este apontamento relativo ao ciclista alcainense que em finais da década de 50 e princípios de 60, dominava as provas de amadores da região, mas quero crer que alguém que passe pelo Blog, possa fazer chegar ao detentor deste, a foto que a memória do Zé Treze merece.
Recordo que ainda terei visto correr o Zópa que teria no albicastrense Parra o seu maior adversário, creio que ainda vi correr outra lenda de então, o Zé de Caféde, vi mais tarde correr o Balhinhas, um pequenino, o Zé da Mata, mas não andarei longe da verdade se considerar o Zé Treze, aquele que mais nos entusiasmava ver correr em finais dos anos 50 e princípios de 60. Porque logo a seguir viria a guerra colonial e o Zé dos Santos Barata, Treze não sei porquê, seria mobilizado para Angola. Recordo, pois era do domínio público, que um largo período sem notícias do Zé, terá levado a sua família a recear o pior, como aconteceu em vários lares de Alcains, mas o Zé Treze, felizmente, regressaria são e salvo.
Hoje porém vou falar da tal prova em que ele limpou todas as metas volantes e a final, no circuito ciclista que o GDA organizava anualmente e cujo percurso creio terá sido Alcains – Escalos de Cima – Castelo Branco – Alcains. O Zé Treze tinha na altura um rival de peso, numa equipa de Gafete, Alto Alentejo, equipa coordenada por um padre(!), e que se chamaria creio Francisco “Pardelha”. E os duelos entre os dois, nem sempre corriam favoráveis ao nosso atleta.
Pois naquele domingo, o Pardelha e todos os outros, e estas provas organizadas pelo GDA, porque tinham sempre prémios acima da média atraíam muitos ciclistas amadores, e até um alcainense que corria pelo Arroios em Lisboa, cujo nome não recordo, nesse dia todos foram totalmente impotentes para travarem o Zé Treze, que não deu hipóteses a ninguém. Recordo a euforia da entrega dos prémios nesse dia, num espaço anexo à JOC, onde se jogava voleyball e essa tarde ficou na história do ciclismo em Alcains.
Na altura, as provas de ciclismo em Alcains atraíam ciclistas até da zona da Ponte de Sor, e Ildefonso Rodrigues e creio que João Centeio que terão corrido pelo SLB, terão corrido quando amadores em Alcains.Esse mesmo Centeio, que numa Volta a Portugal que fomos ver passar em São Domingos, passou com cerca de 15 min. de avanço sobre o pelotão, numa etapa que terminava na Estrela e que creio terá vencido.
Tivesse o Zé Treze menos uns anos e integrado o projecto do João José Batista em 68 e uma equipa que já era forte, seria fortíssima. Sim porque ele ainda terá participado em Lisboa em um ou dois prémios de Iniciação, como individual, e o melhor que conseguira, terá sido um 11º lugar. Os carris onde transitavam os eléctricos eram adversários de vulto para os concorrentes que iam da província.
Infelizmente em acidente de mota, já a morte o levara. Recordo no entanto, que pouco tempo após o regresso do Zé Treze de África, o seu patrão e amigo, Zé Mourinha da Silva,organizou uma prova de ciclismo tipo consagração para o Zé Treze, com saída creio que de Castelo Branco, em direcção ao Orvalho e regresso a Alcains, e quando já levaria cerca de uma vintena de minutos sobre o seu imediato perseguidor, partiu a bicicleta, e como o carro de apoio só levava rodas sobressalentes e nem uma pasteleira existia por ali, terminaria ali a consagração que se previa do Zé Treze. E creio que foi o tal “pequenino da Mata” quem venceria esta prova.
Quem sabe se o prenúncio do acidente de mota que o levou e que deixou o seu amigo Mourinha muito maltratado.
E ficou em todos os alcainenses que privaram com o Zé Treze, uma enorme saudade.
Nos anos 80, em tempo de comemoração de aniversário, o CDA sucessor do GDA, prestou uma pequena homenagem ao Zé Treze! Nas páginas da Reconquista, uns anos antes, também já evocara a sua memória. A outra fica hoje aqui neste pequeno apontamento!
Ainda o ciclismo em Alcains…E o Balhinhas!...
ResponderEliminarCreio que só o vi correr uma vez, para aí em 60 ou 61, numa prova integrada na Festas de Maio em Escalos de Cima. Por ironia, já os concorrentes à partida haviam saído há mais de um quarto de hora, quando acompanhado por uns amigos, todos de bicicleta, não havia carros de apoio, chega o Balhinhas.
Já tinham partido, não faz mal e aí se faz à estrada perante alguma incredulidade de quem por ali estava. Não sei qual seria o percurso, o que sei é que à chegada, aí estava o Balhinhas a cortar a meta e destacadíssimo. Isto é: recuperara o atraso com que partira, ultrapassara os adversários e deixou-os para trás, a uma boa distância.
A organização tinha em mãos um “bico de obra” em atribuir o 1º lugar e o respectivo prémio, a um concorrente que partira cerca de um quarto de hora depois dos restantes, passara por eles como um foguete, e chegara destacadíssimo à meta!
É que suponho que a disputa seria com um corredor dos Escalos de Cima.
Já nem sei como se resolveu o imbróglio.
A conclusão a tirar era a de que com o Zé Treze já em África ou a caminho, aí estava um sucessor!
Nunca mais vi correr este alcainense, nem sei se também chegou a participar em alguma prova de Iniciação em Lisboa. O que sei do seu perfil de ciclista, fui ouvindo aqui e ali,de Vitor Serrasqueiro, Ramiro Rafael e João José Baptista, que anos mais tarde diriam que o que sobrava em classe, em estilo e em talento ao Zé Treze, compensava o “Balhas” com força inquebrável!
Como fica implícito nunca os vi correr a mesma prova, nem sei se alguma vez tal terá sucedido!
Para algum mais distraído, este “Balhas” não tem nada a ver com o Emídio, esse um predestinado mas a jogar futebol e a marcar golos de canto directo! Que o digam algumas das equipas que o defrontaram, quando ao serviço do Desportivo de Castelo Branco e por último na equipa do CDA.
Creio que esta abordagem de velhas glórias do ciclismo alcainense, ficaria completa com algumas fotos dos seus protagonistas!
Aí está uma tarefa, para o “homem do leme” do Blog. Eu apenas sugiro.
MC
Ciclismo…o “pequenino da Mata”
ResponderEliminarDe volta a uns papeis já com algum tempo, deparei com um recorte da Reconquista, que foca a vida desportiva do “Zé da Mata”.
José António Pires, o “ Zé da Mata”, cujo ídolo em tempos de Anquetil, Merckx, Poulidor, era este último, um eterno segundo no Tour de France, que lhe preenchia os sonhos.
OS ZÉS. O Zé da Mata, fala com natural nostalgia dos anos 50.Refere que correu com o Parra, o Zé de Caféde e « com outros bons praticantes que por aqui começavam a despontar, como o Balhinhas, de Alcains».
Elege à escala distrital, o Zé de Caféde, como o melhor a nível distrital.
Refere a sua participação nas Provas de Iniciação, que começavam por ser provas distritais. E nestas, terá sido uma vez 2º e vencido outra vez. Por mero acaso, creio ter testemunhado esta vitória ao sprint, batendo o Zé Treze, numa “pista” que nunca foi de ciclismo, no Estádio Municipal de Castelo Branco. Reconhece no entanto, que em Lisboa, as coisas lhe correram sempre mal, ao contrário digo eu, do Zé Treze, que numa das vezes terá alcançado um 11º lugar.
Globalmente, o Zé Treze, com outro poder físico, era superior ao Zé da Mata.
E na memória do ciclista da Mata, permanece a memória do seu rival de Alcains, segundo as suas palavras,« Era outro dos bons ciclistas que tínhamos por cá».
O Zé Treze, entretanto é mobilizado para Angola, ele vai para a Guiné, e a sua rivalidade terá terminado por aí.
Curiosas as surpresas, que por vezes os papeis já antigos, nos reservam.
MC
Ciclismo...ainda o Zé da Mata e o Zé Treze
ResponderEliminarEm comentário que tracei relativamente ao percurso ciclista do Zé Treze, creio ter referido, que na prova de reaparecimento, após a comissão em Angola, em volta pelo Orvalho, e
já quando levava mais de uma dezena de minutos sobre o mais directo perseguidor e partiu positivamente a bicicleta, este seria o Poulidor da Mata,que viria a ganhar essa prova!
Algum tempo depois, o Zé Treze morre de acidente de viação de moto e fechou-se uma página do ciclismo em Alcains.
A triste ironia disto tudo, é que a canalha, dizia que quando o Zé Treze, passava de bicicleta à sua porta, na EN 352, a sua mãe chorava, por pressentir o perigo!
E tinha razão para chorar! A morte esperava o seu filho em duas rodas, não de bicicleta, mas de moto! E terminou definitivamente aí, a rivalidade entre os dois Zés : o da Mata e o Treze de Alcains.
MC
Boa tarde,
ResponderEliminardescobri agora este artigo e ADORE. sou filha do Fiel - Lardosa e gostaria de saber se tem mais fotos destas provas.
Por favor contactem-me para
monica.cd@hotmail.com
Obrigada