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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A fogueira e a “malta” da fogueira

Os deserdados do ex SMO, Serviço Militar Obrigatório, continuam por cá a fazer a fogueira de Natal. São poucos, e de ano para ano cada vez menos. Este ano nem eles nem elas sabiam, com rigor, quantos eram, isto é quantos homens e mulheres tinham nascido em 1993. Filhos destes  tempos sem rigor, inexatos, do “mais ou menos” como não podia deixar de ser e como aprenderam, quando não se tem a certeza de nada, apura-se a decisão “ por consenso” e à volta de trinta H + M foi o consenso que a certeza deles apurou. São mesmo muito poucos, numa terra que chegou a apurar para a inspeção, cerca de noventa mancebos.

 
Como se extingui o SMO, deixou de se usar a expressão, a malta da inspeção. Perdeu-se assim esta expressão popular titulada por “malta da inspeção” onde as “catchopas” não entravam. E nem tinham que entrar uma vez que o serviço militar estava vedado ao pessoal feminino.
Presumo que original na Beira Baixa, em Alcains, a fogueira de Natal realiza-se atrás da igreja matriz. O ex largo do Kosovo foi pela Câmara da cidade intervencionado com prolongamento do adro da igreja que cortou ruas, destruiu casas e sobre esta destruição renasceu uma casa mortuária, um adro ampliado e um parque de estacionamento pago. Mas oportunamente voltarei para mostrar as foros da intervenção efetuada.
Mas voltemos à fogueira.

 
A tradição impôs durante muitos anos que a fogueira fosse acesa por pessoa que promessa tivesse feito e em geral, a malta da inspeção anuía sempre.
No entanto desde há já algum tempo, que a malta da fogueira arranja umas tochas que embebe em gasolina e assim cada um armado de sua tocha embebe, incendeia e à fogueira deitam fogo.

 
Com indumentária a preceito, de camisola estampada com um “ I love 93”, gorro de Pai Natal na cabeça e camisola estampada com um “ oferece-me uma cerveja”, iniciam a tradição de deitar fogo à fogueira.
Começa também a ganhar raízes entre a malta da fogueira, uma moda que consiste em barrar na praça o caminho a passantes e viaturas, e assim trajados como referi, pedem dinheiro para as suas festas...isto no dia 24 de dezembro.
Entretanto e com a presença dos bombeiros por perto, a fogueira arde.

 
E com falta de lenha grossa, com muita lenha miúda, e bastante empapada em combustível líquido, a fogueira arde num instante de tal modo que quando se vai à missa do galo, o calor quase se despediu.

 
Este ano, em amplo recinto com um adro acrescentado, que decepou a rua José André Júnior, havia muita gente a assistir a esta tradição.

 
Uns tiravam fotos, outros conversavam entre si, em surdina, sem alegria e nem um cantar muito menos um espontâneo que de varapau na mão, malhasse e remalhasse na fogueira.

 
Lembro-me, quando a fogueira era em frente à Igreja, que o ti Saraiva era o campeão da malhação da fogueira, munido de grande varapau malhava na fogueira de grande, dando vivas à malta, e, atirando o varapau para trás das costas obrigava toda a gente a precaver-se protegendo-se de certa pancada, mas era uma alegria toda a gente a afastar-se e a rir com a situação.
Uns de garrafão na mão ofereciam vinho aos assistentes outros já meio aquecidos cantavam loas ao Menino que houvera de nascer.

 
Em casa, ainda usamos uma expressão colhida na fogueira, e já lá vão muitos anos, dita pelo ti Adelino que, de varapau na mão, e enterrando o varapau na fogueira dizia com uma alegria esfusiante vindo da praça...”cosquinhas na MaridaGraça”...


Era habitual no dia de reis quando se ia à missa, a fogueira ainda arder e era motivo de chacota quando a malta desse ano tal não conseguia.
Hoje com vida e ações cada dia mais deletérias, não admira que tudo dure apenas quase um instante, nada perdura como diz a minha amiga Arlete... nestes tempos de “delete”...

Manuel Peralta

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