Páginas

domingo, 4 de maio de 2025

A SALOICE DO “CHEESE” - AUTARCAS PRETENSIOSOS

Profundamente em desacordo com um cartaz que vi afixado no separador publicitário na estrada de Santo António, em Alcains, remeti para ambos os Presidentes, Câmara de Castelo Branco e Junta da Freguesia, este meu “poema” relativo ao evento de promoção do queijo que irá decorrer em Alcains.

Cartaz elaborado por gente sem raiz, sem cheiro de terra, sem história na atividade, aprovado por autarcas que, ocupando democraticamente cadeiras de poder, lhes permitem decidir e aceitar que lhes vendam estas saloices, digo mais, estas patacoadas.

Quanto terá custado esta patacoada? Esta saloiice pegada? Quem embolsou e quanto?

Sugiro a leitura.

Manuel Peralta


A SALOICE DO “CHEESE”

“Cheese”, travestido, camisa, gravata e calça terylene, ou…

Queijo, de samarra de cabra velha sem dor.

Que cobre costas de pastor

De borrego felpudo, calças sem alças, de primaveras e verões.

Quais safões.


“Cheese”, sem ascendentes, família, sequer eira ou beira, ou…

Queijo de Amaros, Lopes, Damas e até Silvas

De eira com beira na Curtinha e, nos Alveirinhos, pastoreado.

Pelo Zés do Raminho Fuscado.


“Cheese” em azulejo tratado, em banca de inox da Frinox, deitado, ou…

Queijo para percheiro escorrido, de cincho e francela das mão dela.

Queijo de lareira em lar, com trempes e cadeia.

De pilheira e palameira.

Queijo que deu travia, em caldeira mexido com colher de pau em mão

Que deu requeijão.


“Cheese” de carnaval e porque não entrudo, ou…

Em contradança de entrudo, que a pastores perdoa tudo.

Assim cantavam.

Nós somos os pastores

Criados de servir

E hoje por ser entrudo

O patrão deixou-nos vir.


Ou...


Nós somos os pastores

Do cincho e da francela

Quando não há toucinho

Até comemos morcela.


“cheese”, autarcado nome que ignora a terra, a sua raiz, que nome infeliz, ou…

Queijo de noivado, com faca talhado, quer em capa de aqueduto ou salto de sapato.

Cortado.

Queijo de merina, em feijão frade aleitado, qual beijo em boca de noiva.

Enrolado.

Queijo de casamento ou batizado, sabão de estômago.

Lavado.

Queijo, que beijo, de ourela de pão na mão, suado, em corna de pastor.

Guardado.

Queijo com talhada de mão em mão, queijo de Alcains.

SIM.

“Cheese”, Nunca.

NÂO.

Manel d'Alcains


CORNA DE PASTOR

Trata-se de um recetáculo onde o pastor guardava queijo, toucinho, presunto ou enchidos.

De um corno de vaca, de boca larga, depois de ser retirado tudo o que havia no seu interior, era colocada uma rolha de cortiça que fechava a corna.

Feito um pequeno buraco, onde entrava pequeno conjunto de ráfia, que suspendia a dita corna na habitação do pastor, cama de giesta e samarras de cabra ou ovelha, com taipais, paredes de giesta, atadas a tábuas de madeira.

3 comentários:

  1. Poeticamente brilhante.
    Parabéns ao autor.
    Mas, infelizmente, já quase não há queijo de Alcains...
    Ovelhas ainda vai havendo, cada vez mais ovelhas de carne...
    Sinal dos tempos... sinal inexorável...
    SLB

    ResponderEliminar
  2. Bom dia. Não sabia que tens VEIA de POETA, e fos bons. Andei lá pelas queijeiras com o meu Tio e ser-me-ia muito difícil escrever algo, sequer, parecido. Tem havido muitas críticas ao nome da feira, mas nada que te chegue aos calcanhares!!!! Parabéns e Boa Páscoa. Abraço
    Je – tchap

    ResponderEliminar
  3. Caro: excelente poema sobre o Queijo de Alcains. Já sabes o que eu penso sobre a saloice do Cheese!...

    ResponderEliminar