Foi em 12 de Novembro de 1971, que por decreto do governo de então, Alcains deixou de ser, orgulhosamente, a maior aldeia de Portugal para passar a ser mais uma, das muitas Vilas de Portugal.
O tempo, essa entidade que amadura os marmelos, desse dia de Novembro, quando se inaugurou o padrão na praça, era o de uma tarde escura, quase plumbea, prenunciando dias e anos cinzentos.
Para ajudar e celebrar tal evento, não vieram entidades concelhias, na altura já expectantes com a marcha de um punhado de Alcainenses que, denotando acrisolado amor à sua terra, iam a todo o lado, moviam todas as influências para que fosse reconhecido o valor real da terra e das pessoas que, a expensas suas, estavam a tempo inteiro com Alcains, sem receber nada em troca.
Cunha Belo, Sanches Roque, José Dias, Ramiro Rafael entre outros, foram nessa época Alcainenses de “Letra Grande”, dignos de figurar nas páginas douradas das memórias dos Alcainenses.
Alcançado este degrau, balbuciava-se então de soslaio, Alcains Concelho...esta era a visão, este era o objectivo.
O saudoso e emotivo Sanches Roque, apelava a que, se fosse necessário, iria até ao inferno buscar o Concelho de Alcains...mais lúcido, isto é, menos emotivo, Cunha Belo entre dois “combien”, mostrava os números da capitalização Alcainense para as finanças de Castelo Branco.
Entretanto, estes e outros Alcainenses, tiveram a genial ideia de fazer um “overlay”, à Junta da Freguesia de então, a mártir da altura, criando a Liga dos Amigos de Alcains, forma inteligente de em paralelo, acicatar e mostrar por fora, que Alcains, pelo seu desenvolvimento e potencial, tinha gente que queria e merecia mais do poder central.
Entusiasmados com o apoio do Governador Civil de então, Dr. Ascensão Azevedo, cidadão honorário de Alcains, foi possível enquadrar as prementes necessidades da Vila, e, de projeto em projeto, centralmente comparticipado, Alcains chega ao 25 de Abril, com um rol de obras em carteira, que nunca mais teve no regime seguinte, o democrático...a custos atualizados, claro.
Com o 25 de Abril e com a aprovação da lei das finanças locais, Alcains nunca mais foi o mesmo em termos de desenvolvimento.
O orçamento da autarquia é disso exemplo, necessidades de freguesia urbana com 5.000 habitantes e com contribuições em impostos de todo o tipo de agregado urbano, mas receitas de freguesia rural.
O mártir de serviço, agora, é o Sr. António Carrega, que está lá, na Junta, ao que consta, de própria e livre vontade...
A democracia, tratando a régua e esquadro o que é desigual, criou desigualdades que cercearam de forma irreversível, o desenvolvimento da comunidade Alcainense.
Esta desigualdade, tem afastado da vida pública ativa muita gente, ao ponto de, ser ainda mais difícil encontrar candidato capaz à junta, do que para o clube de futebol, onde o orçamento se não o supera, rivaliza já com o da junta.
As sucessivas Câmaras de Castelo Branco, todas até aqui, escudam-se na lei, dizendo que não podem fazer mais, criando inibições várias que rondam mandatos de favor, quando decretam investimentos que raramente são discutidos com os autarcas eleitos.
Como os planos são o que são, e, as maiorias têm o poder discricionário de os alterar a solicitação de quem, por voto democrático, lhes assegura o lugar, não curam de saber se o que decidem, corresponde a cada momento às reais necessidades dos fregueses eleitos.
O caso mais recente, que socialista não alinhado e amigo me contou, depois de uma tainada, diz respeito à aquisição por parte da Câmara de Castelo Branco, de um terreno por 175 000,00 euros, em Alcains, a um munícipe que mora na Av. Afonso de Paiva, em Castelo Branco.
Ponho as mãos no lume se, não estou a dar em primeira mão, uma novidade a quase todos os autarcas eleitos em Alcains. Pelo que apurei, a decisão passou-lhes completamente ao lado e a grande maioria nem sequer sabe onde se localiza o terreno que a Câmara de Castelo Branco, decidiu comprar para se instalar, não se sabe em que futuro, atividade empresarial.
Parece que, face às dificuldades em conseguir terrenos nas áreas industriais de Alcains e Castelo Branco para aí se fixarem empresas, está tudo esgotado, diz-se, à cautela, e depois de aprofundado estudo sobre custos de oportunidade, foi decidido adquirir o terreno que se prevê venha a ter utilização no ano, 2332.
E claro, Alcains está, estará, eternamente agradecido, com mais esta doação fora do orçamento da junta...e assim, o presidente da junta está satisfeito e o vendedor, ao que me dizem, muito mais...
Numa cidade com 56 000 habitantes e com 520 funcionários municipais, pergunto?Alcains com 5 000 habitantes, quantos, poderia ou deveria ter? É uma regra de três simples, façam as contas por favor, e vejam a desigualdade com que o Sr. António Carrega está a ser tratado!
Em manhã recente, entre jardineiros e trabalhadores de limpeza frente à Câmara de Castelo, contei sete, que plantavam várias caixas de amores...amores mais que perfeitos, ao passo que em Alcains, só pretéritos, ainda por cima, imperfeitos...
É por isso que desde a limpeza que não há, a não ser no centro da Vila, à degradação do mobiliário urbano, aos degradados pavimentos, aos buracos e poças de água em passeios, à ausência de condições de mobilidade para cidadãos diminuídos, passando pela degradação vivida na dita Zona de Lazer, Alcains tem razões de forte apreensão quanto ao seu futuro.
Com forte poluição ambiental na ribeira da Líria, Alcains vive um paradoxo, que resumo do seguinte modo.
Quando não se sabe para onde se vai, é preciso muito cuidado, pode não se chegar lá.Quarenta anos depois...
Manuel Peralta
Nota: Texto publicado no Reconquista de 17 novembro de 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário