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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Em 1980, como é que se ia e estava, Presidente da Junta

Regressado em meados de setembro de 1974, da Guiné Bissau, em 14 de Outubro início a minha vida profissional nos CTT de Castelo Branco, entrevistado pelo saudoso Engº Joaquim da Rocha Monteiro Limão, (já falecido), na altura Chefe da Circunscrição Técnica, com cargo de CCT do distrito de Castelo Branco, que superintendia em tudo o que dizia respeito a telefones.


Era também o responsável pelos Cursos de Cristandade no distrito, de quem ainda levei uns “apertões” para por lá passar… acabei por não passar por lá, desculpando-me com jovem idade apercebendo-me no entanto de que alguns Alcainenses que conhecia como “hereges” por lá passaram e eram, ao que consta, ferrenhos nas “ultreias”, assim se chamavam as reuniões dos Cursistas.
Nos CTT, com telefone à mão, era possível conciliar vida profissional com outras atividades, uma vez que os telefones eram escassos e para se conseguir um telefone público ou privado, não havia empresário, presidente de Junta ou de Câmara que não fosse aos CTT, e por ali comecei a relacionar-me com o poder local, naquela fase ainda não de eleitos, mas sancionado pelas assembleias democrático/populares que pulularam por todo o lado.
Até o clube de elite de Alcains, o Clube Recreativo Alcainense situado na praça, se democratizou passando a ser sócio quem ali metesse proposta.
Com a construção do edifício legislativo autárquico marcam-se as primeiras eleições democráticas e autárquicas para finais de 1979.
Em Alcains, concorreram 3 listas, uma do PCP, Partido Comunista Português encabeçada pelo Ti João Santos (Visga), calceteiro, e duas de cidadãos eleitores uma sob a designação “Por Alcains Concelho” que tinha como cabeça de lista, Helder José Marques Rafael, e a outra sob a designação “Servir Alcains”, com cabeça de Lista, Manuel da Paixão Riscado Peralta.


Por escassa margem venceu a lista Servir Alcains, o PCP ou APU, não tenho a certeza, teve uma excelente votação, de tal modo que, para a Assembleia de Freguesia funcionar sem percalços, considerou-se oportuno que um elemento de cada lista concorrente integrasse a mesa da Assembleia de Freguesia.
Tal estratégia deu excelentes resultados, de tal modo que foi uma Assembleia que a pouco e pouco colaborou de forma leal, crítica, mas sempre a estimular e a incentivar o trabalho da Junta.
Bons tempos…
Tinha então 30 anos e fui, ao que consta, o Presidente de Junta de Freguesia mais novo, no país, que foi eleito naquela data.


Na Assembleia Municipal lembro que uma parte apreciável dos Presidentes de Junta eleitos, usavam chapéu e fato completo de casaco, colete e gravata… como não havia cabides na sala das sessões, punham o chapéu no chão por baixo das cadeiras, não intervinham, entravam mudos e saiam calados, tendo enormes dificuldades em perceber a profusa informação que recebiam.
E foi assim que em 28 de fevereiro de 1980, a Junta da Freguesia de Alcains, faz a primeira ata do seu novel mandato, onde resumia a atividade daquele mês.
Ver documento abaixo.


Um mês infernal.
Na JAE, Junta Autónoma das Estradas, presidida pelo Engº Santos Marques, solicitar o alargamento da EN 18 entre Alcains e Castelo Branco, corte da sobreira de S. Domingos que obstruindo a visão dos automobilistas era ponto negro de trânsito e causador de inúmeros acidentes, e o estudo da Variante a Alcains.

Cruzamento de S.Domingos.
Do lado direito existia uma sobreira de elevado porte que impedia a visão aos automobilistas e que foi cortada.


Apresentação de cumprimentos por parte da Junta da Freguesia ao Presidente da Câmara Municipal eleito pela AD, Aliança Democrática, formada pelo partidos políticos PPD e CDS.
Só ali conheci, melhor dizendo, conhecemos, pela primeira vez o Presidente da Câmara e os Vereadores.
Nós eleitos fora dos partidos, lista de cidadãos eleitores, e a Câmara, obrigatoriamente filiada por políticos dos partidos.
Levei uma lista dos principais problemas de Alcains naquela data, Fevereiro de 1980.

Ribeira da Líria.
Rebaixou-se e alargou-se mantendo as margens a dimensão que a foto mostra, até hoje.


Alargamento da EN 18 que não se alargava devido à conduta de água que era necessário afastar para a berma, o Rebaixamento e Alargamento da Ribeira da Líria, passando pela rede de saneamento básico tudo foi exposto ao Presidente que de nós se despediu dizendo, para se “chatear a Câmara”.
A meu pedido, o Engº Barata da HEAA, Hidro Elétrica do Alto Alentejo, hoje EDP, reuniu com a Junta onde se expôs o gravíssimo problema do abastecimento de energia a Alcains, pois eram frequentes os cortes de energia, as faíscas que saltavam das linhas de cobre nu por dilatação das mesmas, em vários locais, nomeadamente junto à igreja matriz, que punham em causa a segurança dos fregueses que passavam por debaixo das linhas.

Posto de Transformação (PT) da ex-HEAA, situado na rua José dos Reis Sanches Júnior. Faleceu precocemente em acidente de viação.Era casado com a Dona Teresinha Sanches a maior benemérita que Alcains conheceu. Foram instalados mais 6 PT idênticos a este, noutras ruas.

Mostrou então pela primeira vez, um anteprojeto de eletrificação total da Vila de Alcains, que iria passar a projeto onde seria necessário construir de raiz, sete postos de transformação, alimentados por cabos subterrâneos que resolveriam de vez esta situação que afetava toda a população.
Na generalidade, em todas as casas existiam estabilizadores de tensão que ajudavam pelo menos a ver a televisão…
A energia elétrica do mercado, isto é da praça, estava com problemas vários que o Engº Barata resolveu, nomeadamente a questão da baixada de alimentação que permitiu à Junta poupar dez mil escudos mensais, visto que as pessoas que estavam a vender na praça não pagavam a energia que consumiam, sendo esta paga pela junta.

Mercado (praça) de Alcains.

Um eletricista contratado pela Junta fez as instalações elétricas nas casetas de venda da praça, cada um requisitou o contador respetivo, e assim se corrigiu a situação em que cada um pagava a energia que consumia.
Lembro-me que houve por ali uns bigodes torcidos, umas caretas, mas depois tudo voltou à normalidade.
A filarmónica Alcainense que ensaiava na rua Dr. Emídio Beirão Pires da Cruz, na pessoa do Sr. Joaquim Estorino e do Sr. Hipólito, ferroviário, e proprietário da casa, com a participação da Junta, no escritório do advogado Dr. Manuel João Vieira legalizaram uma situação que apodrecia as relações há anos entre o proprietário e a filarmónica.

Casa agora de amarelo pintada e restaurada, onde ensaiava a Filarmónica Alcainense, na rua Dr. Emídio Beirão Pires da Cruz. Foi regularizada a situação com o proprietário.

Resolveu-se assim, mais um passivo de menos boas relações entre o proprietário da casa, a Filarmónica e a Junta, passivo relacional acumulado ao longo de vários anos.
Entretanto herdou-se uma situação na abertura da rua de acesso ao Ciclo Preparatório, atual rua de Gil Vicente.
Como a rua era estreita e estava condicionada pelo loteamento aprovado na Câmara Municipal onde se deveria construir o edifício do Ciclo Preparatório, fomos a casa da Dª. Teresinha Sanches que nos autorizou a alargar a referida rua em mais dois metros, possibilitando assim o estacionamento de viaturas e uma boa circulação de peões nos respetivos passeios.

Rua Gil Vicente, a quem alguma oposição batizou de rua da Banana.

As feridas deixadas pela disputa eleitoral deixam sempre umas areias, por vezes no sapato, e até uma ou outra dor de cotovelo… isto é, como a rua não era uma avenida em linha reta, tinha e tem uma ligeira curva de raio muito elevado, foi apelidada pela então ativa oposição, de avenida da banana.
Hoje, afirmo que é uma excelente rua, e a curva até a diferencia pela beleza das boas e lindas casas ali construídas.
Para a Câmara Municipal seguiram pedidos de colocação de abrigos para passageiros que não existiam até então, bem como o pedido de reforço com mais 20 contentores para recolha do lixo doméstico, procedeu-se ao melhoramento do piso do campo de futebol, então em terra batida e resolveu-se o imbróglio da iluminação do largo de Santo António.

Candeeiros do Largo de Santo António, que só acenderam em Abril, na sexta feira santa, da Páscoa desse ano.

Por fim, e uma vez que em Castelo Branco me tinha encontrado com o Dr. Ulisses Pardal e este me tinha manifestado o desagrado dele para com a Junta da Freguesia sobre a questão pendente dos terrenos do Infantário, foi feita uma carta…

Terreno anexo ao solar Ulisses Pardal, para onde existiu projeto de infantário, situado na av. Gen. António dos Santos Ramalho Eanes, conterrâneo que nasceu em casa existente naquela rua, ex Presidente da República.

Esclarecerei em próximo texto a delicada situação herdada.

Manuel Peralta

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