Páginas

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

IN MEMORIAM

Maria Clara Belo Rafael
1929 - 2015


Parte hoje para junto de ti Senhor, um dos corações mais bondosos que conheci na vida. A minha Tia que hoje acolhes no teu regaço, foi um símbolo de união em toda a nossa familia. A ironia da vida tem destas coisas, sem nunca ter subido ao altar para iniciar a sua própria família, foi a peça fulcral e um porto seguro para todos nós, ‘Rafaeis’, Mateus, Peraltas…

Desde cedo abdicou dela própria em prol dos outros. A partida prematura do seu Pai (o meu Bisavô) traçou-lhe o destino e o caminho do seu percurso pela terra. Cuidou da sua Mãe na velhice com o mesmo amor com que ela a cuidou em criança. Quando a hora da Avozinha chegou, ergueu a cabeça e olhou novamente para o lado, para mim e para a minha irmã. Miúdos de fraldas e de escola com a mochila às costas, partilhou a sua cama com a minha irmã noites sem fim, que acredito que desde essa altura nunca dormiu tão aconchegada.

Esteve presente em todos os momentos da nossa vida, nos bons e nos maus, mas sempre com o mesmo sorriso e palavras meigas.
Na minha memória ficará para sempre o fresco do corredor de cimento da tua casa nas tardes quentes de verão e o teu lugar no sofá à luz do candeeiro, de agulha e dedal na mão, bordando memórias que estão agora espalhadas nas casas de todos os teus sobrinhos.

Foste irmã, tia, tia avó, tia bisavó. As gerações da nossa família guardar-te-ão na memória. Foi na janela da tua casa que a Ana da Mila confundiu um burro com um cão e que o João te começou a chamar de ‘tia Calila’. Nessa mesma casa reunias todos à mesma mesa de volta do cabrito recheado e do bacalhau à Brás. Festejávamos os Santos, um a um e em família.

Na contabilidade da vida o teu saldo é claramente positivo. Não ficaste a dever nada a ninguém e todos nós te devemos muito do que temos e do que somos hoje.
Mesmo sem diploma nem doutoramento, proporcionaste a todos nós o acesso a muito do que temos hoje. Contigo viajei de avião pela primeira vez para terras de Inglaterra e Escócia, e aprendi a fazer o melhor arroz que alguma vez provei na vida.

Partes hoje com a mesma serenidade com que abraçaste a vida, pautando as tua ações pela ajuda aos teus familiares e amigos. O Céu para onde agora vais nunca mais será o mesmo. O pó estará sempre limpo, haverão toalhas bordadas em todas as mesas e o aroma doce da tua cozinha será sentido ao longe. Juntas-te a outros que já partiram. Levas contigo a nossa saudade dos meus avós Adriano e José, da tia Belinha e da prima Isabel, do tio Joaquim, do tio Moisés e do professor Renato. Entrega-lhes por favor o nosso sorriso e as nossas lembranças. 

Hoje reunimo-nos à tua volta pela última vez, celebrando a tua vida e para que, em meu nome e de todos os teus sobrinhos te deixemos o nosso eterno obrigado. Pelos teus ensinamentos, pelos terços que rezaste por nós, pela tua dedicação e pelo teu carinho eterno.

Nós por cá ficamos para dar "muitas graças a Deus e poucas graças com Deus".

Até sempre tia Calila.

Pedro M. P. Peralta
10.Janeiro.2015

1 comentário:

  1. Eloquente testemunho e sentida despedida quando parte alguém de quem se gosta e a quem se fica eternamente agradecido. Gostei...

    MC

    ResponderEliminar