Por um lado, exercitar a memória e desenvolver o sentido da declamação e, por outro, recitar em público e vencer os “medos de palco”, aprender poesias era, entre outras formas de aprender, um motivo de diferenciação escolar e de notoriedade local.
Os professores primários de então, estimulavam bastante esta forma de aprendizagem como forma de apreciar o aluno no seu à vontade e no interrelacionmento escolar.
Os professores primários de então, estimulavam bastante esta forma de aprendizagem como forma de apreciar o aluno no seu à vontade e no interrelacionmento escolar.
Essas poesias, continham sempre uma ideia, uma moral, uma lição que temperava a educação de então.
Nas matações, matança do reco ou do porco, e outras festas familiares, por vezes nas longas noites de inverno ao “serão”, enquanto se comiam umas passas, figos secos, com um chá “depois”, em Alcains o chá de poejo nunca era tomado antes, era e é sempre chá “depois”, sem rádio, e a televisão ainda muito longe, cada um dizia o que sabia para entreter o calmo passar do tempo de então.
Nas matações, matança do reco ou do porco, e outras festas familiares, por vezes nas longas noites de inverno ao “serão”, enquanto se comiam umas passas, figos secos, com um chá “depois”, em Alcains o chá de poejo nunca era tomado antes, era e é sempre chá “depois”, sem rádio, e a televisão ainda muito longe, cada um dizia o que sabia para entreter o calmo passar do tempo de então.
As anedotas dos Alentejanos, eram quase inexistentes, e, quer as da “Vidiguêra”, quer as da “Amarelêja”, ainda ausentes...
Recentemente, e depois de “arraçoado” almoço com os meus pais, já o bagaço novo comigo passeava impampe (soberbo, petulante, desdenhoso) por toalha córada, começa em voz toeira, a minha mãe a recitar uma poesia que aprendeu na escola primária.
Recentemente, e depois de “arraçoado” almoço com os meus pais, já o bagaço novo comigo passeava impampe (soberbo, petulante, desdenhoso) por toalha córada, começa em voz toeira, a minha mãe a recitar uma poesia que aprendeu na escola primária.
No fim do “ano escolar” de então, quer dos meus pais quer do meu, no tempo dos meus filhos “lectivo” e agora dos meus netos “letivo”, era habitual que os alunos mostrassem aos pais as “habilidades” de então ou as “abilidades” de agora...
No portão da escola, e perante a comunidade escolar de então diziam o que sabiam.
No portão da escola, e perante a comunidade escolar de então diziam o que sabiam.
A poesia que se segue, foi recitada em 1935, tinha a minha mãe 10 anos, e relembrada agora, em 2012 com 87 anos.
Aí vai...
Aí vai...
PAPOILA de 1935
Uma papoila,
dizia ao trigo.
Como sou linda,
ó meu amigo.
ó meu amigo.
***
Encarnadinha,
Bela e viçosa.
Sou mais bonita,
Do que uma rosa.
Do que uma rosa.
***
E tu não tens pena,
ao veres-me assim?
Teres nascido,
Teres nascido,
ao pé de mim?
E nisto passa, o lavrador...
Vai-se à papoila, e corta a flor.
Vai-se à papoila, e corta a flor.
***
Filhos é bom,
Ter formosura.
Nascer vaidoso,
Nascer vaidoso,
Não trás ventura.
Afonso Lopes Vieira, autor.
Fiquei atagantado, não só com a qualidade da dicção, em voz toeira, isto é, com bom tom, mas também com os gestos e as inflexões a garrotes pedidas pelas estrofes.
Assarapantado, meio engasgado fiquei com a altivez do tom nas quadras arrogantes, com o brutal silabar do corte rural da papoila do não subsidiado lavrador, com o modo, envolvente, maternal do conselho com moral.
Claro que a luta, entre a 4ª classe de 1935 e a de 1959 não acabava aqui.
Claro que a luta, entre a 4ª classe de 1935 e a de 1959 não acabava aqui.
E, ripostei.
PAPOILA de 1959
Mesmo no cimo da serra,
muito guapa muito tôla.
Nasceu num monte de terra,
senhora dona papoila.
muito guapa muito tôla.
Nasceu num monte de terra,
senhora dona papoila.
***
Era alta, era espigada,
de olho preto brilhante.
Tinha uma touca encarnada,
e um pé delgado ondulante.
***
de olho preto brilhante.
Tinha uma touca encarnada,
e um pé delgado ondulante.
***
Junto dela nada havia,
que lhe empalmasse a frescura.
Muita flor ali vivia,
mas sem tanta formosura.
que lhe empalmasse a frescura.
Muita flor ali vivia,
mas sem tanta formosura.
***
Por isso a dona papoila,
era toila, toila, toila...
era toila, toila, toila...
O meu pai, que muito cedo aprendeu a “Rumba Negra”, votou na esposa, a Céu, vá lá..., votou no marido, empate do público, garantido.
Sei que nesta disputa, mais dia menos dia vou ter que ir novamente à luta.
Conta a minha mãe que o Sr. Emídio Nascimento Beirão, comerciante ali na praça e já falecido, terá interpelado a minha avó, no comércio, porque razão não tinha ido à escola ver e ouvir a filha.
Sei que nesta disputa, mais dia menos dia vou ter que ir novamente à luta.
Conta a minha mãe que o Sr. Emídio Nascimento Beirão, comerciante ali na praça e já falecido, terá interpelado a minha avó, no comércio, porque razão não tinha ido à escola ver e ouvir a filha.
O que a minha avó disse não sei. Só sei que a minha mãe regista que o Senhor Emídio terá dito, “a tua filha, ralhou connosco que se fartou... ”
Esta apreciação popular do modo como se avaliavam os “diseurs” de poesia, mais tarde declamadores, tinha muito a ver com o modo como ralhavam...
Ainda hoje me assusto com o que ouvia ao saudoso e grande “Elias Pereira Djasus”, que de espuma ao canto da boca, ralhava no palco da casa do povo, “vivendo, com o mesmo sem vontade, com que havia rasgado o ventre de sua mãe...
Ou até, o ainda com muito cabelo, Ezequiel Lopes e Rafael, que sem ralhar, toava em Portalgre cidade, do alentejo cercada, muito divido entre o “menino de sua mãe” e já sem medo, o “cântico negro”...
Futuramente, mais apoemarei...
Manuel Peralta
Manuel Peralta
Olá , posso saber todos os versos da poesia "Dona Papoula"?
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