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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

SAGRADA FAMÍLIA

Visita mensal domiciliária da Sagrada Família.

...a minha é das primeiras q`ouve ”, assim mesmo, e à “moda das Casas Novas” se referia Isabel Farias à caixinha, com as três imagens da Sagrada Família da qual, há muitos, mesmo muitos anos, herdara “a vez”, de sua mãe.
Em fim de tarde fria, com a máquina de costura em posição de “ensarilhar armas”, observado por muitas e expectantes fotos de filhos noras e netos, conversava eu, em sua casa, com a Coordenadora Geral dos 21 Coros da Sagrada Família, que atualmente existem em Alcains, e que se assina por, Matilde Alves Lopes Ruivo.

Coordenadora Geral

Mas afinal o que são os Coros da Sagrada Família?
A Igreja, Instituição Milenar, mantém desde tempos muito idos a mesma estrutura hierárquica mundial e celestial sem qualquer alteração, um Papa em Roma e centenas de Bispos, de Ele dependentes nas suas dioceses. Trabalha portanto a estrutura constante.
Ao contrário, nos governos e nas empresas, as alterações de estrutura são variadas, para responderem por um lado aos votos dos eleitores e, por outro, para se adaptarem às condições dos mercados.

Sagrada Família com lamparina de azeite

Só que a Igreja, neste particular, está muito à frente.
Em tempos já idos, década de vinte a trinta do século passado, a Igreja inovou num conceito que as empresas tardaram a descobrir, a Portabilidade...

As letras recortadas na madeira, são, Jesus, Maria e José.

Se as famílias não vão à Igreja, então vai a Igreja às famílias, e isto é, portabilidade.
No caso concreto das telecomunicações, praticamente só nos meados da década de noventa do século passado, tal conceito foi percebido ao ponto de hoje, ser possível em qualquer lado, exercer a “implaneavel fé” de tanto comunicar.
Voltando ao Coro da Sagrada Família.



Normalmente um coro está associado a cânticos, mas estes Coros da Sagrada Família são coros de reza, de oração, em que as famílias, num total de trinta, recebem uma vez por mês a caixa com as três imagens, que alumiam com aveludada luz de lamparina de azeite, “luz da nossa alma”, como me dizia o Senhor Vigário, o inesquecível Padre António Afonso Ribeiro, e rezam aos “Santos Hóspedes”, visto que nesse dia a Sagrada Família fica hospedada em casa dessa família.

Pagela de adesão ao Coro


Terminado o dia e ao toque das Avé Marias, estas, quase todas tias, reúne-se a família presente e fazem-se as rezas de despedida aos Santos Hóspedes, que irão pernoitar em casa de nova família.


Esta fé, esta tradição, na terra deles... a nossa, Alcains, ainda está bem viva e remonta aos tempos idos da primeira Coordenadora Geral de então, a Dona Josefina Marrocos Taborda Ramos, que a passou à sua filha, a Menina Chica, Francisca de seu nome, e que com a vinda do Senhor Vigário para Alcains, recebeu novo impulso com a eficaz ação da atual Coordenadora Geral, Matilde Alves Lopes Ruivo que passou de cinco a seis Coros, para os atuais vinte e um.


Se cada Coro tem trinta famílias, por aqui se pode ver, quantas “indulgências” por aí andam.
Indulgência, perdão ou atenuação de gravidade de uma falta, remissão de pecados.


As famílias, no momento em que decidam receber em sua casa a Sagrada Família, assinam a “Patente de Agregação”, em que se comprometem a honrar as imagens com as suas orações e as práticas piedosas determinadas na patente.
Ao mesmo tempo, a Zeladora do Coro, qual notária, certifica e patenteia...


No fim do mês, a Zeladora de cada Coro, entrega à Coordenadora Geral, os “óbulos” recolhidos das famílias e depositados na gaveta da caixinha das imagens, que por sua vez as deposita em conta bancária da Fábrica da Igreja da Paróquia.
Das Casas Novas, ao Pombal, da Feiteira à Pedreira, da fonte do Palhaço, ao Regato da Sola, todos os dias uma família entrega a outra família, a Sagrada Família, depois de rezas e orações, como a que a seguir transcrevo parcialmente.


“Concedei-nos ó Jesus Senhor nosso, a graça de imitar constantemente os exemplos da Sagrada Família, a fim de que na hora da nossa morte, assistidos da vossa mãe, a gloriosa Virgem Maria e do Bem-aventurado José, mereçamos ser recebidos por Vós nos eternos tabernáculos. Assim seja.”


Tabernáculos aqui, nada têm a ver com o Requeita, a Marreca e muito menos com o Ti Domingos, mas sim com lugares onde se guardam, objetos consagrados.


Nos tempos de fé, e em que as patentes eram mesmo patentes, as pessoas vinham dos campos da “Cravalha”, da Gralheira, do “Capeldelmo”, da Travanca e das muitas “Quinjeiras” receber os Santos Hóspedes.


Não sabendo ler, pediam aos que, passados no exame da quarta, eram os mártires da serviço em casa da generalidade da vizinhas, a troco de uma “sarroada” de passas, motivo pelo qual, ainda hoje sei algumas orações de cor...


Com a serenidade, a lucidez e o fervor próprio de Coordenadora, a Dona Matilde Alves Lopes Ruivo, lá me foi contando da pena que lhe dá o nosso povo, estar muito despovoado no centro, pois nos bairros, nos andares, não querem dar hospedagem...
Presumo que, não o sabendo, tenham receio de alguma “lamparina”.
Um Santo Natal para as Sagradas Famílias.

Manuel Peralta

1 comentário:

  1. A Fé que ainda perdura...

    A história de um agregado populacional, também se faz com a forma como vive e encara os mistérios da Fé.
    E sendo certo que os tempos são outros, há tradições que se não perderam. Esta da Sagrada Família é uma delas.
    É meritório que o "homem do leme" nos vá relembrando aquilo que já são longínquas memórias...

    MC

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