Com a Ti Maria do Patrocínio foi ao contrário...
Tardiamente, quando necessitou de tirar o Bilhete de Identidade, deu o nome que até aí tinha sido sempre o seu, Maria do Patrocínio Nogueira, mas, no registo de nascimento, já havia sido gravado com garra, o apelido do avô paterno, ...SAMARRA!!!
Samarra porquê?
Seu avô paterno, trabalhador rural, andava sempre de samarra... nas costas quando caminhava, servindo de lençol quando se deitava, almofada quando se sentava, a samarra, era para ele, uma espécie de segunda pele.
Verão ou inverno, com chuva ou ao sol, com samarra às costas, competia com o caracol...
Esta relíquia de foto, tirada “à lá minuta” na festa de Santo António, merece ser observada com atenção, pois retrata uma família humilde, família tipo daquele tempo.
Ainda a samarra.
A samarra, é uma pele de ovelha ou cabra, curtida, com duas alças onde os pastores enfiam os braços de modo que, ficando suspensa, cubra as costas e não “tolha” movimentos.
Utilizada para poupar roupa, sentado sobre a samarra não rompe camisa, casaco ou calça, protege de frio chuva e sol, e em cama fazia de lençol...
A Ti Maria do Patrocínio, que em Alcains ninguém conhece por este nome, mas por Maria Samarra, por não haver cadeira não entrou na escola, e por no ano seguinte já haver passado a idade, põe agora o dedo, assim mo disse, para assinar sem medo.
Com mais quatro irmãos, António, Lourenço, Isabel e Conceição, lá foram crescendo e vivendo como Deus quis… a mãe fez as cinco bodas, mas nenhuma boda foi de bacalhau, conta-me com o “enlevo” próprio de elevada satisfação.
Em solteira andou nas terças, sachando milho ou feijão frade, na fábrica dos pirolitos mais tarde, nas matações no Seminário, em “estofêgo” de matação de porcos de 12 arrobas que vinham do Monte de são Luis, para padres e seminaristas em suplemento alimentar, antes de subirem ao altar...
Casada, há 21 anos viúva, quatro filhos dispersos pelos Açores, Suíça, Castelo Branco e Alcains.
Em lágrima de canto no olho, recorda emocionada a vida simples mas feliz que teve, enquanto o seu bom marido foi vivo... ele que foi pastor, e muitos anos encarregado da padaria do Sr. José André.
Conta-me, qual menina avó em cadeira de palha sentada, sorriso discreto, que a sua mãe quando nova, usava mantilha... uma capa que descaía pelos ombros e com capuz para cima... uma vaidade para quem tinha idade.
Disse-me, as mais “ajeitvédas”, mais jeitosas, querem andar mais bonitas... com fiado ou enraivado... à fina força... venha de onde vier... em de aparecer, para se ter, e, então, ser.
A Ti Maria Samarra, faz parte de uma geração de mulheres com valores, mas em extinção acelerada.
É a ÚNICA e ÚLTIMA viúva em Alcains que nunca deixou o lenço preto, ainda usou xaile, do qual mais tarde fez vestido, mas pouco usou.
De arma no bolso, o seu terço, todos os Domingos desce a barreira da Pedreira, para a missa, suplicando por todos os que partiram.
Perdeu uma parte de si, um filho.
Viúva, por ao marido continuar a guardar respeito, usa apenas uma cor, preto.
Manuel Peralta
Tardiamente, quando necessitou de tirar o Bilhete de Identidade, deu o nome que até aí tinha sido sempre o seu, Maria do Patrocínio Nogueira, mas, no registo de nascimento, já havia sido gravado com garra, o apelido do avô paterno, ...SAMARRA!!!
Samarra porquê?
Seu avô paterno, trabalhador rural, andava sempre de samarra... nas costas quando caminhava, servindo de lençol quando se deitava, almofada quando se sentava, a samarra, era para ele, uma espécie de segunda pele.
Verão ou inverno, com chuva ou ao sol, com samarra às costas, competia com o caracol...
Maria do Patrocínio Nogueira (Mãe)
Isabel Maria Samarra (Irmã), à esquerda na foto.
Isabel Maria Samarra (Irmã), à esquerda na foto.
Esta relíquia de foto, tirada “à lá minuta” na festa de Santo António, merece ser observada com atenção, pois retrata uma família humilde, família tipo daquele tempo.
Ainda a samarra.
A samarra, é uma pele de ovelha ou cabra, curtida, com duas alças onde os pastores enfiam os braços de modo que, ficando suspensa, cubra as costas e não “tolha” movimentos.
Utilizada para poupar roupa, sentado sobre a samarra não rompe camisa, casaco ou calça, protege de frio chuva e sol, e em cama fazia de lençol...
A Ti Maria do Patrocínio, que em Alcains ninguém conhece por este nome, mas por Maria Samarra, por não haver cadeira não entrou na escola, e por no ano seguinte já haver passado a idade, põe agora o dedo, assim mo disse, para assinar sem medo.
Com mais quatro irmãos, António, Lourenço, Isabel e Conceição, lá foram crescendo e vivendo como Deus quis… a mãe fez as cinco bodas, mas nenhuma boda foi de bacalhau, conta-me com o “enlevo” próprio de elevada satisfação.
Em solteira andou nas terças, sachando milho ou feijão frade, na fábrica dos pirolitos mais tarde, nas matações no Seminário, em “estofêgo” de matação de porcos de 12 arrobas que vinham do Monte de são Luis, para padres e seminaristas em suplemento alimentar, antes de subirem ao altar...
Casada, há 21 anos viúva, quatro filhos dispersos pelos Açores, Suíça, Castelo Branco e Alcains.
Em lágrima de canto no olho, recorda emocionada a vida simples mas feliz que teve, enquanto o seu bom marido foi vivo... ele que foi pastor, e muitos anos encarregado da padaria do Sr. José André.
Conta-me, qual menina avó em cadeira de palha sentada, sorriso discreto, que a sua mãe quando nova, usava mantilha... uma capa que descaía pelos ombros e com capuz para cima... uma vaidade para quem tinha idade.
Disse-me, as mais “ajeitvédas”, mais jeitosas, querem andar mais bonitas... com fiado ou enraivado... à fina força... venha de onde vier... em de aparecer, para se ter, e, então, ser.
A Ti Maria Samarra, faz parte de uma geração de mulheres com valores, mas em extinção acelerada.
É a ÚNICA e ÚLTIMA viúva em Alcains que nunca deixou o lenço preto, ainda usou xaile, do qual mais tarde fez vestido, mas pouco usou.
De arma no bolso, o seu terço, todos os Domingos desce a barreira da Pedreira, para a missa, suplicando por todos os que partiram.
Perdeu uma parte de si, um filho.
Viúva, por ao marido continuar a guardar respeito, usa apenas uma cor, preto.
Manuel Peralta
Histórias que o tempo não apaga…
ResponderEliminarO filho desta viúva, que optou por trajar para sempre de negro, e que morreu na Guerra Colonial, suponho ter sido o João Martinho Samarra Coelho, um soldado atirador, que em ANGOLA, morreu afogado em 29.11.61.
Este terá sido o primeiro alcainense a tombar na Guerra Colonial, e para sempre uma dor no peito da sua mãe, que como muitas, não conseguiu fazer o luto pelo seu ente que lá longe tombara.
As mortes por afogamento, normalmente em Rios de elevados caudais, eliminavam as esperanças na recuperação dos cadáveres.
Histórias, Memórias e Dores que com certeza o tempo atenuou, mas não apagou…
MC
Uma Grande Mulher, lutadora, amiga de todos.
ResponderEliminarDeixará saudade certamente..
Um até já, Minha Prima <3