Páginas

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Rui “Caldeireiro”... um artista

Rui Pereira Antunes, o Palhaço, o Cantinflas, o verdadeiro artista...

Combinei com ele e lá estava, na rua do Chafariz Velho, na casa da curva, com um rol de fotografias que testemunham tempos passados, de palco, de tardes e noites de glória, de felicidade que o Rui transmitiu a muita gente, que na Casa do Povo assistiram pelo Natal e Páscoa a noites de cultura popular.

Foto atual

O Rui fez rir muita gente... bastava entrar em cena e quer fosse drama ou comédia, o “frisson” na sala percorria toda a gente e claro, não se conseguia conter o riso...
Certa vez e conhecedor das gentes da terra deles, o Senhor Ramiro Rafael sobe ao palco para avisar os espetadores presentes, de que, o Rui ia entrar em cena mas no drama, não em comédia, pelo que pedia a todos os presentes que tivessem em atenção tal fato.
Que sim, está bem...!!!

Fazendo de bêbedo, interagindo com um garrafão

Claro, o efeito foi precisamente o contrário, em drama, mal o Rui entra em cena o riso da assistência foi de tal ordem que, esta, demorou imenso tempo a ser restabelecida.
O Rui, nasceu em Junho de 1933, filho de Antonio Pereira Antunes e de Laurinda de Jesus Antunes.
Seis irmãos, a Céu, Rui, Manuela, Manuel (falecido), Teresa, e António.
Casado com Maria Salete Soares Gregório, tem uma filha, de seu nome Clara.
Caldeireiro...

O Rui na arte de caldeireiro

Entre outros, com o professor Penha, acaba a 4ª classe do ensino primário e claro filho de caldeireiro, caldeireiro.
Até aos 18 anos nada mais fez que bater latas... apesar de na altura não haver novas oportunidades, o Rui fez um mestrado, tornando-se Mestre em Alambiques.

Com Clotilde Adónis, na peça “A mania das manas”

Dezoito anos, inspeção militar e tropa.
Não, ficou livre, era um “gaiolas”, fraco, magro, “fracatchitchas”, e claro, farto de bater latas, dá ele também o “salto” para França.
Uma dúzia de anos por lá andou por “franças e araganças”...

Fazendo o papel de Menino Zuquinho, na Opereta Flor da Aldeia

Nota: Em baixo a careca do saudoso Ti Zé Sequeira, um músico especialista em “dar resina ao arco”, beber uns copos...


Sabia soldar a “autogénio”, gémio de eletrogénio, e por tal fato esteve sempre em trabalho de serralharia.
Com 20 anos teve a primeira desilusão ao ver coartada por seu pai, a entrada na vida de artista, sua primeira vocação.
Entretanto, passou por Alcains o circo Ideal, e o Rui pede ao dono do circo se o deixava fazer palhaçada... que sim, que seria apresentado como espontâneo e se tivesse êxito poderia ser artista.
Pede ao pai autorização para tal, mas este, caldeireiro de poucas falas, seis filhos para criar e uma tapada na Retorta, responde-lhe.
- Ai queres ir para o circo? Vai mas é para a Retorta, regar as batatas da horta.
Caldeireiro, ficou.

Na peça, Aconteceu no Natal, contracenando com Domingos “Cocharra” e Jacinta Godinho

Regressado da França, volta à sua arte de artesão, fazendo alambiques para bêbedos... que vendeu um pouco por toda a zona, em especial nas feiras do Fundão, em Nisa, nos mercados em Castelo Branco e claro, sempre, sempre, na feira dos Santos em Alcains.
Alambiques, caldeiras de metal, braseiras que até certa altura tiveram grande procura para decoração das casas.
Mas, hoje já não se usam, ficam negras sem ninguém lhes tocar e dão muito trabalho a limpar...

Na peça, A mania das Manas, contracenando com Manuela André

Após a tentativa frustrada de artista de circo, é pela mão de Ramiro Rafael e Vitor Serrasqueiro, então com 31 anos que, o Rui sobe aos palcos da Casa do Povo.
E, a partir daí, o Rui fez sempre parte dos variados elencos de artistas amadores, que tanto deram a Alcains, na nobre arte de talma...
Tempos passados e por enquanto, irrepetíveis.

Na Opereta Flor da Aldeia, o menino Zuquinho, Rui, contracenando com a menina Antoninha, Jacinta Godinho

Começou como comediante e nas várias peças que representou, nas comédias, o Rui dava sempre um toque especial de verdadeiro e nato comediante.
Ao ver os filmes, começou a imitar o Cantinflas, que foi por assim dizer a sua mais bela e capaz criação.

O Rui em expressão facial, acantiflada...

De génio, de rir ás lágrimas, nos seus trejeitos de ancas, na pose, no vestir, acompanhadas por uma anormal expressão facial e na espanholada voz, que fazia quase inteligíveis os textos, a que raramente obedecia.
O saudoso ponto, José Manuel da Silva Belo, via-se em “cagantchas” para o acompanhar, e deixar, deixa...

O Rui na peça por si escrita, Cantinflas, procura emprego...

...nota pessoal, por mim vivida.
Tive em tempos, por volta de 1966, uma breve passagem pelos palcos, a pedido do senhor Ramiro Rafael, numa situação de urgência teatral.
Na Opereta Flor da Aldeia, eu era o galã, Damião de seu nome,  que disputava com o menino Zuquinho, Rui, a mesma namorada, de nome Rosa, que era a Deolinda “Pirilau”, na altura uma rapariga, linda, linda, linda...

Rui, contracena com Manuela André, em Cantinflas procura emprego

Recordo de memória a declaração de amor do menino Zuquinho, rui Caldeireiro.
-Virando-se para Rosa, assim dizia a fala...

O coração do meu peito,
Está dentro do peito do seu coração...
E, se a Rosinha !!!
Sentir no seu peito..
O meu peito, a bater pelo seu coração,
Então o seu coração que salte do seu peito,
Para o peito do meu coração...
É que o meu coração sofre,
Por não estar com o seu coração!


Isto dito pelo Rui, o menino Zuquinho que fazia em termos da linguagem da terra deles de menino “ imbabuléde”, assim um “pocatchinho”, era de rir a perder...
E foi isto que o Rui fez na sua vida de artista popular.
Fazer com as suas inatas qualidades e capacidades, mais felizes os outros, fazer rir, sorrir, tanta gente...
De borla.
Com a sensação do dever cumprido, presto esta homenagem ao melhor cómico, palhaço, comediante de sempre em Alcains.
Muito obrigado, Rui Caldeireiro.

Manuel Peralta

4 comentários:

  1. Sem duvida uma justa e merecida homenagem ao melhor comico de Alcains e que eu tambem tive o privilegio de poder assistir a algumas peças suas.
    Ainda hoje quando se passa por ele se nota aqueles traços comicos que tanto fizeram rir muita gente.
    Mais uma vez o Peralta esta de parabens por ele e so ele ter a capacidade de colocar aqui no Terra deles lembranças de outros tempos.
    Jose Maria Teodoro

    ResponderEliminar
  2. Obrigado, Peralta, por este teu autêntico serviço público. Para mim, a revelação deste teu post é uma completa (e agradável) suspresa, que eu conheço o homem, mas não conhecia o artista.
    Um abraço a ti e um abraço a ele.

    ResponderEliminar
  3. Rui "caldeireiro" - Cantinflas "made Alcains"

    O apontamento bem humorado sobre este alcainense divulga factos desconhecidos, suscita memórias e provocará com certeza saudades, em muitos.
    Desconhecia em absoluto, a sua tentativa de entrar no circo Ideal, um dos circos que regularmente passava por Alcains, será que havia por lá alguma atractiva loira(!), e que o seu pai liminarmente reprovou sem mais aquelas.
    Aliás dos espontâneos, em circos de rua, "comédias na praça", vem-me à memória um nome, o Raul "parilau", sempre o primeiro a dar um passo em frente, sempre que se pedia um voluntário, e cuja "performance" terminava normalmente, com a saída do seu traseiro, de uma vela acesa ou uma nota de 20$,bem dobrada!

    Na minha passagem na década de 60 pelo palco em Alcains, nunca me cruzei com as comicidades do Rui, que todos referiam,e eu acredito, irresistíveis...

    Já na década de 80, quando dumas festas da vila, que o "homem do leme" me "exigiu" que tentasse coordenar, dessa vez tive a oportunidade de ver um curioso apontamento do Rui, no seu característico Cantinflas.

    Para os mais novos, Cantinflas, de nome Mário Moreno (1911-1993), mexicano, e que seria como que uma réplica em língua castelhana, do imortal Charlie Chaplin, que aliás confessou nas suas memórias, o desejo que a vida tornou impossível, de fazer um filme conjunto.

    A personagem que imortalizou Cantinflas, era a de um pobre diabo, optimista, ingénuo, que respirava ternura, vestindo calças velhas a cair, camisola interior branca surrada, uma gravata atada ao pescoço e creio que um pequeno e cambado chapéu...e como mexicano, falava castelhano.

    Foi a imitar esta personagem, que imortalizou o Rui no palcos alcainenses...e fazia rir a bandeiras despregadas, quando os seus trejeitos e voz anasalada, a imitar castelhano, reproduziam uma personagem que entrara em mais de cinco dezenas de filmes, que quase todos já tinham visto.

    Por isso, em geito de balanço, e daquilo que vi, Rui, terá sido no Teatro daquela época, um dos maiores cómicos, emparceirando com João Soares e Domingos "Cocharra"...
    Antes e depois deles, outros nomes com certeza se poderiam apontar.

    E desculpem se me fixei sobretudo em Cantinflas, mas quantos serão aqueles, que do Rui, não é esta a memória que guardam!

    Um abraço para o Rui.

    MC
    Porto, 25 Julho, 2012

    ResponderEliminar
  4. Rui "caldeireiro" - Cantinflas made Alcains /cont.

    Faltou referir no apontamento anterior, que Charlie Chaplin, foi mundialmente conhecido por Charlot...E as características desta personagem eram muito semelhantes às de Cantinflas...Na NET abundam pequenos vídeos relativamente à sua imortal carreira...

    Foi pena que o tal filme, que teria Charlot versus Cantinflas, nunca tivesse acontecido!

    A suceder, quem sabe o talento de Rui para imitar Cantinflas não teria também englobado Charlot!...

    MC
    Porto,25 Julho,2012

    ResponderEliminar