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domingo, 6 de março de 2011

CONTRADANÇAS

Por alturas do Entrudo, eram frequentes os desfiles das Contradanças.
Raras as de Alcains, eram mais frequentes as contradanças que de Escalos de Cima ou da Lousa, que, pelo Entrudo, vinham até Alcains.
As contradanças eram formadas por grupos de rapazes e raparigas, carnavalescamente trajados, que em passo de marcha, par a par, cantavam canções com letras brejeiras por vezes, de crítica social outras, ou retratavam aspectos da sua condição, das suas vidas...
Uma de Alcains que me ficou na memória, foi a da Ti Maria Rainha, mulher que apesar da vida difícil, era muito alegre e morou muitos anos no Degredo.

Maria da Conceição Roxo, Rainha
José da Paixão Ferreira

Casada com José da Paixão Ferreira, o seu nome de baptismo é Maria da Conceição Roxo, mas ninguém a conhecia ou conhece por este nome.
Nasceram em 1907 e 1906, respectivamente.
Maria Rainha porquê?
Segundo o seu filho, José André Ferreira, mas conhecido por Zé Raínho, consta que a sua mãe quando cachópa, a caminhar para mulher, era pequenina, redondinha, muito jeitosinha...
Quando se compunha, a rapaziada do seu tempo começou por dizer, parece uma rainha... bonita... linda rapariga...
Dali até ao trono real foi um pequeno passo.
De tal enlace, cinco foram os herdeiros, entre reis e raínhos e rainhas.


Uma dúvida que me tem perseguido resulta do facto de ao seu filho, José André Ferreira lhe chamarem Raínho enquanto ao primo Manuel lhe chamarem Rei... bófe, vamos lá!!!
Voltando à Contradança, aqui vai a letra.

Nós somos os pastores,
Criados de servir.
E hoje por ser Entrudo,
O patrão deixou-nos vir.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...
Trá... lá... lá... lá...
Trá... lá... lá... lá... lá... lá... lá... lá...

Nós somos os pastores,
Do cincho e da francela.
Enquanto houver toucinho,
Não tocamos na morcela.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...

Dançamos no Outeiro,
E no Cabeço sem medo.
Cantamos no Reduto,
E bailamos no Degredo.

Vimos aqui de tão longe...
Trá... lá... lá... lá...

Lindo, de marchar e para a tradição recuperar.
Bom Entrudo.
Amanhã é um dia muito difícil... Domingo GORDO...
Bucho, sopas de matação, laburdo com rodelas de laranja, feijão vermelho com colorau... enfim, uma perdição!!!

Manuel Peralta

3 comentários:

  1. Até é um apelido simpático.

    Recordo bem toda esta geração de Rainhas, Reis e Rainhos.
    Só não compreendo a razão porque a sua descendência passaram de imediato a serem Reis, Rainhas e não principes herdeiros!!!
    Em Alcains no fim da década de 50 ou início de 60 tivemos um casamento mesmo real, casou um Rei com uma Rainha (primos?).
    Ainda que os jornais da época não comentassem o acontecimento; em Alcains foi um grande evento.dizia-se então que ”Casou o Rei com a Rainha”.

    MG

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  2. Contradanças...

    Concordo que os vizinhos dos Escalos de Cima eram visita frequente com as suas contradanças no Carnaval. Alcains, que me recorde, ia tendo as suas, mas não era muito persistente. Se bem me recordo, as últimas envolveriam mulheres das Fábricas Lusitana, que seriam motivadas, convencidas, ensaiadas, “obrigadas”, pela Ti Teresa Minhós, se calhar também ela pressionada pelo Sr Cunha Belo.

    Eu e os meus amigos mais próximos, andaríamos com umas pistolas de água de plástico, que se compravam numa loja em Castelo Branco, pegada à Loja do Povo, quase em frente do Mourinha, e que se chamava de “Gatuno”, quase sempre com furos e por isso pouco eficazes. As pistolas com estalinhos eram mais caras e nem sempre havia cash para lá chegarmos, nem para os estalinhos avulso que estoiravam no chão ao serem lançados.

    Quanto às “caqueiradas” e aos cuidados que havia a ter para as evitar, num tempo em que as portas dormiam encostadas ou simplesmente no trinco, o “homem do leme” já disse tudo sobre essas variáveis de comemoração do Entrudo, que seria redundante acrescentar algo.

    Uma vaga lembrança sobre pequenos grupos que percorriam as ruas de Alcains, normalmente homens vestidos de mulheres com vagas alusões a algumas traições de namorados e namoradas, sem palavras, e passando uma mensagem, que quase apenas os próprios entendiam.

    E de pouco mais me recordo, dos Carnavais de quando tinha os meus 11/12 anos.

    No entanto, recordo que a minha mãe dizia que em tempos idos, ainda sem luz eléctrica suponho, se chorava o Entrudo, em que uns maduros de voz forte, que fora de horas e em locais que permitiam a ressonância das suas vozes, gritavam de uns para outros, “ Oh Camarada da vida “arregalada”, em alcainês corrente, sabes que, fulano ou fulana, anda a fazer isto e aquilo!
    O “camarada” respondia, divulgando mais outros casos...

    Em terra de pedreiros livres e muita costura, como o “homem do leme” frequentemente refere, aquilo era o jornal da paróquia... e sem Censura!

    Talvez MG, que sabe muito destes tempos recuados, possa acrescentar algo!

    MC

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