Conta-me ele que os padrinhos do nome Milionário, foram os seus amigos de então, o José Preto que teve a Drogaria Alcainense e o Rui Espanhol, esse habilidoso extremo do GDA, Grupo Desportivo Alcainense.
Aquele gajo é um Milionário, diziam...
Pedreiros, ambos, viviam sempre nas encolhas enquanto o Adriano, pagava todo o ano, petiscos, táxi para as festas, cinemas... eles, de botas, com o Adriano de sapatos, a pagar com notas.
O Adriano fez a 4ª classe com o Professor Paulo, e, o destino dele, seria igual ao da malta do seu tempo, mas, atinado que era, aos poucos foi fintando o seu destino.
Aplica-se aqui o provérbio popular… ao menino e ao borracho, põe-lhe Deus a mão por baixo...
Primeira finta.
Aguadeiro de pedreiros, mata-os à sede, demorava-se, partia bilha em ralho de gente que queria água fria, mas tinha de a beber quente...
Na Santa Apolónea come a merenda, falta ao trabalho e o Ti António Valadeiro, pai do Carlos Catcheirinha entrega-o à família, para tratamento... malha de mãe.
Segunda finta.
Parte com o pai, João Rafael, vulgo João Seguérro, (Cigarro), para outras pedras, desta vez, brita.
Ao borracho, pôs aqui Deus a mão por baixo, providencial apendicite, aguda, qual taluda em baixa legal por doença, atestada pelo pai, fez toda a diferença.
De regresso às Casas Novas, vizinhança em abraço, festa faz ao borracho...
Terceira finta.
No Parteiro para carpinteiro, 5$00/dia, nem sarrafo nem folia, ganhar pouco e controlado todo o dia…
Vestia então o que havia, não apanhava sol e o que ganhava mal dava para um copo de tintol.
Na rua, todo o ano, poucos ligavam ao Adriano.
Remate para golo.
O amigo Amadeu, carpinteiro, que morava no Rossio, brilhante jogador do GDA, recentemente falecido em França, convida-o então com 16 anos, a trabalhar com ele em Lisboa a ganhar 45$00/dia.
Rapaz de léria sem entregar féria, ficava então com todo o dinheiro, algum em mealheiro, outro para trajar bem.
Casaco sport, calça vincada, sapato de tacão, sobretudo, só usava o que fosse bom, na Páscoa no Natal ou pelo Entrudo.
João Rafael, Cigarro, por fumar muito, passou parte da vida agarrado a martelão de 12Kg, nos rachões, a marrear pedra, nas britas.
Celeste da Ressurreição Castilho, doméstica, assistiam entre o embevecido e o espantado, à mudança do filho que de Adriano, passa a Dr. Albano, pois assim era tratado na vizinhança sem abastança.
Tropa, Lanceiros 2, Polícia Militar, Cabo nº 209, tinha sempre o registo de ocorrência limpo, não punia militares, e perante tal greve de zelo, o Alferes de nome, Faísca, convida o Adriano para gerir o bar da messe de oficiais.
Ainda mais dinheiro, Papilon, fatos por medida no Jorge Alves Pereira Mateus, vulgo Jorge Palhaço, já falecido, compras para a messe, idas a discotecas e bares, livro de assentos em bar de messe oficializado, pagos em fim de mês, empréstimos a oficiais, captura de poder, não usava carteira, tirava notas dos bolsos perante o espanto quer de pedreiros quer de canteiros, e até nos bailes da Associação, alto que era, só dançava com sapato de tacão.
Pondo de parte o lirismo, a sua tropa foi estância de turismo...
Estas andanças tiveram na sociedade de Alcains, por volta de 1966, quando o Adriano regressa da tropa, forte impacto nos costumes cerceados de então.
Fugindo da vida mundana de Lisboa, não queria voltar para as pedras, tinha apanhado alergia ao pó da madeira do Parteiro, e porque não estava habituado a viver de sobras, não queria ir para as obras.
Abre então a Tasca da Ti Maria Clara Borda Dágua, no Largo de Santo António, melhora com obras a casa e inova, comprando a primeira máquina de discos, música, para a malta nova.
Abria assim em Alcains, a primeira tasca/acafézada, ou por outro lado, o primeiro café/atascado.
Por outro lado e ao mesmo tempo, na Rua do Regato da Sola, a malta nova de então, entre os quais o Félix Rafael, o Cócas, o João Preto, o Joaquim Ramalho, o José Luís Amaro, o Manuel Pereira entre outros, tinha fundado a SANZALA.
À Sanzala, novidade das novidades, já iam as raparigas em companhia dos rapazes, havia bailes, bebiam-se uns pirolitos, umas gasosas e as “deslavadas” laranjadas Prata Cão, acondicionadas em grades de madeira.
Que me lembre, só entrei uma vez na Sanzala, pertencia então a outro grupo de malta…voltarei um dia ao tema...
Com dinheiro emprestado por amigos e familiares, compra o Adriano por 90 contos, quatrocentos e cinquenta euros, ao Amável Barata Castilho o barracão onde instalaria então o Café O RETIRO.
É o primeiro café digno desse nome em Alcains.
Café por baixo e salão de jogos no primeiro andar, com ping-pong, snooker, cartas... o café tinha as prateleiras de vidro, espelhos por detrás para os clientes se verem, bancos redondos no balcão, estrado para descanso dos pés, quadros nas paredes, mesas com cadeiras na sala, casa de banho, mas sobretudo um barmen que sabia atender clientes, afável, conversador, discreto e sempre de pano a limpar o luzidio balcão...
Emancipadas, começaram a vir pela primeira vez ao café O RETIRO, as raparigas que frequentavam a Sanzala, na sua maioria estudantes, e uma ou outra de mestra da Dona Palmira ou do Sr. José Marques Rafael.
E pouco a pouco, com ditos e mexericos, a coisa foi entrando... nos costumes, claro.
Conta o Adriano que chegava a vender 12 a 15 kg de rebuçados no fim de semana, era o “haxe” daquele tempo.
Relembra o incómodo causado em alguns clientes masculinos, rapazes do mesmo tempo, que não concordando com as raparigas no café, fizeram um enterro ao café, protagonizado pelo meu primo João Peralta e pelo Jorge Leituras.
O Adriano tem hoje 67 anos.
Não por ser e ter sido Milionário, mas principalmente porque ajudou precocemente Alcains a dar um passo, pequeno se avaliado com os olhos de hoje, mas muito grande pela evolução que com o seu esforço proporcionou na sociedade Alcainense.
Alterar usos e costumes em sociedades tradicionais não é fácil.
O Adriano Castilho Rafael, conseguiu e por tal facto, eu, estou grato.
Manuel Peralta
Aquele gajo é um Milionário, diziam...
Pedreiros, ambos, viviam sempre nas encolhas enquanto o Adriano, pagava todo o ano, petiscos, táxi para as festas, cinemas... eles, de botas, com o Adriano de sapatos, a pagar com notas.
O Adriano fez a 4ª classe com o Professor Paulo, e, o destino dele, seria igual ao da malta do seu tempo, mas, atinado que era, aos poucos foi fintando o seu destino.
Aplica-se aqui o provérbio popular… ao menino e ao borracho, põe-lhe Deus a mão por baixo...
Primeira finta.
Aguadeiro de pedreiros, mata-os à sede, demorava-se, partia bilha em ralho de gente que queria água fria, mas tinha de a beber quente...
Na Santa Apolónea come a merenda, falta ao trabalho e o Ti António Valadeiro, pai do Carlos Catcheirinha entrega-o à família, para tratamento... malha de mãe.
Segunda finta.
Parte com o pai, João Rafael, vulgo João Seguérro, (Cigarro), para outras pedras, desta vez, brita.
Ao borracho, pôs aqui Deus a mão por baixo, providencial apendicite, aguda, qual taluda em baixa legal por doença, atestada pelo pai, fez toda a diferença.
De regresso às Casas Novas, vizinhança em abraço, festa faz ao borracho...
Terceira finta.
No Parteiro para carpinteiro, 5$00/dia, nem sarrafo nem folia, ganhar pouco e controlado todo o dia…
Vestia então o que havia, não apanhava sol e o que ganhava mal dava para um copo de tintol.
Na rua, todo o ano, poucos ligavam ao Adriano.
Remate para golo.
O amigo Amadeu, carpinteiro, que morava no Rossio, brilhante jogador do GDA, recentemente falecido em França, convida-o então com 16 anos, a trabalhar com ele em Lisboa a ganhar 45$00/dia.
Rapaz de léria sem entregar féria, ficava então com todo o dinheiro, algum em mealheiro, outro para trajar bem.
Casaco sport, calça vincada, sapato de tacão, sobretudo, só usava o que fosse bom, na Páscoa no Natal ou pelo Entrudo.
Seus pais
João Rafael, Cigarro, por fumar muito, passou parte da vida agarrado a martelão de 12Kg, nos rachões, a marrear pedra, nas britas.
Celeste da Ressurreição Castilho, doméstica, assistiam entre o embevecido e o espantado, à mudança do filho que de Adriano, passa a Dr. Albano, pois assim era tratado na vizinhança sem abastança.
Tropa, Lanceiros 2, Polícia Militar, Cabo nº 209, tinha sempre o registo de ocorrência limpo, não punia militares, e perante tal greve de zelo, o Alferes de nome, Faísca, convida o Adriano para gerir o bar da messe de oficiais.
Ainda mais dinheiro, Papilon, fatos por medida no Jorge Alves Pereira Mateus, vulgo Jorge Palhaço, já falecido, compras para a messe, idas a discotecas e bares, livro de assentos em bar de messe oficializado, pagos em fim de mês, empréstimos a oficiais, captura de poder, não usava carteira, tirava notas dos bolsos perante o espanto quer de pedreiros quer de canteiros, e até nos bailes da Associação, alto que era, só dançava com sapato de tacão.
Pondo de parte o lirismo, a sua tropa foi estância de turismo...
Estas andanças tiveram na sociedade de Alcains, por volta de 1966, quando o Adriano regressa da tropa, forte impacto nos costumes cerceados de então.
Fugindo da vida mundana de Lisboa, não queria voltar para as pedras, tinha apanhado alergia ao pó da madeira do Parteiro, e porque não estava habituado a viver de sobras, não queria ir para as obras.
Abre então a Tasca da Ti Maria Clara Borda Dágua, no Largo de Santo António, melhora com obras a casa e inova, comprando a primeira máquina de discos, música, para a malta nova.
Abria assim em Alcains, a primeira tasca/acafézada, ou por outro lado, o primeiro café/atascado.
Por outro lado e ao mesmo tempo, na Rua do Regato da Sola, a malta nova de então, entre os quais o Félix Rafael, o Cócas, o João Preto, o Joaquim Ramalho, o José Luís Amaro, o Manuel Pereira entre outros, tinha fundado a SANZALA.
À Sanzala, novidade das novidades, já iam as raparigas em companhia dos rapazes, havia bailes, bebiam-se uns pirolitos, umas gasosas e as “deslavadas” laranjadas Prata Cão, acondicionadas em grades de madeira.
Que me lembre, só entrei uma vez na Sanzala, pertencia então a outro grupo de malta…voltarei um dia ao tema...
Com dinheiro emprestado por amigos e familiares, compra o Adriano por 90 contos, quatrocentos e cinquenta euros, ao Amável Barata Castilho o barracão onde instalaria então o Café O RETIRO.
É o primeiro café digno desse nome em Alcains.
Café por baixo e salão de jogos no primeiro andar, com ping-pong, snooker, cartas... o café tinha as prateleiras de vidro, espelhos por detrás para os clientes se verem, bancos redondos no balcão, estrado para descanso dos pés, quadros nas paredes, mesas com cadeiras na sala, casa de banho, mas sobretudo um barmen que sabia atender clientes, afável, conversador, discreto e sempre de pano a limpar o luzidio balcão...
Emancipadas, começaram a vir pela primeira vez ao café O RETIRO, as raparigas que frequentavam a Sanzala, na sua maioria estudantes, e uma ou outra de mestra da Dona Palmira ou do Sr. José Marques Rafael.
E pouco a pouco, com ditos e mexericos, a coisa foi entrando... nos costumes, claro.
Conta o Adriano que chegava a vender 12 a 15 kg de rebuçados no fim de semana, era o “haxe” daquele tempo.
Relembra o incómodo causado em alguns clientes masculinos, rapazes do mesmo tempo, que não concordando com as raparigas no café, fizeram um enterro ao café, protagonizado pelo meu primo João Peralta e pelo Jorge Leituras.
O Adriano tem hoje 67 anos.
Não por ser e ter sido Milionário, mas principalmente porque ajudou precocemente Alcains a dar um passo, pequeno se avaliado com os olhos de hoje, mas muito grande pela evolução que com o seu esforço proporcionou na sociedade Alcainense.
Alterar usos e costumes em sociedades tradicionais não é fácil.
O Adriano Castilho Rafael, conseguiu e por tal facto, eu, estou grato.
Manuel Peralta
O MIL como factor de mudança de comportamentos…
ResponderEliminarConcordo perfeitamente que “ O Milionário” em plena década de sessenta contribuiu decisivamente para acelerar o comportamento da juventude, feminina claro, em Alcains.
Não tomavam “bicas” mas iniciaram-se com a ida aos rebuçados!
O Retiro para a época, era bastante acolhedor, o Adriano simpático no trato, e diga-se que em Alcains, era verdadeiramente o ponto de encontro.
Com uma tropa sem problemas em Lisboa, na Polícia Militar era um descanso, ganhou a experiência e a “endurance” para montar um negócio com pernas para andar em Alcains!
Muito mais tarde, talvez o 2 Pontos, tenha tentado a mesma via. Mas as pessoas, os espaços e os tempos já eram outros, e o Retiro ficou sempre como a referência.
Apreciei não a notícia claro, mas o facto do Blog ter falado no Amadeu. Um atleta do GDA que me recordo de ver jogar. Inteligente, com visão periférica, como hoje se diz, o Amadeu no seu tempo de GDA, era salvo erro um 8, de classe. Creio que se terá iniciado nos Juniores do Benfica de Castelo Branco, por onde também me recordo de ver jogar, o luxemburguês “Rola”, Martins de seu nome, e o Inácio “Patã”. Claro que o nosso parente Carlos, que carregou o Benfica de CB às costas e até o renascimento do Futebol em Alcains, merece um tratamento à parte.
O que farei oportunamente.
Que descansem em paz o Amadeu e todos os que com ele vestiram as listadas camisolas do GDA e que já partiram.
MC
Ainda os que já partiram…
ResponderEliminarE do GDA já muitos cá não estão. O tema falava do Amadeu, mas citava outro nome que também partiu cedo, e por ironia, também jogou no GDA – o JORGE Alves Pereira Mateus, que embora franzino, e nos pelados encharcados em que então se jogava, não deixava de ser um hábil avançado. Creio que terá jogado no GDA uns anos antes do Amadeu, e quiçá na mesma posição. Aqui fica uma palavra de saudade para o primo JORGE.
MC
O meu padrinho e o homem dos negócios =)
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