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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

GRAVANÇOS?... só de Tamancos!

Tinha-os perdido.
Deles, a saudade, era inversamente proporcional à vontade que tinha de os reencontrar.

A última vez que os vi, foi na “brêda”, caminho estreito de apenas pé posto, da tapada da Senhora, breda batida, calcada nem sempre a gosto, ressequida pelo calor de agosto.
Teria aí cerca de 15 anos, por volta de 1965...
Desta vez, na azulinha de duas rodas e a caminho de casa, observo no ressequido e nunca pavimentado passeio da avenida 12 de novembro, frente aos móveis Esteves, um lindo arbusto rastejante, de abundante folhagem verde e imensas flores amarelas...
Tão lindo no amarelar, que me obrigou a parar e encantar.


Nunca vi um arbusto destes, crescer em terra mole, arável...
E porquê?


A natureza, presumo eu, nada faz ao acaso.
Os frutos destes arbustos, são os picos, em que, cada flor amarela, linda como podem observar, cria uma irregular bola decorada na periferia, em todo o perímetro, com várias saliências, picos, que um exame mais minucioso às fotos permite observar.


Quando o luar de agosto deixa de iluminar o rosto, e setembro de armadura que tudo matura, os picos estão maduros, ressequidos, mais duros que ossos partidos...
Breda seca, dura, esconde tortura.
Em caminho de pé posto, ressequido, pisar um gravanço, é dor até ao umbigo.
Ais, de mães e de pais, sangue, de pé quente, saltos de tchim-tchim, de tarde e de manhã, que se cura com folha de saiã...


Previno, não seja tanso, porque pisar um gravanço é perder descanso, portanto, vá de tamanco.

Manuel Peralta

Nota: Tapada da Senhora, trata-se de uma tapada, e tapada que dizer isso mesmo, tapada, fechada, murada, existente pelo Outeiro/Degrêdo, que o Dr. Ulisses Vaz Pardal, que foi casado com a menina Quininha, de nome próprio Joaquina, herdou da sua sogra, a Dona Joana que habitava na sua residência que era o atual museu do Canteiro.
Quando popularmente os Alcainenses se referiam à Senhora Dona Joana, diziam apenas Senhora, no caso em apreço, Tapada da Senhora, que foi na década de 50 a 70 do século passado, o melhor pavilhão gimno desportivo de Alcains, apesar das proibições do Ti José Patrício, na altura o maioral da Dona Joana.
Agora a “tropa fandanga” da época, perceberá melhor por onde andaram e de onde vêm...arrebentas, laroupos, pios, reguingas, advogados enfim, gente de todos os lados.

1 comentário:

  1. Caro Peralta:

    Não te conhecia estes dotes literários.
    Parabéns.
    Fantástico.

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