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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

NATAL, 2012, Alcains, 2013

Não estava esquecido e, muito menos cansado, quer das festas quer deste, para mim agradável, meio de comunicar com os numerosos leitores  do Terra dos Cães.
São já umas agradáveis 70 mil “page views” dispersas pelos cinco continentes que justificam o epíteto que encima a folha de rosto deste blog. O mais sensacional do mundo e arredores, com Caféde incluído...
 
  
Impus a mim mesmo um interregno de escrita entre o Natal e o dia de Reis.
Já quando trabalhava, guardava sempre entre o Natal e o ano Novo um período de férias, de “calanzisse”, de calão, de mandrião, assim um “delicodolce farniente” entre lareira, família, horta, amigos, que me permitia o reencontro comigo mesmo, repensar o que fiz  no ano que acabava e o que faltava fazer no ano que entrava...
Hoje de mente mais fresca por enevoada manhã de denso nevoeiro, com temperatura mínima Alcainense a rondar os zero graus Celsius, decidi voltar ao encontro com a comunidade dos leitores.
Para todos um ano de 2013 com saúde e, para os ainda activos sujeitos a horário, de preferência com trabalho e salário.
 
  
Em Alcains o Natal foi assim.
Na, por enquanto deserta, rotunda do Seminário, um aplique luminoso, foto acima, colocado pela autarquia local saudava e formalmente manifestava os seus desejos, como dantes, aos fregueses e aos por ali passantes.
Menos sorte teve uma estrela que colocada na rotunda frente à sede das “papoilas saltitantes”, no largo de Santo António não teve nem nunca deu luz. Ali esteve e está plantada, triste e só, mas apagada.
Na praça, a fonte romana a um canto semi abandonada, contemplava o padrão de elevação a vila com erros de ortografia, por falta de letras que o tempo abaixo deitou e ao que parece, ninguém reparou.
No primeiro andar do edifício da sede da junta, feéricamente iluminado, pendiam inúmeras luzes que pareciam lágrimas...
É que se aproxima o fecho deste edifício com a previsível mudança da sede da Junta para o largo de Santo António na casa que foi da família de José dos Reis Sanches.
E chegámos à fogueira.
 
 
Originalidade, consumada pela Câmara da cidade.
Originalidade, pois presumo ser em toda a Beira Baixa o único local em que a fogueira de Natal se realiza atrás da Igreja Matriz.
Assim se mata mais uma memória que fica aqui registada para a história.
Esta Câmara da cidade em cooperação com os autarcas de cá, já tinham em tempos demolido um conjunto de duas mais duas casas, algumas de amigo conhecido, que o jornalista Nelson Mingacho denunciava como mais um atentado ao património.
 
  
O Nelson não falou da destruição da casa que foi da Dona Josefina Marrocos Taborda Ramos, com uma excelente varanda, com vetusta grade em ferro fundido, belas cantarias, destruídas, que desapareceram com o passar dos anos e dos dias...
Embora mais pobre, ao lado e sem perdão, a casa que foi do Ti Manel Sacristão...
Mas fazemos agora um intervalo no urbanismo e vamos às FILHÓS.
Como por cá se dizia, “Queres uma filhó? Tchincarratchó.”
 
 
Por cá é quase sempre uma arroba de farinha, e 120 ovos, um litro de boa aguardente, fora os condimentos que já referi em receita do ano anterior, ver blog dessa data.
 
  
E começa o estofêgo do amassar enquanto curioso neto espreita.
 
 
 Massa já amassada, repousada.
 
 
Com cruzes na massa feita pela rapadoura, reza-se. São João acrescente este pão, Nossa Senhora das Graças, acrescente estas massas...
 
 
 Frente à lareira, aconchegadas, agora a fintar.
 
 
Instrumentos de talhar, tábua, cartilha, rolo da massa e bacia com azeite para lubrificar a mão para a massa não agarrar.
Enquanto a massa finta, isto é, leveda, almoça-se.
Nestes dias nunca se almoça descansado.
Quando soa o grito de estão fintas, começa então a tarefa de fazer as filhós.
 
 
Sob as trempes por a sertã com o óleo ao lume, lixar o espeto para não sujar a massa, preparar proteção para o calor do lume, e começar a preparar a massa tirando um bom duplo punhado dela para talhar.
 
 
Fazer bolinhas de massa para outra estender, recortar com a cartilha, entrançar as pernas e deitar na sertã para fritar.
 
 
Fritar e retirar para alguidar para escorrer o óleo e começar a separar par caixas ou cesto de verga, forrados com papel vegetal, para conservar.
 
 
E assim durante um bem medido par de horas, se realiza esta tarefa que mobiliza por enquanto pais, filhos, netos, bisnetos, comadres e compadres, genros e noras, que cada um á sua maneira revive por vezes em silêncio um tempo lindo feito de harmonia e de alguns cantares que o tempo não deixa esquecer.

Eu hei-de dar ao menino, uma fitinha pró chapéu. Ele também me há-de dar, um lugarzinho no céu...
 
Bom Natal

Como o Natal é uma festa cristã que celebra o nascimento do Menino Jesus, e tem o seu apogeu na Igreja, pretendo dar a conhecer e para memória futura como era e é atualmente toda a envolvente à volta da Igreja Matriz de Alcains.
É nesse sentido que devem ser interpretados os meus apontamentos que passo a escrito, para ficar para a posteridade uma visão, a minha, sobre as intervenções que a Câmara da cidade foi efetuando em Alcains.
O que o urbanismo municipal da Câmara da cidade permitiu, será julgado por todos os que amam a sua terra e as memórias afectivas que cada um tem da terra onde nasceu.
As fotos seguintes pretendem dar a conhecer como era a rua Longa, hoje rua da Liberdade...


Destruidas...


...destruida.


Mais destruição...


...ainda mais destruição, agora vista do lado da Quelha da Mateira


Todo o lado direito da Quelha da Mateira, está destruído...


Estas fotos são a última visão do que era aquela rua.
Quem por ali se criou, jogou ao eixo ribaldeixo, ao ferro quente, e viu por ali passar os ciclistas das festas populares, quem ia à alfaiataria do Mestre José Rafael, à loja do Senhor Benedito de Jesus Beirão, à loja e barbearia do Ti Chico Sousa, à padaria do senhor José André, à casa do senhor Ramos das bicicletas e da esposa Dona Capitolina provar o vestido para a boda da prima, não pode deixar de se interrogar sobre “a obra”... e se há por aí, tantos filhos da obra!!!


Continua...
 
Manuel Peralta

3 comentários:

  1. O meu amigo Peralta está sempre em forma. O património, especialmente o mais antigo, está sempre em perigo e em estado de destruição, em Alcains e por todo o país, que o poder não tem nenhum respeito pelas nossas memórias colectivas. O poder só tem respeito pelo cacau, pelos carcanhois, o bago, o €! Especialmente o destinado aos bolsos dos construtores civis, dos banqueiros e dos clubes de futebol. Grande abraço.

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  2. Destruição...Reclassificação...a cada um a sua opinião. Embora a zona intervencionada se situe a pouco mais de meia dúzia de metros da casa onde me criei, acredita, até porque ainda não vi a obra, não tenho opinião...Ficam-me as memórias do tempo em que o "Terlé" tinha para esse espaço um projecto megalómano, que levado à Assembleia de Freguesia, esta se manifestou incapaz de julgar e remeteu para a Câmara Municipal. Com o teu sentido de humor, anunciavas que era um prédio tão grande, tão grande, que cabiam lá os Escalos de Cima em peso!
    Enfim coisas de um "homem especial" que quase no ocaso da vida, e contra a vontade da família, projectava para Alcains obras que não veria medrar.
    A vida afasta-nos das pessoas e das coisas e passamos a ter daquilo que vivenciámos um certo distanciamento.
    As origens, os amigos, os espaços, estão lá, porém cada vez mais distantes.E nós cada vez mais ausentes.
    E como já vi escrito pela pena do nosso amigo comum Zé Oliveira, por vezes a ver-nos, e agora até já sem gravata, quando algum dos nossos se vai...
    Um bom ano de 2013 a todos quantos passam por este Blog, são os meus sinceros votos.

    Zé MC - 2013.01.11

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  3. um abraço, cá de longe, meu bom amigo EngºPeralta..."leio" que a lucidez se mantém. Votos de um 2013 cheio de saúde, familia e amigos...que é, de facto, o que mais importa !!! abraço do Beato

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