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terça-feira, 27 de julho de 2010

"FIM DO MUNDO"... Adriano Dias Beirão

Então como se chama?
Ao que respondeu:
- Adriano Dias Beirão, por alcunha o Fim do Mundo.

...a minha vida é um romance, acredite..! ao mesmo tempo que desfolhava em mortalha de papel cancioneiro de quadras de rima emparelhada, silabadas ao compasso dos actos da vida que com lérias e lampanas, emocionado, recorda.


...cobrador do CDA, arrasta trólei viageiro parecendo que, sempre em viagem, caminha para o estrangeiro...
...como não consegui dar o salto estive 8 dias preso na prisão de Cáceres... emigrante.
...canteiro, especialista em vergas, torses e juntores em Santa Eulália e Arronches, pouco bebia das fontes...

Mas Fim do Mundo porquê?

Seu pai, João Pedro Beirão tinha ao tempo uma taberna ali na praça, mais precisamente onde está hoje um prédio de 3 andares no início da Av.Gen. Ramalho Eanes, onde antigamente existiam uns urinóis.
Que fosse pela pinga de estalo ou pela simpatia, certo é que tinha muita freguesia... ao que o seu pai então dizia...

Eia, tanta gente, isto parece o Fim do Mundo!!!

Assim o baptizaram, ao ponto de ter mandado pintar na frontaria da taberna, João Pedro Beirão, Fim do Mundo.

Filho de Maria Teresa Dias, teve mais 6 irmãos, todos Fim do Mundo.
Casado, hoje com 73 anos, tem 3 filhos.

Por favor, conhece em Alcains, o Sr.Adriano Dias
Beirão?
- Não!
E o Adriano Fim do Mundo?
De pais para filhos e destes para os netos...
É neto do Fim do Mundo... claro, conheces.

Manuel Peralta

Nota: Em viagem gastronómica à lampreia, apreciei o verdadeiro artista... de boné à pim... pam... pum... em sala com mais de duzentos lampreiados, arranca depois de bem bebido e melhor comido, vivas de casamentos e matação com um à vontade de artista treinado por muitos e variados palcos.
Fez-me reviver tempos idos, já de pantanas... com muitas lérias e lampanas.

Velhas Glórias

Contributo para a história do FUTEBOL em Alcains.

Esta foto pretende recordar os pioneiros do futebol em Alcains e com isso mostrar a gratidão dando-lhes vida aqui no Terra dos Cães.


Tenho um texto pormenorizado sobre este tema, mas quero lançar um desafio para férias...

1- Através dos comentários identificar os atletas.
2- Ano, década em que foi tirada a foto.
3- Onde foi tirada, isto é onde era naquela altura o campo de futebol.
4- Outros pormenores que ajudem a conhecer melhor como era o futebol em Alcains, naqueles tempos.

Caso conheçam algum dos atletas da foto, informar os seus familiares e ou amigos, pois decerto apreciarão ter uma desta foto em casa.

Volto ao tema só depois de férias.

Manuel Peralta

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O SOL da MEIA-NOITE

Mão amiga, o João Alberto filho do Abílio, médico, enviou-me um documento científico muito interessante em que, de forma assaz simples e pedagógicamente acertada, explica o fenómeno conhecido como o Sol da Meia-noite.
Porque considero relevante tal tema, e, presumindo que contribuirá quem sabe, até para ajudar filho ou neto a conhecer melhor como funciona o nosso sistema solar, decidi dar a conhecê-lo a quem nos visita e se interessa por saber a matéria toda...
Tem de ser paciente e ver mais que uma vez, sem pressa, para poder no futuro explicar a quem não sabe, e brilhar...


...é que há uns anos, em viagem de trabalho no estudo da Telemedicina estive em TRONDHEIM, na NORUEGA em visita ao ST. OLAVS HOSPITAL.
Foi em Maio/Junho e aí observei o SOL da MEIA-NOITE.
Às 3 da manhã em TRONDHEIM, com sol de 3 da tarde, telefonei para a Céu que dormia na escuridão de Alcains onde eram duas da manhã.
Numa excepcional semana que por lá andei nunca se fez noite, nunca dormi tão pouco na minha vida, o sol por lá é tão caro, quase a preço de SCUT, que os hotéis têm umas cortinas transparentes para o maduro entrar, alumiar, aquecer... as norueguesas, loiras como o sol, estendiam-se em esplanadas e relvas ao mesmo ritmo que as cervejas e o arenque fumado escorriam pelas nossas gargantas...
Chega de garganta...
Na altura, ainda tive de me aplicar, lendo algo sobre o tema para não fazer figura de .......te.
Mas só agora com o documento aqui revelado, que convido a estudar, reapercebi verdadeiramente o assunto. Verá que vale a pena, despertará a curiosidade para ir ver o SOL da Meia-Noite.

Sistema solar simplificado

Posição do sol às 13:00 horas
Posição do sol às 16:00 horas
Posição do sol às 20:00 horas
Posição do sol às 00:00 horas
Posição do sol às 02:00 horas
Posição do sol às 05:00 horas
Posição do sol às 09:00 horas

Manuel Peralta

domingo, 25 de julho de 2010

PODENGO de OURO

Em blog aberto, e por sugestão do José Eurico Minhós Castilho, que no texto abaixo se dá conta, abre-se um novo quadro de honra destinado a reconhecer os que, da Terra Deles, por obras ou feitos gloriosos da lei da morte se libertaram.
Porquê, quando um Alcainense da lei da morte, isto é, do esquecimento se liberta, liberta também um pouco de nós mesmo... e por isso aqui fica o reconhecimento.

Manuel Peralta


Sanches Ruivo – um alcainense que se destaca na diáspora…

Li no 24 Horas, que este alcainense irá receber a Ordem de Mérito, Grau de Comendador, que lhe será atribuída em data a assinalar. Fará parte de um conjunto de 18 personalidades das comunidades portuguesas que irão ser homenageadas por Cavaco Silva.

Ao referido jornal, Sanches Ruivo terá declarado “ (…) Portugal tem destas surpresas. Fico surpreendido, não estava à espera. Fico muito contente por Portugal reconhecer o meu trabalho. É um estímulo suplementar(…).

O alcainense foi um dos fundadores da Associação Cap. Magellan, é conselheiro da Câmara de Paris e, em Novembro de 2009, foi notícia, por ter “apadrinhado” uma jovem africana, ilegal em França, para evitar a sua expulsão do país.

Hermano Sanches Ruivo irá ser condecorado, por “actos ou serviços meritórios praticados no exercício de funções, públicas ou privadas, ou que revelem desinteresse e abnegação em favor da colectividade
, explica a página das Ordens Honoríficas portuguesas.

Mas não será o único: esta mesma distinção será atribuída a nomes como Edmundo Ho Wah, o primeiro líder chinês de Macau após a transição em 1999, ou o escritor Amaury Temporal.

Se este Blog, atribuísse um galardão, por exemplo, Cão de Ouro, a alcainenses que se forem destacando e fazendo um esforço para que mantenhamos a nossa auto-estima, aí está – Sanches Ruivo, um candidato.

Minhós Castilho

Rafeiro de Lata.

Fraco respeito pelas pessoas.

Com o monumento ao CANTEIRO em pano de fundo, que de massêta e cinzel nas mãos traça no vácuo o silêncio queixoso de peões sem direito ao seu espaço, em plena avenida frente ao Seminário de S. José, ao peão não é possível andar a pé...


Quando das obras de requalificação daquela via tudo ficou como estava, melhorou apenas o pavimento e quanto ao resto tudo ficou como estava.
A ausência de projecto e a execução de obras pela Câmara Municipal sem participação e a falta de interesse da junta da freguesia originaram apenas isto:

1 - Prioridade ao espaço automóvel

Dois terços do espaço disponível, senão mais, foram doados ao automóvel com largo estacionamento, e do lado do Seminário dois veículos podem ir a par e ainda sobra um lugar de estacionamento.

2 - Separador central

Poderia ser ainda mais curto.

3 - Águas pluviais

Com a ribeira da Líria por baixo não houve o mínimo cuidado com a drenagem das mesmas e quando chove mesmo sem ser muito, os lençóis de água são constantes.

4 - Sinais de trânsito

Observar a foto e é lamentável como é possível que ainda estejam, em curto espaço dois sinais de trânsito colocados a meio do passeio.
Mas quem se preocupa com isto?quem governa a vila?que fazem?só andarão de carro?

5 - Peões

Observo que quando chove e se vai de guarda chuva não se pode circular no passeio.
Carrinhos de bébé têm de ir para a estrada quando tal é possível, visto que o passeio tal não permite.
Um par de pessoas não pode circular, têm de fazer de irmão Teles, ir um à frente e outro atrás, como o burro do Zé Vaz...

6 - Paragem de autocarro

Quando se melhora o mobiliário urbano?
Havendo ali tanto espaço porque não se liberta para o peão?

7 - Cidadãos com deficiência motora

Tenho observado várias vezes, cidadão deficiente em cadeira de rodas, circular na estada por o passeio ainda não permitir.
Mas há espaço para tal, passem por lá, observem?

Pelas razões aqui referidas e outras que de momento não me ocorrem, vai um RAFEIRO DE LATA para os responsáveis.

Requalificação projectada, pensada, ordenada e com primazia ao PEÃO, precisa-se.

Manuel Peralta

Blog aberto

Valente susto dos Geada, Zé e Manel.

Recebi assim mais este precioso contributo.

??? 12/08/905

Estimo que estejas de saude, bem como todos os teus; eu mal do peito e do figado e com muita bilis. Isto por aqui na mesma. Perdoa-me não alargar-me mais, mas o meu estado não o permite. Escreve sempre; pois a unica alegria que aqui sinto é quando chega o vapor e recebo noticias de todos que me são cáros. Sinto-me muito fraco e parece-me que a vida se me vai extinguindo; também já não é sem tempo??? Tal vão os teus negócios? Recomenda-me a todos os teus e aceita um apertado abraço??????

Recordo-me de a minha avo materna dizer muitas vezes, que na antiga Rua Longa havia uma farmacia, no local onde o Sr. José Marques Rafael tinha a alfataria. Seria este senhor a quem o postal é endereçado o proprietario?
Eu diria que sim,
Ja viste o desespero e a nostalgia que se adivinha ao ler-mos o postal deste emigrante?
Ha algumas palavras que nao consegui decifrar, ve la tu se consegues.

Um abraço.

...bom, só quando abri os "attach" me apercebi que afinal os "geada" ou "códon"como dizia o meu avô materno, pastor de profissão e que com 93 anos faleceu, estavam bem do fígado, melhor do peito e que a bílis ou fel tinha apenas umas pequenas lamas decantadas, coisa sem importância... podia continuar a beber "cléps" assim é denominada a imperial ou fino na "nhós terra, cabo verde"...


Este documento, postal de Cabo Verde, perfaz ao próximo dia 12 de Agosto 105 anos que foi enviado presumo que do Mindelo, capital da ilha de S. Vicente pois era ali que atracavam os vapores, barcos a vapor que ligaram a África à América em comércio de escravos primeiro e depois em rotas comerciais entre o continente e aquela ao tempo portuguesa província, assim está impresso no dito postal.
Desempenho profissional levou-me para a "nhós terra", nossa terra, Cabo Verde onde estive ano e meio e estive várias vezes em visita de trabalho no edifício onde este postal foi expedido, no edifício dos CTT de Cabo Verde, edifício lindo no Mindelo.


...a vida a limpo, clara, para todos lerem, sem segredos de degredos, exílios de emigrantes... como seria o Mindelo em 1905?
Já tinha decerto o Monte Cara, já estava construida uma réplica da Torre de Belém, não teria aeroporto, muito menos água dessalinizada, mas teria por certo, mornas, coladeiras, funáná, ferro-gaita qual pária sem Cesária.
A todos os que nos lerem e sobre as questões levantadas pelos Geada agradeço a vossa colaboração.
Quem seria o primo do farmacêutico?
Teria emigrado? Porque razão?
Seria militar em comissão de serviço?
Se o postal fosse da ilha de S. Tiago e escrevesse do Tarrafal, não seria necessário por mais na carta, digo no postal...

Obrigado

Manuel Peralta

Blog Aberto - Curiosidades Históricas

BB e BA, juntas.

Confesso que fiquei perplexo quando vi o postal ilustrado; nunca tinha imaginado a B. B. com Castelo Branco e a Guarda, (o professor Pires Rufino não nos ensinou isso) ainda pensei que os espanhóis se tivessem enganado, mas não é o caso.

Tenho a certeza que os nossos conterrâneos e outros, irão ter grande prazer em desvendar o enigna.


Assim se referia um amigo ao presente documento histórico, escrito em espanhol, em que a provincia da Beira Baixa inclui os distritos de Castelo Branco e Guarda.

O saudoso professor Francisco Pires Rufino, falecido àcerca de 4 ou cinco anos e sepultado em Alcains, e a sua esposa Maria Amália Morão Carrega Rufino, minha professora, acamada e bastante debilitada actualmente em lar perto de Santarém, sempre nos ensinaram que a Guarda era a capital da Província da Beira Alta e Castelo Branco a capital da província da Beira Baixa.

Tal erro em chamada ao quadro e com o mapa pela frente, daria direito naquele tempo a um mínimo de 6 em cada mão... em cada mão por uma questão de equilíbrio.


Nem o professor Rodrigues, a professora Manuela, muito menos a professora Irene tal consentiriam.

O professor Matos e a professora Lóquinhas, nem pensar...

Manuel Peralta

Nota: Já me dei conta que temos que começar a guardar alguns documentos em papel, porque com a evolução do tudo electrónico, eles têm os dias contados e, para os nossos bisnetos serão documentos históricos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

FAVAS

...olha, vai à fava...!
...e o zéfava?
...estou enfavado.
...e a marizéfava?
...favas me apertam!

Deliciosas, ainda em bico, comidas pelos esfaimados doutros tempos com ramela e tudo por volta do entrudo.

Em comédia na rua da fonte, sentado entre a ti Esgueira e a Maria dos Reis pátéta, vizinhas ambas do Manépi, em tempo de actuação de palhaços recordo uma canção brejeira cantada por brejeiro palhaço perseguindo roliça palhaça de fato de banho vestida...

- esganiçado, cantava o palhaço:

Também te reguei a couve, Mas tu querias o nabal... Ai rica filha que te vou ao faval...

...ao que a palhaça fugia perseguida pelo palhaço, de erecto e volumoso nabo entre as pernas, para gáudio da assistência.

Gosto delas com chouriça, morcela moura, alguma entremeada e um pouco de entrecosto.


Descascadas, apura-se o grão do qual se deve extrair a ramela; esta, por ser preta não é agradável flutuar e dar á costa morta em tacho ou panela.
Cozem-se em água sem sal,com um, de noiva, ramo de hortelão.
Em tacho fundo coberto de azeite, iniciar o estrugimento da entremeada e do entrecosto.
Retirar após caboverdeana cor.
Refogar a cebola e o alho no azeite estrugido, acrescentar loureiro, pimentão e um pouco de calda de ou maduro tomate.
Um bom vinho não deve ser subtraído a este quase néctar que, pouco deve ferver para não se perder...
Juntar então a chouriça e a moura cortadas em pedaços mais parte da entremeada e entrecosto anteriormente estrugidos.
Assestar então o acórdeon e em baile fervente dar música muita música, acalorada, transpirada já com a água escorrida das sumarentas favas.
Quando só o espírito persistir e as carnes exaustas em dança acalorada estiverem exangues... é chegado o tempo de juntar as favas para que a carne entre em recôbro...
Em colher de pau, provar, ajustar os tempêros sempre com a águas das favas, provar sem comer e voltar a dançar.
Já no prato...


Mas antes, para aqueles que não dançavam e eternamente ficavam encostados, enfavados, nos bailes na associação guardei um acepipe, uma entrada...


...galêgas azeitonas quase sem sal, mas com forte travo a orégãos, um "mastiço" queijo operado com faca de cabo de madeira, pão do Plicas (policarpo), e o resto da fritura, qual tortura...

Bom apetite.

Manuel Peralta

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"PIONTO"... João dos Reis.

Canteiro

O ti João dos Reis apesar de ser "dos reis", nunca conheceu a côrte, muito menos o palácio real pois aos nove anos com a 2ª classe, na Capinha, aldeia do concelho do Fundão, cortava calçada, cubos e paralelos... isto em 1944.
Na terra deles quase ninguém conhecerá o João dos Reis, mas, toda a gente conhecerá o João Pionto.

Pionto... Porquê?

Porquê o seu avô materno, quando na escola primária respondia diáriamente à chamada da classe pelo professor, não conseguia dizer "pronto" e respondia "pionto".
Esta troca de i por r, em terra de pedreiros livres e muita costura, teve como consequência um baptismo familiar que dura até hoje.
Passou do avô para a mãe do ti João, para mais cinco irmãos deste e presumo que os filhos também serão piontos e piontas.


João dos Reis nasceu em Outubro de 1935, na terra deles, ali com cheiro a unha negra na rua do hospital.
Filho de cortador de pedra, José dos Reis de seu nome e de doméstica, Maria José Lopes, é casado e tem 3 filhos.


Em "barranco de cegos" onde ninguém via ou sabia o que era trabalho infantil, o ti João teve que aprender cedo a diferença entre cubo e paralelo, acompanhado pelo pai e mais cinco companheiros de Alcains a cortar a pedra e a transformá-la em cubos e paralelos para pavimentar a Covilhâ, Manteigas e a preço de tostão até o Fundão.
João...? dizia o fiscal:
- Um paralelo tem 2 cubos e um cubo tem de aresta entre 11 e 12 centímetros, mais que isto é rejeitado... era esta a tolerância dada a criança de 9 anos no exercício da sua, de homem, tarefa.


Treinou-se em pedreiro na Covilhâ a construir prédio para a Construtora Abrantina e só em Arronches, em 1950, no Alentejo a trabalhar para o Ti Zé Setenta passou a ser CANTEIRO.
As cantarias do Seminário, da Praça, e do Cinema de Portalegre passaram pelas suas mãos juntamente com mais 10 a 15 canteiros de Alcains que erigiram estes edifícios.
Em Figueira de Castelo Rodrigo executa a envolvente ao castelo, em Almeida faz inúmeras obras em cantaria e em Monsanto coopera na recuperação do Castelo.


Vem à tropa e na inspecção militar com mais 63 mancebos todos de Alcains, refere que 50 tinham a profissão de canteiro, isto em 1953.
Passa parte substancial da sua vida em Santa Eulália e Arronches sempre com as pedras no seu caminho, na vida, na profissão.
Apesar de ter trabalhado alguns anos em Vilar Formoso, nunca emigrou.


Por volta de 1980 fixa-se definitivamente em Alcains onde faz, bem, um pouco de tudo.
A testemunhá-lho está a sequência de fotos dos seus trabalhos dignos de museu.


Com o riscóte, a massêta, o esquadro, a picóla, o cinzel, o escôpro, o pico... entre outros bisturis, deste doutor em arte de talhar a pedra é uma espécie em vias de extinção.

Capela de Santa Apolónia

Chafariz da Praça (já destruído)

Cruz com Cristo

Lareira, oráculo e boca de forno

Bola em pedestal

No seu atelier, garagem, toda esta arte está exposta em diálogo permanente, interrogando-se sobre o futuro de uma arte em decadência, sem apoio, nem central e muito menos municipal.
Artesãos, convidados para compor ramalhetes em inaugurações de gentes sem memória, que não viveram as pedras, que falam de estratégia de desenvolvimento regional em projectos que são esfaimados sorvedouros de impostos municipais.
Em Alcains os canteiros estão como os canteiros municipais, sêcos, abandonados à sua sorte, silicóticos...

Manuel Peralta

Nota: "Não paga o trabalho que isto dá", como diz o Ti João Pionto, mas, com alguma persistência e a descontento dos filhos algumas peças podem ser adquiridas.
Venha vê-las, vale a pena, verá!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Blog Aberto - AMOLA TESOURAS

O Manuel Geada que me ajuda a enriquecer com as suas "russas" este pedaço de terra electrónica, da terra deles, presenteou-me com um texto sobre amola tesouras. Pela originalidade, riqueza das fotos e texto Alcainês aí vai ele para memória futura.

Vómecês virim p’rái o Amola Tsoras

Outrora muito frequente, hoje a profissão de Amola Tesouras, encontra-se em vias de extinção. Itinerantes: afiavam tesouras, facas, executavam pequenos trabalhos em guarda-chuvas e, anunciavam a sua presença por intermédio de uma gaita de beiços.


Amola Tesouras

O Amola Tesouras anuncia-se com assobios melodiosos, tocando uma gaita de beiços para atrair a clientela.


Antigamente quando se ouvia este toque, as mulheres vinham à rua com as tesouras, facas, e guarda chuvas, porque o Amola Tesouras além de afiar tesouras e facas , também era um perito em varetas. Quando se ouvia o seu assobio, era habitual dizer-se: vai tchover, anda p’rái o Amola Tsoras.


Há quem toque para encantar cobras: o Amola Tesouras toca para chamar os clientes.
Uma das figuras típicas da minha infância que me faz recordar o cheiro das plantas aromáticas nos gavetões, e o cheiro do sabão no ribeiro João Serrão, quando as mulheres lá lavavam e coravam a roupa. Recordo-me lá ver mulheres meter cinza por cima da roupa a corar ao sol.
Hoje esta profissão tem os dias contados. A típica e engenhoca carroça desapareceu.


O Amola Tesouras agora já tem recurso a uma bicicleta para exercer a sua actividade.
Na Terra Deles nos anos cinquenta - sessenta, era com alguma frequência que eu via os Amola Tesouras dar volta ás nossas ruas.
Conheci um que vinha da Lousa, que devia transpirar por quantas tinha na viagem de regresso, para subir com a carriola dos Escalos de Cima para o Alto da Lousa. Sem dúvida que eram homens corajosos.
Os que se viam com mais frequência, eram os “Almas Grandes” pai ou filhos da Póvoa de Rio de Moinhos, que ao mesmo tempo também vendiam costilhos e ratoeiras.

(Peço desculpa à familia pelo apelido, mas era assim que eram conhecidos na Terra Deles que é nossa).

Foto 1
Foto 2
Foto 3
Foto 4

Manuel Geada

Ciclismo em Alcains.

Heróis doutros tempos.

Como nasce um ciclista.

Tinha já 18 anos em 1967 e ainda não tinha bicicleta.
Receoso, servia-se da do irmão nas idas aos bailes, às festas e arraiais, à fruta, às descascas...
Com pouca prática, não conseguia tirar as mãos do guiador, muito menos sequer pensar em sprintar pois não conseguia levantar o rabo do selim...
Motivo de galhofa no Chafariz Velho e arredores, gozado, amesquinhado era sempre o último a chegar...
Ferido no seu orgulho de 18 anos, prometeu a si mesmo e queria mostrar que era capaz de ser primeiro.
E assim nasceu um ciclista...

De quem falo...

Falo do DOMINGOS FARIAS BISPO, nascido em 1949 no largo de Stº. António, com passagem breve de morada nas Casas Novas e fixação definitiva no 'Tchafariz' Velho de ribeiro descoberto, com poço para lá da ponte e ciganos acampados quase permanentemente em ponta do dito largo.


Filho de António Duarte Bispo, canteiro de profissão e de Antónia Farias, empregada fabril na fábrica das massas e doméstica, tem um irmão.
Na terra deles é universalmente conhecido como o Domingos dos estores... Estores Bispo de fina qualidade e categoria excepcional já muito perto da qualidade Papa...
Voltando ao ciclista.


Esta foto tirada frente à Casa do Povo mostra o ciclista aparentemente calmo mas ferido no seu orgulho, que fez dele um ciclista em bicicleta pesada com elementar domínio da mesma mas com muita força de vencer... era só força referia o Domingos em conversa havida sobre o tema.
Participou em várias corridas aqui e nos arredores em festas nos Escalos na Lousa, na Lardosa nas voltas habituais com passagem ou começo em Alcains, Escalos de Cima e de Baixo, CBanco e Alcains.
Com três voltas no percurso anterior disputou um segundo lugar com o João Aconchegão, popularmente designado por Bezerra natural dos Escalos de Cima.
Relembra que nesta corrida o Bezerra vinha à frente e quase sobre a meta rebentou-lhe o "bóion" e enfiou-se pela assistência dentro não cortando a meta.
A comissão com a concordância dos ciclistas decidiu atribuir-lhe o primeiro lugar e lá passa o Domingos para terceiro.

Mas a prova mais importante em que participou foi uma prova de Iniciação organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo e pela Comissão de Ciclismo de Alcains, comissão então presidida pelo " PAI" do ciclismo de Alcains o Sr. João José Baptista.
Foi a 6ª Grande Prova de Iniciação que se realizou no Distrito de Castelo Branco com 3 provas sempre com início em Alcains nos dias 1, 8 e 15 de Setembro de 1968 com percursos de 60, 70 e 75 kilómetros que trouxeram para as ruas em Alcains, Escalos de Cima e de Baixo, Lousa, Lardosa, Idanha-a-Nova, Oledo, Ladoeiro, Ponte de S.Gens, Soalheira, Alpedrinha, Fundão, Valverde, Carvalhal, Fatela, Penamacor, Alcaide, Alto da Serra da Gardunha, muitas gentes que assistiram a um evento que deixou marcas e credibilizou Alcains como terra de gente organizada, com iniciativa que a projectaria em termos de ciclismo par eventos futuros.
Apurado na prova de iniciação foi então a Lisboa pela primeira vez, com o dorsal nº 51 o que o tornou respeitado e admirado no Chafariz Velho e arredores e motivo de disputa entre as moças daquele tempo...
A foto seguinte mostra a equipa que se apurou a nível distrital e a comissão de ciclismo de Alcains, claro sempre em frente à Casa do Povo.


Da esquerda para a direita:

-Manuel Pedro Lopes, Brazuno, já falecido, Alcains
-António Duarte, o Fiel, de Lardosa.
-José Peixe, bombeiro de CBranco, já falecido.
-Félix Rafael, Alcains.
-Mário Andrade, trabalhava em CBranco no Luis Domingues, mecânico.
-Manuel Prata, Pratinha, já falecido, Alcains.
-David Félix, Pirilau, Alcains.
-José Eurico Minhós Castilho, Alcains.
-João Conchegão, Escalos de Cima.
-Vitor Serrasqueiro, Alcains.
-Domingos Bispo, Alcains.
-João José Baptista, Alcains, já falecido.
-João Pires Esteves, guarda-fios, ex-CTT, Cabeço do Infante.

Foram estes os ciclistas que a nível distrital se apuraram e que em Lisboa em 27 de Outubrode 1968 de camisola, calções e meias oferecidas pelo Governo Civil com as cores da cidade, preto e branco, e de sapatos e capacete propriedade dos próprios, conquistaram uma excelente classificação, isto é ganharam a prova a nível nacional individualmente e por equipas.

1º-Fiel
2º-João Conchegão
3º-Pirilau
...
5º-Mário Andrade
...
9º-João Pires Esteves
...
21º-Domingos Bispo
O Domingos vinha com os primeiros mas no Campo Grande ao atravessar a linha do eléctrico derrapou e caiu.

No dia da vitória houve champanhe e bolos sortidos e uma taça que esteve muitos anos na Casa do Povo.

De regresso a Alcains foram recebidos na Câmara Municipal e no Governo Civil onde receberam os parabéns pelo feito conseguido de tal modo que o Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Idalino de Freitas comentava como é que sendo Castelo Branco morto em ciclismo, tirava assim o primeiro lugar individualmente e por equipas num pleito nacional.

Estes ciclistas treinavam apenas à noite e era o Sr.João Baptista que de "quatro él em mão", alumiava e iluminava os ciclistas que cheios de vontade e esperança deram e davam o seu melhor sem nada esperar em troca...apenas a vontade de vencer e de se suplantar...

Antes, e por falar de ciclismo neste pequeno apontamento, não deixo de referir o Guilhermino Cuco, ainda vivo e já perto dos 100 anos, o Zé Treze que morte prematura em acidente levou, o Bálhinhas, o Zé Gouveia, vulgo Sarralhas já falecido, o Zé Pires bem como os mais recentes e últimos o Carlos Bazuka e o Arrebenta, falecido.
Tambem o Manuel Escudeiro fez incursão ao ciclismo mas o azar perseguia-o de tal modo em duas provas que fez, numa rebentou o guiador e noutra fez um aro em oito, enfim azares... da profissão.

O Zé Treze era um previligiado, treinava de dia pois o Sr. José Mourinha, outro pai do ciclismo na cidade e arredores, era o seu protector...tinha bicicletas suplentes, carro de apoio, abastecimento enfim trato de profissional ao passo que o Bálhinhas trabalhava de dia e só treinava às tardes.
Diz o Domingos Bispo que havia um corredor na Lardosa que só corria em Alcains se o Bálhinhas não corrêsse...

O Fiel da Lardosa era melhor que o Pirilau, mas uma vez o Pirilau num contra-relógio entre Alcains, Escalos de Cima, Alto da Lousa, Lardosa e Alcains, bateu o Fiel mas não conseguiu bater o tempo do Guilhermino Cuco à volta de 45 minutos.

Ao Zé Treze tiveram de lhe passar a chamar Zé Catorze pois numa prova em que participou arrebatou todas as metas num total de catorze...

Esta gente simples que aqui refiro eram os heróis do meu tempo, a acompanhar a corrida apenas motorizadas, carros inexistentes, mas muita mesmo muita gente a assistir a incentivar e a delirar com o sprint final quando tal acontecia.


Na pessoa do Domingos Bispo que me ajudou e no seu baú de memórias guardou preciosas fotos que testemunham para memória futura o que Alcains já foi, agradeço este apontamento.
Obrigado a todos e desculpas por eventuais imprecisões e lapsos cometidos.
Se os houver corrijam-me por favor com os vossos comentários.

Manuel Peralta