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domingo, 3 de novembro de 2013

José Ricardo Ferreira

Nascido no ano de 1976, o José Ricardo era um rapaz da minha geração. Conheci-o desde que me conheço a mim e desde ‘sempre’ partilhámos a infância muito perto um do outro. Nunca foi rapaz de livros e a secretária da escola, onde raramente parava quieto, estava cheia de ‘bichos-carpinteiros’. Cedo se percebeu que nunca seria doutor, desses como agora há muitos, mas eu desde cedo percebi o rapaz que era, confirmando mais tarde no Homem que se tornou, desses como agora não há muitos. As mãos ásperas de quem trabalhava a pedra, profissão nobre na vila de Alcains, contrastavam com a maneira afetuosa com que abraçou a vida.

Amigo fiel, respeitador e humilde, educado e verdadeiro, do José guardarei para sempre na memória as futeboladas das tardes de verão no campo ao lado da ribeira da Líria, as brincadeiras com as pressões de ar pelos terrenos da casa do povo, as incursões pelas hortas alheias em busca de fruta, as semanas de acampamento em Castelo Novo na casa do Serrasqueiro, na barragem da Idanha e ao pé da linha de comboio, as idas à piscina de Alpedrinha e as noites passadas no tijolo do Pedro Infante... enfim, muitas e muitas memórias.

Conheci-lhe muitas ’namoradas’, seduzidas pela conversa de malandro de alguma experiência vivida, logo após sentarem o rabo no assento traseiro da CBR600. Assim que teve a carta de condução já tirava o carro do estacionamento usando apenas o travão de mão e o acelerador. Amante da velocidade e propenso ao azar, sempre lhe confidenciei que à semelhança dos gatos também ele tinha 7 vidas… aparentemente não! Não foi a queda de bicicleta na descida da barreira da escola primária que lhe custou o baço. Não foram as quedas da mota que teve os autocolantes de origem pouco tempo, nem dos azares na altura do madeiro da malta de 76. Foi bem longe, a milhares de quilómetros da sua origem que perdeu a vida. Sobreviveu a uma queda de uma altura equivalente a um terceiro andar, mas sucumbiu às rasteiras da vida, que gradualmente lhe era retirada.
A tua partida foi prematura. A mim deixas-me a sensação de um vazio que não será preenchido. Viverás na minha memória pois à semelhança de outros amigos do nosso tempo, como é o caso do Sequeirinha, nunca serás esquecido. Permanecerás entre nós vivo e sorridente, de memória em memória, lembrança em lembrança.

A ti meu Amigo, nestas palavras deixo o meu ‘até sempre’ e o meu Obrigado. Pelos momentos que passámos, pelas cervejas que bebemos, pela fruta que roubámos e pelas conversas que partilhámos. Um dia virá que nos voltaremos a cruzar. Onde quer que estejas bastará perguntar por ti para te encontrar, pois pela pessoa que és, de certeza que toda a gente te conhecerá…

Obrigado por tudo, Cabeça.
Aquele abraço.

Pedro Miguel Pereira Peralta

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