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quarta-feira, 3 de julho de 2024

A FOGUEIRA DE NATAL NO ADRO DA IGREJA

A tradição da fogueira de Natal encostada à parede do adro da igreja matriz, e praticamente em cima das escadas de aceso à porta da entrada principal, tem provavelmente tantos anos,  como os de início do culto da igreja.

De minha memória de quase 75 anos, relembro que com os meus Pais, íamos sempre à Missa do Galo, beijávamos o Menino Jesus, e com amigos e vizinhos, convivíamos junto à fogueira, cada ano maior e, regressávamos a casa felizes e contentes.

Em casa, com lar de pedra com pilheira e palameira, em cozinha de telha vã, esperava-nos um lume já amodorrado, e uma panela de ferro de água quente, da qual se fazia um delicioso cacau  e se comiam as sempre bem feitas filhós que, uma arroba de farinha minha MÃE, então com força, amassava. Cestos e alguidares de barro vidrado a transbordar delas, umas com e outras sem açúcar.

De manhã, tinha nas botas que então usava, um par de meias e um ou outro chocolatinho, e por vezes, uma caixa de 6 lápis de cor de marca Viarco, que “o remediado Menino Jesus dos meus tempos”, por ali deixava…

Voltando à fogueira.


Eleito em finais do ano de 1979, apreciei já com mais atenção a fogueira desse ano e, vivi de perto, a angustia da família do Sr. Leonel Venâncio Leão que, pelos 3 andares da casa toda de sobrados de madeira, distribuía os familiares de balde na mão para acudir ao potencial incêndio. A tinta da caixa de correio que ali estava encostada na casa, fazia bolhas e escorria e, os vidros do rés do chão das portas da loja, rachavam com o calor. Todos os anos, na noite de Natal e de Consoada.

Havia que por cobro a tal enormidade.

Nesse ano, foi assim.

No ano seguinte, atempadamente,  a junta chamou os “cabeças de motim” da malta da inspeção e, com eles tentou conciliar a enormidade habitual, e racionalizar o evento. Que sim, talvez, logo se verá, enfim… uvas poucas e, muita, muita parra.

Levei o tema à Assembleia da Freguesia de modo a que uma comissão mandatada para o efeito, elaborasse documento orientador para ser respeitado pelas partes.

Sugiro a leitura desse documento que abaixo edito, em meu entender, muito bem escrito onde todas as debilidades estão identificadas.



Foi então delimitada no terreno com uma marca de tinta amarela a área da fogueira, vieram os bombeiros que estiveram de plantão durante a parte mais acesa da dita e, quando as labaredas se elevavam demasiado deitavam água para baixar a chama, a GNR estava presente, foi proibido e cumprido o lançamento de combustíveis na fogueira.


Da parte da malta da inspeção quando individualmente abordados os mancebos concordavam, mas em grupo, todos e nenhum foi, é, responsável.

Não se resolveu de todo a situação, mas melhorou-se muito com o trabalho que Junta e Assembleia fizeram.


Nos anos seguintes os mancebos mantiveram parco respeito pelo édito da Junta e Assembleia, mantiveram os bombeiros e GNR em presença física, acabaram com os combustíveis, mas a fogueira continuou sempre anormal.

As pedras do adro onde a lenha encostava, a pouco e pouco foram queimando e, mais tarde, uma outra Junta acabou por reduzir o adro, situação que se manteve.

Entretanto a fogueira foi mudada para as traseiras da igreja.

Tornou, quem o fez, possível ir à missa do galo sem passar e conviver com a fogueira. Tempos…


Manuel Peralta

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