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sábado, 16 de abril de 2016

ENSAIO MESMO EM BRANCO

Só em Alcains, já são cerca de sessenta, os micro "nano" agricultores que foram obrigados a frequentar um "inenarrável" curso de Aplicação de Produtos Fitofarmacêuticos.
Trinta e cinco horas, repito 35 horas, 8 dias, em horário pós laboral, das
18.30 às 22.30 horas.
O custo que cada micro agricultor teve de despender para frequentar o dito curso foi de 90 euros, mais 7,5 euros para se receber o cartão, que, ao que consta, tem uma validade de 10 anos. Dois meses passados, cartão, nem vê-lo!
Assim vai a nossa burocrática agricultura...


A generalidade dos alunos da minha provecta turma, têm apenas uma pequena horta, uma belga, um quintal, uma courela, uma tapada, um ou outro uma quinta, e apenas um, raro, entre vinte alunos falava de hectares, a medo, não seriam muitos, menos de três.
No entanto, o parco texto de apoio distribuído que serviu de guia nas aulas, foi decerto retirado de alguma tese de doutoramento, com uma linguagem e conceitos próprios a agricultores de produção extensiva, de alcatifa nas "drabi", desgarrados da realidade que é a miséria da nossa agricultura de subsistência.
Não os refiro por pudor e respeito para quem me lê, tal a discrepância entre as expectativas dos alunos sobre o que iam aprender, e a entidade que concebeu tal modo de desacreditar ainda mais a formação de mais uma "Nova Oportunidade" perdida.


Entretanto, vim de lá, em conceitos, quase doutorando...
Dos vinte alunos da minha turma a generalidade, mais de 95 por cento, tinha apenas a antiga 4ªclasse, tirada há meio século, já esquecidos dos mililitros, das centigramas quase todos desprovidos de bons ares e muito menos de hectares. 
No entanto, lá vinha o cuidado a ter com a pressão dos bicos dos aspersores dos tratores para quem tem apenas pulverizador, o cuidado a ter com as embalagens e o armazém dos ditos fitossanitários, com extintor, balde de areia, a quem apenas tem uma pequena caixa com colher herdada de pai, para fazer uma calda em pulverizador de 5 a 12 litros.


Senti-me por ali meio agrário, tal a megalomania da matéria professada a agricultores familiares, de fim de semana.
Estoicamente lá se foi passando este tempo, de aulas, esta nova oportunidade, sem qualquer material audiovisual, modorra que ia sendo quebrada quando a interação entre alunos e monitora falava do que nos interessava e queríamos saber mais, a lepra do pessegueiro, o olho de pavão das oliveiras, a folha amarelada dos citrinos, as cochonilhas, a mosca das frutas, os nemátodos, dos ácaros aos afídeos.
Cupravit, envidor, serenade, e garbol entre outros, foram parcas curas para quem caro pagou um papel, um cartão, que o habilita a poder comprar e aplicar produtos fitossanitários sem ser incomodado pelas autoridades.


Claro que as empresas de formação têm por aqui um raio de sol que as aquece em dias de frio quase glacial, e é ver como recentemente um jornal local publicou apetites de instituições que sobrevivem com as formações, para terem acesso aos 97,5 euros, por 10 anos, que os governos extorquem a quem trata da horta.
Tamanho aborto legislativo sobre formação sanitária agrícola só pode ser entendido num cenário de absoluto desconhecimento da realidade dos destinatários.
A pessoa, instituição ou organização que tal formação concebeu devia ser tratada em dia de sol com Mesurol.


O título deste texto, ensaio em branco, refere-se a um trabalho de campo, que tivemos de efetuar pra se calcular o produto que se gastou numa determinada área, o débito do pulverizador.
Este texto foi por mim remetido par os jornais, Gazeta do Interior, Povo da Beira e Jornal do Fundão, com pedido de publicação.

Manuel Peralta

3 comentários:

  1. Mais sorte tive eu, por causa do PDI, paguei muito menos, sem qualquer recibo (foi para o saco azul), só lá estive 02H3O e aprendi se a praga do piolho no feijoeiro for pequena, não vale pena fazer qualquer tratament0, porque a joaninha come diariamente 150 piolhos. Quanto ao celebre cartão temos que o ir levantar à DRABI. Um abraço. João Antunes.



    João Antunes

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  2. Caro: é mesmo do melhor que tens escrito. Este texto nas mãos do La Féria dava um quadro de revista! Espero que tenhas preenchido a Ficha de Avaliação e que este Curso te forneça um Diploma que espero ver emoldurado e aqui publicado. À falta de diploma, espero pelo menos ver o Cartão. Então e não houve festa de Fim de Curso!? Estou a ver que isso foi mesmo muito mal organizado! Enfim é lamentável, mas isto é um país de loucos e oportunistas. E a Agricultura, muita dela de subsistência, é que paga. Creio que não existe outra forma de falar desta incursão ao complexo mundo dos fitossanitários!A Química no seu melhor ou um país na mão dos teóricos!...

    Zé MC

    Abrantes / 2016.04.25

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    1. Agricultura promissora. O que por aqui se aprende! Se uma joaninha elimina 150 piolhos do feijoeiro, 100 eliminarão 15.000. Vamos portanto incentivar a criação de joaninhas. Não tem impacto ambiental negativo, que eu saiba, e pelo contrário alegra a Natureza. Por isso o pessoal dos "ninhos", vulgo Quercus, não se oporá ao projecto com certeza.

      Um projecto que integrado num modernaço "cluster" terá condições para se candidatar a Fundos Comunitários! Eventualmente até com interesse para a Exportação.

      Isto não falando já no aumento da produção de feijoeiros que crescerá em flecha. Um projecto pois que reune dois em um. E os postos de trabalho gerados!? Ainda não efectuei o estudo económico do projecto, porém acredito que a Agricultura pode ser promissora e além disso amiga do ambiente! Necessário é ter ideias!...

      Zé MC

      Abrantes - 2016.04.26

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