O Primeiro, o Único e o Último Embutidor
Mais conhecido por Alfredo “Pacheco”, este alcainense que nasceu em junho de 1936, filho de João Martinho, moleiro no Sr. José André e de Maria da Luz Marreco, doméstica, dedica-se e dedicou-se durante uma vida entre outras atividades, à nobre e exclusiva arte de Embutidor.
Casado, tem três irmãos, a Céu, a Lurdes e o João, e dois filhos a residir em Gaia, um dos quais sofre de uma doença quase fatal denominada “Alcains em Mim”, um excelente blogue divulgador desta coisa que é ser e amar um Alcains distante... qual amante.
De boina basca na cabeça, traje habitual no Alfredo, feita a 4ª classe, só teve quinze dias para brincar, pois a arte, a profissão, aguardava-o na oficina de José de Oliveira Rafael em Alcains.
“Foi uma grande escola”, assim se referiu o Alfredo à oficina onde aprendeu tudo da arte... a entalhar, a polir com goma laca, a tornear, a dourar, a lacar, ao lado de Moisés Rafael... aos 15 anos já executava todas estas tarefas, diz com orgulho o “mestre” Alfredo Martinho.
Apoiando-se mutuamente, a dupla Moisés/Alfredo, faz o restauro das capelas de Santa Apolónea, do Espírito Santo, e do Sacrário da igreja de Nossa Senhora dos Altos Céus na Lousa recuperando a talha e dourando os respetivos altares.
Em 1957 chega a tropa, e no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco assenta praça, este Alfredo com a especialidade de sapador.
Dezoito meses da dita, convite para seguir a vida militar, mas... não, o cheiro da madeira e o barulho da gorlopa, tiram-no da tropa.
Casa entretanto, e no navio mercante Principe Perfeito parte para Moçambique, Lourenço Marques, onde durante três anos trabalha de arte sabida, na primeira empresa de móveis de Moçambique, a MOBILARTE.
Regressa, para o JRafael, pede aumento de salário... mas... não concedido, saiu e durante ano e meio experimenta essa aventura então geral e nacional da emigração em França.
De permeio por entre tantas vidas, a sua esposa, que cantava e canta muito bem trava conhecimento em Alpedrinha com uma família Robles Monteiro.
E é em Alpedrinha e em Lisboa na Fundação Ricardo Espírito Santo, que o Alfredo vê um embutidor a trabalhar na sua arte.
Admirado e com uma grande vontade de se superar, diz para si mesmo,... sou capaz.
E assim foi, sem qualquer ajuda dedica-se a esta nobre, única e exclusiva arte de Embutidor em Alcains.
Trabalho de ourivesaria em madeira, esta, desfiada em lâminas em máquina, recortada com serras tico tico, fazer recortes, colocar as linhas nos espaços embutidos, colar, lixar pintar...
Recentemente dedicou-se a fazer cavaquinhos, de sonoridade excelente, que alegram gente...
Tem muitas das suas peças dispersas um pouco por todo o país, para onde vende por catálogo que é a transmissão boca a boca das suas obras de arte, pelos que as adquirem.
No restauro de móveis antigos, relembra o restauro de uma cama para Calouste Gulbenkian... mas esta é a história de um restauro que não se pode, ou deve contar...
Porque a generalidade dos Alcainenses, olha para este homem de boina basca na cabeça e não conhece a sua arte, o Alfredo faz muito para a divulgação de Alcains, não resisti a dar a conhecer as capacidades desta artista.
Inovador, adquiriu recentemente a primeira bicicleta elétrica que vi em Alcains, vi, digo eu, pois é tão silenciosa como a dificuldade que tive em convencer o Alfredo a falar dele.
Valeu a pena e um obrigado ao Alfredo “Patcheco”.
Manuel Peralta
Alfredo Marreco Martinho, um artista alcainense.
ResponderEliminarCurioso o apontamento sobre a vida deste artista alcainense.Inclusivamente morámos até na mesma rua, durante vários anos. Mais velho uns anos que eu, perdi-lhe o rasto e há muitos anos que o não vejo. Provavelmente, até se o vir, já não o conheço.
De um aprendiz de Mestre Moisés Rafael, não se esperaria outra coisa, que não fosse um sucessor à altura.
E se a arte de Embutir tem voltas!...Há pouco tempo, tive oportunidade no Palácio do Picadeiro, em Alpedrinha, onde existem algumas peças de grandes dimensões, de ouvir uma guia turística dissertar sobre o rigor e a morosidade que o domínio de tal arte encerra.
Fico por isso, a admirar o trabalho do nosso conterrâneo. O prestígio de uma terra, também é conseguido pelo mérito dos seus artistas.
Espero sinceramente, que nos instrumentos musicais que hoje produz, encontre um espaço, onde além do seu nome, inscreva um "made Alcains"...
MC
Abrantes,2012.07.21