O grande amigo de Alcains, escritor, José Sanches Roque, adquiriu em tempos, década de 60, uma propriedade na zona denominada, Estalagem, na estrada nacional 18, do lado esquerdo a caminho da Lardosa. Viveu em Alcains nesses tempos e, como homem de cultura que foi, sempre com a Cultura, em Alcains, se preocupou.
Deve-se a ele e ao José Manuel Sanches Belo, em conjunto com outros então estudantes, a criação da BIBLIOTECA ALCAINENSE.
O José Manuel Belo era um tipo porreiro, natural do Palvarinho mas que desde muito cedo, com os seus pais, habitou em Alcains. Por ser amigo de ambos, também com eles colaborei, apesar de estudar em Coimbra, para que Biblioteca de Alcains, fosse uma realidade.
E, foi.
A foto supra, recente, na entrada da rua das Casas Novas, mostra onde funcionou durante muitos anos a Biblioteca, em casa cedida gratuitamente, pelo Sr. Nicolau e sua esposa a Ti Céu Paralta, que tinham então uma loja frente à casa do Senhor Raul, ali pelo adro da igreja matriz.
Os livros em Alcains estavam dispersos por várias coletividades, Junta da Freguesia, Liga dos Amigos de Alcains, casa do Povo, Clube Recreativo, JOC, sede dos Escuteiros, entre outras coletividades, isto na década de 1960.
A Biblioteca tinha os seus sócios e, toda a vida administrativa da dita, estava então a cargo do José Manuel Belo. Classificação dos livros por temas, elaboração da lista dos sócios, controlo das saídas e entregas delivros para ler em casa, isto todas as terças e quinta feiras de tarde, em que o Belo estava presente.
Por me parecer cartão único que ao longo do tempo guardei, dou a conhecer o cartão de sócio da Biblioteca Alcainense.
E, claro lá está, tudo feito pelo Belo, desde o preenchimento do cartão até à sua assinatura como Presidente. Eventualmente será talvez o testemunho único existente da sua firma de letra, assinada com tinta "KINK", tinta para caneta de tinta permanente.
E, assim, com o Belo à frente da Direção da Biblioteca os Alcainenses tiveram à sua disposição uma fonte de cultura, uma vez que a carrinha da Gulbenkian deixou de prestar esse excelente serviço, de cultura, em todo o país.
Entretanto passaram vários anos e, em 1979 com as primeiras eleições em democracia para as Câmaras e Juntas das Freguesias, acabo por ser eleito para a Freguesia de Alcains.
Os proprietários da casa da Biblioteca foram ter comigo à Junta, moravam perto, para que os livros dali fossem retirados, de modo a ficarem com a casa livre e, a necessitar de obras.
Ainda tiveram de suportar mais uns meses a situação até que a Junta teve de encontrar uma solução.
Disso deu nota Sanches Roque no Jornal do Fundão, nota que convido a ler.
Numa carpintaria de Alcains foram construídos cinco armários com estantes internas, portas de vidro e colocados no primeiro andar da sede da Junta e, para ali foram recolhidos e emprateleirados todos os livros que andavam dispersos pelas várias coletividade da nossa terra.
Ali estiveram vários anos e presumo que estarão agora no edifício da sede da antiga Associação dos Canteiros de Alcains, fechados e, sem qualquer utilidade...
Voltando a José Manuel da Silva Belo.
Como referi, fez parte de um enorme grupo de amigos, estudantes, escuteiros, ele que fez o Curso Comercial de então. Trabalhou como contabilista e, no nosso grupo de estudantes que representaram na Casa do Povo, várias peças de teatro, o Belo fazia sempre de "ponto", pois era ele que debaixo do palco nos ajudava sempre que nos esquecíamos do texto a representar.
Nos prospetos de publicidade às peças, vinha sempre, Drama, Ponto, Belo da silva... Comédia, Ponto, da Silva Belo.
Na sua casa pelas madrugadas das férias, com o Zé Caldeira, o Luis Lopes entre outros, a comer pão quente e umas toras de presunto ou chouriço, foram tempos de amizades irrepetíveis.
O Belo mais um outro grande amigo o Sebastião Barata, ex gestor da CGD, este com sete anos de seminário, e um excelente ouvido musical, concorreram uma vez ao festival da canção. O Sebastião fez a música e o Belo o poema que, de memória cito uma quadra que não mais esqueci.
As estrelas que do céu
Me estão sempre a fitar
São tão tristes como eu
Quando estou a meditar.
Foi uma pena, este amigo Belo, não apenas de nome, ter partido tão cedo. Da sua amizade fica, para a posteridade, este meu breve apontamento.
Manuel Peralta
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