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domingo, 28 de julho de 2024

O ENSINO EM ALCAINS (3)

O recebimento do telegrama na Junta e o eco que a comunicação social deu da excelente notícia, alvoroçou toda a comunidade e, muito mais, a gestão da escola onde se iria iniciar o 7º ano de escolaridade.

Na gestão da escola onde iria funcionar o novo ano, estava um professor que, encanou até que pode, a perna à rã, não me lembro do seu nome e, foi mesmo muito difícil levantá-lo da cadeira onde estava comodamente sentado, e convence-lo a ser parte da solução.


Demorou, mas enfim, lá foi. E, ainda que, com tudo provisório, os alunos que iriam frequentar o 7º ano de escolaridade, acabaram mesmo por iniciar a sua frequência, os de Alcains e todos os das freguesias vizinhas.

S. Vicente da Beira foi o caso mais difícil, como foi sede de concelho em tempos muito idos, nunca aceitou a situação, vir para a escola de Alcains, a maior aldeia e agora Vila sem ser sede de concelho.

Entretanto e nos finais da década de sessenta e na década de setenta, residiu em Alcains no Solar dos Goulões com onze filhos, dois rapazes e nove raparigas, o Engº Cordovil e esposa, Engº Cordovil que era o responsável pela fábrica do milho na estação da CP, capela de São Pedro.

Deve-se a ele a “CAMIONETA DOS ESTUDANTES”, pois foi sob o seu patrocínio que os estudantes de Alcains tiveram um transporte para poderem frequentar o ciclo e o ensino secundário em Castelo Branco. Os estudantes tinham um cartão passe que pagavam parte do custo e, o que faltava era da responsabilidade do Engº Cordovil. A família ia todos os domingos à missa, ele fumava cachimbo e, os dois filhos que tinham, João e Francisco, foram meus colegas de escola primária com a excelente Professora, Dª. AMÁLIA MORÃO CARREGA RUFINO.

Nos anos oitenta a coligação AD com PSD e CDS governaram o concelho, e, o CDS daquele tempo era forte e, o policiamento político era o prato forte. Eu tinha sido eleito e era, um autarca independente.

O CDS decidiu organizar um jantar de homenagem ao Dr. Carlos Robalo, que no PSD caiu mal, politicamente, claro.

Dou nota acima nestes recortes de jornais, Fundão e Reconquista do que por lá se passou.

Atendendo à excelente relação que tive com o Dr. Carlos Robalo, e ao que ele fez por Alcains, era meu dever estar presente. Estive.

Apenas eu e o seu cunhado, Major Castela, Presidente da junta de Cafede, dos vinte e cinco presidentes de junta do concelho de Castelo Branco, estivemos presentes.

Política...


Manuel Peralta

quinta-feira, 25 de julho de 2024

O ENSINO EM ALCAINS (2)

Em 13 de julho de 1981, foi a Junta da Freguesia notificada através de um telegrama, hoje quase inexistentes, que no ano letivo de 1982/1983 iria funcionar em Alcains uma Escola Secundária, inicialmente com os três primeiros anos, 7º. 8º e 9º ano, no edifício do Ciclo Preparatório.

Mas, porquê apareceu este telegrama? De memória cito o que aconteceu.

No âmbito da Assembleia Municipal, conheci e tornei-me amigo do Presidente da Junta de Cafede, o Senhor Major Castela. Este meu amigo, Major Castela, era familiar, presumo que cunhado, do Senhor Secretário de Estado da Administração Escolar, Dr. CARLOS ROBALO.

Dei-lhe conhecimento desta nossa, de Alcains, pretensão, e acertei com ele, e aceitou, que eu iria a Cafede um dia em que o Dr. Carlos Robalo por ali viesse passar um fim de semana familiar. E assim aconteceu.

O Dr. Carlos Robalo era um homem de porte muito elevado e detentor de uma voz que não esqueço, uma “voz toeira”, como diria a minha querida Mãe. Recebeu-me com elevada simpatia que não esqueço, no solar da casa do Robalo, um palácio para Cafede, e no quintal da casa, palácio, suspenso, estava um avião de elevada dimensão, que me impressionou, relembro.

Exposta a pretensão que o Dr. Carlos Robalo anotou, informou-me de que tudo iria fazer, pois como bom conhecedor do desenvolvimento de Alcains como era, não iria esquecer, pois seria de elementar justiça dar seguimento a este justo pedido.

Reafirmou que o pedido não era novidade, pois conhecia os ofícios, vários, com estatísticas, censos, disponibilidades de edifícios, que a junta, desde o início do mandato, havia enviado para a Secretaria de Estado. Tentei até que a diocese cedesse temporariamente o na altura quase desabitado de seminaristas, Seminário de Alcains, mas sem efeito. Há na Igreja, uma Igreja que gosta mais de receber do que emprestar, quanto mais dar…


E assim apareceu o famoso telegrama.

A comunicação social local e regional davam nota desta excelente notícia, como podem ler no escrito anterior.

Todos os dias cerca de 200 alunos de Alcains deslocavam-se para Castelo Branco e, a estes, havia que somar ao alunos das freguesias a norte de Alcains, Póvoa, Lardosa, Lousa, Tinalhas, Louriçal, Ninho, Escalos e S. Vicente da Beira.

Claro que nem tudo foram rosas, e as pequenas invejas locais das freguesias que, em seu entender, se igualavam a Alcains, preferiam continuar a ir para Castelo Branco em vez de Alcains.

Fez-se uma reunião na Câmara com o Presidente, as freguesias a integrar e, um elemento da Secretaria de Estado que, disse que nada havia a fazer, tudo teria de convergir para Alcains, pois era esse o Plano Ministerial para o ensino.

E assim aconteceu, até hoje.


Fiz decerto por Alcains, coisas de que me orgulho, mas esta, está acima de todas, dar condições de igualdade a todos os Alcainenses para crescerem.

Continua


Manuel Peralta

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O ENSINO EM ALCAINS (1)

 O ensino, em boa escola, era e continua a ser o grande fator de desenvolvimento humano e, por arrasto, o maior elevador social, e de desenvolvimento. Por isso a Junta da Freguesia, com grande empenho, tudo fez para que os Alcainenses, na sua terra, tivessem acesso ao mesmo.

Em 1980 em Alcains fazia-se a quarta classe, ensino primário e, o seguimento dos estudos era feito em Castelo Branco, ora no liceu ora na escola industrial e comercial. Funcionava entretanto no edifício da JOC, Juventude Operária Católica a TELESCOLA e, o Ciclo Preparatório começou por ser ministrado na casa do Sr. José dos Reis Sanches onde hoje está a sede da Junta da Freguesia.

Não havia transportes, e os que existiam nada se coadunavam com os horários das escolas albicastrenses. Existia uma carreira diária, da empresa Martins Évora, para Castelo Branco, em São domingos pelas 10h30 da manhã e regresso pelas 16h30 de Castelo Branco para a Covilhã, parando em São Domingos, nas bombas da gasolina, como se dizia então.

Comboios e ainda hoje a CP, sempre estiveram de costas voltadas para os seus utentes e, Alcains era apenas mais um caso de abandono.

Aliadas às dificuldades familiares, tinha de se ir viver para Castelo Branco, e ao facto de não haver transportes, estas duas premissas, condicionavam ainda mais a frequência do ensino, secundário. Muitos alunos que faziam a quarta classe acabavam assim , muito cedo, de deixar de estudar e, iniciavam também, muito cedo, a aprendizagem de uma arte, carpinteiro, pedreiro, canteiro, marceneiro, serralheiro e, no caso das alunas, ou iam para a mestra ou para a agricultura ou para a Dielmar quando a idade o permitia.

Outros, e nesse tempo foram bastantes, acabavam por ir para o Seminário do Gavião ou Portalegre, para iniciarem uma vida que não desejavam, ser Padre.

Outros, como o meu caso, e muitos mais como bem me lembro, iam e vinham diariamente de bicicleta para Castelo Branco para frequentar o ensino que Alcains não tinha. Quer na escola técnica quer no liceu, não havia cantina e, muito menos salas para acolher os alunos, quer as suas bicicletas, bem me lembro.

Foram vários anos a almoçar frio, a chegar com os pés molhados à escola, mas também, um tempo de grande divertimento face à liberdade que se tinha.

Gostei tanto desse tempo, que ainda hoje sempre que posso, ando de bicicleta, sei remendar um furo, afinar travões, bater crenques, afinar a corrente, enfim, um mecânico da bicicleta.


Continua

Manuel Peralta

quinta-feira, 18 de julho de 2024

HOSPITAL JOSÉ PEREIRA MONTEIRO

A comunicação social dava nota e, o sentimento geral na população era de apreensão, primeiro, pelo fecho há já alguns anos do hospital e, depois, pelo estado de degradação que o belo edifício situado em local nobre da Vila, apresentava.

O edifício onde funcionou o hospital foi doado pelo casal José Pereira Monteiro à população de Alcains, mas a sua gestão, hospitalar, cabia à igreja, mais propriamente como primeiro responsável, ao senhor bispo da diocese de Portalegre e Castelo Branco.

O casal não teve filhos e, além desta doação, construiu e ofereceu também o edifício do Seminário, onde cheguei a contar cerca de uma centena de seminaristas, nas décadas de cinquenta e sessenta. Seminaristas estes que, participavam nas procissões, tinham uma boa equipa de futebol que participava em torneios e, muitas vezes, com as equipas dos escuteiros de Alcains.

Vinham nos dias primaveris passear para os Sobreirinhos e ali cantavam, corriam e assim se libertavam do cativeiro. Em terra de " PEDREIROS LIVRES E MUITA COSTURA" chamávamos-lhes "BANDOS DE CORVOS". Nas procissões iam à frente e, nunca misturados com os elementos do sexo oposto, evitando assim olhares pecaminosos sobre o dito...

O casal tinha também um monte agrícola, o Monte de São Martinho, de onde provinham parte dos rendimentos para manter o seminário. Toda a sua riqueza material, casal muito religioso que era, foi doada à diocese de Portalegre e Castelo Branco.

Como hospital, era o serviço assegurado por uma ou duas enfermeiras, Dª. Belarmina e, peço desculpa de a minha memória se recusar no nome da outra enfermeira e, pelos médicos da terra, na data os Drs. Albano e Atayde.

Lembro-me de em criança visitar ali com a minha Mãe um ou outro amigo ou familiar, subir umas mais que empinadas, ingremes, escadas de granito, e depois persignar-me e, de joelhos, fazer uma vénia ao santo ao santa que no altar ao cimo das escadas, abençoava os/as pacientes.

O hospital assegurava ainda apoio social aos quase miseráveis que os havia, desnutridos, errantes e toda uma população de carenciados que ali encontravam um acolhedor lar onde pudessem recuperar das agruras de vidas difíceis, sem lar, nem pão...

Que fazer?

Em Alcains, troquei impressões com o Sr. Vigário, Padre António Afonso Ribeiro, que me informou que o assunto dependia da diocese e do Sr. Bispo.

Fui a Portalegre falar com o senhor Bispo e, da entrevista, nem sim, muito menos não, talvez, antes pelo contrário... encanar a perna à rã, quando vim de lá, foi a minha convicção.

E, por outro lado, na comunicação social e na população o assunto Hospital, era tema presente e permanente.

Decidi fazer um Inquérito público à população, uma vez que, um ou outro escaldão que sempre se apanha a quem andas nestas lides, me foi ensinando e fui aprendendo, que, HOMEM PREVENIDO VALE POR DOIS.


Os resultados do inquérito foram quase todos no sentido de a diocese entregar o edifício à Junta da Freguesia, para que esta lhe desse o destino conveniente.

Quem não ficou muito satisfeito com o inquérito além do Sr. Bispo, foi o Sr. Vigário, pois do ponto de vista da hierarquia da igreja, o Sr. Vigário, era olhado como um colaborador que tinha deixado, na sua paróquia, fazer algo que punha em causa o património diocesano.

Tive de explicar ao Sr. Vigário de quem sempre fui e sou, muito amigo, de que as minhas funções me obrigam a separar o religioso do profano, e que, a degradação do edifício também não era um bom cartaz para a diocese.

Voltei a Portalegre, e, desta vez o Senhor Bispo, entregou-me ao Padre gestor do património diocesano.

Manifestou o desagrado da diocese com o inquérito e, afirmou que, o testamento que o casal José Pereira Monteiro fez sobre o edifício/hospital, não permitia que a nova utilização fosse outra que não a da vontade exarada no testamento.

Pedi então uma cópia do testamento, que não me foi, entregue de imediato.


Depois de várias cartas e, chamadas telefónicas de insistência, nos CTT eram de borla para a junta, fui então chamado ao seminário de Alcains onde pela mão do Senhor Cónego Chaves me foi entregue a cópia de escritura que deixei na Junta da Freguesia.

Recentemente em encontro com o Dr. Silvio Barata, que foi autarca em Alcains, trocámos impressões sobre o tema e recordou a leitura da escritura do testamento, que na autarquia de Alcains, leu.

De memória, relembro, da leitura do testamento, algo assim.

"UM DIA, QUE DEUS NÃO HAJA, QUE O HOSPITAL DEIXE DE EXERCER O BEM QUE ALI SE PRATICA, O EDIFÍCIO DEVE SER ENTREGUE PARA QUE CONTINUE O SERVIÇO SOCIAL".

A ideia geral é esta.


Em Castelo Branco já estava há vários anos ao serviço de todos o HDCB, Hospital Distrital de Castelo Branco e, para se cumprir a vontade dos testamentários, ainda iniciei contactos com a Segurança Social, ao mesmo tempo que  fui dando conhecimento ao Presidente da Câmara.
Começou a ter solidez, e a fazer sentido, a ideia de um Centro de Saúde para Alcains.
O mandato aproximava-se do fim.
Outros seguiram o caminho e, no mandato do Sr. Engº. Rogério Martins, tive o grato prazer de ser convidado para a inauguração da Extensão de Saúde De Alcains.

Manuel Peralta

segunda-feira, 15 de julho de 2024

A ENERGIA (LUZ ELÉTRICA) EM 1980, EM ALCAINS. (3)

 1. O que se passou e o que se fez.


Passados poucos dias desta reunião com o Secretário de Estado, apareceu na Junta o deputado à Assembleia da Républica do PCP João Amaral, que ofereceu os seus serviços para que no âmbito da AR, tratar da questão ALCAINS CONELHO.

Foi uma reunião muito cordial, era uma pessoa muito simpática, faleceu entretanto, e, como havia na Assembleia de Freguesia uma comissão para tratar deste assunto, para lá encaminhei o tema. Que me conste nada foi feito, pois a perda das eleições por parte da lista que se candidatou com este cartaz, esmoreceu e não mais se falou deste assunto.


LEVANDEIRA


Quase ao mesmo tempo, o Engº. Barata da EDP contactou-me nos CTT, para marcar uma reunião comigo.

Marcou-se a reunião e, sobre um mapa de Alcains, foi pedido à Junta, que ajudasse na construção e na localização dos terrenos onde se iriam erigir os seis edifícios onde mais tarde se instalariam os seis postos de transformação.

A EDP pagava 200 contos pela construção de cada edifício, com projeto que foi fornecido à Junta, da responsabilidade da EDP.

JOÃO SERRÃO


Como naqueles tempos era a Junta que fazia todos os trabalhos de que Alcains necessitava e, a Câmara fornecia os meios, não considerei oportuno parar os trabalhos de infraestruturas que a equipa da Junta executava. Para tal falei com o Ti Manel Pereirinha, já falecido, a quem adjudiquei os trabalhos de execução dos edifícios para os postos de transformação.

Aceitou a proposta e assim se construíram os edifícios que mais tarde foram entregues à EDP.


CASADEIRA


Fez-se uma reunião com o Engº. Barata da EDP e com o empreiteiro que iria construir os edifícios e, ficou claro para todos que, era a EDP que fiscalizava a construção, e que os pagamentos seriam faseados em função dos autos de medição dos trabalhos , na medida em que eram efetuados.


CABINE HEAA


A localização dos edifícios ficou a cargo da Junta, mediante a divisão de Alcains em zonas de influência efetuadas pela EDP, em mapa que a EDP nos forneceu, uma vez que, cada posto de transformação teria que ter um transformador com potência elétrica adequada a cada zona.

Este dimensionamento técnico coube à EDP, uma vez que a distribuição da corrente seria em anel, isto é, todos os transformadores estavam interligados de tal modo que se um avariasse, a energia seria, e é fornecida pelos restantes.

Este sistema funciona desde aqueles tempos e hoje a gente não se lembra de uma falta de luz.


RUA DO ÁLAMO


Ao mesmo tempo que se iam construindo os edifícios e, uma vez que a EDP concordou com a sua localização, começaram a desenvolver-se os trabalhos da rede de interligação dos postos de transformação, em rede de Média Tensão.

Foram instalados vários quilómetros de cabos elétricos, todos no subsolo, rede subterrânea, o que deu uma segurança, que até hoje se mantém.


REGATINHO


A rede subterrânea foi executada por uma empresa privada denominada PEREIRA DA COSTA, entretanto desaparecida, mas que bem me lembro de nunca ter visto uma empresa a fazer valas com tanta rapidez e sem um único acidente.

Em termos de infraestruturas foi dos trabalhos que me orgulho de ter ajudado a resolver.


CICLO PREPARATÓRIO


Nunca mais até hoje houve queixas de cortes de energia, os estabilizadores das televisões foram arrumados, as trovoadas vão e vêm e a luz continua acesa e, temos hoje quer para uso doméstico quer para uso empresarial uma energia de qualidade.

Dentro do perímetro urbano da Vila todas as baixadas para consumo doméstico são subterrâneas o que dá segurança à rede.

Fui várias vezes instado que em Alcains a rede era subterrânea e em Castelo Branco a distribuição ainda era em grande parte, aérea. Por ser o presidente nessa data, presumo, e sem que desse qualquer passo para tal, foi instalada na minha residência na rua 25 de abril, a primeira baixada subterrânea dessa nova rede.

Reafirmo, tenho mesmo muita satisfação por ter ajudado a fazer o que foi feito, em termos de Rede Elétrica de Alcains.


Manuel Peralta

quinta-feira, 11 de julho de 2024

A ENERGIA (LUZ ELÉTRICA) EM 1980 (2)

 1. INICIATIVAS


A comunicação social de então dava boa nota dos graves problemas que a ausência de energia, em condições, em todo o Concelho e não só, causavam no desenvolvimento das atividades existentes e futuras.

Nas assembleias municipais que ocorriam com regularidade, e, sempre na qualidade de Presidente da Junta e no período de antes da ordem do dia, usava da palavra para dar eco dos problemas que a minha terra enfrentava. As atas da assembleia desse tempo, no arquivo da câmara municipal, testemunham o que refiro.

Por outro lado, e agora do ponto de vista da política, o PCP/APU, Partido Comunista Português/Aliança Povo Unido tinham obtido cerca de 500 votantes nas eleições da autarquia, e eu, o presidente tinha sido eleito numa lista independente. Dava-me, e, ainda hoje, me dou muito bem com o Ti João Visga eleito pelo PCP/APU para a Assembleia da Freguesia.


Por ouro lado, foi à equipa do Ti João Visga a quem a Junta adjudicou as várias centenas de metros quadrados de calçada portuguesa, toda de Alcains, com que se calcetaram quase todas as ruas que dela necessitavam, cito de memória, Av. General Eanes, toda a calçada sobre o ribeiro desde o café Esteves, passando pelo largo do Chafariz Velho até à casa do falecido João Santos, toda a rua do Álamo que ainda hoje resiste, parte da rua da Feiteira, parte da rua que da casa do Sr. João Santos até ao alcatrão do loteamento do ex Ciclo Preparatório, perpendicular à rua Cidade de Castelo Branco, na rua José dos Reis Dias que dava acesso ao Ciclo Preparatório e que não tinha saída, teve a Junta que destruir o cabeço de várias rochas que ali existiam e, para onde estava previsto fazer umas escadas, entre outras.

Enquanto presidente, o alcatrão esteve sempre, de Alcains, afastado.

Na Assembleia Municipal havia vários eleitos do PCP/APU entre eles o Dr. Francisco Costa que se debruçou sobre os dois graves problemas de Alcains, LUZ E ESGOTOS. Deles deu nota a comunicação social. Ver recorte abaixo.


Como já referi a questão da luz era um problema geral no concelho.

No âmbito da Assembleia Municipal foi criada uma comissão para fazer o levantamento geral da situação, da qual fiz parte e, entre outros o presidente da Junta de Cebolais de Cima, PSD, Alberto Romãozinho, mais tarde nomeado Governador Civil, uma vez que ainda ali existiam algumas indústrias de lanifícios.

O levantamento da situação destinava-se a esclarecer o Secretário de Estado das Obras Públicas, José Nobre de seu nome, dos problemas que por aqui, concelho, existiam.

Na EDP, como já disse, havia apenas dois engenheiros, Riscado e Barata, este, membro do PCP. ( só me lembro destes dois nomes de ambos ). Isto apesar de o Engº. Riscado ter sido meu professor.

Numa Assembleia e Câmara AD, Aliança Democrática, o mal estar democrático com o PCP era quase a norma e, como na EDP estava um membro do PCP, Engº. Barata, era ele responsabilizado, geralmente, pela ausência de serviço prestado aos clientes.

Lembro-me bem disso.

Fez-se entretanto a reunião com o Secretário de Estado, José Nobre e, ali, todos os elementos da comissão, autarcas, do PCP incluído, comerciantes, industriais, todos disseram expuseram as dificuldades existentes e, claro a acusação de inoperância dos serviços da EDP local, recaía sobre o Engº. Barata.


Também intervim para dizer, mais ou menos, o seguinte.

"Trabalho nos CTT desde 1974 no setor dos telefones, temos muito menos assinantes que consumidores de energia, temos cerca de mil pessoas em espera para ter telefone, temos no distrito 8 engenheiros, para o concelho de Castelo Branco cerca de 40 guarda fios, cerca de 12 assalariados para tarefas de ajuda a guarda fios, e vinte viaturas. E na EDP, Senhor Secretário de Estado? . Constava que na EDP além dos dois engenheiros, havia apenas uma viatura renault 4L, e mais dois jeepes para cerca de meia dúzia de eletricista ou pouco mais".

Claro que estas palavras destoaram bastante da crítica dominante e, mais tarde, a questão começou a ser equacionada de forma diferente e, deu-se então início àquilo que, por parte do Governo/EDP, se chamou OPERAÇÃO BEIRA BAIXA, que permitiu gradualmente outras opções de elevado investimento na rede elétrica, até aos dias de hoje.

Reflexos em Alcains.

Continua


Manuel Peralta

domingo, 7 de julho de 2024

EM 1980, A ENERGIA, (LUZ ELÉTRICA), EM ALCAINS, ERA ASSIM

1. SITUAÇÃO

Pode-se dizer com algum exagero que, em Alcains, em 1980 não havia nem luz elétrica, nem água.

A HEAA, Hidro Elétrica do Alto Alentejo, foi a empresa que distribuiu ao longo de muitos e muitos anos a energia em Alcains. Com o 25 de abril, houve um reagrupamento destas empresas e constituíram-se em quase todo o país empresas de âmbito nacional e municipal, as Federações de Municípios, para os quais passou essa responsabilidade. Esta reforma do setor elétrico nacional também não surtiu o efeito desejado, até que anos depois se constituiu a nível nacional a EDP, Eletricidade de Portugal.


Para tomar conta da rede elétrica de Alcains, nos tempos da HEAA, existia um empregado, o Sr. Batista, pai, que ligava ou desligava na cabine por detrás do cemitério, a luz. Quando da festa de Santo António e para que se visse melhor o fogo preso, o Sr. Batista desligava a Luz.

Quando se construía uma casa e era necessário uma nova baixada, estava-se dependente da HEAA/FEDERAÇÃO, em Castelo Branco, onde apenas existiam dois engenheiros, Barata e Riscado e poucos mesmo muito poucos eletricistas.

A intensidade da corrente era muito fraca e, em Alcains, para que as televisões pudessem trabalhar sem interrupções, todas tinham de ter um transformador associado, chamado de ESTABILIZADOR,  para que este pudesse ajudar a melhorar, estabilizar, a corrente.


Quando trovejava, e se trovejava naqueles tempos, relembro as trovoadas de Maio, ainda com a trovoada eminente e, muito longe de passar a iminente, a luz já se tinha ido, embora…

Onde esteve o antigo edifício do hospital, José Pereira Monteiro na rua com o mesmo nome, e, onde hoje está no mesmo edifício, a acanhada Extensão de Saúde de Alcains, em plena rua, com muitos fios de cobre que transportavam a eletricidade, e, por ser das zonas mais habitadas e com algum comércio, eram quase diários os cortes de energia pois os fios de cobre, insuficientemente dimensionados para a quantidade de energia que por eles passava, dilatavam, tocavam uns nos outros e faziam inúmeras faíscas, a que então se dominavam arraiais, fogo preso, devido à coloração das faíscas.


Que eram um perigo para os transeuntes que por ali passavam.

Quanto à água basta dizer que não a havia, a barragem do Pisco secava, e, por este facto, eram diários os cortes de água havendo semanas, dias, apenas com duas horas dela. Quando se construiu a barragem da Marateca, este problema até hoje, está muito bem resolvido, temos muita água, de qualidade, e sem interrupções 24 horas por dia.

Voltando à luz, agora, naquele tempo,  já sob responsabilidade da EDP.


A energia é um fator de desenvolvimento e, em Alcains naqueles tempos, havia uma elevada quantidade de atividades industriais que dela necessitavam e que, quer em quantidade, qualidade e disponibilidade não a tinham. Ver recorte de jornal, acima.

Nos anos anteriores a única subestação onde estava o transformador de energia de Alcains, era por detrás do cemitério, edifício que ainda hoje existe. Por detrás do edifício da ex CONSAL, haviam-se iniciado os trabalhos de construção de um novo parque de linhas e a respetiva e bem dimensionada subestação.

Esta subestação foi entretanto alimentada com uma nova linha de Muito Alta Tensão que abastece atualmente Alcains.


Continua...

Manuel Peralta

quarta-feira, 3 de julho de 2024

A FOGUEIRA DE NATAL NO ADRO DA IGREJA

A tradição da fogueira de Natal encostada à parede do adro da igreja matriz, e praticamente em cima das escadas de aceso à porta da entrada principal, tem provavelmente tantos anos,  como os de início do culto da igreja.

De minha memória de quase 75 anos, relembro que com os meus Pais, íamos sempre à Missa do Galo, beijávamos o Menino Jesus, e com amigos e vizinhos, convivíamos junto à fogueira, cada ano maior e, regressávamos a casa felizes e contentes.

Em casa, com lar de pedra com pilheira e palameira, em cozinha de telha vã, esperava-nos um lume já amodorrado, e uma panela de ferro de água quente, da qual se fazia um delicioso cacau  e se comiam as sempre bem feitas filhós que, uma arroba de farinha minha MÃE, então com força, amassava. Cestos e alguidares de barro vidrado a transbordar delas, umas com e outras sem açúcar.

De manhã, tinha nas botas que então usava, um par de meias e um ou outro chocolatinho, e por vezes, uma caixa de 6 lápis de cor de marca Viarco, que “o remediado Menino Jesus dos meus tempos”, por ali deixava…

Voltando à fogueira.


Eleito em finais do ano de 1979, apreciei já com mais atenção a fogueira desse ano e, vivi de perto, a angustia da família do Sr. Leonel Venâncio Leão que, pelos 3 andares da casa toda de sobrados de madeira, distribuía os familiares de balde na mão para acudir ao potencial incêndio. A tinta da caixa de correio que ali estava encostada na casa, fazia bolhas e escorria e, os vidros do rés do chão das portas da loja, rachavam com o calor. Todos os anos, na noite de Natal e de Consoada.

Havia que por cobro a tal enormidade.

Nesse ano, foi assim.

No ano seguinte, atempadamente,  a junta chamou os “cabeças de motim” da malta da inspeção e, com eles tentou conciliar a enormidade habitual, e racionalizar o evento. Que sim, talvez, logo se verá, enfim… uvas poucas e, muita, muita parra.

Levei o tema à Assembleia da Freguesia de modo a que uma comissão mandatada para o efeito, elaborasse documento orientador para ser respeitado pelas partes.

Sugiro a leitura desse documento que abaixo edito, em meu entender, muito bem escrito onde todas as debilidades estão identificadas.



Foi então delimitada no terreno com uma marca de tinta amarela a área da fogueira, vieram os bombeiros que estiveram de plantão durante a parte mais acesa da dita e, quando as labaredas se elevavam demasiado deitavam água para baixar a chama, a GNR estava presente, foi proibido e cumprido o lançamento de combustíveis na fogueira.


Da parte da malta da inspeção quando individualmente abordados os mancebos concordavam, mas em grupo, todos e nenhum foi, é, responsável.

Não se resolveu de todo a situação, mas melhorou-se muito com o trabalho que Junta e Assembleia fizeram.


Nos anos seguintes os mancebos mantiveram parco respeito pelo édito da Junta e Assembleia, mantiveram os bombeiros e GNR em presença física, acabaram com os combustíveis, mas a fogueira continuou sempre anormal.

As pedras do adro onde a lenha encostava, a pouco e pouco foram queimando e, mais tarde, uma outra Junta acabou por reduzir o adro, situação que se manteve.

Entretanto a fogueira foi mudada para as traseiras da igreja.

Tornou, quem o fez, possível ir à missa do galo sem passar e conviver com a fogueira. Tempos…


Manuel Peralta