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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

ALCAINS. De ALDEIA, a VILA e de VILA a CONCELHO

1. De ALDEIA a  VILA

Foi naqueles tempos uma ideia e, mais que ideia, um objetivo, que perpassou bastante por toda a comunidade Alcainense.

Alcains era a maior senão uma das maiores aldeias do País. Tinha-se desenvolvido imenso nas décadas de 60 e 70, de tal modo que, reconhecendo o seu desenvolvimento, em 12 de novembro de 1971 foi elevada a Vila.

Após a morte do Prof. Dr. Oliveira Salazar, sucedeu-lhe na Presidência do Conselho de Ministros, o Prof. Dr. Marcelo Caetano.

Houve nessa data uma enorme esperança de que o regime se ia alterar, mais abertura à sociedade, mais reconhecimento de direitos dos cidadãos, eleições, enfim, caminhar seguramente para a tão almejada, na data,

DEMOCRACIA.

O Dr. Marcelo Caetano através da ANP, Ação Nacional Popular, cativou muitos e bons cidadãos para cooperarem nesta abertura, desde pequenos empresários, servidores dos serviços públicos, católicos, e, aquilo a que eu chamei os HOMENS BONS das TERRAS.

Terão na altura sido poucos os Portugueses que não acreditaram nesta abertura. Eu incluído.

Foi nomeado entretanto para Governador Civil do Distrito de Castelo Branco, nessa data, o Dr. Ascensão Azevedo e, o Sr. Ramiro Rafael, foi nomeado Vereador para a Câmara Municipal do Concelho de Castelo Branco. Quer a Junta da Freguesia de então, quer uma plêiade de outros Homens Bons de Alcains, os ditos na altura BAIRRISTAS, incluo a Liga dos Amigos de Alcains, (Liga que se formou anos antes para suprir carências locais autárquicas), reuniam, insinuavam-se junto dos poderes políticos de então, para levar esta ideia de, ALCAINS a Vila e, mais tarde, a Concelho.

Uma comitiva de Alcainenses deslocou-se, certa vez, para apresentar estapretensão a um hotel da Termas de Monfortinho e, reuniram com o Dr. Gonçalves Rapazote, na data ministro do Interior, pressionando-o a que fosse reconhecido o mérito de elevar Alcains de Aldeia a Vila.

Foi em 12 de novembro de 1971 que se assinou o Decreto Lei, obra de muita gente, mas com dois intervenientes fundamentais, o Governador Civil, Dr. Ascensão Azevedo e o Senhor Ramiro Rafael.

No meu mandato, em Democracia, com aprovação da Assembleia da Freguesia, foi atribuído por UNANIMIDADE, ao Dr. Ascensão Azevedo, governador do tempo da "ditadura marcelista" o HONROSO TÍTULO de CIDADÃO HONORÁRIO  de ALCAINS.

Presumo que será o único cidadão a usar este título.

2. De VILA a CONCELHO


Por formação profissional entretanto adquirida, sempre que um assunto entrava na esfera da Junta, abria uma pasta e, era assim constituído o respetivo dossier, onde toda a atividade desenvolvida sobre esse tema, era ali arquivada.

Abri então o dossier Alcains/Concelho.

Apesar de o tema ser conhecido um pouco por todo o lado, outras localidades assumiam igual pretensão, Vizela, Fátima, Canas de Senhorim entre outras, nunca o Presidente da Câmara de Castelo Branco se importou muito com o tema.

A decisão de alterar a realidade administrativa vinha do tempo da ditadura e, não existia ainda qualquer lei de democracia, sobre alterações administrativas.

Pululavam por todo o lado critérios de passagem a Concelho, entre os quais refiro, necessário autorização da Câmara Municipal, que as freguesias a integrar teriam de dar o seu acordo, que teria que se esperar por lei da Assembleia da República, enfim, cada um dos interessados ditava o que lhe parecia.

A comissão constituída no âmbito da Assembleia da Freguesia era presidida pelo Sr. Helder Rafael, visto ser ele o cabeça da lista que com a sigla Alcains/Concelho, disputou as eleições.

Comissão que se arrastava, e renascia sempre que o "apaixonado" pelo tema Sanches Roque, se deslocava de Lisboa a Alcains. De bengala na mão, magro e de chapéu preto na cabeça, referia sempre. " SE O CONCELHO DE ALCAINS ESTIVER NO INFERNO, VOU LÁ BUSCÁ-LO".

Com o Sr. Cunha Belo de pasta na mão, com as folhas das contribuições que Alcains pagava para Castelo Branco e, de que recebia muito pouco. Muitos dias, vários meses, alguns anos.

Certa vez, uma parte  destes Alcainenses pertencentes à comissão, deslocou-se à Lardosa para explicar as vantagens de a Lardosa aderir ao futuro concelho de Alcains. Apesar de haver relações pessoais de amizade

entre um ou outro membro de cá e de lá, a tensão existente transbordou, não terão corrido bem as propostas, e, cedo nos apercebemos das dificuldades desta ideia se concretizar.

Como o meu Pai dizia referindo-se ao futebol quando se perdia, "VIEMOS DE LÁ COM O CACHECOL A ARRASTAR"...

Foi um duro golpe, o primeiro.

Uma parte apreciável das freguesias a integrar situava-se a norte de Alcains e, entre estas, havia e há uma, denominada S. Vicente da Beira.

Com a reformulação administrativa efetuada por Mouzinho da Silveira, S. Vicente da Beira perdeu o seu concelho e, claro, estes reivindicavam a restauração do seu Concelho, em vez de um novo a criar em Alcains.

Por outro lado Castelo Branco que na data apresentava fraco desenvolvimento, a ser espoliado de parte apreciável das suas freguesias, caminharia ainda mais para um atraso que entretanto não aconteceu.

Foi assim que, caminhando, perseguindo uma ideia na altura luminosa, que a luz de Alcains/concelho, se apagou.

Até hoje.

Nota: Não sei se seria bom ou não, mas, com a visão que tenho destas situações hoje, ALCAINS/CONCELHO apenas seria possível em ditadura.

Manuel Peralta


Nota.

Este texto, é da minha memória vivida naqueles tempos.

Agradeço a quem tenha memórias ou documentos  desses tempos, ajude a

recordar, para que aqui se faça história da nossa terra.

Obrigado.

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