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quarta-feira, 17 de março de 2010

Quaresmal "jejum de língua", com arroz de lampreia.

Enrolava-se com dificuldade a empa de cana lisa, um Feijoeiro de qualidade António, que à chegado à dúzia de postas da dita, só parou em vagem rosa, de face oculta pelo Fim do Mundo, Adriano de nome, que de boné à pim... pam... pum... parecia estar em permanente matação... lá vai este copo de vinho... do automotora da cadeia... foi preciso vir a Belver... pra menroscar em lampreia... E foi assim tarde fora...
Sem banjo, e sem saber que o pai, com Joaquim Teixeira e Vitor Serrasqueiro davam na Casa do Povo em esquerda baixa, resina ao arco, o filho do ti Manuel Ribeiro, Martinho de nome, com cara de quem parecia ter trízia (icterícia para a malta das novas oportunidades), enjoou, em Ribeiro pleno de esgotos liríados de águas do centro, ovigeres e consais com alguns ais... melhorou é certo, depois de incessante passeio para desmoer fina camada de betão de limpeza, em frágil suco estomacal... mesmo assim, qual melias, só comia posta aberta em arroz ensopado, muita verde salada a que se opunha o organizador, que se enganou no caminho, tó, Bicho de nome, zangado com a casa de Alcains mas adepto e sacristão na catedral da segunda circular... abrenúncio...
Arraianos e Espanhóis, Manuel e Luiz viviam em permanente contrabando de posta à posta, digo mais... uma travessa para mim, uma travessa para ti em união de facto sem direito a qualquer herança futura, pois tudo o que vinha, marchava... catorze postas, somava o secretário botanjana.
O Manuel Requeita, vizinho dos manos Teles, cumpriu a tradição. Sempre uma posta à frente da outra, sem ultrapassagens perigosas e desnecessárias, certo de que o caminho se faz caminhando, e que a pressa dá sempre em vagar... de soslaio olhado pelo Valhadas que, com receio de matar alguma verga, mastigava com o ritmo do bater de picola, o ciclóstomo que rescendia em amizade e inebriava com tinto de catorze graus, dias de vidas difíceis...
Já com a ferramenta em baixo e aconchegada por muitos trabalhos feitos, o Palhinhas e o Moisés Requeita partiram cheios de "tchanias" e diziam até que "ninguém lhes punha cuspinho na orelha"... bem aposentados, poucos, mal reformados quase todos, mas também havia por ali boas "retraites"... do ambidextro Jaime ao mal denominado Canhoto, mostrou a quem o via como se concilia o jeito em driblar postas com força, num GDA distante, que nunca descia...
De chapéu por causa da maresia, o Manuel Riscado frente a frente com o Martinho Paciência, não eram de muitas falas, sorriam sempre, e, no afã de mostrar que sabiam da poda, receberam uma boa "prima" que não contando para a retraite pagará futura inscrição. Ficaram clientes.
Apesar do jejum de língua em semana quaresmal, o Pedro Sequeira, que resistiu ao PIC (processo de idanhização em curso), não deixou de reparar que em salão de cerca de cento e cinquenta lampreiados, só estavam presentes três mulheres... e de calças, dizia o Cassapo secundado pelo Carvalho... o resto, bem, foi uma libertação em tempo de renúncia quaresmal... lampreia é peixe e hoje é sexta-feira de quaresma, diziam os homens sem bula.
Já o alambique destilava, quando perguntei ao Tajana, ex máquinista de cilindros na Marinha Grande, como ia o Sporting.
Apanhado de chofre, atagantou-se...
Respondeu o meu pai, "Já está a pão trigo..."
Estupefacção geral...
Esclareceu para quem quis ouvir e foram muitos, que a expressão "já está a pão trigo" se utilizava quando as pessoas estavam a dias da porta infer... para consolo, dava-se então pão trigo ao moribundo.
Então como está a ti Ana? Perguntava-se.
Coitada, já está a pão trigo... dizia-se.
A foto mostra equipa de "prata da casa" que venceu mais esta adversidade, em deslocação difícil, fora de casa em terreno enlameado. Por vinte e seis postas contra oito venceu a malta da "retraite" contra um misto de reformados e aposentados. Num total de dezanove elementos perfazendo a idade total de mil quatrocentros e quatro anos, tanto saber e histórias de Alcains acumuladas, que, a meu jeito, procuro aperaltar neste autocarro de muitas e variadas vidas que procuro levar à diáspora Alcainense.
Pela minha parte, fiquei cliente pela amizade, camaradagem e claro pela quaresmal lampreia.

Manuel Peralta

1 comentário:

  1. Crónica de conteúdo bastante suculento à semelhança do arroz da dita, também eu profundo conhecedor do local e do repasto, não pude deixar de ficar deliciado com as palavras mágicas de quem revela ser um homem conhecedor do seu povo e das suas origens, que não renega mas enaltece.
    Tendo já dado uma "voltinha" por este Blog, fiquei deveras emocionado e encantado com a riqueza e sensibilidade dos textos.

    Ao Eng. Peralta,um grande abraço e votos de muita inspiração e alguma transpiração para nos continuar a dar "novas" de Alcains.

    João Micaelo
    joao.m.micaelo@sapo.pt

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