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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

AS MENINAS DE ALCAINS

Menino, só há um, o Quim.
Meninas, de bem... que me lembre, a  menina Quininha, a menina Chica, a menina Belarmina, a menina Ilda, a menina Clara, a menina Alice...já agora, “pluralando”, as meninas dos olhos, as meninas  da farinha, e as meninas abóboras, e porque assim não rima, dou a volta ao texto com as abóboras meninas.
Perde-se no tempo, e cada vez mais sem glória, na memória, este tratamento dos criados aos filhos dos amos, dos patrões, a mulheres solteiras e sempre muito novas.

  

Mas, reparem. Então não é de a gente ficar “atagantado” e descobrir que sob o mesmo tecto, circunspecto, se for amo é patrão, e assim sem mais nada, se for ama, é criada. Mais que uma  maçada, é uma “tchatchada”.
Agora do lado de cá.
Há o menino de coro, que ajuda à missa, mas se for “dengoso” e bem lavado, menino efeminado... mas, menina em popular jargão, este, primo direito do “calão”, menina meretriz, assim se diz na estação.
Aquela mulher, de mama firme e perna afiambrada, é a menina dos meus olhos. Do Senhor Reitor as pupilas, não de Camilo, as Sibilas.


Menina dos olhos, pupila, persiana, qual estore de marca Bispo e de qualidade Papa, porta automática que abre ou fecha para controlar a entrada de luz, luz dos meus olhos, luz da minha alma, como diria Domingos Cocharra no palco da casa do povo, na nobre arte de talma.
Agora na escola da Pedreira, menina de cinco olhos, instrumento com que se castiga batendo na palma da mão, cinco olhos, cinco dedos, régua, réguada, por errar na dinastia e na história, palmatória.
As meninas da farinha, gostam muito de “felores”, elas só se sentem bem, ai ó pé dos seus amores. Ai ó pé dos seus amores, quando estão a namorar, elas parecem branquinhas, branquinhas como o luar. Branquinhas como o luar, como o luar de janeiro, que ilumina o viúvo o casado e o solteiro.



Contradança da Lusitana fábrica, eles, os meninos, de camisa branca e papillon, elas, as meninas da farinha com dote, então em transição da saca para o pacote.
Serralheiros, dos Isidros, uns, do Rafael, carpinteiros, outros, “arraçoados” de pão e brôa no passeio da Brandoa. Estes, sempre de pico ao alto, aqueles de enchó em baixo, viam desfilar e a cantar as meninas da farinha em dengosos trejeitos de roliças ancas, sacudindo farinha espoada cantando e dançando até de madrugada.
Duas vezes peneirada assim se chama à farinha espoada, mais fina que sustenido de concertina, sem fermento amassada, na missa consagrada. Na doutrina de cór e ao tear, perguntava a tecedeira como está a nossa alminha antes de a gente se confessar? Resposta em compasso de tear sob o olhar atento de “novêlos de arêlos e ourêlos”. Está negra cmó cravâ. E depois da gente se confessar, em pergunta breve, fica branquinha c´má neve.


Do cartucho de papel pardo saíam as aparas, sobrantes da divina hóstia, consagrada, o prémio que nos treinava em doutrina para a primeira comunhão, doado em sonoro “tantum ergum”, pelo Ti Manel Sacristão.
As Tonitas, as Nélitas e as Sãozitas, catitas como as Carquitas, normalmente pequenitas, acumulavam este delicodoce tratamento com o carinhoso nome de menina. Habitualmente muito simpáticas, prestadeiras, hiperativas, se fossem filhas únicas ficavam em casa mas se em casa havia prole, ao dia, iam para casa de tia.



Não há na terra deles quem, por uma ou outra razão, não tenha conhecido ou de perto convivido com uma menina. Na minha rua, quando eu andava às cavalitas no pescoço do António Pedal, licenciado no politécnico ( sapataria e barbearia ) do meu padrinho, Manuel da Paixão, catedrático em meias solas, tombas e meias gáspeas, também por ali passava “em repouso” uma menina. Na rua, e em baixo tropeço de cortiça sentada, mostrava sem pressa, aquela coisa onde a terra acaba e o mar começa...
Pelas mães que nunca foram meninas e no Degrêdo, toque de rebate e canalha em casa, não se queimassem naquela brasa.
Das mães que já nasceram mulheres, das mulheres que nunca foram meninas, retenho um diálogo entre a Ti  Marizé e a Ti Clara. 



De carrapito uma, e de mãos cruzadas debaixo do avental de chita, a outra, queixavam-se amargamente das “desgracias” que o infortúnio lhes trazia.
Queixava-se uma de que lhe tinha morrido o marido. Lampeira, a outra, respondia. Pois é, a ti morreu-te o marido, mas a mim, anda-me uma galinha a por fora...
O Einstein, ensinar-me-ia mais tarde, com idade, o que era a relatividade.


Nota: Enviei para publicação no Reconquista este texto.
Como já passaram 15 dias e não foi publicado, decidi publicar no blog.
Manuel Peralta

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