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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pétalas desconhecidas...

Ao ler, as folhas do registo de condolências pelo falecimento do meu PAI, deparo com este registo que me emocionou, de alguém que de momento desconheço, mas que retrata bem, o que sentimos pelas perdas dos que nos são queridos.
A poesia e as humanidades afastadas do ensino desta sociedade materialista, são o lenitivo para o choro, que é o melhor antidepressivo que agora conheci.
Porque para mim tem a beleza inesperada da poesia, dela dou público conhecimento.


Transcrevo.

Se cantasse,
Talvez o coração sossegasse no peito.
Mas vou perdendo o feito de cantar...
A vida,
Devagar,
Leva-nos tudo...
E deixa-nos na boca, o gosto de ser mudo.

Maria José


Manuel Peralta

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

José dos Santos Riscado Paralta


11.04.1924 - 15.01.2014

Pela primeira vez em 36 anos, cheguei e ninguém me chamou Miguel. O meu Avô partiu, dizem que descansou... é irónico, para um Homem que trabalhou literalmente toda a vida. Quem descansou realmente foram as ferramentas, foi a enxada, foi a mota e o serrote!

Pelo teu filho emigraste para França. Deixaste a Lurdes em Alcains e o meu Pai encarregue dos livros, dos lápis e das sebentas na terra do Mondego. Fazias a mala apenas de véspera, mas a razão e a necessidade falou sempre mais alto, pautando a tua atitude pelo sacrifício. Ergueste a tua casa numa rua quase com o teu nome e foi nesse teto que aprendi o A e o M, o O e o R, que juntos fazem a palavra AMOR. Aprendi ainda que 2+2 são 5, o reflexo de uma família unida, de mãos dadas uns com os outros, cada vez mais fortes.

Amigo dos 'vivos', contigo aprendi a respeitar a natureza, a criar um par de melros, sempre de boca aberta à espera de farelo. Frango e bifes como os teus nunca mais comerei. Castanhas assadas na bruxa de agora em diante só em Lisboa.
A terra da horta passará agora a ser revolvida pelo meu Pai, mas o respeito por aquele pedaço de terreno será eterno, onde viverás em cada fruto e nas asas dos passarinhos, companheiros de dias de trabalho de sol a sol, em prol da sopa que ainda hoje todos comemos.

Para sempre guardei o travo doce do mel das tuas abelhas, que apenas a ti não te picavam, obrigando-me a mim, ao meu pai e ao sobrinho Joaquim Paralta a fazer km para evitar o ferrão que se adivinhava...
Exímio com a cana de pesca, empataste anzóis que em conjunto com o teu sobrinho apanhavam às 100 carpas de cada vez. Entretanto perdi o conto às migas que comemos.

Hoje já não tens a boina na cabeça, mas partes de bigode impecavelmente aparado, como esteve durante toda a vida.
Esta vida resume-se às ações que praticamos, é uma caminhada constante, cheia de obstáculos que transpomos com os nossos gestos e atitudes. São trilhos e mais trilhos de possíveis caminhos e cabe-nos a nós a decisão de quais percorremos.  
O teu trilho ficará para sempre marcado pelas pegadas sólidas de um bom Amigo, de um Guia, de um Bisavô, de um Avô e de um Pai.

A tua partida deixa-me 'meio vazio', impossível de preencher. Mas a outra metade está repleta de ti. Do teu caráter e da tua personalidade, da tua bondade e do teu respeito. Aprendi muito contigo e nas minhas ações e atitudes permanecerás vivo...
Deixas uma esposa, um filho, dois netos e três bisnetos. Uma família à tua imagem e que nunca te esquecerá! Homens como este, quando partem e mesmo com 90 anos, não querendo ser egoísta mas a mim parece-me sempre prematuro.

O céu para onde agora vais nunca mais será o mesmo. Haverá sempre frutos em todas as Primaveras e não se avistará uma única erva daninha.

Obrigado pelas noites a embalar o berço. 
Obrigado por fundares os pilares da família Peralta, tu que na tua infância nada tiveste sendo no entanto uma influência direta em tudo o que tenho hoje.
Obrigado pelos teus ensinamentos, palavras sábias e expressões que nunca mais esquecerei.
Obrigado pelo amor que sempre tiveste pela avó.

Descansa em Paz. Nós por cá vamos olhando pela 'tua' Lurdes, que cá fica para me ir dando 'uma notinha'.

Até sempre Avô.

Miguel