A Maior Artista

Maior porquê?
Advogado da Honra, Casa de Pais, Matei o Meu Filho, O Lobo no Povoado, em dramas, Brincadeiras de Carnaval, Barnabé vai Casar, Um só Par de Botas, em comédias, Flor da Aldeia em Opereta, Senhor de Matosinhos, Recrutas e Sopeiras em duetos musicais de tudo um pouco, comediou, dramou e melhor cantou a Jacinta.

A foto retrata a família, seu Pai, Manuel Godinho que trabalhou no lagar do Sr. Gabriel Valente e distribuía pirolitos e salsicharia pelas aldeias, sua Mãe, Ricardina Clara, doméstica, seu irmão José precocemente falecido, e a Jacinta.
Viúva, fez a 4ª classe já adulta, nas Freiras, Irmãs Franciscanas de Maria, e com orgulho mostra a sua carteira profissional de Encadernadora Manual, profissão que exerceu desde os 14 anos nas Fábricas Lusitana de Alcains.

Nas Freiras, no Solar, as raparigas de então desenvolviam as suas capacidades a vários níveis, civilidade, costura, cozinha, etiqueta, dança, instrução básica elementar, canto, e claro TEATRO.
Tinham apresentado ao público, em encerramento de actividades, uma comédia denominada As Manas de Paio Pires.
Entre outras contracenaram com a Jacinta, a Carminda André e as MANAS de Alcains, gémeas, filhas do Ti Chico Preto, de nome Teresa e Otília.
Consta que, do patinho ao telhado em casas de sobrado, a comédia terá dado brado, até foi ao jornal, correu de porta em porta da barbearia do Vaquinha à do Pedal...
Ninguém dizia mal...
Mas, as gentes do teatro, as artistas, porque nem só no palco davam nas vistas, não eram socialmente bem vistas.
E imagino o Ti João Pereira, marido da Crisálida, extremosa filha do Ti Tobias que era simpático todos os dias, a paciência que terá tido para convencer a mãe da Jacinta, uma clara Ricardina em deixar sair a sua menina.
Duas vezes tiveram de por munha, carvão de lenha miúda, na braseira.
Mais, mexeram munha e caramunha, já com o Ramiro e o Cocharra à cunha...
Só com paciência de Armando, dizia o Caldeireiro de vez em quando.
Lá foi.

Na JOC, na Associação, na Casa do Povo a Jacinta contracenou com quase tudo o que era artista de papel principal.
Não se atagantava, e o ponto dormia descansado, pois como era dotada de uma memória exceptional e uma capacidade de memorizar rara, sempre que surgia impedimento de artista de última hora, lá estava a Jacinta.

Entre outros, para memória futura, este programa data de 1964 e mostra aquilo que foi a actividade cultural mais relevante em Alcains, o TEATRO.
Trabalhadores, estudantes, irmanados num mesmo propósito, valorizar Alcains e valorizarem-se...
Sempre, em todo o lado a Jacinta, bem acompanhada neste caso pela Maria do Carmo Pequenão Ferreira.
Desta vez sem ponto, nem o Belo da Silva, nem o Da Silva Belo.
O Ti Manel Pratinha corria o pano.
EM OPERETA

Na Opereta Flor da Aldeia, fazendo de Menina Antoninha, contracenando com o Rui Caldeireiro, fazendo de Menino Zuquinha...
Dizia o Rui.

De rir às lágrimas...
EM VARIEDADES
Acompanhada pelo Félix Rafael e pelos irmão Messias, a Jacinta cantava vários fados nomeadamente o Xaile de Minha Mãe, que interpretava de forma especial... nos coros, no rancho durante 20 anos, na Encomendação das Almas, nas Ladaínhas, enfim a Jacinta foi para mim, que me lembre, a mulher de Alcains que mais contribuiu para a elevação da cultura popular em Alcains.
No seu espólio, que gentilmente me cedeu para dele dar pública nota, mostro a seguir as capas de várias peças.

Nos teatros também se lutava por ser primeira figura, e claro, os produtores e realizadores do espectáculo, também tinham as suas preferências...
Estava muito em voga, na crista da onda, uma música denominada o Fadinho, assim.
Vieram as partituras para os instrumentos e o fado era para ser cantado nas variedades pela Jacinta, mas... foi dado à Deolinda Pirilau, que desafinou e teve de se parar, para se acertar o tom...

Nem imaginam o que foi nos bastidores, eu estava lá a preparar-me para cantar a balada do Soldadinho não Volta, e assisti... lindo e bonito, ali foi dito.

O Sr. Joaquim Teixeira em violino, o Ti Zé Sequeira em banjo, o Ti Vitor Pintor em saxofone, eram os músicos de serviço que acompanhavam os artistas nos fados, duetos, operetas e demais cornetas...
Quando o Sr. Joaquim Teixeira dizia, vamos DAR RESINA AO ARCO, queria dizer, vamos ao bar beber um copo, ponche quente, e até aguardente.

A Jacinta ainda hoje canta bem, e à boleia da memória dela, em tarde chuvosa, trauteámos o Meu Amor ó Noiva Querida do Damião, Óh Cartolinha Meu Amor, das Adelaides, Tens um filhinho Teresa, do Ti Domingos Cocharra, e que lindo que ele é, como se parece com o meu que eu tinha e que também morreu, ah... (chorando)... do Sebastião Rabisca, Rabisca Sebastião, do Dr. Salsaparrilha, enfim, uma vida cheia, ao serviço da cultura popular.
Comédia, dança, drama e cantiga, mas com muita pinta, só a Jacinta.
Manuel Peralta
Maior porquê?
Advogado da Honra, Casa de Pais, Matei o Meu Filho, O Lobo no Povoado, em dramas, Brincadeiras de Carnaval, Barnabé vai Casar, Um só Par de Botas, em comédias, Flor da Aldeia em Opereta, Senhor de Matosinhos, Recrutas e Sopeiras em duetos musicais de tudo um pouco, comediou, dramou e melhor cantou a Jacinta.
A foto retrata a família, seu Pai, Manuel Godinho que trabalhou no lagar do Sr. Gabriel Valente e distribuía pirolitos e salsicharia pelas aldeias, sua Mãe, Ricardina Clara, doméstica, seu irmão José precocemente falecido, e a Jacinta.
Viúva, fez a 4ª classe já adulta, nas Freiras, Irmãs Franciscanas de Maria, e com orgulho mostra a sua carteira profissional de Encadernadora Manual, profissão que exerceu desde os 14 anos nas Fábricas Lusitana de Alcains.

Nas Freiras, no Solar, as raparigas de então desenvolviam as suas capacidades a vários níveis, civilidade, costura, cozinha, etiqueta, dança, instrução básica elementar, canto, e claro TEATRO.
Tinham apresentado ao público, em encerramento de actividades, uma comédia denominada As Manas de Paio Pires.
Entre outras contracenaram com a Jacinta, a Carminda André e as MANAS de Alcains, gémeas, filhas do Ti Chico Preto, de nome Teresa e Otília.
Consta que, do patinho ao telhado em casas de sobrado, a comédia terá dado brado, até foi ao jornal, correu de porta em porta da barbearia do Vaquinha à do Pedal...
Ninguém dizia mal...
Mas, as gentes do teatro, as artistas, porque nem só no palco davam nas vistas, não eram socialmente bem vistas.
E imagino o Ti João Pereira, marido da Crisálida, extremosa filha do Ti Tobias que era simpático todos os dias, a paciência que terá tido para convencer a mãe da Jacinta, uma clara Ricardina em deixar sair a sua menina.
Duas vezes tiveram de por munha, carvão de lenha miúda, na braseira.
Mais, mexeram munha e caramunha, já com o Ramiro e o Cocharra à cunha...
Só com paciência de Armando, dizia o Caldeireiro de vez em quando.
Lá foi.

Na JOC, na Associação, na Casa do Povo a Jacinta contracenou com quase tudo o que era artista de papel principal.
Não se atagantava, e o ponto dormia descansado, pois como era dotada de uma memória exceptional e uma capacidade de memorizar rara, sempre que surgia impedimento de artista de última hora, lá estava a Jacinta.

Entre outros, para memória futura, este programa data de 1964 e mostra aquilo que foi a actividade cultural mais relevante em Alcains, o TEATRO.
Trabalhadores, estudantes, irmanados num mesmo propósito, valorizar Alcains e valorizarem-se...
Sempre, em todo o lado a Jacinta, bem acompanhada neste caso pela Maria do Carmo Pequenão Ferreira.
Desta vez sem ponto, nem o Belo da Silva, nem o Da Silva Belo.
O Ti Manel Pratinha corria o pano.
EM OPERETA

Na Opereta Flor da Aldeia, fazendo de Menina Antoninha, contracenando com o Rui Caldeireiro, fazendo de Menino Zuquinha...
Dizia o Rui.

O Coração do meu peito,
Está dentro do peito do seu coração...
E se a Rosinha, sentir no seu peito...
O meu peito, a bater pelo peito do meu coração?
Então o seu coração que salte,
Do seu peito,
Para o peito do meu coração.
Está dentro do peito do seu coração...
E se a Rosinha, sentir no seu peito...
O meu peito, a bater pelo peito do meu coração?
Então o seu coração que salte,
Do seu peito,
Para o peito do meu coração.
De rir às lágrimas...
EM VARIEDADES
Acompanhada pelo Félix Rafael e pelos irmão Messias, a Jacinta cantava vários fados nomeadamente o Xaile de Minha Mãe, que interpretava de forma especial... nos coros, no rancho durante 20 anos, na Encomendação das Almas, nas Ladaínhas, enfim a Jacinta foi para mim, que me lembre, a mulher de Alcains que mais contribuiu para a elevação da cultura popular em Alcains.
No seu espólio, que gentilmente me cedeu para dele dar pública nota, mostro a seguir as capas de várias peças.

Nos teatros também se lutava por ser primeira figura, e claro, os produtores e realizadores do espectáculo, também tinham as suas preferências...
Estava muito em voga, na crista da onda, uma música denominada o Fadinho, assim.
O fadinho, mora sempre por castigo,
Num bairro antigo, num bairro antigo.
E a seu lado pra falarem à vontade,
Mora a saudade, mora a saudade.
...
Num bairro antigo, num bairro antigo.
E a seu lado pra falarem à vontade,
Mora a saudade, mora a saudade.
...
Vieram as partituras para os instrumentos e o fado era para ser cantado nas variedades pela Jacinta, mas... foi dado à Deolinda Pirilau, que desafinou e teve de se parar, para se acertar o tom...

Nem imaginam o que foi nos bastidores, eu estava lá a preparar-me para cantar a balada do Soldadinho não Volta, e assisti... lindo e bonito, ali foi dito.

O Sr. Joaquim Teixeira em violino, o Ti Zé Sequeira em banjo, o Ti Vitor Pintor em saxofone, eram os músicos de serviço que acompanhavam os artistas nos fados, duetos, operetas e demais cornetas...
Quando o Sr. Joaquim Teixeira dizia, vamos DAR RESINA AO ARCO, queria dizer, vamos ao bar beber um copo, ponche quente, e até aguardente.

A Jacinta ainda hoje canta bem, e à boleia da memória dela, em tarde chuvosa, trauteámos o Meu Amor ó Noiva Querida do Damião, Óh Cartolinha Meu Amor, das Adelaides, Tens um filhinho Teresa, do Ti Domingos Cocharra, e que lindo que ele é, como se parece com o meu que eu tinha e que também morreu, ah... (chorando)... do Sebastião Rabisca, Rabisca Sebastião, do Dr. Salsaparrilha, enfim, uma vida cheia, ao serviço da cultura popular.
Comédia, dança, drama e cantiga, mas com muita pinta, só a Jacinta.
Manuel Peralta