O amigo Manuel Geada, brindou-me com um texto de memórias escrito em Alcainês de gema, sobre um dos mais populares Alcainenses cuja memória aqui trazemos, de nome próprio Manuel Martins Ligeiro, mais conhecido por Quinquêra. Por outro lado, a Cesaltina do Manuel Traitas que foi nascida e criada em casa frente à sacristia da igreja matriz, entregou-me talvez a única fotografia existente do Quinquêra tirada presumo que no casamento dela, em que o Quinquêra está no extremo de uma mesa em almoço do casamento e que o meu filho, Pedro Peralta, conseguiu fazer o melhor que pôde, digitalizando-a e dando-lhe a vida que o Quinquêra merece. Com esta foto e o texto do Manuel Geada, salda-se em meu entender uma dívida para com o Quinquêra, dando-lhe vida aqui na terra deles que também é a nossa...
Manuel Peralta
Desde sempre, existiram personagens que nasceram e deixaram marcas indeléveis, que uma vez desaparecidos, continuam vivendo graças aos seus feitos.
Muitas vezes estas pessoas foram inventores, exploradores, grandes pensadores, médicos e outros, aos quais a sociedade atribuíu nomes de ruas e avenidas, esquecendo aqueles que sem terem formação académica, não foram menos célebres e, que de um, ou outro modo, contribuiram para o desenvolvimento da terra onde nasceram, e não só.
O Manel Quinquera, uma das figuras mais populares na nossa terra, foi um desses personagens.
Em Alcains quem não se lembra ou não ouviu um dia falar no “QUINQUERA”?
Homem de muitos oficios, era moço de recados, engraxador de calçado, cauteleiro, vendedor de castanhas, ardina, e talvez outros que de momento não me recordo.
Não pretendo aqui fazer a biografia do Manel Quinquera, apenas vos quero transmitir algumas recordações que guardo deste popular alcainense.
Recordo perfeitamente um homem muito alegre, com cerca de 1,70m de altura, magrinho, respeitador, amigo do próximo, e muito “arreguila”, a quem muitas vezes ouvi pessoas pedir. Manel, toma lá denher e faz-me um favor, vai lá pagar ixtao corrêo. Manel vai lá à central ao Tchquim Máximo buscar esta encomenda; ou ainda, se vires fulana/o, diz-lhe que preciso falar com ela/e. Tudo isto para receber em recompensa alguns tostões e, por vezes alguma peça de roupa já usada. (daí moço de recados)
A actividade de engraxador não devia ser muito lucrativa, ou então os clientes eram poucos, porque depressa abandou a caixa, que teria comprado a um outro engraxador de Castelo Branco.
É verdade que naquela época graças à intervenção das donas de casa, as ruas da nossa terra estavam mais limpas que agora, e os sapatos pouco se sujavam. O empregado da junta de freguesia, o Tzé Lucas (Tzé Batata)só tinha ordem para varrer a praça e, aquando das vacinas bovinas e caninas, também varria o Largo de Santo António.
As cautelas, ocupavam-lhe quase sempre uma das mãos, e arranjavam sempre palavras para o pregão. Anda amanhã a roda: É a taluda: Lotaria do Natal 2 000 contos, etc,.
Como vendedor de castanhas, talvez fosse a sua ocupação mais lucrativa, é pena que fosse sazonal. Era um regalo ver o Quinquera a correr pelas ruas da terra deles, apregoando Quentes e boas. A malta d’zia c’as castanhas dele, eram melhores do c’ás do ti Zétonho Cuco.
Ardina, era o seu principal oficio, que muito zelava. Apanhava grandes molhas para ir à estação à automotora das duas, buscar os jornais(o Século)que mesmo a tchover como Deus a dava, os jornais tchegavam as mãos do cliente sempre secos.
O Manel Quinquera também era apaixonado pelo atletismo. Que grandes sprints entre ele e o Tchico Péleve, um á páta, o outro d’bcicleta, no Santo Antonhe.
A partida era sempre em frente da taberna da ti Brandoa. Se a corrida fosse até à taberna da ti Clara Borda-D’Água, (+ou- 100 metros), ganhava sempre o Manel. Se fossem um pouco mais à frente, até à casa do ti Tchico Cigano, já ganhava o Péleve.
Quando eles decidiam fazer estes despiques unicamente por prazer, não o faziam só uma vez! Eram incansáveis; e, incentivados pelos homens que acabavam sempre por lhes pagar algum copo de cinco(tostões), acontecia que o fizessem uma dezena de vezes, o que para nós catchopada era uma alegria. Era como um programa d’tlevisã (que ainda não existia na terra deles).
O dia que pensei escrever estas linhas, por coincidência vi na RTP I, o nosso presidente que, como quase sempre bem engravatado, fez-me lembrar uma que já estava esquecida.
Um belo dia, se a memória não me engana, estavámos nos anos 1959/60, o Quinquera deu volta ao povo todo “pinpão”, todo vestido de novo!!! Toda a gente o elogiava mas, ao mesmo tempo também se interrogavam.
Aonde é que o Manel foi buscar o dinheiro? Talvez algum bilhete da lotaria que não conseguiu vender e foi premiado? Todas as hipóteses eram boas, e para mais na terra deles, aonde há pessoas capazes de inventar tudo e mais alguma coisa. Mas, afinal tinha sido oferta de um alcainense.
O Jornal o Século lançou nessa época um jogo, chamado Heróis de Portugal.
Durante um determinado tempo, todos os dias o jornal trazia uma gravura com a respectiva história, para se cortar e colocar nuna caderneta, que uma vez completa, era enviada para a redacção do jornal para participar no sorteio.
Quiz a sorte que um alcainense, o ti António Barata, (motorista na Lusitana) fosse premiado com um automóvel, um “Morris Minor” e, como foi o Quinquera que lhe vendeu os jornais, decidiu vestí-lo da cabeça aos pés. Casaco, camisa, colete, gravata, calças, meias, sapatos, e, até um lencinho branco para o bolso do casaco. “Um autêntico manequim”!!!
Vou terminar por aqui; de momento não me recordo de mais nada acerca deste popular alcainense. Desde já agradeço os vossos comentários, porque tenho a certeza que ainda há muito, mas muito para contar, sobre a vida do saudoso “MANEL QUINQUERA”.
Um homem que ainda hoje passados tantos anos, quando por pensamento consulto os meus arquivos cerebrais, ainda vejo a correr e atirar para o ar o pregão. “É O SÉCULO TRÁS A BOLA”.
Manuel Geada
Como mencionei os nomes do Tchico Péleve e do Tzé Lucas, aproveito para dizer mais algumas palavras sobre estes homens.
O Tchico Péleve pretendia ser um grande corredor de b’cicleta.
Vestia camisola amarela quando participava em provas de ciclismo, (nas festas do Espírito Santo, Santo António e outras em terras vizinhas). Azarento, saltava-lhe sempre a corrente e para a por novamente no sítio, ficava com as mãos tcheias de carreta (se não sabes o que é a carreta pergunta ao teu pai ou ao teu avô) e era à camisola que as limpava. Para limpar o suor do rosto também era com as mãos sujas e então é que ele ficava lindo, parecia um palhaço quando cortava a meta com meia hora de atraso dos outros concorrentes mas, era corajoso e participava que é o essencial.
O Tchico morava além p’ró Colmeal. Desconheço a profissão que exercia. O pai andava de porta em porta com uma cesta grande a vender artigos e, à segunda-feira também fazia o mercado de Castel Branco. A quem exercia este tipo de actividade a gente tchamava-lhe tendero. Mais tarde saíram da terra deles e desconheço para onde foram.
De uma coisa estou certo, quando a G.N.R. tchegou à nossa terra, o soldado Arnaldo, a quem nós catchópos tchamavamos “o guarda do bigode”, foi habitar para a antiga residência do Tchico.
Alcainenses, lembram-se ou ouviram dizer que na véspera da inauguração do então Sub-Posto da G.N.R., alguém foi lá arrear a calça na soleira da porta??? Sempre se ouviu dizer que foi O Ti Mané Pequeno com a bêbêda o autor do pequeno delito, mas como ninguém viu, a dúvida ainda hoje persiste.
O Tzé Batata além de varredor, também era o coveiro. Certo dia, um primeiro de Abril dia das mentiras, távamos um rebanho de cactchopada a brincar no Santo Antonhe, quando o Tsé Batata vinha do tchafariz pela faixa de calçada que então existia da ti Brandoa até à Rua do Cemitério, com o carrinho carregado com duas cântaras d’água, para regar as flores do cemter.
Ao tchegar ao Sr. José dos Reis tchamou por nós e disse-nos; hé rpazes caí o badal do sino.
O que é que disseste!! Desatamos a correr e ao mesmo tempo a pregar a novidade. Como um raio de biabos entrámos na loja da ti Brandoa a gritar por uma porta, saímos por outra desenfreados e sempre a gritar, caí o badal do sino, caí o badal do sino, já com a mulherada também a correr atrás de nós.
Quando tchegámos ao adro fcámos dzuledidos porque o badal táva lá incima e bem seguro.
Mas as mulheres queriam-nos tchegar ao pelo. Nós dizíamos que foi o Tzé Batata que nos enganou mas, uma porque táva a passar a ferro e largou tudo; outra que tinha deixado as côves ao lume; outra que se esqueceu de fetchar a porta; o que nos salvou de apanhar algum puxão d’orelhas foi o cabo Filipe, que também tinha mordisdo a isca.
Mas, ameaças no ar ficaram muitas; malandros, condanados, diabretes, o que vocês precisavam bem ê sê, prá prósma vais ver. E nós dzuledidos lá voltámos pró Santo Antonhe a brincar.
Manuel Peralta
Desde sempre, existiram personagens que nasceram e deixaram marcas indeléveis, que uma vez desaparecidos, continuam vivendo graças aos seus feitos.
Muitas vezes estas pessoas foram inventores, exploradores, grandes pensadores, médicos e outros, aos quais a sociedade atribuíu nomes de ruas e avenidas, esquecendo aqueles que sem terem formação académica, não foram menos célebres e, que de um, ou outro modo, contribuiram para o desenvolvimento da terra onde nasceram, e não só.
O Manel Quinquera, uma das figuras mais populares na nossa terra, foi um desses personagens.
Em Alcains quem não se lembra ou não ouviu um dia falar no “QUINQUERA”?
Homem de muitos oficios, era moço de recados, engraxador de calçado, cauteleiro, vendedor de castanhas, ardina, e talvez outros que de momento não me recordo.
Não pretendo aqui fazer a biografia do Manel Quinquera, apenas vos quero transmitir algumas recordações que guardo deste popular alcainense.
Recordo perfeitamente um homem muito alegre, com cerca de 1,70m de altura, magrinho, respeitador, amigo do próximo, e muito “arreguila”, a quem muitas vezes ouvi pessoas pedir. Manel, toma lá denher e faz-me um favor, vai lá pagar ixtao corrêo. Manel vai lá à central ao Tchquim Máximo buscar esta encomenda; ou ainda, se vires fulana/o, diz-lhe que preciso falar com ela/e. Tudo isto para receber em recompensa alguns tostões e, por vezes alguma peça de roupa já usada. (daí moço de recados)
A actividade de engraxador não devia ser muito lucrativa, ou então os clientes eram poucos, porque depressa abandou a caixa, que teria comprado a um outro engraxador de Castelo Branco.
É verdade que naquela época graças à intervenção das donas de casa, as ruas da nossa terra estavam mais limpas que agora, e os sapatos pouco se sujavam. O empregado da junta de freguesia, o Tzé Lucas (Tzé Batata)só tinha ordem para varrer a praça e, aquando das vacinas bovinas e caninas, também varria o Largo de Santo António.
As cautelas, ocupavam-lhe quase sempre uma das mãos, e arranjavam sempre palavras para o pregão. Anda amanhã a roda: É a taluda: Lotaria do Natal 2 000 contos, etc,.
Como vendedor de castanhas, talvez fosse a sua ocupação mais lucrativa, é pena que fosse sazonal. Era um regalo ver o Quinquera a correr pelas ruas da terra deles, apregoando Quentes e boas. A malta d’zia c’as castanhas dele, eram melhores do c’ás do ti Zétonho Cuco.
Ardina, era o seu principal oficio, que muito zelava. Apanhava grandes molhas para ir à estação à automotora das duas, buscar os jornais(o Século)que mesmo a tchover como Deus a dava, os jornais tchegavam as mãos do cliente sempre secos.
O Manel Quinquera também era apaixonado pelo atletismo. Que grandes sprints entre ele e o Tchico Péleve, um á páta, o outro d’bcicleta, no Santo Antonhe.
A partida era sempre em frente da taberna da ti Brandoa. Se a corrida fosse até à taberna da ti Clara Borda-D’Água, (+ou- 100 metros), ganhava sempre o Manel. Se fossem um pouco mais à frente, até à casa do ti Tchico Cigano, já ganhava o Péleve.
Quando eles decidiam fazer estes despiques unicamente por prazer, não o faziam só uma vez! Eram incansáveis; e, incentivados pelos homens que acabavam sempre por lhes pagar algum copo de cinco(tostões), acontecia que o fizessem uma dezena de vezes, o que para nós catchopada era uma alegria. Era como um programa d’tlevisã (que ainda não existia na terra deles).
O dia que pensei escrever estas linhas, por coincidência vi na RTP I, o nosso presidente que, como quase sempre bem engravatado, fez-me lembrar uma que já estava esquecida.
Um belo dia, se a memória não me engana, estavámos nos anos 1959/60, o Quinquera deu volta ao povo todo “pinpão”, todo vestido de novo!!! Toda a gente o elogiava mas, ao mesmo tempo também se interrogavam.
Aonde é que o Manel foi buscar o dinheiro? Talvez algum bilhete da lotaria que não conseguiu vender e foi premiado? Todas as hipóteses eram boas, e para mais na terra deles, aonde há pessoas capazes de inventar tudo e mais alguma coisa. Mas, afinal tinha sido oferta de um alcainense.
O Jornal o Século lançou nessa época um jogo, chamado Heróis de Portugal.
Durante um determinado tempo, todos os dias o jornal trazia uma gravura com a respectiva história, para se cortar e colocar nuna caderneta, que uma vez completa, era enviada para a redacção do jornal para participar no sorteio.
Quiz a sorte que um alcainense, o ti António Barata, (motorista na Lusitana) fosse premiado com um automóvel, um “Morris Minor” e, como foi o Quinquera que lhe vendeu os jornais, decidiu vestí-lo da cabeça aos pés. Casaco, camisa, colete, gravata, calças, meias, sapatos, e, até um lencinho branco para o bolso do casaco. “Um autêntico manequim”!!!
Vou terminar por aqui; de momento não me recordo de mais nada acerca deste popular alcainense. Desde já agradeço os vossos comentários, porque tenho a certeza que ainda há muito, mas muito para contar, sobre a vida do saudoso “MANEL QUINQUERA”.
Um homem que ainda hoje passados tantos anos, quando por pensamento consulto os meus arquivos cerebrais, ainda vejo a correr e atirar para o ar o pregão. “É O SÉCULO TRÁS A BOLA”.
Manuel Geada
Como mencionei os nomes do Tchico Péleve e do Tzé Lucas, aproveito para dizer mais algumas palavras sobre estes homens.
O Tchico Péleve pretendia ser um grande corredor de b’cicleta.
Vestia camisola amarela quando participava em provas de ciclismo, (nas festas do Espírito Santo, Santo António e outras em terras vizinhas). Azarento, saltava-lhe sempre a corrente e para a por novamente no sítio, ficava com as mãos tcheias de carreta (se não sabes o que é a carreta pergunta ao teu pai ou ao teu avô) e era à camisola que as limpava. Para limpar o suor do rosto também era com as mãos sujas e então é que ele ficava lindo, parecia um palhaço quando cortava a meta com meia hora de atraso dos outros concorrentes mas, era corajoso e participava que é o essencial.
O Tchico morava além p’ró Colmeal. Desconheço a profissão que exercia. O pai andava de porta em porta com uma cesta grande a vender artigos e, à segunda-feira também fazia o mercado de Castel Branco. A quem exercia este tipo de actividade a gente tchamava-lhe tendero. Mais tarde saíram da terra deles e desconheço para onde foram.
De uma coisa estou certo, quando a G.N.R. tchegou à nossa terra, o soldado Arnaldo, a quem nós catchópos tchamavamos “o guarda do bigode”, foi habitar para a antiga residência do Tchico.
Alcainenses, lembram-se ou ouviram dizer que na véspera da inauguração do então Sub-Posto da G.N.R., alguém foi lá arrear a calça na soleira da porta??? Sempre se ouviu dizer que foi O Ti Mané Pequeno com a bêbêda o autor do pequeno delito, mas como ninguém viu, a dúvida ainda hoje persiste.
O Tzé Batata além de varredor, também era o coveiro. Certo dia, um primeiro de Abril dia das mentiras, távamos um rebanho de cactchopada a brincar no Santo Antonhe, quando o Tsé Batata vinha do tchafariz pela faixa de calçada que então existia da ti Brandoa até à Rua do Cemitério, com o carrinho carregado com duas cântaras d’água, para regar as flores do cemter.
Ao tchegar ao Sr. José dos Reis tchamou por nós e disse-nos; hé rpazes caí o badal do sino.
O que é que disseste!! Desatamos a correr e ao mesmo tempo a pregar a novidade. Como um raio de biabos entrámos na loja da ti Brandoa a gritar por uma porta, saímos por outra desenfreados e sempre a gritar, caí o badal do sino, caí o badal do sino, já com a mulherada também a correr atrás de nós.
Quando tchegámos ao adro fcámos dzuledidos porque o badal táva lá incima e bem seguro.
Mas as mulheres queriam-nos tchegar ao pelo. Nós dizíamos que foi o Tzé Batata que nos enganou mas, uma porque táva a passar a ferro e largou tudo; outra que tinha deixado as côves ao lume; outra que se esqueceu de fetchar a porta; o que nos salvou de apanhar algum puxão d’orelhas foi o cabo Filipe, que também tinha mordisdo a isca.
Mas, ameaças no ar ficaram muitas; malandros, condanados, diabretes, o que vocês precisavam bem ê sê, prá prósma vais ver. E nós dzuledidos lá voltámos pró Santo Antonhe a brincar.