No mês de dezembro de 1979, fui eleito.
As eleições foram muito disputadas, com sessões de esclarecimento no pequeno salão da Junta da Freguesia, distribuição de panfletos com o programa, campanha porta à porta, colagens de papéis em portas, paredes e portões velhos.
Correram-se todas as ruas e por debaixo das portas, foram metidos quer programas quer papéis que ensinavam a lista onde deveria votar.
À saída dos trabalhadores das fábricas Dielmar e Lusitana, foram feitos inúmeros contactos pessoais e, pelas caras dos recetores se avaliava o sim ou não da votação nossa lista...
E, por esta forma de sondagem assim foram passando os dias, com mais ou menos encanto ou, desencanto.
Mas, no dia da contagem dos votos, e, estando numa das mesas, balbuciei para quem me acompanhava, " para qualquer das listas, será um honroso segundo lugar ". Recordo.
Venci.
E, David Infante, no Reconquista deu nota da vitória.
No fim do mês de dezembro foram instalados os órgãos autárquicos, junta da Freguesia e, eleita a mesa da Assembleia da Freguesia, cujo Presidente foi o Engº. José Eurico Minhós Castilho.
No início de janeiro,tomei posse como membro da Assembleia Municipal do Concelho de Castelo Branco.
De acordo com a lei das autarquias, os presidentes das Juntas das Freguesias faziam parte, por inerência, das Assembleias Municipais.
Fui eleito e depois?
Bem, começámos por reunir todas as terças e quintas feiras, para atender público.
Na Junta havia um funcionário administrativo, Carlos, vulgo "Carlos Macaquinho", que nas duas tardes, depois de sair da Dielmar, batia na máquina os atestados solicitados pelos fregueses, os ofícios da Junta, recebia e depositava dinheiro, enfim, toda a vida administrativa, por ele passava.
Ainda não existia a lei da finanças locais e, todo o dinheiro que a autarquia necessitava, dependia do Presidente da Câmara.
UMA DEPENDÊNCIA TOTAL E ABSOLUTA.
Além do funcionário administrativo, havia um trabalhador a tomar conta do cemitério, Ti Matias e, a sua esposa, tratava da limpeza da praça, do WC do largo de Santo António, quiosque, e, mas seis ou sete trabalhadores que faziam todas as obras da Junta, cujo capataz era o Ti Joaquim Balbino. Um excelente capataz. Uma excelente equipa.
A junta apenas tinha a receita da venda das campas do cemitério, e, uma magra verba da coleta que o Necas Patrício cobrava no mercado e na praça.
O Necas Patrício foi por mim integrado nos trabalhadores da autarquia.
Como pagar o salário a tanta gente?
A Junta anterior, que vinha de antes do 25 de abril, do Sr. Santos, que sucedeu no cargo de presidente, após falecimento do Sr. José Dias, deixou a tesouraria da junta depenada.
Dois ou três meses antes de sair, gastou todo o dinheiro a distribuir por tudo e todos, futebol, lar, e, para cumulo do que digo e, David Infante deu nota no Reconquista, até comprou uma aparelhagem sonora, que se instalou no quiosque com quatro cornetas, altifalantes, que aborreciam os moradores que suportavam tal ruido musical, durante o dia.
Todas as "tcharnecas", tinham aderido a dar música aos tcharnecos... e, Alcains, também não poderia ficar sem a sua tcharnequisse...
Passado cerca de dois ou três meses a aparelhagem foi roubada e, até hoje, não se sabem quem, libertou Alcains desta, para o tempo, modernice.
Sem dinheiro para pagar salários, pedi uma entrevista urgente ao Presidente da Câmara que me recebeu.
(continua)
Manuel Peralta
Nota: O Presidente da Assembleia de Freguesia, Engº. Minhós Castilho, enviou este texto, que publico.
"Por acaso, recordo-me que os componentes da Lista - 'Servir Alcains' - pagámos todos do nosso bolso os custos da 'campanha'. Até me parece que teríamos pago menos.
Factos associados a esta Lista poderão ainda ser mencionados - a formação da lista não teve o apoio de nenhuma organização partidária e teremos sido a 1ª lista do Concelho, a entregar todo o processo em Tribunal.
Quanto aos 'elevados interesses em jogo' a que David Infante levianamente aludira, desafiámo-lo em dois nºs daquele semanário a apresentar provas, o que ele nunca fez.
Após a posse, teremos sido ultrapassando creio até a Assembleia Municipal, a apresentar o regulamento de funcionamento da mesma Assembleia."
José Castilho
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