E.I.C.C.B... 50 anos... tantas saudades... ”estórias” e vidas!
Seria um dos muito poucos que naquele convívio de centena e meia de antigos alunos e famílias que nos reuniu em 19 de Maio, poderia usar o meu estatuto de antigo aluno e professor, também.
Efectivamente terminei ali a Secção Preparatória aos II’s em Julho de 66 e ali voltei como professor provisório em Outubro de 1973.
Existe deste modo um antes e um depois. E mesmo este depois, se divide em até 25/4 e posterior, com as expectáveis mudanças numa Escola cujo director, como na maioria das instituições de Ensino na altura, era uma figura grada a nível concelhio da ANP, a instituição ideológica que suportava o regime de então.
Porém o que me interessa sublinhar neste espaço, é aquilo que esta Escola Técnica, cujo funcionamento efectivo, remonta a Jan 1956, representou para muitos estudantes alcainenses que ali alicerçaram as traves mestras do que viria a ser o seu futuro. Até aos anos 60, embora haja quem discorde desta análise, seriam os filhos dos artesãos, pequenos empresários, ou emigrantes, que iriam para ali, à procura de um futuro a que os seus antecessores não teriam tido acesso. Para o Liceu, e salvo as excepções que estas análises sempre contemplam, iriam sobretudo as meninas e os rapazes, filhos de gentes com outras posses, que já vislumbravam para os seus, a continuação na Universidade, como na canção do Cid, “ tens que ser engenheiro ou doutor”... Aos poucos porém, fruto da melhoria das condições de vida da população, quer pelas remessas da emigração, quer pela industrialização que Alcains começava a sentir, este cenário ia-se atenuando. E até a transição da Escola para os Institutos Industriais, constituía o up-grade dessa realidade.
E se assim pensava nos anos 70, e escrevi-o no Boletim Informativo que ajudei a fundar no Instituto Industrial de Coimbra, hoje mantenho a mesma perspectiva.
Porém e antes que esqueça, recordo aqueles alcainenses a quem o regime de ensino nocturno na Escola, propiciou melhores condições de trabalho e lhes permitiu encarar o futuro com outros olhos.
Também não olvido e foi muito importante a adequação de meios de transporte públicos, adequados aos horários dos estudantes nas Escolas Secundárias de Castelo Branco, um factor que permitiu a muitos alcainenses a sua progressão nos estudos.
E as “estórias” de muitos que frequentaram essas carreiras, uma alegria, uma “quase excursão diária” como já ouvi referir a M.Peralta, entendida à luz de quem fora e foram muitos, a fazer a 4ª classe a Castelo Branco, transportados na carroça do Ti Zé Cartucho.
E o espaço onde na Escola, os estudantes de Alcains, não havia cantina, arrumavam os farnéis, cujos armários com a frente em rede, recebiam os “desabafos” de quem ali chegava com um medíocre, nem sempre esperado.
Na visita à Escola, passei por salas onde fui aluno e professor, e até acompanhei o M.Peralta às Oficinas, para mim de má memória, onde ele não desistia de encontrar um galo em ferro, que se ainda por lá estivesse, a ferrugem há muito teria corroído.
Estivemos no Ginásio, coberto por alcatifa e onde pouca ginástica se fazia, mas que me recordou os filmes que lá vi, o palco onde recebi alguns prémios e fiz Teatro.
Num dia de recordações e memórias, perpassam pelo nosso espírito os alcainenses que connosco, mais ou menos adiantados, se cruzaram, como o Simão Munhoz, o Romualdo, os Jorge(s) Carrega e Aleluia, o Carlos Minhós, o o M.Peralta, o Baptista, o Zé Moreira, o Amaro e uns tantos mais...
Revi o meu amigo Rogério Becho, 40 anos depois de em Luanda as nossas vidas militares nos terem cruzado. Falei com ele da sua viola, com que acompanhava o Pelejão, uma memória sempre presente nestes momentos, quando este queria ir fazer serenatas no Largo da Biblioteca ou no Cansado.
Revi o Tomé, que morava ao lado da casa onde estive hospedado dois anos, a Fátima, o Mané Zé e a irmã, o Aleixo e a esposa, o “Vital” e a Ana do FB, o casal Serrano, bastante mais novos...as lembranças daqueles que estão nos nossos livros de curso e que já partiram como o João Sobreiro, e nos deixam a pensar como o tempo passa veloz, embranquece e torna escassos os cabelos aos rapazes de então e “enlourece” normalmente as senhoras.
Recordaram-se alguns professores que mais vincadamente nos marcaram, como os Profs. Carlos Bento, Caldeira Lucas, António Russinho, Odete Geirinhas e outros, assim como aqueles que já permitiam alguma irreverência nas suas aulas, de que seriam expoentes os Profs Romão e Moura Pinheiro.
Enfim, um dia que soube a pouco para tantas recordações, memórias e saudades. Por tudo isto e pela possibilidade de nos revermos e recordar algo do que fomos, valeu a pena o encontro de 19 de Maio e a irreprimível vontade de repetir no próximo ano...
Nota: Propositadamente, abstive-me de ler o boletim da E.I.C.C.B. dedicado ao evento, antes da elaboração deste apontamento, para que a sua leitura não influenciasse as minhas memórias. E não deixo de achar curioso, ou talvez não, que na foto dos Directores que passaram pela instituição, falte a foto de José Paracana, o Prof. que numa reunião geral de professores, teve a coragem de responder ao director de então, o Prof Queiroz, que não assinaria qualquer telegrama de apoio ao MFA, que o mesmo assinasse. Perante uma assembleia entre o atónito e o confuso. E nunca mais esqueci.
Zé Minhós Castilho (MC) – Junho 2012
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