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segunda-feira, 18 de março de 2013

Manuel “Ping-Pong” Soares

Dia 9 de março, um fresco sábado com sol, fui passear pelo meu vizinho e moribundo mercado, para a extrema-unção, ao que consta, já nomeado.
A pé e subindo a avenida Dr. Fernando Ataíde Ribeiro denoto  invulgar movimento de viaturas rumo à Escola Preparatória e Secundária de Alcains. (O edifício do ex ciclo preparatório, ex escola preparatória José Sanches, por falta de alunos, está fechado).
Entrei.


Grande azáfama.
O recinto do pavilhão repleto de mesas de “ping-pong”, agora denominadas de “ténis de mesa”, com um feérico colorido que o desporto proporciona aos seus praticantes, e, lamentavelmente, aos quase inexistentes espetadores, transbordava de atividade “pingponguista”...
O macio tilintar das bolas de ping-pong sobre as mesas, e, os esgares de baixo ventre que subindo da glote até à epiglote anunciavam serviço perdido, musicalmente compunham uma partitura digna de um Verdi de primeira linha, muito melhor que acordeão do Vaquinha...
Numa iniciativa, parceria,  CDA/ Arca/Inatel, presidida e acompanhada de perto, quer de manhã quer de tarde pelo atual presidente do CDA, excelente desportista e agora dirigente associativo, Hélio Esteves, e pela presidente da Arca, Andresa Teixeira, celebrava-se, lembrava-se um saudoso e prestigiado Alcainense, de nome Manuel Soares, “Mné dos Paus”, como era conhecido na terra deles, a nossa, a dos Cães, na ex aldeia, Alcains.


Da sua vida profissional, CP e agência de viagens que lhe permitiram saber, praticando, o que é o serviço ao cliente, o  Manuel Soares com quem convivi de muito perto, praticou em Alcains esta maneira de ser, por onde passou.
Era, no meu entender, um “trinca espinhas esclarecido”, culto, e de uma dedicação à Terra deles e ao desporto, exemplares.
Dotado então de um Sportinguismo esclarecido, transportou desde muito novo este “ismo” primeiro para o GDA e mais tarde para o CDA.
Na JOC a jogar “voley ball”, no pavilhão a jogar e a entusiasmar os outros no ping-pong, no banco dos jogos a dirimir, de toalha aos ombros, as questões jurídicas das arbitragens, ou, nas bilheteiras a vender os bilhetes para os jogos, era pau para toda a colher, um soldado no trabalho e na entrega, sem custos, à comunidade.


No pavilhão, 16 mesas, cerca de 200 atletas, a disputar a nível nacional, o 6º torneio CDA, do Ranking List do Inatel.
Do Douro até ao Tejo e dos distritos de Castelo Branco, Évora, Leiria, Portalegre, Porto, Viseu, até Setúbal entre outros, 32 equipas disputaram o torneio, Manuel Soares.
Na entrada do pavilhão, uma empresa “sponsor” da modalidade, vendia enchidos em agradável mano a mano, os excelentes sabores “Serrano”, sugeridos por simpática vendedeira da “Salsibeira”.
Esta é para assar, aquela de cozer e se quer tempero todo o ano, prove este maranho... assim ouvia, enquanto de Kodac, tirava fotografia.


Mas a surpresa não acaba aqui.
Atendia tudo e todos, fazia sandes, cobrava “minis”, encaminhava visitantes, atualizava registos, atendia telefone, animava equipas e nos intervalos vendia rifas.
Falo do Tiago Baltazar um praticante da modalidade, extrovertido, um comercial que, como tantos outros, se perde em Portugal...


Explicou-me tudo.
Constituição das equipas que representavam o CDA.
Num total de 8 participantes, 1ª categoria, 1ª divisão.


Da esquerda para a direita.
Pedro Fevereiro, CBranco - Luis Antunes, CBranco - Ricardo Monteiro, Lisboa.

2º categoria, mesma ordem


Bruno Ribeiro, Guarda - João Santos, CBranco - Tiago Baltazar, Alcains.

3ª categoria, juniores


Flávio Trindade - Miguel Valdez

Estranho é o fato de o CDA ter apenas 8 representantes, e destes apenas um ou dois serem de Alcains. Os restantes têm ligações afetivas a Alcains e outros inscreveram-se por Alcains, pelo fato de, nas suas respetivas terras, tal modalidade não estar organizada de modo a participarem no torneio.
A Associação do bairro do Ribeiro das Perdizes de Castelo Branco marcou presença com dois participantes, juniores, que a seguir registo em foto.


Da esquerda para a direita, o Bernardo Natário e o Júlio Santos, ambos com 14 anos que têm participado em vários torneios e têm uma grande vontade de continuar.
Novidade de registo, foi o Francisco M. Pedro que de Vendas Novas se deslocou ao torneio e que a foto regista.


Uma agradável e promissora esperança para a modalidade.
O torneio continuava sob uma intensa participação.
Aos vencedores era oferecido um troféu constituído por uma placa em madeira que tinha marcado o padrão de elevação a vila e a fonte romana, como a foto seguinte pretende mostrar.


Pelas 18 horas dava-se por finda uma tarde memorável, que decorreu como o Manuel Soares tanto gostava.
Sem violência, com elevado desportivismo e com partida em ambiente que convidava a regressar.
Convivi com o Manuel Soares na Guarda, em finais da década de 70. Ele nos escritórios da empresa de autocarros Guardense, na CP e mais tarde no Fundão na Wastelles, agência de viagens.
Infelizmente partiu cedo, mas deixou por cá muitas amizades. Semeou desportivismo militante por onde passou e recordá-lo é um dever que agora se cumpre.
 

Porque há uma parte apreciável da sua vida ao serviço dos outros, nas coletividades,  que não acompanhei, socorri-me do José Minhós Castilho que, em  texto em que não meti a mão, ajuda a relembrar o que foi o Manuel Soares.



Manuel Ferreira Soares
Uma referência do desporto em Alcains.

Não é muito fácil escrever algo sobre alguém de quem somos próximos. 
Primos e a viverem em casas anexas durante anos. O Soares viveu alguns anos no norte, e uma das recordações mais antigas que retenho, é a fita branca de isento para o serviço militar que ostentava nos inícios da década de 60. Franzino, repito como o Vitorino quando foi às sortes, ”não lhe acharam qualquer geito”, para seu sossego, esclareça-se. Que uns anos mais tarde, já não escaparia ao SMO...
Continuando franzino, recordo-me de vê-lo envergar a camisola 9 do GDA – Grupo Desportivo Alcainense. Era hábil e oportuno e isso conferia-lhe o direito de envergar aquela camisola, não sei se muitos anos.
 
 
Sabia por terceiros, que o Soares era uma “fera” a jogar ténis-de-mesa, mas curiosamente, nunca o vi jogar.
As referências que ele contava dos tempos que passou no norte, eram relativas ao Sporting de Espinho, uma instituição então como hoje, no voleibol nacional. Mas o Soares recordo-me de vê-lo falar numa modalidade que lá praticara, e que hoje caíu em desuso: andebol de onze.
Encontrávamo-nos sobretudo nas férias, já que no Secundário eu vivia em Castelo Branco, a partir de 66 fui para Coimbra, e em 70, ainda em Julho, ingressei na EPI em Mafra... Um ano depois, em 71 seguia para Angola, donde regressei em Agosto de 73.
 
 
Recordo-me de em 71, pouco antes de embarcar para Angola, nuns dias que passei em Alcains, lhe ter entregue um projecto com as linhas mestras para um Torneio de Futebol de Salão, ao qual não assisti, que teve lugar nas traseiras da Casa do Povo, e que seria  semente que germinaria e desde então a animar as noites dos verões em Alcains.
Em  finais de 73, participámos ambos numa direcção que dinamizou a vida do Clube Recreativo Alcainense, até então um clube relativamente “fechado”, levando a efeito vários eventos. Acompanhavam-nos o Félix Rafael, o Simão Barata e creio que o Zé Lopes da Silva, numa direcção à qual presidia Mário Tavares.
 
 
Entraram numerosos associados e lançada a ideia de uma Secção de Futebol... O ensaio seria um jogo de futebol entre antigos atletas do GDA, que se extinguira, com uma equipa de professores da Escola Técnica de C.Branco, onde eu dava aulas. Os equipamentos foram desenrascados pelo Carlos Minhós no Benfica de CB, e numa ensolarada tarde de Maio, aquele jogo, sem o sabermos, seria a semente que uns anos mais tarde daria origem ao CDA – Clube Desportivo de Alcains.
Não foi fácil o arranque do futebol no CRA. Foi necessário resgatar alguns jogadores alcainenses presos ao Desportivo de Castelo Branco, onde António Sousa “Zaragueta”, não estava disposto a soltá-los. Com o empenho doutros associados como Manuel Maria Sanches, Ramiro Rafael e não sei se Vítor Serrasqueiro, foi possível fazer voltar à base esses atletas e Alcains começava a ter uma equipa no Distrital.
 
 
No entanto embora a princípio esses atletas fossem estritamente amadores e no final dos jogos um lanche era o prémio que recompensava o seu esforço, a pouco e pouco foi-se instalando a ideia dos prémios de jogo, na altura proporcionados por vários associados...  Uma ideia que veio para ficar! E quando em 81, pertencemos a uma direcção do CDA, em que eu seria o responsável pela área administrativa e o Manuel Soares, ligado directamente ao Dep. de Futebol, o amor à camisola há muito se fora e os prémios de jogo um “direito adquirido” pelos atletas. Tivemos então as nossas divergências, quando o Dep. de Futebol, apresentou  à direcção um elaborado programa de remuneração por objectivos, que mereceu o meu voto contra.
 
 
Num campeonato em que a maioria das equipas eram praticamente amadoras, os atletas do CDA recebiam, embora pouco, algum dinheiro, e por isso teriam a obrigação de tentar lutar pelo primeiro lugar. E vê-se pelo diploma anexo, que nesse ano, o CDA foi campeão distrital e subiu à terceira divisão nacional. Creio que já não era a primeira vez que tal sucedia.
 
 
Para mim a experiência de dirigismo desportivo terminara ali. O Manuel Soares continuou a empurrar a nau que aquele Clube começava a representar. Confesso que não acompanhei esse processo. Em 84, saí definitivamente de Alcains, mas sempre que falávamos, o tema do CDA no qual chegou a ser presidente da direcção, vinha sempre a lume.
 
 
Era ele a alma que ajudou a solucionar várias crises directivas, o braço direito nessas démarches de Ramiro Rafael, Vítor Serrasqueiro e outros que é injusto, mas não consigo recordar. Chegou mesmo a ter que assumir a presidência do CDA, em momentos em que não havia associados disponíveis para esse cargo. Entretanto o CDA crescia, diversificava as modalidades e é hoje uma colectividade na qual os alcainenses se reveêm.
 
 
Daí que a partida do Soares, quase tão célere quanto a velocidade que no início da década de 70 imprimia ao seu Toyota amarelo, deixou mais pobre o CDA, e mais do que isso, deixou familiares e amigos próximos destroçados.
 
 
Honra àqueles que continuam a recordar o seu nome, numa modalidade em que ele seria localmente imbatível! A memória do “Manuel dos Paus”, nunca soube donde lhe vinha alcunha, merece-o.

MC... 15 de março de 2013

Com este texto do Zé Minhós Castilho presta-se homenagem e recorda-se um AMIGO de Alcains.
Aos presidentes do CDA e da ARCA uma palavra de apreço, pelo trabalho, pelo magnífico dia que proporcionaram aos amantes da modalidade.
O Manel, lá do alto, decerto, apreciou o gesto e reviveu connosco o que é a amizade.
Abraço, Manel.

Manuel Peralta

2 comentários:

  1. Caro Peralta, orgulho-me de ter sido um dos impulsionadores deste torneio que, de forma singela, presta homenagem ao que foi o organizador da primeira equipa de ténis de mesa do CDA e da qual fiz parte.
    Cumprimentos.
    Bruno Pereira.

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  2. Excelente reportagem. Parabéns!! Eu pessoalmente, e como praticante da modalidade, nunca vou esquecer a boa influência que o Sr. Manuel Soares teve na minha vida, no desporto e no meu dia a dia como ser humano. Fica também aqui uma palavra de reconhecimento pessoal ao Tiago Baltazar ( Tabaco ), pelo esforço que tem mantido na continuidade do Ténis de Mesa em Alcains, apesar de haver ainda poucos atletas locais.
    Atentamenre
    José Luis Martins

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