A Maior Artista
Maior porquê?
Advogado da Honra, Casa de Pais, Matei o Meu Filho, O Lobo no Povoado, em dramas, Brincadeiras de Carnaval, Barnabé vai Casar, Um só Par de Botas, em comédias, Flor da Aldeia em Opereta, Senhor de Matosinhos, Recrutas e Sopeiras em duetos musicais de tudo um pouco, comediou, dramou e melhor cantou a Jacinta.
A foto retrata a família, seu Pai, Manuel Godinho que trabalhou no lagar do Sr. Gabriel Valente e distribuía pirolitos e salsicharia pelas aldeias, sua Mãe, Ricardina Clara, doméstica, seu irmão José precocemente falecido, e a Jacinta.
Viúva, fez a 4ª classe já adulta, nas Freiras, Irmãs Franciscanas de Maria, e com orgulho mostra a sua carteira profissional de Encadernadora Manual, profissão que exerceu desde os 14 anos nas Fábricas Lusitana de Alcains.
Nas Freiras, no Solar, as raparigas de então desenvolviam as suas capacidades a vários níveis, civilidade, costura, cozinha, etiqueta, dança, instrução básica elementar, canto, e claro TEATRO.
Tinham apresentado ao público, em encerramento de actividades, uma comédia denominada As Manas de Paio Pires.
Entre outras contracenaram com a Jacinta, a Carminda André e as MANAS de Alcains, gémeas, filhas do Ti Chico Preto, de nome Teresa e Otília.
Consta que, do patinho ao telhado em casas de sobrado, a comédia terá dado brado, até foi ao jornal, correu de porta em porta da barbearia do Vaquinha à do Pedal...
Ninguém dizia mal...
Mas, as gentes do teatro, as artistas, porque nem só no palco davam nas vistas, não eram socialmente bem vistas.
E imagino o Ti João Pereira, marido da Crisálida, extremosa filha do Ti Tobias que era simpático todos os dias, a paciência que terá tido para convencer a mãe da Jacinta, uma clara Ricardina em deixar sair a sua menina.
Duas vezes tiveram de por munha, carvão de lenha miúda, na braseira.
Mais, mexeram munha e caramunha, já com o Ramiro e o Cocharra à cunha...
Só com paciência de Armando, dizia o Caldeireiro de vez em quando.
Lá foi.
Na JOC, na Associação, na Casa do Povo a Jacinta contracenou com quase tudo o que era artista de papel principal.
Não se atagantava, e o ponto dormia descansado, pois como era dotada de uma memória exceptional e uma capacidade de memorizar rara, sempre que surgia impedimento de artista de última hora, lá estava a Jacinta.
Entre outros, para memória futura, este programa data de 1964 e mostra aquilo que foi a actividade cultural mais relevante em Alcains, o TEATRO.
Trabalhadores, estudantes, irmanados num mesmo propósito, valorizar Alcains e valorizarem-se...
Sempre, em todo o lado a Jacinta, bem acompanhada neste caso pela Maria do Carmo Pequenão Ferreira.
Desta vez sem ponto, nem o Belo da Silva, nem o Da Silva Belo.
O Ti Manel Pratinha corria o pano.
EM OPERETA
Na Opereta Flor da Aldeia, fazendo de Menina Antoninha, contracenando com o Rui Caldeireiro, fazendo de Menino Zuquinha...
Dizia o Rui.
De rir às lágrimas...
EM VARIEDADES
Acompanhada pelo Félix Rafael e pelos irmão Messias, a Jacinta cantava vários fados nomeadamente o Xaile de Minha Mãe, que interpretava de forma especial... nos coros, no rancho durante 20 anos, na Encomendação das Almas, nas Ladaínhas, enfim a Jacinta foi para mim, que me lembre, a mulher de Alcains que mais contribuiu para a elevação da cultura popular em Alcains.
No seu espólio, que gentilmente me cedeu para dele dar pública nota, mostro a seguir as capas de várias peças.
Nos teatros também se lutava por ser primeira figura, e claro, os produtores e realizadores do espectáculo, também tinham as suas preferências...
Estava muito em voga, na crista da onda, uma música denominada o Fadinho, assim.
Vieram as partituras para os instrumentos e o fado era para ser cantado nas variedades pela Jacinta, mas... foi dado à Deolinda Pirilau, que desafinou e teve de se parar, para se acertar o tom...
Nem imaginam o que foi nos bastidores, eu estava lá a preparar-me para cantar a balada do Soldadinho não Volta, e assisti... lindo e bonito, ali foi dito.
O Sr. Joaquim Teixeira em violino, o Ti Zé Sequeira em banjo, o Ti Vitor Pintor em saxofone, eram os músicos de serviço que acompanhavam os artistas nos fados, duetos, operetas e demais cornetas...
Quando o Sr. Joaquim Teixeira dizia, vamos DAR RESINA AO ARCO, queria dizer, vamos ao bar beber um copo, ponche quente, e até aguardente.
A Jacinta ainda hoje canta bem, e à boleia da memória dela, em tarde chuvosa, trauteámos o Meu Amor ó Noiva Querida do Damião, Óh Cartolinha Meu Amor, das Adelaides, Tens um filhinho Teresa, do Ti Domingos Cocharra, e que lindo que ele é, como se parece com o meu que eu tinha e que também morreu, ah... (chorando)... do Sebastião Rabisca, Rabisca Sebastião, do Dr. Salsaparrilha, enfim, uma vida cheia, ao serviço da cultura popular.
Comédia, dança, drama e cantiga, mas com muita pinta, só a Jacinta.
Manuel Peralta
Maior porquê?
Advogado da Honra, Casa de Pais, Matei o Meu Filho, O Lobo no Povoado, em dramas, Brincadeiras de Carnaval, Barnabé vai Casar, Um só Par de Botas, em comédias, Flor da Aldeia em Opereta, Senhor de Matosinhos, Recrutas e Sopeiras em duetos musicais de tudo um pouco, comediou, dramou e melhor cantou a Jacinta.
A foto retrata a família, seu Pai, Manuel Godinho que trabalhou no lagar do Sr. Gabriel Valente e distribuía pirolitos e salsicharia pelas aldeias, sua Mãe, Ricardina Clara, doméstica, seu irmão José precocemente falecido, e a Jacinta.
Viúva, fez a 4ª classe já adulta, nas Freiras, Irmãs Franciscanas de Maria, e com orgulho mostra a sua carteira profissional de Encadernadora Manual, profissão que exerceu desde os 14 anos nas Fábricas Lusitana de Alcains.
Nas Freiras, no Solar, as raparigas de então desenvolviam as suas capacidades a vários níveis, civilidade, costura, cozinha, etiqueta, dança, instrução básica elementar, canto, e claro TEATRO.
Tinham apresentado ao público, em encerramento de actividades, uma comédia denominada As Manas de Paio Pires.
Entre outras contracenaram com a Jacinta, a Carminda André e as MANAS de Alcains, gémeas, filhas do Ti Chico Preto, de nome Teresa e Otília.
Consta que, do patinho ao telhado em casas de sobrado, a comédia terá dado brado, até foi ao jornal, correu de porta em porta da barbearia do Vaquinha à do Pedal...
Ninguém dizia mal...
Mas, as gentes do teatro, as artistas, porque nem só no palco davam nas vistas, não eram socialmente bem vistas.
E imagino o Ti João Pereira, marido da Crisálida, extremosa filha do Ti Tobias que era simpático todos os dias, a paciência que terá tido para convencer a mãe da Jacinta, uma clara Ricardina em deixar sair a sua menina.
Duas vezes tiveram de por munha, carvão de lenha miúda, na braseira.
Mais, mexeram munha e caramunha, já com o Ramiro e o Cocharra à cunha...
Só com paciência de Armando, dizia o Caldeireiro de vez em quando.
Lá foi.
Na JOC, na Associação, na Casa do Povo a Jacinta contracenou com quase tudo o que era artista de papel principal.
Não se atagantava, e o ponto dormia descansado, pois como era dotada de uma memória exceptional e uma capacidade de memorizar rara, sempre que surgia impedimento de artista de última hora, lá estava a Jacinta.
Entre outros, para memória futura, este programa data de 1964 e mostra aquilo que foi a actividade cultural mais relevante em Alcains, o TEATRO.
Trabalhadores, estudantes, irmanados num mesmo propósito, valorizar Alcains e valorizarem-se...
Sempre, em todo o lado a Jacinta, bem acompanhada neste caso pela Maria do Carmo Pequenão Ferreira.
Desta vez sem ponto, nem o Belo da Silva, nem o Da Silva Belo.
O Ti Manel Pratinha corria o pano.
EM OPERETA
Na Opereta Flor da Aldeia, fazendo de Menina Antoninha, contracenando com o Rui Caldeireiro, fazendo de Menino Zuquinha...
Dizia o Rui.
O Coração do meu peito,
Está dentro do peito do seu coração...
E se a Rosinha, sentir no seu peito...
O meu peito, a bater pelo peito do meu coração?
Então o seu coração que salte,
Do seu peito,
Para o peito do meu coração.
Está dentro do peito do seu coração...
E se a Rosinha, sentir no seu peito...
O meu peito, a bater pelo peito do meu coração?
Então o seu coração que salte,
Do seu peito,
Para o peito do meu coração.
De rir às lágrimas...
EM VARIEDADES
Acompanhada pelo Félix Rafael e pelos irmão Messias, a Jacinta cantava vários fados nomeadamente o Xaile de Minha Mãe, que interpretava de forma especial... nos coros, no rancho durante 20 anos, na Encomendação das Almas, nas Ladaínhas, enfim a Jacinta foi para mim, que me lembre, a mulher de Alcains que mais contribuiu para a elevação da cultura popular em Alcains.
No seu espólio, que gentilmente me cedeu para dele dar pública nota, mostro a seguir as capas de várias peças.
Nos teatros também se lutava por ser primeira figura, e claro, os produtores e realizadores do espectáculo, também tinham as suas preferências...
Estava muito em voga, na crista da onda, uma música denominada o Fadinho, assim.
O fadinho, mora sempre por castigo,
Num bairro antigo, num bairro antigo.
E a seu lado pra falarem à vontade,
Mora a saudade, mora a saudade.
...
Num bairro antigo, num bairro antigo.
E a seu lado pra falarem à vontade,
Mora a saudade, mora a saudade.
...
Vieram as partituras para os instrumentos e o fado era para ser cantado nas variedades pela Jacinta, mas... foi dado à Deolinda Pirilau, que desafinou e teve de se parar, para se acertar o tom...
Nem imaginam o que foi nos bastidores, eu estava lá a preparar-me para cantar a balada do Soldadinho não Volta, e assisti... lindo e bonito, ali foi dito.
O Sr. Joaquim Teixeira em violino, o Ti Zé Sequeira em banjo, o Ti Vitor Pintor em saxofone, eram os músicos de serviço que acompanhavam os artistas nos fados, duetos, operetas e demais cornetas...
Quando o Sr. Joaquim Teixeira dizia, vamos DAR RESINA AO ARCO, queria dizer, vamos ao bar beber um copo, ponche quente, e até aguardente.
A Jacinta ainda hoje canta bem, e à boleia da memória dela, em tarde chuvosa, trauteámos o Meu Amor ó Noiva Querida do Damião, Óh Cartolinha Meu Amor, das Adelaides, Tens um filhinho Teresa, do Ti Domingos Cocharra, e que lindo que ele é, como se parece com o meu que eu tinha e que também morreu, ah... (chorando)... do Sebastião Rabisca, Rabisca Sebastião, do Dr. Salsaparrilha, enfim, uma vida cheia, ao serviço da cultura popular.
Comédia, dança, drama e cantiga, mas com muita pinta, só a Jacinta.
Manuel Peralta
E já lá vão mais de 36 anos…
ResponderEliminarO programa do Advogado da Honra é um achado! Significa tão só o primeiro espectáculo teatral na Casa do Povo. Uma estreia, que até mereceria uma placa assinalando a data, por aquilo que aquele palco daí para a frente significou, para a manutenção do amor ao Teatro e fulcral para o desenvolvimento de projectos de outra qualidade. Em suma, foi um pontapé para a frente na Cultura em Alcains.
Não foi fácil esse arranque. Foi necessário montar um palco, cortinas, bastidores, em suma, tudo…numa sala que não contemplava esta finalidade.
João José Baptista, então à frente da Casa do Povo, fez a sua parte: o Palco.
Tudo o resto e não era pouco, coube ao grupo de intérpretes, que pintaram cenários, trataram dos figurinos com uma Casa em Lisboa, e pediram emprestada a mobília para o decor, nomeadamente um maple, um adereço necessário e que naqueles tempos, poucas casas em Alcains dispunham e muito menos disponíveis para emprestá-los para o Teatro.
Duas datas e que me recorde, cheia a rebentar pelas costuras a primeira, e uma boa casa, a segunda.
Era o tempo em que as aulas começavam no início de Outubro, e o meu pai estava renitente em deixar-me vir de Castelo Branco, e foi necessário o Padre Álvaro passar pela forja, e convencer o “Xquim Regedor” a autorizar o filho a vir actuar na 2ª sessão já em Outubro.
Quanto às Variedades é que me parece que houve dificuldades inesperadas.
Creio que as hipóteses José Beirão, o “Zé Patola” e Armindo Santos, falharam.
Salvou-nos o Fernando Serra, que declamava como poucos, acompanhado por um virtuoso da guitarra, o Costa Branco e a viola do Carlos Correia, que até aqui andara na Escola Primária, quando a sua mãe aqui leccionara.
Porém creio que na 2ª sessão, até o Fernando Serra, terá vindo desfalcado. No entanto, foi a primeira vez que os alcainenses ouviram o Fado Falado popularizado por Villaret, e muitos terão começado a gostar de Poesia.
Creio que na 2ª sessão, até houve um cantor de Castelo Branco, à “capella” e recordo-me de Vitor Serrasqueiro me dizer, que Alcains já merecia mais que aquilo.
E tinha razão. Mas o calcanhar de Aquiles daquela organização era claramente a parte musical.
Quanto às peças propriamente ditas, correram bem. Cada um caracterizou-se conforme sabia e podia. As casacas tinham vindo de Lisboa, de uma casa da especialidade, de onde veio também o guião creio, e que eu, porque tinha boa firma de letra, como diria o Ezequiel, desdobrei os papéis para os diferentes intérpretes. O Elias levou uma boa dose de pó talco no cabelo, para o envelhecer, eu que fazia de vilão, descobri um colete do meu avô e umas gravatas largas, para compor e recordo-me que o Ezequiel, o candidato à mão da filha do marquês de Nevogilde, apareceu-nos penteado de risco ao centro. O Zé David e o João Sequeira, já não recordo como surgiram, assim como as damas, porém creio que a Jacinta, a filha do marquês, ia de vestido com cauda.
Na Comédia, não havia estas preocupações. Era tudo muito mais informal. E até a habilidade para meter “buchas” dependia do artista.
Os programas foram elaborados na Tipografia da Lusitana, onde o Elias então trabalhava e o “Zé Tipógrafo”, fechava os olhos…
E os preços, eram os normais para a época: 10$ (5 cênt), 7$50 (3,75 cênt) e 2$50 (1,25 cênt). Hoje seria o diabo com estes trocos…
Como tudo mudou…
Escuteiro seria o Elias. Os restantes, eu, o Ezequiel, o Zé David e o João Sequeira, não aderentes. Porém irmanados num projecto comum. Creio que uma placa assinalando no local esta data, não é uma ideia totalmente destituída de sentido!
MC
Textos e fotos de MC relativos à Guerra Colonial, em:
Panoramio photos by jose castilho
E já lá vão mais de 46 anos...
ResponderEliminarÉ este o título que deveria ter encimado o comentário anterior.
Sou do tempo em que se cantava a tabuada e é imperdoável o lapso.
As minhas desculpas a quem por aqui passa.
MC
Uma indelicada emenda…
ResponderEliminarInvoluntariamente ao chamar a atenção que sobre a peça “O Advogado da Honra”, que estreou o palco da Casa do Povo, em 27 de Set. de 1964, e que sobre essa data, já tinham decorrido não 36, mas 46 anos, coloquei em cima dos intérpretes dessa saga, o peso de mais 10 anos na sua idade.
E se no que respeita aos rapazes que na altura teríamos idades que rondariam os 16, 17, 18 anos, não existe qualquer preconceito, relativamente às senhoras, o tema da idade normalmente assume outra sensibilidade e é este o caso da Jacinta Godinho e da Maria do Carmo.
E é no mínimo indelicado, sugerir sequer que as senhoras têm mais 10 anos, do que resultava do meu comentário inicial.
E confesso que me lembro particularmente bem da Jacinta e do irmão, a que já algures por aqui fiz referência, pois morávamos na mesma rua.
Quanto à Maria do Carmo, e penitencio-me por isso, já não recordo as feições.
Tenho pena de não ter assistido a muitas das performances teatrais da Jacinta, mas acredito piamente, naquilo que o “homem do leme" descreve.
A cultura em Alcains, o gosto pelo Teatro, que passou de geração em geração, e que após o 25/4 desabrochou em projectos com outra envergadura e consistência, foi resultado da sementeira das décadas anteriores.
E acredito que nas décadas de 60 e 70, sobretudo, a Jacinta seria sempre um nome nos elencos que subiam ao palco da Casa do Povo.
Quando ainda não era fácil envolver as raparigas / mulheres nestes projectos, a Jacinta se não foi a pioneira, esteve na primeira linha.
E termino enviando-lhe, aquilo que em cima de um palco, um intérprete de qualquer arte, gosta de ouvir: Palmas! Muitas palmas para a Jacinta!
Com amizade e saudade dos 16 anos que eu ainda
tinha, quando na pele de vilão entrei no Avogado da Honra!
MC
Um Só Par de Botas… um texto que foi longe
ResponderEliminarNo conjunto de elementos gráficos e fotos que compõem o texto em torno do papel de Jacinta no panorama da cultura popular em Alcains, achei interessante a capa de uma peça com este nome tão singular !...
Terá sido representada que me lembre, talvez em 63 ainda na JOC, como a componente cómica de um espectáculo que tinha como peça de fundo, o Matei o meu Filho! Ambas as peças apenas com rapazes.
Creio que dessa vez, era a minha estreia nestas lides, o espectáculo, foi rodeado de um enorme stress, pois havia um intérprete, que era difícil amarrar aos ensaios e estou a recordar-me especialmente do Toneca “Bicho”, que íamos procurar ao Tio Domingos à Praça, entretido a jogar matraquilhos, estando nas tintas para o par de botas, e como aprendiz de mecânico que era, na véspera do espectáculo, se sai com esta: (…) « Não sei se virei a horas; amanhã vou desempanar um carro para os lados do Orvalho, e não sei a que horas volto (…)».
O que vale é que isto se passava de Verão, os dias eram longos, eram as férias dos estudantes de então, sabíamos lá onde ficava o Algarve, e o Toneca “Bicho” claro que chegou a horas!
Mas lá que nos moía, moía… O único, talvez com alguma experiência nestas lides, seria o Elias que já entrara no ano anterior numa peça e que tinha maior capacidade de encaixe, para estas atitudes de “vedetas”.
A peça tinha contudo um fio condutor que provocava algumas gargalhadas. Creio que o Sebastião Barata, terá feito o papel principal.
Mais tarde talvez em 68, com o “homem do leme” no IIC, actual ISEC em Coimbra, estávamos metidos na organização da festa de recepção aos novos alunos, e creio que é o Ezequiel, que nos sugere, porque não encenam aqui o Um Só Par de Botas.
A malta até é capaz de gostar!
Escrevemos de Coimbra ao Elias e quase na volta do correio, o Elias envia-nos o desejado guião.
Conhecíamos a peça, o “homem do leme” tinha também na sua turma, uns gozões, recordo um deles de nome Batalha, não foram necessários grandes castings, apenas uma adaptação no texto, de modo a trocar um papel masculino por um feminino, para dar lugar a uma Aurora, parece-me que o Ezequiel ainda deu uma ajuda nos ensaios, e num palco ainda com mais carências que o da Casa do Povo, já que aqui a zona recuada do palco funcionava naquele dia como Bar e aí vamos nós.
Creio que eu e o “homem do leme” fizemos os papéis principais, os outros improvisados actores também entraram no espírito da peça, e foi um sucesso.
É por isso que eu digo que Um Só Par de Botas, foi um guião que teve uma carreira que foi longe,… de Alcains… a Coimbra!
MC
Rui “Caldeireiro” – um Cantinflas com sucesso…
ResponderEliminarUm dos elementos gráficos deste tópico, mostra o Rui, noutro papel, de igual modo em cena de humor, contracenando com a Jacinta!
Porém mesmo não dominando o “mexicano”, o Rui “Caldeireiro”, teve a sua consagração na década de 70, como o melhor imitador de Cantinflas que Alcains conheceu!
Com um chapéu que já conhecera melhores dias, um raquítico bigode, uma camisola interior branca, de preferência já “surrada” e uma garrafa vazia, presa a um cordel suspenso de uma vara, o Rui provocava gargalhadas. Tipo palhaço ingénuo e pobre…
Eram uma espécie de “stand-up comedy”, os seus monólogos!
Aqui fica o registo que lhe era devido!
MC
Um fenómeno teatral chamado Casa de Pais
ResponderEliminarCreio que entre finais da década de 60 até aos anos 80, esta terá sido a peça mais representada pelos amadores alcainenses.
A razão para tal apetência por esta peça, tinha raízes nas Noites de Teatro na RTP, ainda a preto e branco, onde foi exibida, creio mais que uma vez.
Por casualidade o autor Francisco Ventura, não era de muito longe. Nasceu no Gavião, Alto Alentejo em 16.02.94 e faleceu em 26.08.1994.
Bem conversado, o autor, pela quantidade de vezes que a peça aqui foi levada à cena, bem poderia ter sido convidado a vir conhecer os amadores frenéticos e ferrenhos da sua obra.
Que reunia todos os condimentos para agradar.
Lê-se na NET, que o autor (…) «com 23 anos foi trabalhar para Lisboa,como empregado comercial, tendo conseguido tirar o Curso no Ateneu Comercial de Lisboa.Enquanto trabalhava colaborava periodicamente na imprensa da época. Depois de uma incursão pela Poesia, dedicou-se ao Teatro, com textos que conjugam algo dos autos vicentinos com a inspiração rústica, eivada de uma intenção pedagógica moralizante (…)».
Casa de Pais foi editada e 1963.
E escassa meia dúzia de anos após publicação, seduzia os amadores de muitas regiões do país e Alcains, não era a excepção.
Não muito vulgar seriam as inúmeras repetições em anos quase sucessivos, aqui levadas a cabo!
Não serão muitos os alcainenses com mais de 50 anos, que terão escapado a uma dose de Casa de Pais.
E sempre com muitas lágrimas à mistura ao longo dos 3 actos,que só uma delirante comédia conseguia atenuar.
E foi assim a “febre” de Casa de Pais em Alcains! Um verdadeiro alfobre de amadores teatrais…
MC
A Opereta Flor de Aldeia… emblemática na cultura popular
ResponderEliminarÉ mais uma obra emblemática para os amadores alcainenses. Mas não só. Abundam na NET, referências a esta opereta, que um pouco por todo o país, fazia parte do currículo de muitos grupos teatrais amadores.
Tenho ideia que terei assistido uma vez a esta opereta. Que exigia já uma certa organização, porque as partes musicais não permitiam improvisos, e era necessária uma coordenação que não seria fácil.
Não sei se a versão que vi representar teria exactamente este trama e as mesmas personagens que retirei da NET, e que caracterizava o teatro que retratava um país rural, parado no tempo, distraído, à espera do que se viu…
(…) « O enredo descreve a história de Rosinha, a moça mais bonita e cobiçada lá da aldeia . Dois pretendentes degladiam-se na disputa do seu amor; um é rico, mas…muito pateta; o outro é pobre, valdevinos, mas …tem uma paixão sincera por Rosinha. Qual irá Rosinha escolher? A Antónia uma amiga verdadeira dará uma ajuda. O Tomé, o Regedor, o francês Cangireau e algumas camponesas juntam-se à história, que ao som das músicas mais inesperadas, cantam e dançam (…)».
Interrogo-me se A Flor de Aldeia, que vi representar com agrado na Casa do Povo, teria mesmo estas personagens; é que já não consigo recordar.
Fica a memória… sobretudo para aqueles que alguma vez a interpretaram e já não estão entre nós.
MC
Continuando a esmiuçar o tópico…
ResponderEliminarA foto em que a Jacinta surge a cantar acompanhada à viola, parece-me de perfil, que este é o Manuel Pereira.
O pormenor mais interessante desta foto quando se tenta ampliar a mesma, é em primeiro plano, o detalhe do cadeirão de boa madeira, com o emblema da Vila de Alcains.
É obra de marceneiro de qualidade!
Quanto à afinação de vozes e cordas, os artistas eram seguros!
E o pessoal gostava!
E no ano a seguir havia mais…
MC