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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Manuel Roque Goulão

Morreu um campeão.

Através do Reconquista, tive conhecimento da morte do amigo, Manuel Goulão.



Conhecemo-nos nas lides autárquicas, onde de muito perto convivemos e com aspirações comuns, lutámos para que as freguesias tivessem as condições de vida e bem estar mínimos, que evitassem o êxodo municipal...
Luta na maior parte das vezes inglória, que, no caso dele, o espírito de Campeão nunca o levava a considerar que “era impossível”...
O Centro de Dia do Sobral do Campo, entidade que bastante lhe deve, era a menina dos seus olhos, era o filho que não teve...assim me confidenciou uma das vezes que o encontrei fazendo compras em Alcains para o Centro de Dia.



O resumo que acima o Reconquista fez da sua brilhante carreira desportiva, na modalidade do Lançamento do Disco, atesta bem a qualidade do atleta, Manuel Roque Goulão, um Sportinguista de alma e coração.
Foi vários anos CAMPEÃO NACIONAL.
Autarca que foi, e Campeão Nacional da modalidade, é muito estranho o fato, de nada ter visto referido na comunicação social sobre o dever que as entidades concelhias tinham e têm de o relembrar.
Mas o Manel, Homem humilde, morreu só, deixou de aparecer... e, então o fadário do costume, GNR, INEM, HDCB...HUC, Sobral...!!! ???



Terra de gente estranha, esta, que esquece quem presta...
Para que conste e se não esqueça, aqui fica para a posteridade esta simples homenagem ao amigo e CAMPEÃO, Manuel Goulão.

Manuel Peralta

domingo, 24 de junho de 2012

Alfredo Marreco Martinho

O Primeiro, o Único e o Último Embutidor


Mais conhecido por Alfredo “Pacheco”, este alcainense que nasceu em junho de 1936, filho de João Martinho, moleiro no Sr. José André  e de Maria da Luz Marreco, doméstica, dedica-se e dedicou-se durante uma vida entre outras atividades, à nobre e exclusiva arte de Embutidor.


Casado, tem três irmãos, a Céu, a Lurdes e o João, e dois filhos a residir em Gaia, um dos quais sofre de uma doença quase fatal denominada “Alcains em Mim”, um excelente blogue divulgador desta coisa que é ser e amar um Alcains distante... qual amante.
De boina basca na cabeça, traje habitual no Alfredo, feita a 4ª classe, só teve quinze dias para brincar, pois a arte, a profissão, aguardava-o na oficina de José de Oliveira Rafael em Alcains.
 

“Foi uma grande escola”, assim se referiu o Alfredo à oficina onde aprendeu tudo da arte... a entalhar, a polir com goma laca, a tornear, a dourar, a lacar, ao lado de Moisés Rafael... aos 15 anos já executava todas estas tarefas, diz com orgulho o “mestre” Alfredo Martinho.
 

Apoiando-se mutuamente, a dupla Moisés/Alfredo, faz o restauro das capelas de Santa Apolónea, do Espírito Santo, e do Sacrário da igreja de Nossa Senhora dos Altos Céus na Lousa recuperando a talha e dourando os respetivos altares.


Em 1957 chega a tropa, e no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco assenta praça, este Alfredo com a especialidade de sapador.
Dezoito meses da dita, convite para seguir a vida militar, mas... não, o cheiro da madeira e o barulho da gorlopa, tiram-no da tropa.
Casa entretanto, e no navio mercante Principe Perfeito parte para Moçambique, Lourenço Marques, onde durante três anos trabalha de arte sabida, na primeira empresa de móveis de Moçambique, a MOBILARTE.


Regressa, para o JRafael, pede aumento de salário... mas... não concedido, saiu e durante ano e meio experimenta essa aventura então geral e nacional da emigração em França.
De permeio por entre tantas vidas, a sua esposa, que cantava e canta muito bem trava conhecimento em Alpedrinha com uma família Robles Monteiro.
E é em Alpedrinha e em Lisboa na Fundação Ricardo Espírito Santo, que o Alfredo vê um embutidor a trabalhar na sua arte.



Admirado e com uma grande vontade de se superar, diz para si mesmo,... sou capaz.
E assim foi, sem qualquer ajuda dedica-se a esta nobre, única e exclusiva arte de Embutidor em Alcains.
Trabalho de ourivesaria em madeira, esta, desfiada em lâminas em máquina, recortada com serras tico tico, fazer recortes, colocar as linhas nos espaços embutidos, colar, lixar pintar...
 

Recentemente dedicou-se a fazer cavaquinhos, de sonoridade excelente, que alegram gente...
Tem muitas das suas peças dispersas um pouco por todo o país, para onde vende por catálogo que é a transmissão boca a boca das suas obras de arte, pelos que as adquirem.
No restauro de móveis antigos, relembra o restauro de uma cama para Calouste Gulbenkian... mas esta é a história de um restauro que não se pode, ou deve contar...
Porque a generalidade dos Alcainenses, olha para este homem de boina basca na cabeça e não conhece a sua arte, o Alfredo faz muito para a divulgação de Alcains, não resisti a dar a conhecer as capacidades desta artista.
Inovador, adquiriu recentemente a primeira bicicleta elétrica que vi em Alcains, vi, digo eu, pois é tão silenciosa como a dificuldade que tive em convencer o Alfredo a falar dele.
Valeu a pena e um obrigado ao Alfredo “Patcheco”.

Manuel Peralta

terça-feira, 19 de junho de 2012

Alcains no programa “A Alma e a Gente”

Alcainense amigo, o Deolindo Grilo, fez-me chegar em email, um excelente diaporama sobre Alcains, cuja personagem principal é o Professor José Hermano Saraiva, autor de um dos melhores, senão mesmo o melhor programa de televisão, intitulado “A Alma e a Gente”.

Com a sua excelente capacidade de comunicar, José Hermano Saraiva passa em revista a Pedra, os canteiros, o Museu do Canteiro, a pecuária, o dito queijo da região de Castelo Branco, os 14 produtores de queijo, a Cooperativa entretanto fechada e falida, a flor do cardo, a travia, o requeijão e o queijo queimoso…

Mas bem melhor que a minha descrição, convido-os a ver e ouvir o mestre da comunicação, o Professor José Hermano Saraiva, na sua narrativa sobre Alcains.

Para tal, clique aqui.

Manuel Peralta

Blog Aberto - 50 anos da Escola Técnica de Castelo Branco

E.I.C.C.B... 50 anos... tantas saudades... ”estórias” e vidas!

Seria um dos muito poucos que naquele convívio de centena e meia de antigos alunos e famílias que nos reuniu em 19 de Maio, poderia usar o meu estatuto de antigo aluno e professor, também.
Efectivamente terminei ali a Secção Preparatória aos II’s  em Julho de 66 e ali voltei como professor provisório em Outubro de 1973.
Existe deste modo um antes e um depois. E mesmo este depois, se divide em até 25/4 e posterior, com as expectáveis mudanças numa Escola cujo director, como na maioria das instituições de Ensino na altura, era uma figura grada a nível concelhio da ANP, a instituição ideológica que suportava o regime de então.


Porém o que me interessa sublinhar neste espaço, é aquilo que esta Escola Técnica, cujo funcionamento efectivo, remonta a Jan 1956,  representou para muitos estudantes alcainenses que ali alicerçaram as traves mestras do que viria a ser o seu futuro. Até aos anos 60, embora haja quem discorde desta análise, seriam os filhos dos artesãos, pequenos empresários, ou emigrantes, que iriam para ali, à procura de um futuro a que os seus antecessores não teriam tido acesso. Para o Liceu, e salvo as excepções que estas análises sempre contemplam, iriam sobretudo as meninas e os rapazes, filhos de gentes com outras posses, que já vislumbravam para os seus, a continuação na Universidade, como na canção do Cid, “ tens que ser engenheiro ou doutor”... Aos poucos porém, fruto da melhoria das condições de vida da população, quer pelas remessas da emigração, quer pela industrialização que Alcains começava a sentir, este cenário ia-se atenuando. E até a transição da Escola para os Institutos Industriais, constituía o up-grade dessa realidade.


E se assim pensava nos anos 70, e escrevi-o no Boletim Informativo que ajudei a fundar no Instituto Industrial de Coimbra, hoje mantenho a mesma perspectiva.
Porém e antes que esqueça, recordo aqueles alcainenses a quem o regime de ensino nocturno na Escola, propiciou melhores condições de trabalho e lhes permitiu encarar o futuro com outros olhos.
Também não olvido e foi muito importante a adequação de meios de transporte públicos, adequados aos horários dos estudantes nas Escolas Secundárias de Castelo Branco, um factor que permitiu a muitos alcainenses a sua progressão nos estudos.
E as “estórias” de muitos que frequentaram essas carreiras, uma alegria, uma “quase excursão diária” como já ouvi referir a M.Peralta, entendida à luz de quem fora e foram muitos, a fazer a 4ª classe a Castelo Branco, transportados na carroça do Ti Zé Cartucho.
E o espaço onde na Escola,  os estudantes de Alcains, não havia cantina, arrumavam os farnéis, cujos armários com a frente em rede, recebiam os “desabafos” de quem ali chegava com um medíocre, nem sempre esperado.
Na visita à Escola, passei por salas onde fui aluno e professor, e até acompanhei o M.Peralta às Oficinas, para mim de má memória, onde ele não desistia de encontrar um galo em ferro, que se ainda por lá estivesse, a ferrugem há muito teria corroído.

 

Estivemos no Ginásio, coberto por alcatifa e onde pouca ginástica se fazia, mas que me recordou os filmes que lá vi, o palco onde recebi alguns prémios e fiz Teatro.
Num dia de recordações e memórias, perpassam pelo nosso espírito os alcainenses que connosco, mais ou menos adiantados, se cruzaram, como o Simão Munhoz, o Romualdo, os Jorge(s) Carrega e Aleluia, o Carlos Minhós, o o M.Peralta, o Baptista, o Zé Moreira, o Amaro e uns tantos mais...
Revi o meu amigo Rogério Becho, 40 anos depois de em Luanda as nossas vidas militares nos terem cruzado. Falei com ele da sua viola, com que acompanhava o Pelejão, uma memória sempre presente nestes momentos, quando este queria ir fazer serenatas no Largo da Biblioteca ou no Cansado.
Revi o Tomé, que morava ao lado da casa onde estive hospedado dois anos, a Fátima, o Mané Zé e a irmã, o Aleixo e a esposa, o “Vital” e a Ana do FB, o casal Serrano, bastante mais novos...as lembranças daqueles que estão nos nossos livros de curso e que já partiram como o João Sobreiro, e nos deixam a pensar como o tempo passa veloz, embranquece e torna escassos os cabelos aos rapazes de então e “enlourece” normalmente as senhoras.
Recordaram-se alguns professores que mais vincadamente nos marcaram, como os Profs. Carlos Bento, Caldeira Lucas, António Russinho, Odete Geirinhas e outros, assim como aqueles que já permitiam alguma irreverência nas suas aulas, de que seriam expoentes os Profs Romão e Moura Pinheiro.

Enfim, um dia que soube a pouco para tantas recordações, memórias e saudades. Por tudo isto e pela possibilidade de nos revermos e recordar algo do que fomos, valeu a pena o encontro de 19 de Maio e a irreprimível vontade de repetir no próximo ano...

Nota: Propositadamente, abstive-me de ler o boletim da E.I.C.C.B. dedicado ao evento, antes da elaboração deste apontamento, para que a sua leitura não influenciasse as minhas memórias. E não deixo de achar curioso, ou talvez não, que na foto dos Directores que passaram pela instituição, falte a foto de José Paracana, o Prof. que numa reunião geral de professores, teve a coragem de responder ao director de então, o Prof Queiroz, que não assinaria qualquer telegrama de apoio ao MFA, que o mesmo assinasse. Perante uma assembleia entre o atónito e o confuso. E nunca mais esqueci.

Zé Minhós Castilho (MC) – Junho 2012

domingo, 3 de junho de 2012

BORRACHÕES

Bêbedos incorrigíveis...

Não conheço outra terra, localidade, onde este tipo de bolos tenha semelhante rasgão...
Aparecem por aí em padarias e até pastelarias, apertados, muito condicionados, em saquetas de papel aparentemente de celofane, mas ao abrir e provar falta sempre qualquer coisa no tempero...
Ou é a aguardente que é fraca, e a borracheira fica a meio gás, e não há nada pior que a chatice de um bêbedo a meio gás, ou houve poupadeira no azeite, que os torna ainda mais rijos que passa de figos.
Quando assim é, perde-se o pé...
Para registo futuro dou a conhecer como sempre se fizeram cá por casa.

Receita.
- Um litro de azeite, de fraca acidez, cerca de 0.5 décimas.
- Meio litro de aguardente forte, repito, a lamber álcool.
- Meio litro de jeropiga.
- Oitocentas gramas de açúcar branco.
- Três quilos de farinha Branca de Neve Superfina.
- Canela

Em forno de lenha...


Junta-se entretanto a aguardente com a jeropiga e o açúcar, e envolve-se esta mistura.
Adiciona-se em seguida o azeite.
 

Junta-se a farinha com uma pitada (colher de sopa) de canela.

 

Já com todos os ingredientes, deixa-se repousar, arremansar a massa...
 

Tarefas seguintes.
Untar bem as latas com óleo.
Com o rolo da massa, cartilha e tábua, estender a massa e recortar os ditos borrachões.
Diz-me a experiência que, na lata, devem os borrachões ter aproximadamente a mesma dimensão e espessura, pois só assim se evitam piadas ao homem do forno, por uns estarem muito cozidos e outros moles como a “massa dos vidros” do Emídio Farrajoz...


Par ficarem com bom aspeto e permitirem uma melhor absorção da mistura do açúcar com canela, torna-se necessário picar os ditos com um garfo, pincelar com ovo batido e por fim, polvilhar com a mistura de açúcar e canela.
 

Vão para a tortura do forno donde exalam um cheiro intenso a aguardente novamente destilada...de dar vida a um morto, afirmo.
 

Para mim trata-se de um dos melhores bolos da tradição Alcainense, macios ou crocantes, fazem a delícia dos apreciadores quando acompanhados de um bom café e um melhor digestivo a preceito.
É que este bolo seca e absorve, qual mata borrão, que absolve mediano borrachão...
 

Bom apetite.

Manuel Peralta

Joaquim Bispo em Blog Aberto

Reencontrei-me recentemente com o Joaquim Bispo.
Em encontro pessoal e agora, mais assiduamente, via net.
Companheiro de juventude de outras andanças, bicicleta, estudos, “marôva”, bailes, festas, e até, vejam lá, hipnotismo, o “bishop”, para os “Acaldeirados” amigos, nos seus prescutadores silêncios nunca deixa de surpreender.
E foi o que me aconteceu com um texto que me enviou, e que decidi publicar.

Um dia de sonho

Joaquim Bispo

O cão avançava pela rua inebriado pelos inúmeros cheiros que farejava: cadelas, cães, comida. A caminho do parque, o seu dono soltara-o da trela e dera-lhe liberdade total. E o cão corria antecipando os prazeres dos grandes espaços.


Era bom correr. Os membros gostavam da corrida. Corria em grandes saltos a caminho dos baldios para lá do bosque. E, aí, o labirinto dos matos, os gafanhotos, os ratos, os lagartos. Corria por entre os fenos, por trilhos onde só ele cabia. Entretanto, levantavam-se perdizes e fugiam coelhos e lebres. E o cão perseguia-os, delirante. Não era o instinto da caça, era o prazer da perseguição.

E chegou a uma grande clareira onde espinoteava uma dúzia de cachorros. Santa mãe cadela!

 
Ladrou de alegria; os outros deram-lhe as boas vindas, em latidos cristalinos. Voltearam em perseguições que alternavam com fugas. Dentes de fora em exibição festiva, na farsa do combate. Este era o seu dia mais feliz.

Ladrou alto e então acordou. Deu por si confinado à varanda do seu dono, como sempre, e lá em baixo exibia-se, arrogante, o sinistro rottweiler do bairro.

 
Este belo naco de prosa, retrata um cão de cidade, que apesar de refém na propriedade horizontal do dono, nada o impede de sonhar... sonha, sonha com a sua liberdade agora controlada... mas enquanto sonhou, correu, correu e viveu...
Sabe-se lá de quem será este humano sonho, este regresso às origens tantas vezes tentado e raramente concretizado…
Ao Joaquim Bispo o abraço de sempre.

Manuel Peralta