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sábado, 4 de dezembro de 2010

BLOG ABERTO - Gentes de 1949

O José Eurico Minhós Castilho, vulgo MC de Minhós Castilho e não MC de Mário Castrim, decidiu em acto de memória apurada, presentear-nos com um texto por ele vivido, baseado em factos que em tempos idos ocorreram.
Espectáculo organizado pela malta do reviralho de então, denominado grupo de anti-escuteiros, que praticavam uma solidariedade de actos e não de palavras...
Foram os anti-escuteiros, que organizaram um teatro cuja receita reverteu para se adquirir a primeira tenda, os primeiros tachos e toda uma séria de artefactos necessários aos escuteiros, que então, de farda e cantando a Flor da Fragância desfilavam pela aldeia, acampavam, faziam o Farrapeiro, cantavam as Janeiras, reabilitaram o volei-ball, faziam teatros, e só não ajudavam as velhinhas a atravessar as passadeiras porque, então não as havia... era a BA (Boa Acção) do dia...
Tinham os anti-escuteiros é claro, as suas prebendas.
Frequentavam os Fogos de Conselho, iam aos bailes das escuteiras, tinham acesso gratuito aos Cursos de Noivos e Dominiques, uma espécie avançada de Novas Oportunidades Religiosas, e a maior parte deles aplicaram-se com tal afinco que os contratos que foram estabelecendo, a custo foram cumprindo, e, agora que já não vale a pena, prometem continuar a cumprir.
Excepção por mim ainda não entendida, a do anti-escuteiro Ezequiel, que tendo passado com distinção no Curso de Noivos e aclamação nos Dominiques, decidiu por uma vida quase monástica, ele que teve um dos melhores aproveitamentos de sempre, nas então Novas Oportunidades Religiosas... não tinha “perpecção” para o casamento, como diz a minha mãe.
Voltando à memória do Zé Castilho.
O conjunto em palco eram, Os Sultões, e o Sílvio Lopes Baltazar foi vocalista dos Dragões Negros conjunto que antecedeu os Sultões…terá cantado a solo acompanhado pelos Sultões ou o Tombe la Neige do Adamô, ou a Silvie do Duo Ouro Negro.
A fadista que a foto documenta é a Natalinda, vulgo “Capadinha” que morava na altura na Rua do Regato da Sola e usava na altura uma franja à Mireille Mathiêu, como a foto documenta.
Presumo que ela não imaginará que o Zé Castilho lhe deu agora vida “no terra deles“...

MC apresenta a fadista Natalinda acompanhada por João Messias e Félix Rafael

Alcains tem belas ruas,
Avenidas mais de mil.
Mas a mais bela de todas,
É a rua do funil.

Trata-se de quadra de minha autoria, que passou dos Fogos de Conselho do Escutismo para as variedades dos teatros, cantada com outras quadras soltas em compasso de desgarrada... tratou-se de uma sátira a iniciativa da Junta da Freguesia de então, quando da destruição da sede antiga da Junta que ficava do lado direito quando se sobe a rua do Espírito Santo e se pretendeu abrir a rua que dá hoje acesso à rua do Vale do Bravo, hoje rua do Álamo.
Sem pretender competir com a memória do Zé Castilho, esclareço que pisou o palco como a foto abaixo documenta, quando a Volta a Portugal em Bicicleta teve uma final em Alcains.

1969
Final de etapa da Volta a Portugal em Alcains
Palco improvisado na Casa do Povo.

Minhós Castilho entrega prémios.

O nome da comédia referida é Brincadeiras de Carnaval.
Tenho algum material sobre este tema, que oportunamente darei a conhecer.
Obrigado e continua, MC.

Manuel Peralta

1949 - Ano de colheita vintage...

Quando pisei o mesmo palco que o Zé Amoroso Pedro... Vilar
O apontamento relativamente à colheita de 49, pelos vistos, de qualidade vintage, aqui há tempos publicado, fez-me recordar que tenho por aqui umas fotos que devem corresponder a umas Variedades, numa espectáculo a reverter para o Escutismo, na Casa do Povo, para aí em fins de Setembro de 1969.
As variedades, decorreram em estilo Zip Zip, que estava então na berra, e poderá ter sido uma das primeiras actuações ao vivo, daquele alcainense, que fez da vida artística, e com assinalável êxito, a sua vida. Aliás repartida entre Portugal e o Brasil, como a NET documenta.
Reportando-me no entanto ao espectáculo que teve lugar na Casa do Povo, com o pano aberto, e com o apoio dos Sultões, que davam também alguns dos seus primeiros passos, conduzi no formato referido, uma entrevista com o Tó Preto – que foi explicar o que era o Concurso o Homem Ideal Português – baseado num texto do Diário de Lisboa.

MC apresenta Tó Preto, que vai falar sobre o concurso, ”O Homem Ideal Português”.

Apresentei uma fadista, creio que de nome Natalina, conforme se vê na foto, e sempre com acompanhamento do João Messias e do Félix
Rafael, terei apresentado o Zé Amoroso.
Num espectáculo que se pretendia com ritmo, o Zé Amoroso, com o microfone na mão, naqueles tempos era um perigo; falava… falava, e quando lhe parecia, cantava…
Recordo-me de eu e o “homem do leme”, termos insistido com ele, nada de conversas para não atrasar isto, os espectáculos cénicos em Alcains, era sempre maratonas que iam até às tantas da madrugada, mas nada a fazer, ele era assim.

Zé Amoroso o Alcainense franzino na capa de um disco de 1980

Tocaram os Sultões, com os violas, Manuel Pereira, o Zé Manuel, o Horácio Serrasqueiro, o João Preto à bateria e o Sílvio Baltazar, o vocalista.
Houve um número de Jograis, em que entrou a esposa do “homem do leme”, que terá abordado algumas características de Alcains, (...) Alcains tem belas ruas, avenidas mais de mil, mas a mais bela de todas, é a Rua do Funil,(...); sei que ainda há quem se lembre…
O Messias, que não era da geração vintage 49, e o Félix Rafael, terão tocado “Os Vampiros”, só instrumental, porque cantar seria perigoso e o “homem do leme” creio que cantou, um poema da Mª Zé Beirão, que o seu irmão Félix musicara.
Isto tudo, no meio de um drama, que já dera para algumas lágrimas, dava sempre, “Matei o Meu Filho” a que se seguiria um momento de boa disposição com uma comédia.
Não recordo o nome, mas sei que o “homem do leme” surgia em palco, a dado momento, carregado de teias de aranha!...
Eram assim os espectáculos em finais de 69, com alguma abertura para a crítica, “era a primavera marcelista”, mas em que alguns temas, só com “pinças”!...
E em Alcains, nunca mais subi a um palco, excepto quando numas comemorações da elevação a Vila, na qualidade de antigo autarca, em finais da década de 80, me convidaram para entregar um prémio simbólico, a um alcainense que sempre se empenhou pelo progresso desportivo e cultural de Alcains, Vítor Serrasqueiro.
Aqui está como uma colheita de qualidade vintage, a mioria dos intervenientes naquele espectáculo seria desse ano, embora sem a acreditação de um auditor certificado, falha da organização, acaba por despoletar um rol de recordações, a alguém de 47.
Acerca da carreira de Pedro Vilar, que nunca vi actuar ao vivo e que só conheço via youtube, outros falarão com a propriedade e a justiça que o talento e a carreira do visado justificam.
MC

1 comentário:

  1. Anti – Escuteiros! Jamais, mas com pronúncia do Lino! Simplesmente Não Aderentes

    Para defesa da honra, forma regimental usada num local de muita peixeirada, que existe em Lisboa, aqui fica a minha declaração de voto.

    Creio até que foi o Elias, que já cá não está para atestar, quem lançou o
    anátema Anti, relativamente a quem não era dos……!

    Ainda no apontamento sobre o José Amoroso Pedro…Vilar, quase no fim do texto, existe uma estranha palavra, “mioria” que creio nem existe no dicionário, e é claro que eu queria dizer, maioria.

    Isto porque a geração de 49, deu à luz muitos artistas, que colaboraram naquele espectáculo, o que por associação a um produto de qualidade, e lembrei-me do Vinho do Porto, esse ano até mereceria a classificação de vintage!

    E também me esqueci de referir, que numa das fotos, está outro artista de várias artes, o Manuel Pereira, que benfiquista militante, foi futebolista de mérito no CDA e tocava e ainda toca, guitarra. Se necessário, eléctrica!

    De igual modo, o meu apontamento pretendeu recordar sem citar nomes, os alcainenses que na década de 60, com o engenho e arte que podiam, mantiveram acesa a chama do Teatro, o que fazia de Alcains, também por esse facto, uma terra diferente e melhor que as demais à sua volta. Claramente mais que uma aldeia, a merecer o estatuto que pouco depois lhe seria reconhecido.

    Quanto à minha “encadernação” a entregar os prémios, na 1ª chegada da Volta a Portugal a Alcains, os usos e costumes da década que estava a terminar, ainda não tinham acabado com o fato completo e a gravata, mesmo no pino de Agosto, desde que se fosse "festeiro". Em minha defesa, a foto foi num palanque montado na esplanada da Casa do Povo, com as dimensões requeridas pelo Francisco Nicholson, responsável pela caravana artística, e onde à noite decorreu esse espectáculo.

    Claro que depois ainda pisei um palco em Noqui. Antes isso que uma Mina!...

    Isso porém são outras “estórias” e Memórias.
    MC

    Outros textos e fotos de MC:

    Panoramio photos by Jose Castilho

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