Era criança.
Tinha acabado na Tapada da Senhora, mais uma prova de eixo ribaldeixo, caramel ao pé do eixo...
Já no onze, com os sinos de Mafra em bronze, estava o Alma Grande, um tanganheirão que se ergueu e de nada me valeu...
Eu, caído, e de pescoço torcido.
De pescoço ao lado cheguei a casa calado.
Tocou a rebate na rua do Degredo, assembleia de vizinhas, a ti Mari do Carmo Paposeca, a ti Mari Zé Arrebenta, a Juliôa e a Cafedenha que cozinhavam a lenha.
Folhas de saião, papas de linhaça com ortigas, de chixéfra, unto sem sal que não fazia nem bem nem mal...
Porque não havia álcool e não me doía dente, acabei esfregado a aguardente.
Não passava.
Voltaram-se para o sobrenatural, rezar o torcido.
A caminho da Pedreira, pela mão de minha mãe, depois de passar o Regatinho, na primeira cortada à direita lá estava a extensão sobrenatural de saúde, com a respectiva médica de família de então, a Ti Maria Joaquina Russa.
Entrámos, passado a patinho, fico sentado em cadeira de palha, a minha mãe poisou a cesta de verga com meia dúzia de ovos e uma vassoura de giesta, o preço da consulta, e começa a reza do torcido.
Loira, de apelido russa por ser pobre, olhos esverdeados parecia uma Nossa Senhora de carne e osso, no seu avental de cornucópias drapeadas...
Trás lá a estopa...
Sete nós, sete pai nossos, sete avé Marias ali, de rajada...e eu já de colar na pescoçada...
Dizia...
Mão no peito,
E no bimbigo.
Destorce, destorce,
O que está torcido...
Ámen.
Manuel Peralta
Tinha acabado na Tapada da Senhora, mais uma prova de eixo ribaldeixo, caramel ao pé do eixo...
Já no onze, com os sinos de Mafra em bronze, estava o Alma Grande, um tanganheirão que se ergueu e de nada me valeu...
Eu, caído, e de pescoço torcido.
De pescoço ao lado cheguei a casa calado.
Tocou a rebate na rua do Degredo, assembleia de vizinhas, a ti Mari do Carmo Paposeca, a ti Mari Zé Arrebenta, a Juliôa e a Cafedenha que cozinhavam a lenha.
Folhas de saião, papas de linhaça com ortigas, de chixéfra, unto sem sal que não fazia nem bem nem mal...
Porque não havia álcool e não me doía dente, acabei esfregado a aguardente.
Não passava.
Voltaram-se para o sobrenatural, rezar o torcido.
A caminho da Pedreira, pela mão de minha mãe, depois de passar o Regatinho, na primeira cortada à direita lá estava a extensão sobrenatural de saúde, com a respectiva médica de família de então, a Ti Maria Joaquina Russa.
Entrámos, passado a patinho, fico sentado em cadeira de palha, a minha mãe poisou a cesta de verga com meia dúzia de ovos e uma vassoura de giesta, o preço da consulta, e começa a reza do torcido.
Loira, de apelido russa por ser pobre, olhos esverdeados parecia uma Nossa Senhora de carne e osso, no seu avental de cornucópias drapeadas...
Trás lá a estopa...
Sete nós, sete pai nossos, sete avé Marias ali, de rajada...e eu já de colar na pescoçada...
Dizia...
Mão no peito,
E no bimbigo.
Destorce, destorce,
O que está torcido...
Ámen.
Manuel Peralta
O recurso do «homem do leme» aos tratamentos alternativos, aguçou-me a curiosidade e fui pesquisar na NET, o que lá se diz sobre o tema. E encontrei um repositório de Benzeduras e Metodologias de Tratamento, que tratam não só as maleitas do corpo, mas também do espírito.
ResponderEliminarEis o repositório das “doenças a tratar” com Benzeduras :
Contra o Quebranto; Contra o Mau Olhado – com 2 hipóteses de Benzedura; Contra a Dor de Cabeça; Contra o Nervo Torcido; Contra a Dor de Bexiga; Contra as Pessoas Desmanchadas!(?); Contra a Dor de Cabeça e Ouvidos ; Contra a Tentação do Demónio;
Pelos dados que o «homem do leme» refere, embora com a intervenção de um Alma Grande, creio que a doença, se encontrava no campo do Nervo Torcido.
Vejamos o que é recomendado para o caso em apreço – Benzedura do Nervo Torcido;
Começa o(a) especialista no assunto e que se benze:
« Jesus que é o Santo nome de Jesus, onde está o Santo nome de Jesus não entra mal nenhum.
A pessoa que vai coser, a especialista, pega numa agulha e num novelo de linha e diz:
Eu coso. E quem está padecendo responde: Carne quebrada nervo torto.
Cosa a Virgem melhor do que eu coso, a Virgem cose pelo são e eu coso pelo vão. Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Padre Nosso e Avém Maria».
Depois de se fazer esta Benzedura, molha-se os dedos no Azeite e esfrega-se a parte dorida. Reza-se um Padre Nosso e uma Avém Maria, a Santo Amaro, advogado de pernas e braços e oferece-se ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Repete-se 9 vezes.»
É omisso no que toca a colocar a linha cosida sobre a parte a tratar.
Não sei se esta era a Metodologia utilizada pelo outro especialista da matéria, o Mané Pio, que morava na Rua do Espírito Santo, e que o povo dizia que ele era um “mulharengo” que em alcainês é epíteto que nenhum homem deseje, já que significa que tem ademanes femininos.
Agricultando na “folha”, falava-se que ele propunha um intervalo, não para uma bica, que era coisa que não havia, dizendo “Catchopas vamos todas a mijar”!
E ia à fonte, e conseguia transportar o cântaro sobre uma rodilha, à cabeça, como qualquer mulher.
Desconheço os honorários cobrados. Mas em termos de Medicinas apoiadas no sobrenatural, pode dizer-se que Alcains estaria bem servido de especialistas. E a clientela não faltaria.
MC