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sábado, 15 de junho de 2024

NOVO RELÓGIO PARA A TORRE DA IGREJA MATRIZ

Em 1980 não havia a profusão de relógios que hoje existe.

Por outro lado, a tradição e também a necessidade, conjugavam-se em plenitude para que a ausência de horas públicas, fossem motivo de elevada controvérsia.

Foi nesta situação que a junta da democracia, teve de resolver esta popular situação.

Dou nota da local do Reconquista, desta vez já com o problema resolvido, entre outras de alerta e crítica para o avariado, parado, relógio de então.

Quem tomava conta do relógio era o Sr. Manuel Aurélio, sapateiro de profissão, e que residia na rua da Liberdade a poucos metros da igreja, da qual recebia uma retribuição mensal. As janelas da torre onde se encontrava o mecanismo do relógio, era um relógio mecânico e manual,  não tinham rede e, este mecanismo, estava repleto de toda a sujidade de pombos, ninhos, e de cegonhas que ainda hoje ali se encontram. As duas sinetas dos quartos de hora estavam rachadas e os quartos eram, quando ainda tocavam, de som choco. Para dar corda diária ao relógio, teria quem a desse, de subir e descer cerca de 70 escadas de granito e em caracol. A corda do relógio consistia em fazer rodar manualmente uma alavanca, que fazia subir duas pesadas pedras, uma para os quartos e outra para as horas.

Considerou a junta que seria melhor arranjar um relógio novo e, para tal, foi consultada uma empresa de Braga, especialista na matéria, que fez visita ao local, e apresentou um orçamento de 300 contos, que a junta de imediato adjudicou. Não resisto a contar o que comigo se passou, com o relógio avariado. No adro da igreja, em conversa com outros Alcainenses, enquanto na igreja se procedia à missa de um funeral, aproxima-se do grupo o Ti Eugénio, cego, e carpinteiro de profissão, que residia no então asilo, Major Rato, e me questiona, dizendo.

- Óh Sr. Manel, mande lá arranjar o relógio que eu é como que estou no fundo de um poço, não sei às quantas estou nem às quantas ando!!!

Ao ouvir, ouvirmos, tal lamento, lá lhe prometi que estava a resolver o assunto, mas disse para mim mesmo - SE RESOLVER ESTE PEDIDIDO, JÁ VALEU A PENA TER PASSADO PELA JUNTA.

E resolvi, resolvemos.


Com a chegada do NOVO RELÓGIO,  foram então instaladas as duas sinetas dos quartos, novas, fechadas com rede as janelas da torre, instalada a  energia elétrica na torre, instalação de dois motores elétricos para os quartos e horas, colocação de um relógio padrão no rés do chão da torre para, a partir dali, se acertar o relógio, evitando a subida diária das escadas, e horas certas a toda a hora e a todas as horas. Os funcionários da junta sabiam acertar o relógio da torre, reduzindo custos por prestações de serviços por particulares.

Com tristeza dou a conhecer a situação atual.

Eram 10 horas de hoje, dia 10 de junho de 2024, quando tirei esta foto. Os ponteiros estão assim parados há vários meses. Apenas o sino das horas dá sinais de vida... o mostrador está avariado, os ponteiros estão em greve...

Tristeza e deixa andar...

Até quando?


Manuel Peralta


Ainda sobre relógios...

Conheci de perto o Ti José dos Santos, que morava no cabeço na parte de cima do loteamento do Regatinho. Era cego de nascença.

Na barbearia do meu padrinho, Manuel Da Paixão, no Outeiro, paredes quase meias com as tabernas do Ti Requeita e da Ti Marreca, ouvia-o recitar esta quadra.


ALCAINS ESTÁ MUITO AUMENTADO

JÁ VALE MAIS UM TOSTÃ

JÁ CÁ TEMOS A LETRICIDADE

E UM RELÓJ DE REPETIÇÃ


Nas segundas feiras, com um dos filhos iam de burro para Castelo Branco, fazer o seu peditório. No mercado onde hoje estão as ditas docas, havia m umas tabernas, e o Ti Zé

lá ia com o filho beber um copito de vinho. Perguntava o Ti Zé ao filho, depois de o taberneiro encher o copo. - Então filho, vai de roda ou vai ao centro? Respondia o filho. - Vai de roda, Pai. Então bebo. Conclusão.

Quando vinho tinha água, as bolhas do vinho juntam-se ao centro, sem água

ficam á roda do copo.

Assim o dizia.

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